sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

A DUPLA CEIFA DA TERRA: APOCALIPSE 14:14 a 20

A DUPLA CEIFA DA TERRA Apocalipse 14:14-20


"Olhei, e eis uma nuvem branca, e sentado sobre a nuvem um semelhante a filho de homem, tendo na cabeça uma coroa de ouro e na mão uma foice afiada. Outro anjo saiu do santuário, gritando em grande voz para aquele que se achava sentado sobre a nuvem: Toma a tua foice e ceifa, pois chegou a hora de ceifar, visto que a seara da terra já amadureceu! E aquele que estava sentado sobre a nuvem passou a sua foice sobre a terra, e a terra foi ceifada." (Apoc. 14:14-16).

Esta representação simbólica da segunda vinda de Cristo como Rei e Juiz da terra une duas cenas separadas de juízo no Antigo Testamento. As frases, "nuvem branca" sobre a qual está sentado "um semelhante ao Filho do Homem", são frases adotadas da cena de juízo de Daniel 7.

O chamado para segar a terra com uma "foice aguda" está tomada diretamente da cena de juízo de Joel 3. A ordem que dá um anjo, "toma a tua foice e ceifa, pois chegou a hora de ceifar, visto que a seara da terra já amadureceu!" (Apoc. 14:15), é uma expansão deliberada de Joel 3:13.

A fusão das profecias anteriores de juízo demonstra que João considerava estas predições hebraicas como complementares uma da outra. Com engenho criador em Apocalipse 14, João estrutura o conceito do juízo em torno de Cristo como Juiz de toda a humanidade, que é uma reinterpretação cristocêntrica do juízo que primeiro foi introduzido por Jesus:

"Então, verão o Filho do Homem vir nas nuvens, com grande poder e glória. E ele enviará os anjos e reunirá os seus escolhidos dos quatro ventos, da extremidade da terra até à extremidade do céu" (Mar. 13:26, 27; cf. Mat. 24:30, 31).

Durante a audiência no tribunal diante do sumo sacerdote Caifás, Jesus declarou sob juramento que ele era na verdade o Messias e por conseguinte o Juiz final: "Desde agora, vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu" (Mat. 26:64). O que Jesus predisse está descrito visualmente em Apocalipse 14:14. A frase "um como Filho de homem" (BJ) não é tirada dos Evangelhos, e sim diretamente de Daniel 7:13, o que indica claramente que a visão do juízo de Daniel 7 é o antecedente imediato de Apocalipse 14:14. É um descobrimento de um significado fundamental entender que Daniel 7 e Apocalipse 14 se relacionam entre si como verdade profética e verdade presente! O assunto essencial nesta revelação progressiva é o cumprimento cristológico da profecia messiânica de Daniel (Dan. 7:13, 14; Apoc. 14:14; também 1:7, 13).

Esta declaração de Jesus foi uma afirmação chocante para o sumo sacerdote (Mat. 26:64) e inclusive para os próprios apóstolos de Jesus (24:30, 31). A visão do juízo de João em Apocalipse 14 confirma a nova revelação de Jesus como uma verdade sempre presente para a igreja de todos os tempos.

A seqüência de Daniel dos acontecimentos históricos em capítulo 7 também se repete em Apocalipse 13 e 14: perseguição, juízo, reino messiânico. Assim como o reino de Deus incluía seu direito a julgar a todos os homens, assim também o reino de Cristo (a "coroa de ouro" real) está unida com o juízo final (a "foice aguda"). João Batista descreveu a vinda do Messias de Israel como uma colheita que separa o trigo da palha:

"Em sua mão tem a pá, e limpará a sua eira, e recolherá no celeiro o seu trigo, e queimará a palha com fogo que nunca se apagará" (Mat. 3:12).

Esta linguagem figurada indica que o juízo messiânico proporciona redenção aos santos. Serão reunidos como o trigo no celeiro eterno de Deus. J. M. Ford explica a colheita de Apocalipse 14 de acordo com isto: "Portanto, esta colheita [a de Apoc. 14:14-16] é uma colheita de proteção em lugar de destruição e por conseguinte, segue naturalmente depois da exortação dos santos (vs. 12, 13)".1

Apocalipse 14 começou com os 144.000 companheiros do Cordeiro como as "primícias" para Deus (Apoc, 14:4). O capítulo conclui com uma visão da colheita total da humanidade. O anjo indica que "a seara da terra já amadureceu" (v. 15). Uma questão muito importante é: O que foi que causou a maturação mundial de maneira que toda a terra está pronta para a colheita? A resposta pode encontrar-se na proclamação eficaz da tríplice mensagem, habilitado pelo Espírito Santo que iluminará toda a terra, tal como se descreve em Apocalipse 18:1-5. Uma pregação universal do evangelho assim, com a voz de Elias, converterá toda a terra em um "Monte Carmelo", em um "vale de Josafá" ou "vale da decisão" (Joel 3:12, 15).

Em sua parábola do joio (Mat. 13:36-43), Jesus ampliou o campo até lhe dar uma extensão universal:

"O campo é o mundo, a boa semente são os filhos do Reino, e o joio são os filhos do Maligno. O inimigo que o semeou é o diabo; e a ceifa é o fim do mundo; e os ceifeiros são os anjos" (vs. 38, 39).

Depois Jesus enfatizou a separação final entre os ímpios e os justos com respeito a seu destino eterno:

"Mandará o Filho do Homem os seus anjos, e eles colherão do seu Reino tudo o que causa escândalo e os que cometem iniqüidade. E os lançarão na fornalha de fogo; ali, haverá pranto e ranger de dentes" (vs. 41-43).

A visão do juízo de Apocalipse 14:14-20 serve como a confirmação dramática da parábola do joio de Jesus. A visão da grande colheita de uvas em Apocalipse 14:17-20 amplia a descrição da colheita de uvas em Joel 3:13 e a volta a definir como um juízo que está centrado em Cristo.

"Então, saiu do santuário, que se encontra no céu, outro anjo, tendo ele mesmo também uma foice afiada. Saiu ainda do altar outro anjo, aquele que tem autoridade sobre o fogo, e falou em grande voz ao que tinha a foice afiada, dizendo: Toma a tua foice afiada e ajunta os cachos da videira da terra, porquanto as suas uvas estão amadurecidas! Então, o anjo passou a sua foice na terra, e vindimou a videira da terra, e lançou-a no grande lagar da cólera de Deus. E o lagar foi pisado fora da cidade, e correu sangue do lagar até aos freios dos cavalos, numa extensão de mil e seiscentos estádios"

A CONVOCATÓRIA DIVINA EM JOEL 3 EM APOCALIPSE 14

"Congregarei todas as nações e as farei descer ao vale de Josafá; e ali entrarei em juízo contra elas por causa do meu povo e da minha herança, Israel ... (3:2). "A cada nação, e tribo, e língua, e povo, dizendo, em grande voz: Temei a Deus e dai-lhe glória, pois é chegada a hora do seu juízo..." (14:6, 7).

AS ACUSAÇÕES

"a quem [a meu povo] elas espalharam por entre os povos, repartindo a minha terra entre si" (3:2; ver também os vs. 5, 6).

"Caiu, caiu a grande Babilônia que tem dado a beber a todas as nações do vinho da fúria da sua prostituição" (14:8; ver também 17:5, 6).

LIBERTAÇÃO DOS SANTOS

"todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo; porque, no monte Sião e em Jerusalém, estarão os que forem salvos..." (2:32; ver também 3:16).

"Lançai a foice, porque está madura a seara" (3:13).

"Olhei, e eis o Cordeiro em pé sobre o monte Sião, e com ele 144.000, tendo na fronte escrito o seu nome e o nome de seu Pai" (14:1; cf. o v. 11).

"Toma a tua foice e ceifa, pois chegou a hora de ceifar, visto que a seara da terra já amadureceu!" (14:15; também o v. 16).

CONDENAÇÃO DOS PERSEGUIDORES

"Vinde, pisai, porque o lagar está cheio, os seus compartimentos transbordam, porquanto a sua malícia é grande" (3:13).

"Então, o anjo passou a sua foice na terra, e vindimou a videira da terra, e lançou-a no grande lagar da cólera de Deus..." 14:19; também el v. 20).

A chave para revelar esta visão em clave é recuperar os antigos oráculos. A seguinte tabela revela um paralelo surpreendente de temas e imagens entre Joel 3 e Apocalipse 14. Ambas as profecias contêm uma convocação divina a todas as nações para aparecer ante o tribunal de Deus (Joel 3:9-12; Apoc. 14:6, 7). Ambas apresentam as acusações legais no pleito de Deus (Joel 3:2-6; Apoc. 14:8). Ambas descrevem a liberação do povo do remanescente fiel sobre o monte Sião (Joel 2:32; 3:16; Apoc. 14:1-5, 12). Ambas predizem a condenação dos inimigos perseguidores nos vales ao redor do monte Sião (Joel 3:2, 12; Apoc. 14:20).

Podemos aprender três lições importantes deste progressivo desdobramento de Joel 3 em Apocalipse 14, lições que nos ensinam de que maneira o evangelho de Cristo estabelece o cumprimento do tempo do fim que Joel profetizou.

A) Primeiro, notamos que o Juiz já não é Jeová e sim o Messias Jesus. Como o Filho do Homem de Daniel 7:13 e 14, Cristo é o Rei ("coroa") e o Juiz (a "foice"), quem executa os veredictos do tribunal celestial. Apocalipse 14:14 mostra o cumprimento cristológico do tempo do fim de Joel 3. O segundo advento de Cristo introduz o tempo da ceifa da terra.

B) Segundo, o remanescente fiel de Israel, reunido no monte Sião na cidade santa (Joel 2:32; 3:16), é redefinido pelos apóstolos como crentes no Senhor Jesus (ver At. 2:21; 9:14, 21; Rom. 10:13) e em Apocalipse 14:1-5 como os seguidores do Cordeiro, a igreja fiel do tempo do fim, o que na ciência teológica se chama o cumprimento eclesiológico (de "igreja", gr. ekklesia). O evangelho de Cristo tirou as restrições nacionais do povo do antigo pacto. A igreja de Jesus é uma comunidade de fé universal, a que Paulo chama "linhagem de Abraão" (Gál. 3:26-29) e "o Israel de Deus" (6:16; cf. Heb. 12:22-24).

C) Terceiro, o vale de Josafá ao redor do monte Sião em Joel 3:2, 12 e 14, em Apocalipse 14 se amplia a toda a terra. Esta extensão em escala mundial se mostra de modo inconfundível pela repetição intencional (6 vezes) do termo "a terra" (3 vezes para a ceifa da colheita e 3 vezes para a colheita de uvas, Apoc. 14:15, 16, 18, 19). Este aumento mundial do vale local de Joel se chama o cumprimento universal. João retém no Apocalipse a velha linguagem figurada da cidade de Sião do Oriente Médio (como em Heb. 12:22-24), mas pelo evangelho desaparecem as restrições geográficas e étnicas. Tal é o efeito transformador do evangelho do novo pacto.2

O "grande lagar da ira de Deus" está situado explicitamente "fora da cidade" (Apoc. 14:19, 20). Só pelo antecedente da descrição de Joel podemos saber, com certeza, que esta "cidade" de refúgio é a cidade santa onde o Deus de Israel libera a seus verdadeiros adoradores (ver Joel 2:32 e Apoc. 14:1).

O lagar apocalíptico de Apocalipse 14 corresponde com o lagar de Joel 3 que o descreveu como "cheio, os seus compartimentos transbordam, porquanto a sua malícia é grande" (Joel 3:13). Joel já tinha dado ao lagar uma aplicação moral com respeito aos ímpios perseguidores que estavam sob o processo de acusação do Deus do pacto de Israel (3:2-6). Declarou-os amadurecidos para o juízo de Deus, e Joel apresenta a Jeová como o executor de seu veredicto:

"Congregarei todas as nações e as farei descer ao vale de Josafá [o nome significa "Jeová julga"]; e ali entrarei em juízo contra elas por causa do meu povo e da minha herança, Israel, a quem elas espalharam por entre os povos, repartindo a minha terra entre si" (Joel 3:2).

A acusação de Deus contra as nações foi a crueldade com que trataram a seu povo do pacto (Joel 3:3, 6). Não obstante, o objetivo final do juízo sobre os ímpios foi mais que uma exibição de justiça. Hans Walter Wolff comenta sobre Joel 3:17 "O reconhecimento de Jeová como o Deus do pacto de Israel é o objetivo final dos atos de Jeová com respeito ao mundo das nações".3

A mesma alegação de crueldade contra o povo de Deus que aparece em Joel, renova-se no Apocalipse contra Babilônia (Apoc. 16:5, 6; 17:6; 18:20, 24; 19:2), mas desta vez os santos são os seguidores do Cordeiro, e Cristo será seu vindicador e libertador (17:14; 19:11-21).

O pisar do lagar era um símbolo profético para ilustrar o juízo de condenação de Deus (ver Isa. 63:2-6; Jer. 25:30, 33). Isaías comparou Edom e Israel a uma vinha que seria pisoteada pelo juízo de Deus (Isa. 5:1-7; ver também Sal. 80:8, 12, 13, 16). A visão de Apocalipse 14:14-20 está mais ampliada na visão da segunda vinda de Cristo em Apocalipse 19:11-21. Esta visão ampliada mostra como o Messias real pisará "o lagar do vinho do furor e da ira do Deus Todo-poderoso" (Apoc. 19:15). Esta missão final de juízo que leva a cabo Cristo se descreve simbolicamente por sua roupa "tinta em sangue" (Apoc. 19:13; cf. Isa. 63:3).

É instrutivo comparar as duas visões da segunda vinda de Cristo em Apocalipse 14:14-16 (sobre uma nuvem) e em 19:11-21 (sobre um cavalo branco). Evidentemente o ponto em questão destas visões não é apresentar um quadro fotográfico da segunda vinda a não ser ensinar uma verdade fundamental sobre o juízo: Cristo retornará para cumprir todas as profecias hebréias do juízo final e para separar aos que são seus filhos dos que têm que perecer.

Apocalipse 14 termina com a assombrosa declaração de que o sangue que sai do lagar "fora da cidade" chega "até os freios dos cavalos, por mil e seiscentos estádios" (Apoc. 14:20). De novo, esta é uma linguagem simbólica hebraica com uma mensagem clara. A sabedoria requer uma compreensão do significado básico dos números apocalípticos. Assim como Apocalipse 14 começa com uma cifra (144.000), assim também termina com outra cifra (1.600). Ambas as passagens (vs. 1, 20) formam contrapartes simbólicas que descrevem destinos opostos para os justos e para os ímpios. O verdadeiro Israel está com o Cordeiro sobre o Monte Sião dentro da cidade de Deus, e os perseguidores ímpios estão reunidos fora da cidade.

Dessa maneira, Apocalipse 14:1 e 20 amplia a linguagem figurada de Joel 2:32 e 3:1-16. Assim como a cifra 144.000 para o Israel espiritual revela seu significado teológico por meio de seu número chave, o 12, assim a cifra simbólica 1.600 revela seu significado por meio do número chave 4. "Quatro" simboliza os quatro ângulos da terra (ver Apoc. 7:1; 20:8), os quatro limites da terra (Isa. 11:12), ou os quatro ventos ou direções da bússola (Mat. 24:31). A multiplicação do número 4 em Apocalipse 14:20 aponta exaustivamente ao território universal do campo de batalha, em harmonia com a predição do Jeremias: "E serão os mortos do Senhor, naquele dia, desde uma extremidade da terra até à outra" (Jer. 25:33).

A importância primitiva da segunda vinda de Cristo, como a culminação da guerra mundial contra seus servos fiéis, amplifica-se nas visões ulteriores de Apocalipse 15 a 19. O desenvolvimento progressivo do "Armagedom" nos capítulos 16:13-16, 17:12-14 e 19:11-21, amplia a importância decisiva do poder salvífico e do poder consumidor da segunda vinda de Jesus Cristo. Voltando a extrair seus conceitos das descrições vívidas do idioma profético hebraico, a última visão que João teve do segundo advento descreve a Cristo vindo com um exército invencível do céu:

"E seguiam-no os exércitos que há no céu, montando cavalos brancos, com vestiduras de linho finíssimo, branco e puro. Sai da sua boca uma espada afiada, para com ela ferir as nações; e ele mesmo as regerá com cetro de ferro e, pessoalmente, pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus Todo-Poderoso. Tem no seu manto e na sua coxa um nome inscrito: REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES" (Apoc. 19:14-16).

Referências


A Bibliografia para Apocalipse 12-14 (caps. XXI-XXVIII deste livro) encontrará nas páginas 458-466 do Livro


1 J. M. Ford, Revelation, p. 250.
2 Para um estudo mais profundo do cumprimento territorial das promessas feitas ao Israel, ver LaRondelle, O Israel de Deus na Profecia, cap. 9.
3 Wolff, Joel and Amos, p. 81 (o itálico é meu).

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Extraído de Profecias do Tempo do Fim. H. K. Larondelle
 
Pr. Cirilo Gonçalves da Silva
Mestre em Teologia e Evangelista
Twitter: @prcirilo

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

A SÉTIMA PRAGA: A RETRIBUIÇÃO DE BABILÔNIA - APOCALIPSE 17

A SÉTIMA PRAGA: A RETRIBUIÇÃO DE BABILÔNIA Apocalipse 17

Hoje em dia, um número cada vez major de eruditos em literatura apocalíptica reconhecem o plano arquitetônico do último livro da Bíblia. Apreciando esta nova visão, e com respeito às últimas pragas do Apocalipse, C. M. Maxwell faz esta promessa: "Uma vez mais nosso conhecimento da estrutura literária vai ajudar-nos grandemente a compreender a mensagem".1 Maxwell percebe o seguinte arranjo de paralelismo contrastante:2

A. Descrição: as pragas (Apoc. 15, 16).
B. Narração: circunstâncias relacionadas com as pragas (Apoc. 17:1-19:10).
B1. Narração: circunstâncias relacionadas com a Cidade Santa (Apoc. 19:11-21:8).
A1. Descrição: a Cidade Santa (Apoc. 21:9-22:9).

Esta estrutura de paralelismo inverso significa que os capítulos 15:1 a 19:10 tratam com o castigo divino, e que os capítulos 19:11 a 22:9 tratam com a libertação e a recompensa divinas. Surpreendentemente, tanto a seção a respeito de Babilônia (Apoc. 17:1-19:10) como a seção a respeito da Nova Jerusalém (Apoc. 21:9-22:9) são introduzidas pelo mesmo anjo das pragas. Cada divisão principal começa com o convite que o anjo faz: "Vem, mostrar-te-ei...":

APOCALIPSE 17:1 APOCALIPSE 21 :9

"Veio um dos sete anjos que têm as sete taças e falou comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei o julgamento da grande meretriz que se acha sentada sobre muitas águas". "Então, veio um dos sete anjos que têm as sete taças cheias dos últimos sete flagelos e falou comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei a noiva, a esposa do Cordeiro".

Depois de cada uma destas visões principais, João se sentiu deprimido e se prostrou aos pés do anjo interpretador para adorá-lo, e recebeu a mesma repreensão:

APOCALIPSE 19:10 APOCALIPSE 22:8, 9

"Prostrei-me ante os seus pés para adorá-lo. Ele, porém, me disse: Vê, não faças isso; sou conservo teu e dos teus irmãos que mantêm o testemunho de Jesus; adora a Deus. Pois o testemunho de Jesus é o espírito da profecia". "Eu, João, sou quem ouviu e viu estas coisas. E, quando as ouvi e vi, prostrei-me ante os pés do anjo que me mostrou essas coisas, para adorá-lo. Então, ele me disse: Vê, não faças isso; eu sou conservo teu, dos teus irmãos, os profetas, e dos que guardam as palavras deste livro. Adora a Deus".

Com este arranjo literário João põe em correlação a destruição de Babilônia e a descida da nova Jerusalém, com os eventos culminantes da sétima praga. O alcance completo de Apocalipse 16 a 22 não permite manter por mais tempo nenhuma opinião que divida Apocalipse 17 do tempo do fim, e de sua conexão indestrutível com as últimas pragas de Apocalipse 16.

As visões de Apocalipse 17 a 19 constituem uma unidade coerente que ampliam adicionalmente a sétima praga (Apoc. 16:17-21). Portanto, a compreensão adequada da sétima praga deve relacionar-se com a interpretação angélica nos capítulos 17 a 19. Este estilo literário foi chamado "entrelaçamento"3 ou "urdidura".4 O que Apocalipse 17 a 19 explicam está todo incluído dentro da ação da sétima praga!

Dessa maneira, João fixou cuidadosamente os capítulos 17 a 19 às últimas pragas. O tema básico da guerra santa de libertação de Cristo continua desenvolvendo-se em Apocalipse 16:13-16, 17:12-14 e 19:11-21. O tema da "guerra santa" não só estrutura a unidade inteira dos capítulos 15 a 19, mas também segue adiante, à posse da "terra prometida" nos capítulos 20 a 22. Este é o objetivo positivo da guerra santa de Cristo. Desta maneira o Apocalipse contém sua própria hermenêutica implícita.

A Relação de Apocalipse 16 e 17-19

A sétima praga (Apoc. 16:17-21) amplia-se nos capítulos seguintes (17-19). A sétima praga contém esta declaração sumária: "E lembrou-se Deus da grande Babilônia para dar-lhe o cálice do vinho do furor da sua ira" (16:19).

O tema de Apocalipse 17 a 19 é o juízo sobre Babilônia e nestas visões se dá uma ampliação detalhada da sétima praga. Dessa maneira, a taça com a praga do sétimo anjo cumpre a função de introdução aos capítulos 17 a 19. Por conseguinte, alguns eruditos chamam o Apocalipse 17 a 19 "apêndice" ou "tomada de primeiro plano" dos juízos desta praga. Charles Giblin se refere à seção de Apocalipse 17:1 a 19:10 como a "interpretação angélica da queda de Babilônia".5

Precisamos reconhecer o indicador na introdução de Apocalipse 17:1: "Veio um dos sete anjos que têm as sete taças e falou comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei o julgamento da grande meretriz que se acha sentada sobre muitas águas". Portanto, o anjo de Apocalipse 17 está conectado com os juízos das taças das pragas de Apocalipse 16. Jean-Pierre Ruiz descreve isto nas seguintes palavras:

"Não há indicação literária de distância entre [Apoc.] 16:17 e 17:1, uma indicação que indique que o que segue está compreendido, por dizê-lo assim, dentro da ação da sétima taça. A especificação do guia angélico em 17:1 como um dos anjos das pragas reforça este vínculo".6

A correlação da última praga em Apocalipse 16 com a interpretação do anjo em Apocalipse 17 a 19 também é de uma natureza substancial. A retribuição divina sobre a Babilônia do tempo do fim permanece em primeiro plano (ver Apoc. 16:19; 17:1, 5; 18:1-6, 21; 19:1-3). A breve declaração em Apocalipse 16 de que "lembrou-se Deus da grande Babilônia" (v. 19) amplia-se ulteriormente por um anjo que clama que tem cansado a grande Babilônia, "porque os seus pecados se acumularam até ao céu, e Deus se lembrou dos atos iníquos que ela praticou" (18:2, 5).

Apocalipse 17 e 18 explicam como se realizará o juízo de Deus sobre Babilônia. Estes capítulos tão notáveis mostram duas etapas. Na primeira, Deus emprega a besta e seus chifres como instrumentos para dissolver a unidade de Babilônia, o que causa sua ruína. Disse o anjo interpretador:

"Os dez chifres que viste e a besta, esses odiarão a meretriz, e a farão devastada e despojada, e lhe comerão as carnes, e a consumirão no fogo" (Apoc. 17:16).

Deste modo a meretriz, descrita como o último poder apóstata, é a primeira a ser julgada e em receber a lamentação do mundo (Apoc. 18:9-19).

Na segunda etapa da retribuição divina se pinta um quadro do segundo advento de Cristo no símbolo de um cavaleiro vencedor cujo nome é a Palavra de Deus, que vence a besta, o falso profeta e seus exércitos (Apoc. 19:11-21). Essa descrição de Cristo como "Rei dos reis e Senhor dos senhores" (Apoc. 19:16) apresenta a visão ampliada do "Armagedom" tal como foi antecipada na sexta e na sétima pragas de Apocalipse 16:13-16. As pragas de Apocalipse 16 estão ampliadas nos capítulos 17 a 19.

A Meretriz: A Característica Principal de Apocalipse 17

Primeiro devemos prestar atenção à visão e à reação que teve João (Apoc. 17:1-6), e depois considerar a interpretação do anjo (vs. 8-18).

"Veio um dos sete anjos que têm as sete taças e falou comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei o julgamento da grande meretriz que se acha sentada sobre muitas águas, com quem se prostituíram os reis da terra; e, com o vinho de sua devassidão, foi que se embebedaram os que habitam na terra. Transportou-me o anjo, em espírito, a um deserto e vi uma mulher montada numa besta escarlate, besta repleta de nomes de blasfêmia, com sete cabeças e dez chifres. Achava-se a mulher vestida de púrpura e de escarlata, adornada de ouro, de pedras preciosas e de pérolas, tendo na mão um cálice de ouro transbordante de abominações e com as imundícias da sua prostituição. Na sua fronte, achava-se escrito um nome, um mistério: BABILÔNIA, A GRANDE, A MÃE DAS MERETRIZES E DAS ABOMINAÇÕES DA TERRA" (Ap. 17:1-6).

Percebemos três temas principais na visão de João: a prostituta, a besta e Babilônia. Enquanto que a besta e Babilônia já se mencionaram em Apocalipse 13 a 16, a meretriz ou prostituta é o tema novo e central de Apocalipse 17. O interrogante é: Que realidade histórica corresponde a esta meretriz sedenta de sangre durante a era da igreja? É a Roma imperial, a hostil Jerusalém, o poder perseguidor Estado-Igreja da Idade Média, ou é alguma realidade temível que está no futuro?

O enfoque contextual pode abrir uma perspectiva nova sobre este capítulo misterioso do Apocalipse. Ao considerar o contexto dos capítulos 12 e 13, notamos que há uma mulher grávida e uma besta de sete cabeças. Isto requer uma avaliação das duas mulheres simbólicas em Apocalipse 12 e 17 que estão em um contraste intencional entre si. Como vimos antes (cap. XXI desta obra), a mulher pura do capítulo 12 representa o povo fiel do antigo e do novo pacto. Esta "mulher" deu à luz o Messias de Israel (Apoc. 12:1-5), depois foi perseguida e fugiu ao deserto para ocultar-se da vida pública e da sociedade por 1.260 dias simbólicos (vs. 6, 14).

Se se contemplar à meretriz do capítulo 17 como a contraparte da mulher pura de Apocalipse 12, devemos concluir que a meretriz representa a igreja infiel que entrou em uma relação ilícita com os governantes políticos do mundo, "os reis da terra" (ver Apoc. 17:2). Isto esclarece o fato de que a prostituta é capaz de perseguir a todos os dissidentes. João a vê "ébria do sangue dos santos, e do sangue dos mártires de Jesus" (v. 6; ver também 16:6; 18:24).

A igreja medieval não executou a nenhum herege, mas sim entregou os condenados pela Inquisição da igreja, que já tinham sido torturados, aos governantes do mundo para que executassem as sentenças de morte dadas pela igreja.

É espantoso chegar à conclusão de que a prostituta simbólica representa a igreja apóstata. Requer confirmação do contexto bíblico. Tal confirmação vem em essência dos profetas do Antigo Testamento, que descreveu a Israel ou a Judá como uma "prostituta", como a esposa infiel de Jeová.

Protótipos do Antigo Testamento da Prostituta Apocalíptica

Oséias começou a acusar às dez tribos do reino do Norte, o reino do Israel, declarando: "Um espírito de prostituição está no meio deles, e não conhecem ao Senhor" (Osé. 5:4). Meu povo "consulta o seu pedaço de madeira, e a sua vara lhe dá resposta; porque um espírito de prostituição os enganou, eles, prostituindo-se, abandonaram o seu Deus" (4:12).

Jeremias adotou este mesmo simbolismo para falar de Judá e de Jerusalém: "Tu te prostituíste com muitos amantes" (Jer. 3:1); "Embora te vista de escarlata, embora te adornes com atavios de ouro, embora pintes com antimônio teus olhos, em vão te engalanas; te desprezarão seus amantes, procurarão tua vida" (4:30). Não há dúvida que Jezabel, a mulher pagã do Acabe simbolizava algo assim como um modelo para o quadro do Jeremias de uma Jerusalém apóstata (ver 2 Reis 9:30).

Isaías incluso exclamou com horror a respeito de Jerusalém: " Como se fez prostituta a cidade fiel! Ela, que estava cheia de justiça! Nela, habitava a retidão, mas, agora, homicidas" (Isa. 1:21).

Ezequiel transmitiu a denúncia mais elaborada de Jerusalém, que serve como a chicote principal do simbolismo da prostituta em Apocalipse 17. As descrições que Ezequiel e João fazem da prostituta merecem uma comparação séria.

A Prostituta Apocalíptica: Antítipo do Israel Apóstata

Os principais eruditos em apocalipticismo atuais – tais como A. Vanhoye, J. M. Vogelgesang, J-P. Ruiz e outros – mostraram que maneira convincente que a linguagem figurada da prostituta de Apocalipse 17 tem dependência de Ezequiel 16, 20 e 23. Mais que qualquer outro profeta, Ezequiel descreveu a Israel (incluindo Judá e Jerusalém) como a companheira do pacto de Jeová que era infiel, uma prostituta sedenta de sangue que se exaltava a si mesma. O protótipo bíblico está carregado de significado para compreender a seu antítipo em Apocalipse 17 durante o período da igreja. Uma análise cuidadosa de Ezequiel 16, 20 e 23 é essencial para a interpretação de Apocalipse 17, com seu enfoque no tempo do fim.

Tanto Ezequiel como João usam o símbolo da meretriz para acusar a infiel companheira do pacto com Deus das seguintes acusações: imoralidade sexual ou idolatria, opressão e assassinato de seus próprios filhos. Depois que se apresentam as acusações legais, tanto Ezequiel como João procedem a apresentar o mesmo castigo da impenitente. É útil colocar as passagens pertinentes lado a lado embora não há substituto para uma leitura pessoal destes capítulos em toda sua extensão.

A correspondência das descrições do Ezequiel e o Apocalipse é tão evidente que Josephine M. Ford declarou: "O texto que influiu mais sobre o autor do Apocalipse é Ezequiel 16, que é um ataque profético sobre Jerusalém... Sua descrição é tão gráfica como em Apocalipse 17 e 18".7 Pode-se preferir aqui falar não de um "ataque" mas sim de retribuição divina. Agora comparemos:

EZEQUIEL 16 e 20


O JUÍZO DA PROSTITUTA APOCALIPSE 17 e 18


O JUÍZO DA PROSTITUTA

"Eu te cobri de enfeites..." (16:11, BJ).

"Assim te tornavas cada vez mais bela, até assumires ares de realeza" (16:13, BJ). "O quanto a si mesma se glorificou e viveu em luxúria, dai-lhe em igual medida tormento e pranto, porque diz consigo mesma: Estou sentada como rainha. Viúva, não sou. Pranto, nunca hei de ver!" (18:7).

"Puseste a tua confiança na tua beleza e, segura de tua fama, te prostituíste, prodigalizando as tuas prostituições a todos os que apareciam. Tomaste dentre os teus vestidos e com eles fizeste lugares altos e de várias cores e aí te prostituíste" (16:15, 16, B]).

"Tomaste os teus filhos e as tuas filhas que me tinhas dado à luz e os imolaste a elas, a fim de que as comessem. Seria isso menos grave do que as tuas prostituições? Mataste os meus filhos e os fizeste passar pelo fogo, oferecendo-os a elas" (16:20, 21, BJ). "Vi a mulher embriagada com o sangue dos santos e com o sangue das testemunhas de Jesus; e, quando a vi, admirei-me com grande espanto" (17:6).

"E nela se achou sangue de profetas, de santos e de todos os que foram mortos sobre a terra" (18:24).

"A mulher adúltera acolhe estranhos em lugar do marido" (16:32). "Com a qual se prostituíram os reis da terra; e os que habitam na terra se embebedaram com o vinho da sua prostituição" (17:2).

"Por tudo isso hei de reunir todos os teus amantes, aos quais agradaste...reuni-los-ei a todos e descobrirei a tua nudez, para que a vejam toda... Entregar-te-ei às suas mãos e eles deitarão por terra a tua colina, arrasarão os teus lugares altos, despir-te-ão dos teus vestidos, tomarão os teus adornos e te deixarão totalmente nua. Porão fogo às tuas casas e executarão juízo contra ti" (16:37-41, BJ). "Os dez chifres que viste e a besta, esses odiarão a meretriz, e a farão devastada e despojada, e lhe comerão as carnes, e a consumirão no fogo" (17:16).

Albert Vanhoye demonstrou que Apocalipse 17:15-18 reflete uma utilização do Ezequiel 16 e 23.8 R. H. Charles vá ao Ezequiel 23:25-29 reproduzido "em essência" em cada uma das ações levadas a cabo pela besta e seus chifres contra a prostituta.9 Jeffrey Vogelgesang também vá a João tomando diretamente do Ezequiel 16 e 23 nas visões a respeito de Babilônia de Apocalipse 17 e 18. Declara o seguinte: "O sentido geral de Apocalipse 17 corresponde ao Ezequiel 16 e 23, onde se consideram as obras más da meretriz, depois se pronuncia o veredicto e se proclama o castigo".10

Um ponto que geralmente os exegetas profissionais ignoram é a questão de como se relacionam teologicamente entre si Ezequiel 16 e Apocalipse 17, quer dizer, como é que esta correspondência que se reconhece entre estes dois capítulos indica que existe uma tipologia bíblica.

Para a interpretação de Apocalipse 17 é crucial definir a estrutura tipológica entre as silhuetas destas duas prostitutas e os juízos que Deus envia. Não há dúvida de que existe uma analogia estrutural entre as acusações legais e o castigo retributivo das prostitutas em Ezequiel 16 e Apocalipse 17. É inevitável a conclusão de que Apocalipse 17 depende de Ezequiel 16, porque ambas as passagens tratam com o professo mas apóstata povo da aliança! Esta conclusão dolorosa foi evitada sistematicamente pela maioria dos teólogos cristãos e os eruditos em exegese, assim como pelos eruditos rabínicos que ficaram tão escandalizados pela linguagem severa de Ezequiel que proibiram a leitura de Ezequiel 16 na sinagoga.11

As acusações divinas em Ezequiel 16 são de uma natureza moral: idolatria e infidelidade conjugal. Ambos estão conectados entre si porque o adultério metafórico de Jerusalém com o Egito, Assíria e Babilônia compreendia a adoração dos deuses estranhos desses reis (2 Reis 17:13-20; Isa. 30:1-5; 31:1). A apostasia de Jerusalém na adoração se revela de maneira especial em Ezequiel 23:

"Porque adulteraram, e nas suas mãos há culpa de sangue; com seus ídolos adulteraram, e até os seus filhos, que me geraram, ofereceram a eles para serem consumidos pelo fogo. Ainda isto me fizeram: no mesmo dia contaminaram o meu santuário e profanaram os meus sábados.... e assim o fizeram no meio da minha casa" (Ezeq. 23:37-39; ver também 20:21, BJ).

Jeremias, um contemporâneo de Ezequiel, pôs a descoberto as mesmas práticas de sacrificar os filhos aos ídolos (Jer. 7:10, 30-34). Quando anunciou a destruição do templo de Salomão, "lançaram mão dele os sacerdotes, os profetas e todo o povo, dizendo: Serás morto: De certo morrerá" (26:8).

A meretriz do tempo do fim de Apocalipse 17 é acusada dos mesmos crimes de apostasia no culto, infidelidade sexual e idolatria sedenta de sangue (Apoc. 17:2, 4, 6, 14). Assim como a antiga Jerusalém se tornou inimiga de Jeová, assim a igreja institucional seria infiel a Cristo, apóstata em seu culto de adoração, e sedenta de sangue com todos os que recusassem prostrar-se ante ela e sua "marca" de adoração.

O castigo da prostituta em Ezequiel 16 e 23 assim como em Apocalipse 17, em essência é o mesmo: Deus chama os antigos amantes para que levem a cabo o castigo da prostituta (Ezeq. 16:37, 39; 23:22; Apoc. 17:16, 17).

Walter Zimmerli resumiu nestas palavras o castigo que aparece em Ezequiel 16: "Os mesmos poderes de quem a comunidade de Deus parece aproveitar-se, tomarão represálias e executarão o juízo de Deus sobre ela... como um juízo que começa pela casa de Deus (9:6)".12 Por conseguinte, J-P. Ruiz concluiu dizendo: "O que encontramos em Apocalipse 17:16 é uma relocação nova e consciente da linguagem de Ezequiel 16 e 23, e uma transformação real da linguagem profética".13 O anjo interpretador destaca que a ação destruidora da besta e seus chifres contra a prostituta em Apocalipse 17:16 é o cumprimento da vontade de Deus

"Porque Deus tem posto em seu coração que cumpram o seu intento, e tenham uma mesma idéia, e que dêem à besta o seu reino, até que se cumpram as palavras de Deus" (Apoc. 17:17).

Um olhar mais detido aos oráculos de juízo da antiga e a nova prostituta, revela uma correspondência literária e temática:

EZEQUIEL 16:39 APOCALIPSE 17:16

"Entregar-te-ei nas suas mãos, e derribarão o teu prostíbulo de culto e os teus elevados altares; despir-te-ão de teus vestidos, tomarão as tuas finas jóias e te deixarão nua e descoberta". "Os dez chifres que viste e a besta, esses odiarão a meretriz, e a farão devastada e despojada, e lhe comerão as carnes, e a consumirão no fogo".

A relação teológica entre os castigos das duas prostitutas, a antiga e a nova, é manifestamente uma relação de tipo e antítipo. Esta tipologia inspirada contém a chave para decifrar a visão desconcertante do tempo do fim que João apresenta: a meretriz do tempo do fim representa a igreja infiel e mundana que voltará a ter a supremacia por um tempo breve sobre os governantes políticos.

J-P. Ruiz chamou nossa atenção a algumas relações notáveis do castigo da meretriz em Apocalipse 17: "… devorarão suas carnes" (v. 16). Aqui vê "uma similitude verbal estreita" entre esta frase de Apocalipse e a de 2 Reis 9 que descreve a predição que Elias faz da morte de Jezabel, a rainha de Israel: "No campo de Jezreel, os cães comerão a carne de Jezabel" (2 Reis 9:36). Ruiz declara o seguinte: "O contexto de 2 Reis 9:36 também corresponde ao de Apocalipse 17:16".14 A correspondência básica da Jezabel histórica e seu antítipo profético dentro da igreja, já estava indicado na carta de Cristo à igreja do Tiatira:

"Tenho, porém, contra ti o tolerares que essa mulher, Jezabel, que a si mesma se declara profetisa, não somente ensine, mas ainda seduza os meus servos a praticarem a prostituição e a comerem coisas sacrificadas aos ídolos" (Apoc. 2:20).

A igreja de Cristo ia permitir dentro de seu seio a uma nova Jezabel, com suas exigências falsas como profetisa de Deus e com seu culto religioso falso (Apoc. 2:20, 23). Os resultados amargos são os mesmos na antiga e na nova Jezabel: o assassinato legalizado e político dos santos de Deus.

Assim como a Jezabel da antiguidade usou a seu marido o rei Acabe para perseguir Elias e os seguidores de Jeová, assim também a Jezabel apocalíptica usa os governantes políticos para perseguir os seguidores de Cristo. O cristianismo apóstata receberá o mesmo juízo condenador de Cristo como o que recebeu Jezabel: "Pois julgou a grande meretriz... e vingou o sangue de seus servos" (Apoc. 19:2; cf. 2 Reis 9:7). Este é o contexto mais amplo da frase do anjo, "devorarão suas carnes", em Apocalipse 17:16. A maldição final do pacto sobre a prostituta apocalíptica se formula como "os dez chifres... a consumirão no fogo" (17:16; ver também 18:8). Na lei de Moisés, este castigo estava reservado para a imoralidade sexual da filha de um sacerdote:

"Se a filha de um sacerdote se desonra, prostituindo-se, profana a seu pai; será queimada" (Lev. 21:9).

Enquanto que o castigo tradicional para o adultério de uma mulher casada era o apedrejamento (Deut. 22:23, 24; João 8:5), no caso de prostituição praticada pela filha de um sacerdote, o castigo era queimá-la. Este castigo apocalíptico da prostituta do tempo do fim assinala uma vez mais à natureza sacerdotal desta "mulher" caída. João informa sua reação à visão de Apocalipse 17:1-6, quando diz: "E, quando a vi, admirei-me com grande espanto" (V. 6). Em realidade, ficou "mudo de assombro" ou "grandemente perplexo", o que é difícil de entender se João tivesse visto só os imperadores romanos perseguidores ou uma Jerusalém hostil. Isso era algo familiar para sua própria experiência. Entretanto, se contemplou a mudança que se levaria a cabo na igreja institucional de Cristo, que a mulher pura chegaria a ser intolerante e a estar sedenta de sangue, isso teria sido verdadeiramente assombroso.

Admoestações Apostólicas Contra a Apostasia Predita

A igreja de Cristo ia repetir a história do Israel antigo, que em general foi uma história de apostasia. O apóstolo Paulo advertiu contra a repetição da apostasia do Israel na igreja institucional. Disse Paulo:

"Ora, estas coisas se tornaram exemplos para nós, a fim de que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram. Não vos façais, pois, idólatras, como alguns deles... Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia" (1 Cor. 10:6, 7, 12).

Paulo também empregou a metáfora profética de uma mulher para descrever à igreja quando escreveu:

"Pois lhes hei desposado com um só marido, para lhes apresentar como uma virgem pura a Cristo. Mas temo que como a serpente com sua astúcia enganou a Eva, seus sentidos sejam de algum jeito extraviados da sincera fidelidade a Cristo" (2 Cor. 11:2, 3).

Expressou seu temor justificado nesta predição sinistra quando se dirigiu aos anciões da igreja de Éfeso:

"Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles. Portanto, vigiai" (At. 20:29-31).

Inclusive caracterizou esta apostasia vindoura (em gr., apostasia] dentro da igreja como uma rebelião do "homem do pecado" (em gr., anomías] (2 Tes. 2:3), que continuaria e permaneceria todo o tempo, até a segunda vinda de Cristo (V. 8).

Entretanto, o Apocalipse de João desenvolve o tema da apostasia sistematicamente em Apocalipse 12 a 19. Aqui a igreja pós-apostólica institucional é descrita como uma "meretriz", porque sendo a "mulher" de Cristo, unir-se-ia ilegalmente com os reis da terra:

"Com quem se prostituíram os reis da terra; e, com o vinho de sua devassidão, foi que se embebedaram os que habitam na terra" (Apoc. 17:2).

Um intérprete da escola histórica de interpretação comentou:

"O fato de que Babilônia é distinta dos reis da terra, embora esteja ilegalmente unida a eles, é uma prova positiva que Babilônia não é o poder civil. O fato de que o povo de Deus está em seu meio precisamente antes de sua derrocada, demonstra que é um professo corpo religioso. Portanto, pensamos que deve ser evidente que a Babilônia de Apocalipse 17 simboliza à igreja professa que está ilegalmente unida ao mundo".15

O Imperativo da Hermenêutica do Evangelho

Alguns reconhecem que a meretriz de Apocalipse 17 representa ao professo povo do pacto de Deus e sua infidelidade ao Deus do pacto. J. M. Ford o explica assim: "É o pacto o que a faz noiva, a ruptura do qual a converte em adúltera".16 O ler o Apocalipse à luz do antecedente do Antigo Testamento foi um adiantamento fundamental no enfoque do livro do Apocalipse, e muitos até falham em apreciar a importância deste fato. Não obstante, esta chave do Antigo Testamento não é uma garantia da aplicação histórica de Apocalipse 17. Necessita-se também estar consciente da tipologia cristã que o Novo Testamento revela em sua aplicação do idioma do pacto hebraico.17

Rechaçando a aplicação popular de que a meretriz se refere a Roma imperial, esta erudita católica literaliza sua aplicação da meretriz de Apocalipse 17 à "Jerusalém infiel" e a seu sacerdócio. Diz J. M. Ford: "Estes textos [dos rolos de Qumran], juntos com os do Antigo Testamento, assinalam que a meretriz em Apocalipse 17 é Jerusalém, não Roma".18 Por conseguinte, considera a "a antiga Jerusalém, manchada" em vez de Roma como a verdadeira contraparte da Nova Jerusalém".19 Mas este princípio de aplicação literal é uma violação fundamental da hermenêutica do evangelho, porque não está orientada a Cristo e a seu povo do novo pacto (ver a Primeira parte, o cap. V desta obra).

O Apocalipse está construído quase completamente com termos e imagens hebraicas, como o reconhecem todos os exegetas. Portanto, para evitar as interpretações especulativas, é essencial aplicar a hermenêutica do evangelho a toda a linguagem hebraica do pacto que aparece no Apocalipse. O idioma e o simbolismo no Apocalipse continuam sendo os do pacto, mas em termos do novo pacto de Jesus Cristo. Este idioma pactual cristocêntrico está firmemente estabelecido em Apocalipse (vejam-se os caps. II e III desta obra).

O MISTÉRIO DE BABILÔNIA, A GRANDE

A meretriz tem um título escrito sobre sua frente: "Mistério: Babilônia, a grande" (Apoc. 17:5). Este "mistério" não está restringido à identidade da prostituta. Disse explicitamente o anjo: "Eu te direi o mistério da mulher, e da besta que a traz, a qual tem as sete cabeças e dez chifres" (v. 7). Com respeito a isto, declara J-P. Ruiz:

"Tudo o que aparece no capítulo 17:7 e 8, e não precisamente os vs. 15-18, têm que ver com a mulher, a cujo juízo se convida como testemunha a João. A repetição de guné nos vs. 7, 9 e 18 serve como o recordativo literário de que a prostituta e a besta pertencem ao mesmo mustérion".20

Isto significa que o "mistério" de Babilônia a grande inclui a visão de João como um tudo, a compreensão do qual requer "a mente que tenha sabedoria" (Apoc. 17:9). Necessitou-se sabedoria já antes para entender o "número da besta" (13:18). Requer a atividade intelectual de calcular o número da besta (v. 18). A mesma atividade mental se necessita em Apocalipse 17, porque indica a aplicação histórica das sete cabeças da besta escarlate e de seus dez chifres:

"Aqui é necessário a inteligência que tem discernimento: as sete cabeças são sete montes (em gr., óre: 'montes'] sobre os quais a mulher está sentada. São também sete reis, dos quais cinco já caíram, um existe e o outro ainda não veio, mas quando vier deverá permanecer por pouco tempo" (Apoc. 17:9 e 10, BJ; ver RA, RC, que também traduzem "montes").

"E os dez chifres que viste são dez reis, que ainda não receberam o reino, mas receberão o poder como reis por uma hora, juntamente com a besta" (Apoc. 17:12).

Toda a linguagem figurada é parte do "mistério" de Babilônia, a Grande. A sabedoria sugere que façamos remontar toda esta linguagem figurada à linguagem profética hebraica antes que busquemos aplicar os símbolos à era da igreja. Ao mesmo tempo que detectamos uma correspondência inegável da prostituta apocalíptica com a prostituta dos oráculos de condenação de Ezequiel (caps. 16 e 23), observamos que a besta com as cabeças e os chifres em Apocalipse 17 depende essencialmente da besta com dez chifres do Daniel 7. Portanto, devemos relacionar Apocalipse 17 com Daniel 7. Ambas as visões apocalípticas estão conectadas de maneira indissolúvel. Ruiz reconheceu isto em sua análise de Apocalipse 17:

"Entretanto é uma mensagem unificada oferecida em termos do Antigo Testamento, porque o tema da besta está extraída de Daniel, enquanto que o tema da prostituta, sua atividade e seu destino, é tomada de Ezequiel".21

O Momento Histórico Exato da Besta Ressuscitada

O segundo tema de Apocalipse 17 é a besta escarlate sobre a qual está sentada uma prostituta. João é levado "em Espírito ao deserto". Ali viu "uma mulher montada numa besta escarlate, besta repleta de nomes de blasfêmia, com sete cabeças e dez chifres" (Apoc. 17:3).

Neste ponto recordamos que o dragão (Apoc. 12:3) e a besta do mar (13:1) têm igualmente sete cabeças e dez chifres. Entretanto, cada um dos três animais têm alguns característicos únicos que diferem dos outros. O dragão tem sete coroas em suas cabeças (12:3), enquanto que a besta do mar tem dez coroas sobre seus chifres (13:1). A besta escarlate não tem coroas, mas leva a prostituta. Por conseguinte, a besta escarlate do capítulo 17 não é idêntica à besta que sobe do mar no capítulo 13 ou com o dragão do 12. Por outro lado, as sete cabeças e os dez chifres da besta escarlate estabelecem uma conexão definida entre a besta que sobe do mar e o dragão.

O anjo interpretador solicita que se exerça sabedoria especial para entender as sete cabeças da besta revivida (Apoc. 17:9). Ao que parece, o momento exato das duas últimas cabeças, a sexta e a sétima, é um momento crucial na era da igreja para manter um conhecimento exato do plano de Deus para nosso tempo.

De nossa análise de Apocalipse 12 a 14 aprendemos que estes capítulos revelam progressivamente todo o alcance da era da igreja. Enquanto que Apocalipse 12 se enfoca principalmente no começo da era da igreja (o nascimento e a coroação do Messias, vs. 1-5), e nos séculos pós-apostólicos (a mulher se oculta no deserto por 1.260 dias simbólicos, vs. 6, 14), Apocalipse 13 e 17 mudam o foco principal da profecia cada vez mais no tempo do fim da era da igreja (em Ap. 13:15-17; 17:12-14), ampliando cada vez mais o conflito final de Apocalipse 12:17.

As sete cabeças se descrevem explicitamente como "reis" sucessivos ou poderes mundiais, dos quais "dos quais caíram cinco, um existe, e o outro ainda não chegou" (Apoc. 17:10). É claro que a besta demoníaca exerce seu governo opressor por meio de uma cabeça de uma vez no curso da história. As sete cabeças pertencem igualmente ao dragão (cap. 12), à besta que sobe do mar (cap. 13) e à besta escarlate que sobe do abismo (cap. 17). Não podemos dar por sentado que há 21 cabeças, mas só sete são as que representam todo o lapso de tempo da luta de Satanás contra o povo de Deus.22 Isto significa que o dragão, a besta do mar e a besta escarlate, cada uma representa uma cabeça particular ou poder mundial. Relacionando cada animal ao período de tempo central dos "1.260" dias (12:6) ou "42 meses" (13:5), estamos de acordo com John N. Andrews, que afirmou:

"O período próprio de cada um parece ser este: o dragão antes dos 1.260 anos, a besta do capítulo 13 durante esse período, e a besta do capítulo 17 do tempo da ferida mortal e a cativeiro no fim daquele período".23

As sete cabeças de cada uma das três bestas de Apocalipse 12, 13 e 17 expressam a continuidade da perseguição por parte destes poderes mundiais ímpios. Todas estão relacionadas essencialmente pelo mesmo espírito de ódio contra Jesus Cristo e estão decididas a proscrever e executar os companheiros do Cordeiro de Deus. Cada "cabeça" dos poderes estatais governantes na era da igreja está motivada pelo mesmo dragão, ou Satanás (Apoc. 12:9).

As Sete Cabeças da Besta Escarlate

As sete cabeças foram o assunto de muita discussão nos comentários. Recentemente, Kenneth A. Strand examinou os argumentos do ponto de vista popular preterista, que aplica as sete cabeças a sete imperadores romanos específicos.24 Louis Were examinou a antiga opinião protestante que aplicava as cabeças a sete formas diferentes de governo em Roma, a sétima das quais era o Exarcado da Ravena.25 C. M. Maxwell apresentou uma interpretação clara e exaustiva desta seção de Apocalipse 17.26

Todos estes investigadores chegam à conclusão de que as sete cabeças não se referem a reis ou formas específicas do governo de Roma através dos séculos. Todos interpretam os termos "reis" como reinos personificados ou impérios, não como indivíduos isolados (ver Dan. 2:37-39; 7:17, 18, 23). De igual maneira, os "montes" se vêem como símbolos de reinos, como era costume na linguagem profética (Dan. 2:44, 45; Jer. 51:25). Com respeito às "sete cabeças" da besta, Louis Were comentou o seguinte:

"O número 7 se empregou com referência às cabeças em um sentido simbólico e por isso não nos incumbe encontrar um número exato de 7 inimigos do povo de Deus. O número 7 se emprega no Apocalipse em um sentido simbólico para perfeição ou integridade".27

Depois de examinar as diferentes propostas para identificar as sete cabeças, o Comentário bíblico adventista conclui: "A evidência é insuficiente para garantir uma identificação dogmática delas".28 Há uma indicação que dá que pensar em Apocalipse 17 e que nos convida a identificar em forma tentativa os reinos principais:

"Dos quais caíram cinco, um existe, e o outro ainda não chegou; e, quando chegar, tem de durar pouco" (V. 10).

Se se reconhecerem que as cinco primeiras cabeças ou reinos hostis estavam no passado nos dias de João, devemos começar com: Egito, Assíria, Babilônia, Medo-Pérsia e Grécia, para ter cinco reinos que tinham caído nos dias de João. A "cabeça" que "é" seria então Roma imperial. A "cabeça" ainda por vir, apontaria a Roma papal durante a Idade Média. Mas existe um problema com esta posição. Passou por cima sua coordenação com as três fases da besta: "A besta que era, e não é..." (Apoc. 17:11 ). Isto significa que a identificação da sexta cabeça ("que é") com a Roma imperial não quadra com a explicação do anjo de que a besta "não é!"

Portanto, parece mais sábio adotar o ponto de vista escatológico apresentado pelo mesmo anjo que traz a praga. Declara K. A. Strand: "A mesma visão [Apoc. 17:1-6] está dada da perspectiva do juízo escatológico quando a besta 'não é ' ".29

O quadro simbólico de que a sexta cabeça está viva enquanto que a besta "não é", requer alguma explicação. A expressão "não é" com respeito à besta indica com toda certeza que a natureza perseguidora ou bestial da besta não está ativa durante a sexta cabeça. O período da sexta cabeça se aplicaria então ao tempo das democracias modernas da Revolução Francesa (1798), quando começaram a separar o Estado e a Igreja. C. M. Maxwell vê também a visão da besta escarlate "do ponto de vista do tempo do fim em lugar de localizar-se nos dias de São João". Explica-o assim:

"Entende que as cinco cabeças 'caídas' seriam Babilônia, Pérsia, Grécia, o Império Romano e a Roma cristã. A sexta cabeça (no tempo do fim) 'é' a Roma cristã ferida de morte, que seria seguida muito em breve pela sétima cabeça que 'ainda não chegou', quer dizer, a Roma cristã com sua ferida curada. A 'hora' quando os dez reis reinam com a besta é um breve período no próprio fim do tempo quando com zelo ditatorial a besta for ajudada no reavivamento de sua dura perseguição".30

Podemos imaginar a coordenação da besta escarlate com suas sete cabeças no diagrama seguinte. Toma a visão de Apocalipse 17 como olhando para trás na história da igreja, do tempo do fim, quando a sexta cabeça está presente.

APOCALIPSE 17


PASSADO PRESENTE FUTURO


CABEÇAS


CINCO CAÍRAM: Babilônia; M-Pérsia; Grécia; Roma pagã; ROMA PAPAL.


A SEXTA ESTÁ PRESENTE:

Durante o tempo do fim.


A SÉTIMA AINDA NÃO VEIO

CHIFRES


Coroados: Monarquias medievais.


Destronados: As de-mocracias desde a Revolução Francesa.


Coroados por una hora: Unem-se com a besta ressuscitada.


BESTA


ERA: Quando perseguiu.


NÃO É: Não persegue, porque sofre una ferida mortal.


E SERÁ: Fará guerra contra o Cordeiro e seus seguidores ( l 7:12-14).


MUDANÇA REPENTINA: A besta e os 10 chifres destroem a meretriz (17:16).

A revelação nova de Apocalipse 17 tem que ver com a declaração que nos deixa perplexos de que o anticristo (a besta que sobe do mar) de Apocalipse 13, depois que sua ferida mortal tenha sido curada, se levantará mais uma vez ao poder para orquestrar um assalto extremo sobre os santos no tempo do fim. Esta perseguição final toma a natureza de uma guerra político-religiosa da besta, em aliança com os dez chifres, contra o Cordeiro e seus seguidores:

"Os dez chifres que viste são dez reis, os quais ainda não receberam reino, mas recebem autoridade como reis, com a besta, durante uma hora. Têm estes um só pensamento e oferecem à besta o poder e a autoridade que possuem. Pelejarão eles contra o Cordeiro, e o Cordeiro os vencerá, pois é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; vencerão também os chamados, eleitos e fiéis que se acham com ele" (Apoc. 17:12-14).

A mensagem consoladora de Apocalipse 17 é o breve tempo do terror final e a repentina libertação da última tirania para o Israel de Deus. A ênfase notável sobre o tempo do fim de Apocalipse 17 requer uma atenção especial. Os repetidos indicadores de tempo do passado, presente e futuro em Apocalipse 17 precisam relacionar-se adequadamente à história das três etapas da besta em Apocalipse 13. Apocalipse 17 deve ser considerado como uma das visões de fôlego mais importantes para o povo de Deus no tempo do fim.

A Progressão de Tempo Entre Apocalipse 13 e 17

Embora Apocalipse 17 foi considerado por alguns como nada mais que uma repetição de Apocalipse 13, uma comparação estreita da besta das sete cabeças em ambos os capítulos mostra que Apocalipse 17 não é precisamente um duplicado de Apocalipse 13. Três característicos distintivos indicam uma progressão histórica entre a besta que sobe do mar em Apocalipse 13 e a besta escarlate de Apocalipse 17.

1. Os nomes de blasfêmia, limitados às cabeças da besta em Apocalipse 13:1, agora cobrem todo o corpo da besta escarlate (Apoc. 17:3), o que indica o incremento contínuo das demandas jactanciosas do anticristo com o passar do tempo.

2. Os dez chifres da besta escarlate já não levam diademas reais (como em Apoc. 13:1), mas voltarão outra vez a reinar como reis com a besta "por uma hora" (17:12).

3. A besta escarlate não sobe do mar (como em Apoc. 13), mas sim do abismo ou o reino da morte (17:8; ver Rom. 10:7). Isto indica uma ressurreição do reinado da besta. Este renascimento ou reencarnação do anticristo em escala universal é a revelação única em seu gênero de Apocalipse 17.

As Três Etapas da Existência do Anticristo

João percebe três fases sucessivas da besta-anticristo. Primeiro, a besta ia fazer guerra contra os santos durante 42 meses (Apoc. 13:5). Depois assestam uma ferida mortal à besta (V. 3). Finalmente, João viu a besta revivida reassumir sua guerra contra os santos só por "uma hora" ou "um pouco de tempo", e imediatamente partir à sua destruição (17:8, 10, 11 ). O anjo interpretador descreve as três etapas sucessivas da besta em forma repetida (três vezes):

"A besta que viste, era e não é, está para emergir do abismo e caminha para a destruição. E aqueles que habitam sobre a terra ...se admirarão, vendo a besta que era e não é, mas aparecerá" (Apoc. 17:8).

"E a besta, que era e não é, é ela também o oitavo, e é dos sete, e vai à perdição" (Apoc. 17:11).

Dessa maneira o anjo enfatiza três vezes que a visão de João pertence ao período quando a besta "não é", quer dizer, quando não está reinando como perseguidora dos santos, enquanto a besta está "para subir [mélei anabáinein] do abismo" (Apoc. 17:8). Esta descrição determina o ponto de vista do tempo da visão de Apocalipse 17, quando a besta "não é", quer dizer, quando recebeu sua "ferida mortal". A respeito, G. McCready Price declarou: "Não parece haver possibilidade de negar que esta época de 'não é' da besta deve corresponder à época da ferida de morte de Apocalipse 13:3".31

No entanto, Apocalipse 17 revela que a ferida mortal não foi infligida à mulher perseguidora. A igreja apóstata ficaria, seria só como "uma viúva" porque a besta já não estaria disponível para executar seus mandatos. Durante o período de sua ferida mortal, a besta "não é" (17:8; 18:7), o que significa que não persegue.

Para sintetizar os pontos de vista do tempo em Apocalipse 12, 13 e 17 digamos: o dragão fez guerra contra os santos durante o tempo da Roma pagã (12:1-5), a besta do mar continuou esta guerra durante a Idade Média (13:1-10), enquanto que a besta escarlate de Apocalipse 17 descreve a ameaça aos santos vista do tempo da Revolução Francesa. Esta conclusão denota que Apocalipse 17 não aponta à Roma imperial ou à Idade Média, e sim ao tempo dos acontecimentos finais. Por conseguinte, estamos de acordo com a conclusão do Kenneth Strand;

"Procurar na história um cumprimento, por exemplo, da fase "não é" da besta do capítulo 17, quando esta fase é obviamente uma vista de juízo, é ilógico. Ou tratar todo o capítulo 17 como tendo cumprimento histórico antes que escatológico é não compreender o verdadeiro sentido do capítulo e de toda a segunda parte do livro do Apocalipse em que aparece".32

A Futura Sétima Cabeça

Parece completamente claro que a declaração do anjo: "Dos quais caíram cinco, um existe, e o outro ainda não chegou" (Apoc. 17:10), indica poderes mundiais consecutivos. A ênfase do anjo não está nas cinco primeiras cabeças que caíram, nem na cabeça que "é" contemplada do ponto de vista do anjo da praga. O interesse do anjo se centra especificamente na última, ou seja na sétima cabeça. Procede dando à besta ressuscitada o número oito!

"E a besta, que era e não é, é ela também o oitavo, e é dos sete, e vai à perdição" (Apoc. 17:11, RC).

A designação numérica da besta revivida é muito significativa. É "o oitavo" embora pertença às sete cabeças (Apoc. 17:11)! Como é uma das sete, não se deve assumir que repentinamente a besta acrescenta uma oitava cabeça. O dragão de Apocalipse 12, a besta de Apocalipse 13 e a besta revivida de Apocalipse 17, todas estão descritas só com sete cabeças. O anjo faz três declarações paralelas concernentes à besta revivida:

"Está para emergir do abismo" (17:8a).
"Mas reaparecerá" (17:8c).
"É ela também o oitavo" (17:11).

Combinando estas declarações, vemos que o que é contado como "oitavo" se aplica à ascensão da besta do abismo, quer dizer, a sua ressurreição. Vários eruditos do Novo Testamento vêem uma paródia irônica na atribuição do número "oito" à besta restaurada. Vêem o dia da ressurreição de Cristo como "o oitavo dia" porque veio depois de seu descanso na tumba no sétimo dia sábado. Declara Alan Johnson: "O oitavo era o dia do Messias, o dia da nova era e o sinal da vitória sobre as forças do mal".33 Mas Satanás desafia esta vitória de Cristo pela ressurreição de seu próprio reino a um novo poder mundial:

"Para recrutar tantos como lhe é possível para sua parte na guerra, a besta imita a ressurreição de Cristo (ele 'é um oitavo rei' [V. 11]) e dará a aparência de estar vivo e de dominar o mundo (cf. Luc. 4:5-7)".34

O contar como "oito" à sétima e final cabeça da besta indica não só que é uma besta ressuscitada, mas também alerta a igreja às demandas enganosas de um poderoso Messias falso. Imitará a morte e ressurreição do Jesus como "o oitavo" (Apoc. 17:11). O contraste fundamental não escapará à mente penetrante. Louis F. Were concluiu sua análise profunda de Apocalipse 17 com este comentário perspicaz:

"Ao saber que o número 8 é o símbolo na Bíblia da ressurreição e do triunfo do Senhor sobre seus inimigos, podemos captar o significado de Apocalipse 17:11... Como Jesus triunfou sobre seus inimigos e se levantou em poder glorioso para usá-lo na salvação de seu povo, assim se levantará esta besta de seu lugar de morte à posição de um poder ainda maior, que tratará de empregar para a destruição do povo de Deus".35

Mas a sétima cabeça permanecerá no poder só por "breve tempo" (Apoc. 17:10). Depois, irá repentinamente "à destruição" em sua luta contra o Cordeiro e seus seguidores (vs. 11, 14), o que ocorrerá por meio do impacto do glorioso advento de Cristo:

"Mas a besta foi aprisionada, e com ela o falso profeta... Os dois foram lançados vivos dentro do lago de fogo que arde com enxofre. Os restantes foram mortos com a espada que saía da boca daquele que estava montado no cavalo. E todas as aves se fartaram das suas carnes" (Apoc. 19:20, 21).

Albert Vanhoye em seu estudo clássico sobre o uso de Ezequiel no Apocalipse, concluiu dizendo:

"Em realidade, o que é importante observar não é só que o sentido geral da passagem [Apoc. 17:1-6, 15-18] mas sim todo seu vocabulário corresponde ao de Ezequiel 16 e 23. Daí vem a idéia do juízo da prostituta; também, tanto Ezequiel 16 como 23 estão construídos na forma de um juízo".36

Esta correspondência entre o Ezequiel 16 (e 23) e Apocalipse 17 estabelece uma tipologia cristã entre a Jerusalém apóstata e a igreja apóstata. A Babilônia do tempo do fim é uma cristandade apóstata que adotou as formas pagãs de culto cristão, mudou a lei do Deus do pacto e estabeleceu alianças com os poderes políticos. Toda esta infidelidade da igreja para com Cristo está condenada à autodestruição em Apocalipse 17:16. As autoridades civis e políticas exporão em última instância a vergonha ou culpa de Babilônia e atuarão em conseqüência como os agentes da retribuição divina (17:16, 17). Desta forma, Apocalipse 17 funciona como o cumprimento eclesiológico de Ezequiel 16 e 23.

A Vitoriosa Igreja Remanescente de Cristo

O propósito mais elevado do Apocalipse é insistir com o povo de Deus a sair de Babilônia e seguir a Cristo. Isto está de maneira explícita em Apocalipse 18. Os companheiros do Cordeiro são descritos como "chamados, eleitos e fiéis", que "se acham com ele" (Apoc. 17:14). Esta descrição indica que os cristãos vitoriosos não só são chamados e escolhidos por Deus (Mat. 22:14), mas sim também permanecem leais a Jesus (Apoc. 14:12). Retêm "o testemunho do Jesus" e de seu senhorio na prova final da fé (12:17; 14:12). Em meio das nuvens sombrias do juízo de Babilônia podemos discernir a luz brilhante dos que permanecem fiéis a Cristo até o próprio fim, ainda até o ponto do martírio (ver 2:10).

No Apocalipse, o mártir, como testemunha de Cristo, é o genuíno vencedor! Os seguidores de Cristo sabem que sua luta é mais que uma batalha física. Não são rebeldes políticos; respondem à ameaça de morte da besta com "paciência e fé" (Apoc. 13:10). É assim como conquistam a besta. "Vencer" no livro do Apocalipse significa fundamentalmente confessar o senhorio de Jesus Cristo em meio da perseguição; quer dizer, ser "fiel ao meu nome (2:13, NVI). A possibilidade de fracassar é real, e os que fracassam em guardar o testemunho do Jesus e escolhem ao anticristo deverão fazer frente ao juízo de Deus. Seus nomes serão apagados do livro da vida (3:5; 22:19) e perderão sua parte na árvore da vida e na santa cidade (2:23; 22:19).

Esta é a solene advertência de João para os crentes cristãos. Tanto em Apocalipse 13:8 como em 17:8 se faz referência ao "livro da vida" para assinalar a certeza da vida eterna para o vencedor. As profecias de Daniel concluem de igual maneira com a segurança de que "será libertado seu povo, todos os que se achem escritos no livro" (Dan. 12:1).

Referências

A Bibliografia para Apocalipse 17 e 18 a encontrará nas pp. 540-543.

1 Maxwell, Apocalipsis: sus revelaciones, p. 423.
2 Ibid.
3 Collins, The Apocalypse. New Testament Message, pp. 55, 80.
4 Giblin, "Structural and Thematic Correlations in the Theology of Revelation 16-22", Biblica 55 (1974), p. 500.
5 Giblin, The Book of Revelation. The Open Book of Prophecy, p. 159.
6 Ruiz, Ezekiel in the Apocalypse: The Transformation of Prophetic Language in Apocalypsis 16, 17-19:10, p. 247.
7 J. M. Ford, Revelation, p. 283.
8 "L'Utilisation du livre d'Ézéquiel dans l'Apocalypse", Biblica 43 (1962), especialmente as pp. 440-442.
9 Charles, The Revelation of St. John, t. 2, p. 73.
10 Vogelgesang, The Interpretation of Ezekiel in the Book of Revelation, p. 30.
11 Ver Megillah 4:10 na Mishnah [Mishná] (H. Danby), p. 207.
12 Zimmerli, Ezekiel y, t. 1, p. 349.
13 Ruiz, Ezekiel in the Apocalypse: The Transformation of Prophetic Language in Apocalypsis 16, 17-19:10, p. 377.
14 Ibid., p. 367.
15 Andrews, Three Messages of Revelation, p. 48.
16 J. M. Ford, Revelation, p. 285.
17 Ver LaRondelle, The Israel of God in Prophecy. Principles of Prophetic Interpretation, cap. 4.
18 J. M. Ford, Revelation, p. 285.
19 Ibid., p. 286
20 Ruiz, Ezekiel in the Apocalypse: The Transformation of Prophetic Language in Apocalypsis 16, 17-19:10, p. 349.
21 Ibid., p. 359.
22 Satanás é a mente mestra que está por trás das 7 cabeças da besta. Manifestou seu poder mundial como o dragão pagão por meio de todos os impérios pagãos que oprimiram a Israel: Babilônia, Medo-Pérsia, Grécia e o Império Romano, que correspondem às 4 primeiras cabeças. Cada vez a cabeça de plantão identifica-se com o próprio dragão. E assim acontece com as cabeças 5 e 7. A cabeça 6 é a cabeça ferida quando a besta "não é" (Apoc. 17:8, 11), que é o tempo entre a Revolução Francesa e nossos dias.
23 Andrews, Three Messages of Revelation, p. 78.
24 Strand, "The Seven Heads: Dou They Represent Roman Emperors?", Simpósio sobre o Apocalipse. t. 2, pp. 177-206.
25 Were, The Woman and the Beast in the Book of Revelation, cap. 21.
26 Ver Maxwell, Apocalipsis: sus revelaciones, pp. 471-479.
27 Were, The Woman and the Beast in the Book of Revelation, p. 188.
28 7 CBA 868.
29 Strand, Interpreting the Book of Revelation, p. 55.
30 Maxwell, Apocalipsis: sus revelaciones, p. 472.
31 McCready Price, El tiempo del fin, p. 60.
32 Strand, Interpretando el libro del Apocalipsis, p. 54.
33 Johnson, Expositor's Bible Commentary, t. 12, Revelation, p. 561.
34 Ibid.
35 Were, The Woman and the Beast in the Book of Revelation, pp. 113, 114.
36 Vanhoye, "L'Utilisation du livre d'Ézéquiel dans l'Apocalypse", Biblica 43 (1962), p. 441.

 
Extraído de Profecias do Tempo do Fim. H. Larondelle
 
 
Pr. Cirilo Gonçalves da Silva
Mestre em Teologia e Evangelista
Twitter: @prcirilo

AS SETE ÚLTIMAS PRAGAS: APOCALIPSE 15 e 16

O SIGNIFICADO DAS SETE ÚLTIMAS PRAGAS Apocalipse 15 e 16

Nossa primeira tarefa para interpretar as sete últimas pragas é considerá-las dentro de seu contexto imediato e de seu contexto mais amplo. A visão do santuário de Apocalipse 15 explica sua origem sobrenatural: são enviadas da sala do trono no céu e expressam a fidelidade de Deus. As pragas não são forças cegas ou catástrofes naturais. Sua importância crucial chega a ser evidente quando sabemos que constituem a "ira de Deus" na advertência da mensagem do terceiro anjo.

"Seguiu-se a estes outro anjo, o terceiro, dizendo, em grande voz: Se alguém adora a besta e a sua imagem e recebe a sua marca na fronte ou sobre a mão, também esse beberá do vinho da cólera de Deus, preparado, sem mistura, do cálice da sua ira, e será atormentado com fogo e enxofre, diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro" (Apoc. 14:9, 10).

O Enfoque Contextual

A mensagem de admoestação identifica a ira de Deus com a ira do Cordeiro. Sua manifestação aterrorizará os ímpios quando terminar o tempo de graça (Apoc. 6:16, 17). Apocalipse 16 desdobra a ira do Cordeiro como as sete últimas pragas. Estas pragas também são o cumprimento do pisar simbólico da "vinha da terra" em "o grande lagar da ira de Deus" de Apocalipse 14:19 e 20. Por conseguinte, ao denominar-se "últimas pragas" (15:1) devem comparar-se com os outros juízos anteriores de Deus nos selos e nas trombetas (caps. 6, 8 e 9). A dramática intensificação sobre os juízos preliminares aparece em sua globalização. Entretanto, a diferença teológica é a natureza e o propósito das últimas pragas.

Enquanto que os selos e as trombetas objetivam o despertar ao arrependimento em uma igreja apóstata e no mundo, e dessa maneira cumprem um propósito misericordioso, as últimas pragas caem sobre um mundo impenitente depois do fim do tempo de graça, quando o destino eterno de cada um foi selado no santuário celestial (Apoc. 15:8; 16:1; 22:11).

O propósito das últimas pragas é executar o veredicto de Deus sobre seus inimigos, para resgatar os seguidores de Cristo das mãos de seus opressores. Um comentário alemão declara: "Em certo momento indicado, Deus termina sua demora e intervém rapidamente e com caráter concludente. É o objetivo dos juízos das pragas. Quando terminam se anuncia: 'Feito está' (vs. 16, 17)".1 As últimas pragas servem como a substância da sétima trombeta. Isto requer uma breve recapitulação da origem de todos os juízos messiânicos no Apocalipse.

Origem Celestial dos Juízos messiânicos

Os selos, as trombetas e as últimas pragas todas são enviadas do santuário celestial (Apoc. 5; 8:3-5; 15:5-8). Estes três septenários estão precedidos por uma visão dos santos vitoriosos no reino dos céus (5:9, 10; 7:9-17; 15:2-4). Este arranjo literário mostra que o interesse primário dos juízos de Deus é a salvação de seu povo. Ao mesmo tempo, ele é o Deus de justiça que "não se deixa escarnecer" (Gál. 6:7). Este duplo aspecto do caráter santo de Deus: sua justiça salvífica e sua justiça punitiva, já tinha sido revelado o Moisés (ver Êxo. 34:6, 7). Suas ameaças são tão confiáveis e reais como suas promessas (ver Apoc. 22:18, 19). Ambas as manifestações da justiça divina se originam no Senhor ressuscitado (cap. 5).

A composição literária do Apocalipse mostra que as pragas seguem depois do último chamado ao arrependimento (Apoc. 14:6-12) e depois do selamento dos santos (7:1-4). Os juízos culminam na batalha do "Armagedom" quer dizer, na destruição de Babilônia (16:13-19). Os capítulos 17 a 19 constituem a explicação detalhada da queda de Babilônia (ver o cap. XXX desta obra).

Os Tipos do Antigo Testamento Prefiguram a Proteção Divina

Alguns comentadores assumem que os seguidores de Cristo serão arrebatados ao céu antes que comecem a derramar-se as pragas, de maneira que não serão afetados pela ira de Deus. Mas a hipótese de um arrebatamento não está apoiado por uma exegese bem feita. A analogia das pragas com as pragas que caíram antes sobre o Egito mostra que Israel permaneceu na terra de Gósen de maneira que Faraó pudesse ver a "diferencia entre os egípcios e os israelitas" (Êxo. 11:7; 8:22, 23). Israel inclusive participou desta distinção colocando o sangue do cordeiro pascal como "um sinal" sobre os batentes de suas casas: "Quando eu vir o sangue, passarei por vós, e não haverá entre vós praga destruidora, quando eu ferir a terra do Egito" (Êxo. 12:13).

Também o povo de Deus do tempo do fim é chamado a separar-se de "Babilônia" e unir-se a Cristo, "para que não sejam partícipes de seus pecados, nem recebam parte de suas pragas" (Apoc. 18:4; 14:1). Assim como o Israel da antiguidade foi protegido pelo "sinal" do sangue, assim o Israel do tempo do fim será protegido por um selo especial do Deus vivente, que os anjos de Deus colocarão na fronte de cada um dos escolhidos (Apoc. 7:3; 14:1).

Outro paralelo está na visão do Ezequiel, sobre o selamento do remanescente fiel de Jerusalém. O selo de Deus garantia sua preservação. Assim acontecerá com o antítipo!2

As Pragas Dão Começo ao Dia do Senhor

A teologia popular identifica o "dia do Senhor" com o segundo advento de Cristo. O Apocalipse inclui a guerra do Armagedom em "aquele grande dia do Deus Todo-poderoso" (Apoc. 16:14). A esse "grande dia" ele o chama o dia de sua ira ou o dia da vingança de Deus (Isa. 34:8; Sof. 2:2; Apoc. 6:17). O dia da ira de Deus começa com as sete últimas pragas (ver Apoc. 15:1; 6:17). Quando as sete taças de ouro estejam cheias da ira de Deus, "ninguém podia entrar no templo até que fossem cumpridas as sete pragas dos sete anjos" (15:7, 8).

Como o tempo de graça termina ao iniciar-se as sete últimas pragas, o fim do tempo de graça pode identificar-se com o tempo no qual "se levantará Miguel, o grande príncipe, o defensor dos filhos do teu povo". Depois que se levante, "haverá tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até àquele temp" (Dan. 12:1).

O dia do Senhor terminará quando os céus e a terra sejam purificados por fogo e quando se estabelecer um novo céu e uma nova terra como a morada dos justos (ver 2 Ped. 3:10-13), promessa que se realizará no fim do milênio (ver Apoc. 21:1-5).

A extensão completa do dia do Senhor pode representar-se no seguinte diagrama:3

O TEMPO DO FIM O DIA DO SENHOR O DIA DO SENHOR

Fim do tempo de graça depois da tríplice mensagem As 7 últimas pragas Segunda vinda e milênio
Apoc. 14:6-12 Apoc. 15 e 16 Apoc. 19 e 20

O Motivo do Êxodo das Pragas

Parece que existe um consenso universal de que o motivo básico do Apocalipse é o motivo do êxodo. A descrição de Cristo como o cordeiro pascal, prepara o cenário para a igreja como o povo do novo êxodo. Quando os anciões cantam, "com o teu sangue compraste para Deus homens" (Apoc. 5:9), unem o motivo do cordeiro pascal com o tema do êxodo. Desde o começo, o Apocalipse chama a igreja de Cristo um "reino de sacerdotes" (1:5, 6). O "novo cântico" dos anciões espera com interesse um êxodo mais espetacular no futuro, o da igreja triunfante, "e reinarão sobre a terra" (5:10). Este panorama futuro se desenvolve na visão da nova terra e da Nova Jerusalém (caps. 21 e 22).

A sétima trombeta declara: "O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos" (Apoc. 11:15). Esse reino futuro de Deus e de Cristo será precedido pelas sete pragas últimas, porque a terra ainda está dominada por um opressor "o Egito" ou "Babilônia".

A realidade histórica das pragas e do êxodo conseguinte da igreja depende do poder do Messias e do mérito de sua morte como Cordeiro pascal. Só ele é digno de "abrir o livro e desatar seus sete selos" (Apoc. 5:5) e realizar a bem-aventurada esperança. Em nenhum lugar do Apocalipse se usa a tipologia do êxodo em forma mais explícita e sistemática que nas sete pragas.

O propósito das últimas pragas corresponde essencialmente ao das 10 pragas que caíram sobre o Egito nos tempos dd Moisés: revelar a justiça de Deus ao subjugar e eliminar o perseguidor. Ambas as libertações do povo de Deus, a passada e a futura, são manifestações da fidelidade do mesmo Deus do pacto. Já Apocalipse 15 começa a conectar ambas as séries de pragas. João vê os que tinham alcançado a vitória sobre a besta e sua imagem estar em pé "no mar" ["junto ao mar", RC; "sobre o mar", BJ; "na margem", NBE] de vidro que parecia de cor vermelha ("misturado com fogo", RC), em outras palavras, estavam em pé ao lado de um "mar vermelho" (Apoc. 15:2). Em segundo lugar, tinham harpas e cantavam "o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro..." (vs. 2, 3). O cantar "o cântico de Moisés" volta a representar o tema da libertação do cântico de Moisés em Êxodo 15.

O cântico de Moisés louva a intervenção dramática de Deus como uma manifestação de seu reino: "O Senhor reinará por todo o sempre" (Êxo. 15:18, 11 ). Este ato histórico de liberação por parte do Deus de Israel constitui o tipo de todas as seguintes guerras santas do Senhor. Cantou Moisés: "Jeová é varão de guerra; Jeová é seu nome" (v. 3).

João exalta a Cristo como o único que trará uma libertação maior que a que trouxe Moisés. O Israel do tempo do fim cantará "o cântico de Moisés servo de Deus, e o cântico do Cordeiro" (Apoc. 15:3). Cristo levará a cabo uma libertação eterna e universal para o remanescente fiel no fim da era cristã. Serão sacados de uma forma sobrenatural do anticristo atacante, do qual Faraó foi só uma pálida antecipação.

Uma referência adicional aos dias de Moisés é a nota deliberada de João com respeito ao templo no céu, que é "o templo do tabernáculo do testemunho" (Apoc. 15:5; cf. Êxo. 38:21). Esta expressão centra a atenção sobre o "testemunho" ou a santa lei de Deus, que se guardava no "arca do testemunho" (ver Êxo. 40:3, 20, 21; Deut, 10:2; 1 Reis 8:9; cf. Heb. 9:4). Este foco de atenção apocalíptico sobre a lei de Deus dentro de seu templo celestial é apropriado em vista do conflito final do povo de Deus com o anticristo idólatra (ver acima, sobre o Apoc. 13:15-17). Em Apocalipse 15:5 se volta a enfatizar a fidelidade aos "mandamentos de Deus" (ver também Apoc. 11:19). Os "mandamentos de Deus" em Apocalipse 12:17 e 14:12 estão identificados como o Decálogo dentro do "tabernáculo do testemunho" de Israel, o que é de importância suprema para a última geração do povo de Deus.

Finalmente, o anúncio de que o templo no céu "encheu-se de fumaça pela glória de Deus, e por seu poder", de maneira que ninguém podia entrar (Apoc. 15:8), aponta para trás à vinda da presença de Deus como Redentor e Juiz (Êxo. 40:34, 35; 1 Reis 8:10, 11 ). Beasley-Murray aponta a este duplo significado:

"A dualidade do êxodo como juízo e redenção se mantém nos capítulos 15 e 16 [do Apocalipse], e para assegurar que o leitor entende isto, coloca-se primeiro o elemento positivo da redenção".4

João não inverte a ordem histórica em Apocalipse 15 e 16 como se colocasse as pragas (cap. 16) depois da libertação de Israel (cap. 15). João coloca a certeza da redenção do êxodo frente a Apocalipse 15 como o propósito de sua mensagem apocalíptica. Está impressionado pela segurança de que o povo de Deus do tempo do fim cantará porque foi livrado de seus opressores por meio do poder de Cristo:

"E entoavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro, dizendo: Grandes e admiráveis são as tuas obras, Senhor Deus, Todo-Poderoso! Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei das nações! Quem não temerá e não glorificará o teu nome, ó Senhor? Pois só tu és santo; por isso, todas as nações virão e adorarão diante de ti, porque os teus atos de justiça se fizeram manifestos" (Apoc. 15:3, 4).

João revela esta manifestação final da justiça de Deus em Apocalipse 16. Elmer M. Rusten tirou este paralelo:

"Assim como o exército do Egito foi culpado no aquoso juízo de Deus e foi afogado (Êxo. 14:26-30 ), assim o anticristo e seus seguidores em Apocalipse 15 estão a ponto de ser culpados no juízo final da ira de Deus (Apoc. 16)".5

Cristo assegura a seus seguidores que sua fidelidade a ele, quer dizer, fidelidade aos mandamentos de Deus e ao testemunho de Jesus, será honrada ao resgatá-los na hora de sua necessidade suprema. O cântico de vitória em Apocalipse 15 será cantado depois que as pragas hajam dissolvido o "Império Babilônico". Apocalipse 15 não garante a expectativa popular de que cada mártir cantará o cântico da vitória no céu, isolado dos outros, porque todos os vencedores cantarão juntos ao mesmo tempo, assim como Israel cantou o cântico de Moisés depois de sua libertação como povo. Em realidade, todos os mártires da era cristã triunfarão juntos (ver Apoc. 6:9-11; 7:9-17). O fato de que o cântico de Moisés e do Cordeiro está composto de citações de Moisés (Êxo. 15; Deut. 32:4), dos salmos (Sal. 86:9; 110:2; 145:17) e dos profetas (Amós 4:13; Jer. 10:7), demonstra que o cântico futuro do povo de Cristo é a "revelação genuína de um Deus e de um Espírito, e o testemunho de uma fé".6

O cântico não enumera suas próprias virtudes. Louva a santidade, a justiça e a soberania de Deus, louvor que é o propósito final do plano de redenção e da história da salvação. Semelhante exaltação de Cristo é significativa, especialmente em vista da aparente vitória da besta sobre todos os que moram na terra e que se dobraram e adoraram o anticristo (Apoc. 13:4, 8, 12). Quando a igreja fizer frente à ameaça de morte dos poderes de plantão, deve recordar o cântico futuro sobre o mar de vidro diante do trono de Deus.

O Propósito Moral da Ira de Deus

A expressão apocalíptica "a ira [orgué] de Deus" necessita uma atenção cuidadosa, porque foi mal-entendida por intérpretes bem intencionados. A frase é usada 375 vezes no Antigo Testamento,7 e permanece como uma característica essencial no evangelho no Novo Testamento e em sua perspectiva profética (Mat. 3:7; João 3:36; Rom. 1:18; 2:5-8; 5:8-11; Apoc. 6:16, 17).

Moisés revelou que o Deus de Israel era "tardio para a ira, e grande em misericórdia" mas que "ao culpado não tem por inocente" (Êxo. 34:6, 7; Núm. 14:18). Moisés interpretou a ira de Deus como uma ira santa, livre de qualquer imperfeição humana. Só despertava sua ira para opor-se ao pecado e se irava em grande maneira para castigar a rebelião contra a vontade soberana de Deus (2 Reis 17:16-18; 2 Crôn. 36:16; Dan. 9:4-16).

A proclamação da ira de Deus e sua justiça retributiva não está em conflito com seu amor. Aos contrário, o reconhecimento da santa ira de Deus contra o pecado cria uma nova apreciação de sua misericórdia para todos os objetos de sua ira (Ef. 2:3; 5:6; Rom. 5:8-10). A ira de Deus é tão real como o é o amor de Deus.

Os 7 juízos punitivos de Apocalipse 16 não são explosões vingativas de um Deus ofendido, e sim a demonstração bem ordenada das maldições finais do pacto, destinadas para um povo do pacto que persiste na apostasia. Já em Levítico 26, Deus tinha admoestado a Israel que sua idolatria ininterrupta e o rechaço voluntário de sua Torah suscitaria um castigo séptuple, até mesmo uma guerra santa de Jeová contra o povo rebelde (Lev. 26:18, 21, 24, 28-33)! J. M. Ford inclusive conta exatamente sete castigos em Levítico 26:18-34.8 Mas, qual é a intenção do derramamento de sua ira "sem diluir" durante as últimas pragas se já não provocam mais arrependimento?

Em primeiro lugar, as pragas objetivam despertar o reconhecimento de que Babilônia se tem oposto ao Criador com sua imposição da marca da besta, sua adoração da imagem da besta e sua proscrição dos que rechaçam a marca. Entretanto, a reação de Babilônia é o oposto: amaldiçoa a Deus e rechaça arrepender-se e glorificá-lo (Apoc. 16:9, 11, 21). Esta reação demonstra a hostilidade de Babilônia contra Deus e seu povo.

Esta tríplice repetição enfatiza o misterioso endurecimento do coração, até mais obstinado que o de Faraó da antiguidade, o que revela a incapacidade espantosa do homem para chegar ao arrependimento por si mesmo. Heinrich Kraf assinalou que "a continuação obstinada do pecado se castiga a si mesmo, porque obstrui seu próprio caminho ao arrependimento".9 Os ímpios imputam a Deus o mal que lhes sobrevém, e o amaldiçoam como se fosse um tirano (Apoc. 16:9, 11). Nessa forma, mostram seu rechaço do amor de Deus e de seu sacrifício expiatório. Por este ato, Babilônia se condenará a si mesmo e se declarará perdida. As pragas têm o propósito de revelar os corações e as obras do homem em sua atitude para com Cristo. Os juízos correspondem à perseguição que Babilônia mesma escolheu. Babilônia sofrerá as conseqüências do que tem feito. É julgada de acordo com suas obras.

O Apropriado dos Sete Juízos das Pragas

Vestidos como Cristo o Sumo Sacerdote (Apoc. 15:6), os sete anjos têm as sete taças de ouro que já não estão cheios de incenso, como as que tinham levado antes os 24 anciões "cheias de incenso, que são as orações dos santos" (5:8). Agora os anjos usam as taças para derramar "a ira de Deus" (15:7). E. Schüssler Fiorenza assinala o apropriado desta resposta divina, e diz:

"As taças com as pragas são uma resposta à oração e o protesto dos cristãos por justiça. Também são uma advertência para os cristãos e os não cristãos por igual, para que não cheguem a ser membros da comunidade do culto imperial".10

Assim como as pragas das quatro primeiras trombetas em Apocalipse 8:7-12, as primeiras pragas se derramam igualmente sobre a terra (16:2), sobre o mar (v. 3), sobre os rios e as fontes das águas (v. 4) e sobre o sol (v. 8). Entretanto, os castigos finais seguem com uma severidade e um ritmo mais rápido. Toda a terra chega a ser como o antigo "Egito", quer dizer, o opressor do Israel de Deus.

1. A primeira praga de "úlceras malignas e perniciosas" afeta a todos os "portadores da marca da besta e adoradores da sua imagem" (Apoc. 16:2). Isto demonstra que o povo de Deus não sofrerá esta praga nem nenhuma seguinte! Alguns vêem o apropriado desta praga em uma marca externa com úlceras malignas sobre os que têm a marca da besta,

2. A segunda praga converte o mar "em sangue como de morto" (Apoc. 16:3), o que causa a destruição de uma grande porção da criação para a humanidade e mostra indubitavelmente "o dedo" de um Criador ofendido. O "sangue" das pragas apocalípticas mostra a condenação divina pelo derramamento de sangue dos mártires. O anjo explica: "Porquanto derramaram sangue de santos e de profetas, também sangue lhes tens dado a beber; são dignos disso" (v. 6).

3. A terceira praga converte os rios e as fontes das águas em sangue (Apoc. 16:4). Agora a água para os homens beberem se converte em uma maldição. De acordo com a última mensagem de admoestação de Deus, os moradores da terra recusaram reconhecer ao Criador do mar e das fontes das águas (14:7). A terceira praga é uma resposta adequada para os que têm feito caso omisso de Deus como a fonte e o sustentador da vida humana. Os anjos "das águas" e o do "altar" no céu, respondem com louvores ao santo, e dizem: "Tu és justo, oh Senhor" (16:5, 7). É evidente que estas pragas seguem-se uma à outra em rápida sucessão e em um tempo muito curto, porque do contrário ninguém sobreviveria às três primeiras pragas.

4. A quarta praga compara-se com a quarta trombeta em que afeta o sol, embora já não a "terça parte do sol" (Apoc. 8:12). Um calor que chamusca fará que os homens amaldiçoem o nome de Deus, porque "nem se arrependeram para lhe darem glória" (16:9). O contraste chega a ser evidente. Enquanto que vozes celestiais louvam a Deus por seus juízos finais (vs. 5-7), vozes terrestres o amaldiçoam por seus juízos. Esta reação indica quão obstinados e endurecidos chegaram a ser os adoradores da besta contra aquele que "tem poder sobre estas pragas" (v. 9). É uma atitude similar à que mostrou o Egito da antiguidade durante as pragas nos dias de Moisés. Quando as pessoas recusam persistentemente arrepender-se, chega o momento quando já não podem arrepender-se!

5. A quinta praga é derramada "sobre o trono da besta, cujo reino se tornou em trevas" (Apoc. 16:10). Esta praga é similar à nona praga de Moisés, quando o Egito ficou coberto por uma escuridão total durante três dias. "Não viram uns aos outros, e ninguém se levantou do seu lugar por três dias; porém todos os filhos de Israel tinham luz nas suas habitações" (Êxo. 10:23). Durante a quinta praga, o "reino" da besta será paralisado por uma escuridão sobrenatural e impenetrável, um veredicto celestial apropriado para os que rechaçaram a Cristo como a luz do mundo e "amaram mais as trevas do que a luz" (João 3:19).

O reino da besta será mundial, porque se estende a todos os povos e nações (Apoc. 13:8; 14:8). Em vez de reconhecer seu pecado, amaldiçoam a Deus "por causa das angústias e das úlceras que sofriam" (16:11). Evidentemente as pragas finais caem rapidamente sobre a mesma geração, porque as úlceras que se produzem durante a primeira praga continuam sob a quinta. Ouvimos o estribilho: "Não se arrependeram de suas obras" (v. 11). Beasley-Murray explica isto de uma maneira perspicaz:

"Por conseguinte, os que amaldiçoam a Deus por seus juízos são os obstinados. A marca da besta em seus corpos penetrou suas almas, instilando neles a hostilidade para com Deus e sua santidade, que é característico da própria besta".11

Razão Básica para Aplicar a Descrição das Pragas

Existe confusão com respeito à hermenêutica de aplicar as pragas de Apocalipse 15 e 16 a realidades históricas futuras. Devem aplicar-se literalmente ou em forma figurada? Alguns têm tratado de uma ou outra maneira, sem ter verdadeira satisfação. A chave para decifrar o Apocalipse não é a aplicação rígida do literalismo ou do alegorismo. Do começo até o fim, este livro apocalíptico tece juntas a linguagem simbólica e a literal numa tela (ver Apoc. 1:16; 22:14, 17). Em Apocalipse 12, a "mulher" de Deus dá à luz "um filho varão, que regerá com vara de ferro a todas as nações" (v. 5). Aqui a linguagem figurada e a literal se mesclam para transmitir a mensagem com suficiente clareza. Esta clareza chega ao considerar o grande contexto da Escritura e a aplicação da história da salvação no idioma dos profetas. A "mulher" em Apocalipse 12 é simbólica porque esse símbolo foi empregado por Isaías, Ezequiel e outros para designar ao povo do Deus do pacto (ver o cap. XXI desta obra, sobre o Apoc. 12). O "filho varão" é uma clara referência ao Messias prometido (ver Isa. 9:6).

Este exemplo mostra que não se deve criar sua própria pauta simplesmente por deliberação em conseguir uma consistência abstrata. A Escritura deve dirigir o caminho para as aplicações de sua linguagem apocalíptica. Com respeito às últimas pragas devemos falar tentativamente, porque ainda não se cumpriram. Entretanto, é prudente dizer que as 7 pragas são todas literais ou juízos históricos de Deus, embora sua descrição está mais ou menos em imagens simbólicas. A primeira e a quinta descrevem os objetos da ira de Deus em termos simbólicos, como os que tinham "a marca da besta e adoravam sua imagem" ou "sobre o trono da besta" (Apoc. 16:2, 10). A sexta e a sétima pragas descrevem seus objetos como "o grande rio Eufrates" e "a grande Babilônia" (vs. 12, 19). De novo o contexto da Escritura indica um uso simbólico da história da salvação de Israel, para cumprir-se em um antítipo histórico maior no tempo do fim. A questão é determinar se os efeitos históricos das pragas se descrevem em linguagem alegórica ou literal. É interessante que Uriah Smith insistiu que sua interpretação das duas últimas pragas também reconheciam juízos "literais":

"Estas pragas, de acordo com a mesma natureza do caso, devem ser manifestações de ira e juízos contra os homens... Tudo o que recalcamos é que os castigos resultantes de cada taça tem caráter literal. No caso da sexta isto praga é assim como com todas as demais, embora as organizações que sofrem estes juízos podem ser apresentadas em forma simbólica".12

Entretanto, a base lógica decisiva para a aplicação das pragas é seu significado teológico. Roy Naden aplica seu ponto de vista cristológico das últimas pragas para os que rechaçam a Cristo como o Cordeiro de Deus:

"Os que rechaçam a Cristo experimentarão as conseqüências inevitáveis do pecado, e ao lhes faltar um substituto, experimentarão pessoalmente a ira de Deus nas sete últimas pragas. Este é o significado primário de Apocalipse 16".13

O Motivo do Êxodo nas Últimas Pragas

É essencial entender o caráter pactual de todas as pragas. O motivo do êxodo que une todos os juízos das pragas, serve ao propósito elevado da libertação do Israel oprimido. O caráter das pragas como maldições do pacto chega a ser evidente quando se reconhece a relação tipológica das pragas finais com as dez pragas do Egito.

Não menos importante foi o ato de Deus da "guerra santa" para libertar o seu povo do exército perseguidor do Egito: o repentino secamento do Mar Vermelho. Faraó e seus oficiais reconheceram as pragas do Egito como o "dedo de Deus" (Êxo. 8:19), devido a que eram os opressores dos israelitas (10:7). As últimas pragas agitam a consciência do mundo para o seu mau trato dos seguidores de Cristo, o que finalmente é obtido pela sexta e a sétima pragas. Estas últimas pragas proporcionam a libertação do êxodo do Israel de Deus. Surpreendentemente, as sete pragas, as últimas, não estão modeladas segundo as pragas egípcias e sim segundo a queda histórica do Império Babilônico.

Os Juízos da Sexta e da Sétima Taças

A sexta taça é derramada sobre "o grande rio Eufrates; e a sua água secou-se, para que se preparasse o caminho dos reis do Oriente" (Apoc. 16:12). Durante o juízo da sétima praga, "a grande Babilônia" é destruída (vs. 17-19). Obviamente, o Eufrates é o rio de Babilônia (ver Jer. 51:63, 64). Seu "secamento" súbito aponta para trás, à seqüência histórica na história de Israel: o repentino secamento do Eufrates, seguido pela queda de Babilônia e a chegada dos reis do oriente. Isto requer uma reconstrução cuidadosa da queda do Império Neobabilônico como foi predita por Isaías (caps. 44-47) e Jeremias (caps. 50 e 51). Isaías já tinha empregado o êxodo de Israel do Egito como um tipo do êxodo de Israel de Babilônia. Assegurou-lhes que Deus voltaria a secar uma vez mais as águas que formavam um obstáculo para a volta de Israel à terra prometida:

"O Senhor destruirá totalmente o braço do mar do Egito, e com a força do seu vento moverá a mão contra o Eufrates, e, ferindo-o, dividi-lo-á em sete canais, de sorte que qualquer o atravessará de sandálias" (Isa. 11:15; ver o v. 16).

O secamento do Eufrates demonstra o juízo de Deus sobre Babilônia! Resultou em sua queda repentina e assim "preparou o caminho" para a libertação de Israel do cativeiro de Babilônia.14

O Apocalipse transforma a história antiga da queda de Babilônia, por meio do secamento das águas do Eufrates, em um tipo profético para a era da igreja. Assim como Jeová e seu povo do pacto estavam situados no centro da queda de Babilônia, assim Cristo e seu povo do novo pacto estarão situados no centro da queda da Babilônia moderna. A história de salvação de Israel será cumprida pela igreja de Cristo como seu antítipo. Para compreender esta grandiosa tipologia, devemos explicar a função que desempenhou cada parte:

1. Babilônia se desempenhou como o opressor de Israel.

2. O Eufrates era uma parte integral de Babilônia, que a protegia e por isso era hostil para com Israel.

3. O secamento do Eufrates indicava o juízo de Deus sobre Babilônia, causando sua queda súbita. Cumpriu o papel de preparar a libertação de Israel.

4. Ciro e seus reis aliados de Média e Pérsia (Jer. 50:41; 51:11, 28) chegaram a Babilônia como os "reis do oriente" profetizados para cumprir o propósito de Deus. Foram os inimigos de Babilônia e os libertadores de Israel. Ciro foi "ungido" pelo Senhor para derrotar Babilônia e para libertar Israel (Isa. 45:1).

5. Daniel e o Israel de Deus constituíam o povo do pacto de Deus, fiel e arrependido, dentro de Babilônia (ver Dan. 9).

Estas caracterizações teológicas são os elementos essenciais da queda de Babilônia. No livro do Apocalipse, Babilônia representa ao arquiinimigo de Cristo e de sua igreja. No tempo do fim, tanto Babilônia como Israel serão universais; o campo de ação territorial de cada um será mundial. O evangelho se prega explicitamente "a toda nação, tribo, língua e povo" (Apoc. 14:6). Esta quádrupla ênfase acentua sua extensão universal. O anúncio seguinte na mensagem do segundo anjo, "caiu, caiu a grande Babilônia", apóia-se no fato de que "tem dado a beber a todas as nações do vinho da fúria da sua prostituição" (v. 8). Finalmente, todo mundo chegou a estar sob seu feitiço,

Em harmonia com este alcance mundial de Babilônia, o anjo de Apocalipse 17 aplica ao rio de Babilônia, o Eufrates, uma extensão mundial: "Povos, multidões, nações e línguas" (v. 15). Os que insistem em que o Eufrates apocalíptico representa só as pessoas que vivem na localização geográfica do Eufrates, estão obrigados a seguir a mesma interpretação com Babilônia, Israel, o monte Sião, etc. Estes intérpretes falham em captar o caráter cristocêntrico da tipologia bíblica. O evangelho de Jesus Cristo nos liberta das restrições do literalismo étnico e geográfico durante a era cristã.

Papel Explicativo de Apocalipse 17

A aplicação universal do Eufrates que o anjo faz em Apocalipse 17 serve-nos para evitar que demos ao rio de Babilônia uma conotação com o Oriente Médio. Onde quer que Deus secou um corpo de água literal ou um "dilúvio" de inimigos na história de Israel como o Mar Vermelho, ou o rio Jordão, ou a inundação dos invasores dos povos do Eufrates (Isa. 8:7, 8) –, sempre indicou um juízo providencial sobre os inimigos do povo de Deus. O secamento do grande rio de Babilônia durante a sexta futura praga (Apoc. 16:12) –, não será uma exceção!

Este juízo divino põe-se em marcha quando os governantes políticos e as multidões de todas as nações se dêem conta de repente da condenação de Deus sobre Babilônia e retirem o apoio que davam a Babilônia. Darão a volta e converterão seu apoio leal a Babilônia em um ódio ativo que a destruirá:

"E os dez chifres que viste na besta são os que aborrecerão a prostituta, e a porão desolada e nua, e comerão a sua carne, e a queimarão no fogo" (Apoc. 17:16).

Isto dá como resultado a repentina dissolução de Babilônia que na providência de Deus destruirá Babilônia. Apocalipse 17 nos proporciona uma explicação dramática da sexta e a sétima pragas de Apocalipse 16.

A Visão do Armagedom: Apocalipse 16:13-16

"Então, vi sair da boca do dragão, da boca da besta e da boca do falso profeta três espíritos imundos semelhantes a rãs; porque eles são espíritos de demônios, operadores de sinais, e se dirigem aos reis do mundo inteiro com o fim de ajuntá-los para a peleja do grande Dia do Deus Todo-Poderoso... Então, os ajuntaram no lugar que em hebraico se chama Armagedom" (Apoc. 16:13, 14, 16).

A visão intermediária não é uma parte da sexta praga. Mas bem explica as forças que operam no transfundo das sete últimas pragas. Alguns tiraram precipitadamente a conclusão de que estas palavras predizem uma guerra mundial entre os blocos de nações do Oriente e Ocidente. Uma especulação assim surge só quando separamos as palavras da Escritura de suas raízes e contextos bíblicos. Não se apresenta aqui nenhuma guerra entre as nações. A culminação do Apocalipse de João trata com um mal muito mais sério à vista de Deus: as forças religiosas apóstatas conduzirão a todos os poderes da terra a unir-se em uma causa comum, fazendo guerra contra o povo de Deus! Aqui está a trama assassina da última guerra demoníaca no Apocalipse. Aqui está a causa do mal que desencadeará a participação dramática de Deus, o juízo de sua guerra santa contra Babilônia.

Guerrear contra Deus é fazer guerra contra o povo de Deus, o que foi a experiência de Israel na Escritura e a razão pela qual Deus interveio para libertar o seu povo. O fato de que o povo de Cristo se encontre no centro da batalha apocalíptica pode inferir-se já da advertência de Cristo: "Eis que venho como ladrão. Bem-aventurado aquele que vigia e guarda as suas vestes, para que não ande nu, e não se vejam as suas vergonhas" (Apoc. 16:15). Este conselho do Messias é uma verdade sempre presente para a igreja, e entretanto tem uma urgência especial para o povo remanescente. Deve caminhar na armadura de sua justiça por meio de uma fé viva (ver 3:18).

Ao que parece, os santos inclusive não foram arrebatados ao céu durante as sete pragas. O contrário é a verdade. Desempenharão um papel ativo no conflito final, porque a guerra universal contra Deus toma a forma de uma guerra contra os seguidores do Cordeiro! Precisam estar alerta à tríplice mensagem de Apocalipse 14, com seu evangelho eterno e o testemunho de Jesus. A igreja de Sardes foi despertada com estas palavras: "Pois se não velar, virei sobre ti como ladrão, e não saberás a que hora sobre ti virei " (Apoc. 3:3).

Beasley-Murray coloca o conselho de Cristo em sua perspectiva adequada quando diz: "É precisamente porque os seguidores do anticristo não estão alertas a Deus e a seu evangelho, que para eles o dia de Deus é um dia de condenação em vez de ser um dia de redenção".15

Em resumo, o panorama profético das últimas pragas em Apocalipse 15 e 16 tem o propósito de revelar o plano ordenado de antemão por Deus para o triunfo de seus fiéis. O Deus de Israel intervirá mediante sua libertação messiânica mais espetacular em toda a história. Anulará a determinação de Babilônia de exterminar o Israel de Deus por meio de sua intervenção dramática na quinta praga. Este juízo envolverá repentinamente a todas as multidões atacantes com uma escuridão sobrenatural impenetrável (Apoc. 16:10). Este sinal não só deterá instantaneamente os perseguidores, mas também despertará as multidões enganadas a dar-se conta de sua rebelião contra seu próprio Criador! Como conseqüência, deixam de apoiar Babilônia. Uma retirada tão abrupta da lealdade a Babilônia por parte de todos os povos e nações é o que está representado na sexta praga pelo repentino "secamento das águas" de Babilônia, o Eufrates (v. 12). Esta mudança abrupta de sua lealdade a Babilônia, a sua destruição, é o que o anjo explica nos capítulos seguintes, do 17 ao 19.

A Sétima Praga em sua Recapitulação Preliminar: Apocalipse 16:17-21


"Então, derramou o sétimo anjo a sua taça pelo ar, e saiu grande voz do santuário, do lado do trono, dizendo: Feito está! E sobrevieram relâmpagos, vozes e trovões, e ocorreu grande terremoto, como nunca houve igual desde que há gente sobre a terra; tal foi o terremoto, forte e grande. E a grande cidade se dividiu em três partes, e caíram as cidades das nações. E lembrou-se Deus da grande Babilônia para dar-lhe o cálice do vinho do furor da sua ira. Todas as ilhas fugiram, e os montes não foram achados; também desabou do céu sobre os homens grande saraivada, com pedras que pesavam cerca de um talento; e, por causa do flagelo da chuva de pedras, os homens blasfemaram de Deus, porquanto o seu flagelo era sobremodo grande" (Apoc. 16:17-21).

O derramamento da sétima praga "no ar" é ordenada por uma "grande voz" que sai do trono no templo no céu, declarando: Feito está! (Apoc. 16:17). Isto significa que Deus mesmo completa esta praga de juízo como a culminação de uma ação litúrgica celestial, que corresponde com a predição da retribuição divina do templo celestial anunciada por Isaías: "Voz de Jeová que dá o pagamento a seus inimigos" (66:6). A sétima praga é de uma importância e um impacto tão dramáticos que os capítulos 17 a 19 desenvolvem adicionalmente esta taça de juízo sobre Babilônia (ver Apoc. 16:19; 18:6; 19:2, 17-21). A última das pragas se introduz por meio dos sinais cósmicos que acompanham tradicionalmente a guerra santa de Jeová contra os opressores de seu povo: relâmpagos, trovões e um "grande terremoto" (16:18).

O "terremoto" desempenhava um papel distintivo nas teofanias do Antigo Testamento e no panorama apocalíptico do dia do Senhor (ver Êxo. 19:18; Sal. 68:8; 77:17, 18; 114; Isa. 64:3; Hab. 3). Um terremoto universal é parte da guerra santa de Deus (Isa. 13:13; 24:18-23; 34:4; Joel 2:10). Em seu artigo pioneiro, "O terremoto escatológico", Richard Bauckhan declara:

"A identificação da teofania escatológica como uma nova teofania do Sinai pertence à interpretação da história da salvação dos apocalipticistas, segundo o qual os atos redentores de Deus no futuro se descrevem sobre o modelo de seus atos passados".16

O terremoto sem precedentes da sétima praga não é um sinal preliminar do dia do juízo e sim uma parte do juízo de Deus sobre a própria Babilônia (ver Apoc. 16:18). A voz de Deus que fez estremecer o Sinai, de novo fará estremecer os céus e a terra quando vier para julgar (ver Heb. 12:25-29). João tinha mencionado este terremoto cósmico em seu sexto selo (Apoc. 6:12) e na sétima trombeta (11:19).

Enquanto que João acrescentou "grande saraivada" na sétima trombeta (Apoc. 11:19), agora dá mais explicações sobre o "grande saraivada, com pedras que pesavam cerca de um talento" [uns 40 quilos] (Apoc. 16:21). Esta característica final conecta a sétima praga com o juízo de Gogue no tempo do fim, de que falou Ezequiel, quando Gogue ataque o Israel de Deus. Deste modo Ezequiel declarou que o juízo de Deus sobre Gogue será uma manifestação da "ira" divina (Ezeq. 38:18). Também descreveu a guerra de Jeová com característicos de uma teofania tormentosa, terremoto e saraiva, tudo o que se corresponde com Apocalipse 16:17-21.

EZEQUIEL 38:18, 19, 22 APOCALIPSE 16:18, 21

"Naquele dia, quando vier Gogue contra a terra de Israel, diz o Senhor Deus, a minha indignação será mui grande. Pois, no meu zelo, no brasume do meu furor, disse que, naquele dia, será fortemente sacudida a terra de Israel... Contenderei com ele por meio da peste e do sangue; chuva inundante, grandes pedras de saraiva, fogo e enxofre farei cair sobre ele". "E sobrevieram relâmpagos, vozes e trovões, e ocorreu grande terremoto, como nunca houve igual desde que há gente sobre a terra... Também desabou do céu sobre os homens grande saraivada, com pedras que pesavam cerca de um talento; e, por causa do flagelo da chuva de pedras, os homens blasfemaram de Deus, porquanto o seu flagelo era sobremodo grande".

O apóstolo João escreveu de maneira explícita:

"E a grande cidade se dividiu em três partes, e caíram as cidades das nações. E lembrou-se Deus da grande Babilônia para dar-lhe o cálice do vinho do furor da sua ira" (Apoc. 16:19).

O cálice "do vinho do furor de sua ira" é uma metáfora distintiva em Apocalipse 14:8-10; 16:19; 17:2, 4, 6 e 18:3 e 6, e está apoiada na linguagem profética dos oráculos hebraicos contra os arquiinimigos de Israel (ver Jer. 25:15, 16; 51:7) e inclusive contra uma rebelde Jerusalém (Isa. 51:17)! Por isso, o "cálice" ou a taça do vinho da ira de Deus significa juízo divino sobre uma Jerusalém apóstata. Jean Pierre Ruiz captou o significado básico desta metáfora e o expressa nestas palavras:

"Ao usar a metáfora profética da taça, João mostra que foi virado o omelete sobre a grande Babilônia. É-lhe dado a beber da mesma taça que ela mesma tinha preparado (18:6), a taça de ouro cheia das abominações e da imundície de sua fornicação (17:4) com a qual embriagou as nações e a seus reis (14:8; 17:2; 18:3). Por isso, ela deve beber a taça do vinho da vingança da ira de Deus".17

Enquanto que Babilônia, como uma Jerusalém apóstata, é obrigada a "beber" do "cálice" que contém a santa vingança de Deus pelo sangue de seus servos (Apoc. 19:2), os santos, ao contrário, são convidados à "ceia das bodas do Cordeiro!" (V. 9).

O propósito mais elevado do plano de Deus de eliminar a velha criação (Apoc. 16:20) pode ver-se no movimento progressivo do Apocalipse: do colapso de Babilônia até a descida da Nova Jerusalém, o pináculo da nova criação (21:1, 2). Dessa maneira, todos os olhos estão cada vez mais cravados na cidade de Deus em contraste com "as cidades das nações" (16:19).

Referências

Para a Bibliografia, ver as páginas 489-491 do Livro


1 Pohl, Die Offenbarung des Johannes [O Apocalipse de João], p. 148.
2 Para um estudo mais detalhado das últimas pragas, ver LaRondelle, "Contextual Approach to the Seven Last Plagues" [Enfoque contextual às sete últimas pragas], Simpósio sobre o Apocalipse, T. 2, cap. 3.
3 Para um estudo do "dia do Senhor" e das "últimas pragas" na Escritura e nos escritos da Ellen White, ver W. E. Read, "The Great Controversy" [O grande conflito], Our Firm Foundation [Nosso Firme Fundamento] (Washington D. C., Review and Herald, 1953; 2 ts.), t-II, pp. 239-319 (especialmente as pp. 265-268).
4 Beasley-Murray, Revelation, p. 233.
5 Rusten, A Critical Evaluation of Dispensational Interpretations of the Book of Revelation, t. 2, p. 531.
6 Pohl, Die Offenbarung des Johannes [O Apocalipse de João], p. 150.
7 G. Kittel, Diccionario teológico del Nuevo Testamento, t. 5, p. 395.
8 J. M. Ford, Revelation, p. 255.
9 Kraft, Die Offenbarung des Johannes [O Apocalipse de João], p. 207.
10 Schüssler Fiorenza, Invitation to the Book of Revelation, p. 157.
11 Beasley-Murray, Revelation, p. 243.
12 Smith, Las profecías de Daniel y el Apocalipsis, t.2: El Apocalipsis., pp. 692, 694.
13 Naden, The Lamb Among the Beasts. Finding Jesus in the Book of Revelation, p. 234.
14 Para uma análise em profundidade, ver LaRondelle, "Armageddon: Sixth and Seventh Plagues" [Armagedom: A sexta e a sétima pragas], Simpósio sobre o Apocalipse, t 2 cap. 12 ver também seu livro Chariots of Salvation. The Biblical Drama of Armageddon.
15 Beasley-Murray, Revelation, 245.
16 Bauckham, The Climax of Prophecy. Studies on the Book of Revelation, p. 201.
17 Ruiz, Ezekiel in the Apocalypse: The Transformation of Prophetic Language in Apocalypsis 16, 17-19:10, p. 276.

FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA APOCALIPSE 15 E 16


Livros

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Artigos

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_________. "Contextual Approach to the Seven Last Plagues" [Enfoque Contextual das Sete Últimas Pragas], Ibid. Cap. 3.

_________. "Babylon: Antichristian Empire" [Babilônia: O Império Anticristão], Ibid. Cap. 4.

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_________. "Die Bedeutung der Sieben Letzten Plagen" [O Significado das Sete Últimas Pragas], Studien zur Offenbarung [Estudos sobre o Apocalipse]. Band 2. Euro-Africa Division der STA. J, Mager, ed. Hamburgo, 1989. Pp. 169-211.

 
Extraído do Livro Profecias do Tempo do Fim. H. K. Larondelle
 
Pr. Cirilo Gonçalves da Silva
Mestre em Teologia e Evangelista
Twitter: @prcirilo