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sexta-feira, 12 de agosto de 2016

A MELHOR TRADUÇÃO PARA O TEXTO DE APOCALIPSE 22.14


QUAL A MELHOR TRADUÇÃO PARA O TEXTO DE APOCALIPSE 22.14?

Introdução

Não existe nenhum autógrafo do livro de Apocalipse, bem como dos demais livros da Bíblia. O que temos são cópias de cópias e estas, como nos informa a História do Texto Bíblico, por vários fatores, sofreram o risco dos erros dos copistas. Por exemplo, alguns copistas tinham o hábito de colocar notas marginais ou ao pé da página acrescentando algo ao que estava copiando ou explicando-o. Um escriba posterior achando ideias válidas nestas notas e consentâneas com a doutrina bíblica, ele as introduzia no texto. Creem os estudiosos que foi isto o que aconteceu com a doxologia do Pai Nosso, com as três testemunhas celestiais de I João 5.7-8, e com o anjo que agitava as águas em São João 5.4.
A inclusão de algumas palavras ou até frases, em um ou outro manuscrito do texto sagrado, não alterou nenhuma de suas doutrinas, nem deu origem a nenhuma doutrina nova e ainda mais, os textos envolvidos com problemas de Crítica Textual nada têm a ver cem a doutrina da salvação ou da justificação pela fé.
A finalidade deste capítulo é esclarecer os problemas de Ap 22.14, porque há nele implicações tanto doutrinaria como de Crítica Textual. O Texto no Original e sua tradução: a) No Grego: Makarioi hoi plinontes tas stolas auton Makarioi hoi piountes tas entolas autou. b). Sua tradução. Em algumas traduções como a de Figueiredo, Ferreira de Almeida, Bíblia de Jerusalém, New English Bible, Novo Testamento na Linguagem de Hoje, Novo Testamento Vivo e estrangeiras como: Alford, Goodspeed, Spender, Moulton, Fenton, Weymouth, Moffatt, Wyclif, Knox encontramos:
"Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras. . ."; enquanto que as traduções: The Holy Bible, King James Version, La Sacra Biblia, Giovani Diodati (Italiana), a tradução siríaca e outras consignam:  "Bem-aventurados aqueles que guardam os seus mandamentos...". Comentários sobre o texto: Não nos foi possível precisar a data em que o problema surgiu, entretanto, quase todos os estudiosos do assunto têm chegado a um denominador comum quanto à divergência no texto; esta apareceu em consequência do equívoco dos copistas. A grande semelhança entre os dois textos no original (pois há apenas seis letras diferentes) fez com que os escribas substituíssem um pelo outro. A diferença entre as palavras "vestes" e "mandamentos" no grego é uma questão de letras iniciais. Vestes no acusativo plural é stolas e mandamentos entolas sendo a diferença de um "s" e de "en" nas respectivas palavras. Por isso muitos admitem que esta pequena diferença foi a causa da troca de algum copista.
Qual era o texto original? A Crítica Textual não tem condições de dar uma resposta definitiva a esta pergunta. Os adventistas citávamos, em tempos passados, Apocalipse 22.14 como uma prova eloquente da observância dos mandamentos como fator de nossa salvação, mas em virtude de ser uma passagem contraditória, hoje não o fazemos com tanta veemência. A seguir se encontram soluções propostas pela crítica Textual e por renomados exegetas e comentaristas.
O Comentário Adventista, vol. VII, pág. 897, sobre este verso declara:  "Importante evidência textual pode ser citada para a variante 'que lavam as suas vestiduras'. Poucos manuscritos consignam 'que lavaram suas vestiduras'. Dos unciais primitivos, somente o Sinaítico e o Alexandrino contêm esta seção do Apocalipse, e ambos inserem 'que lavam as suas vestiduras'. A maior parte dos manuscritos minúsculos apresenta que guardam os seus mandamentos'. As traduções antigas acham-se divididas entre as duas formas, bem como as citações patrísticas. As duas frases são muito semelhantes em grego, e é fácil concluir-se como um escriba pôde ter confundido uma frase pela outra, embora seja impossível saber-se qual seria a versão original. "A seguinte transliteração mostrará a semelhança: 'que guardam os seus mandamentos'. 'que lavam suas vestes'. "Como um fato autêntico ambas as versões se adaptam ao contexto e estão em harmonia cem os ensinamentos de João noutros lugares. Sobre o assunto de guardar os mandamentos, Ver Ap. 17.17; 14.12; confira Jo 14.15, 21; 15.10; 1 Jo 2.3-6. Sobre o assunto de lavar as vestiduras veja Ap. 7.14, onde é descrita uma multidão de santos como tendo lavado suas vestes e tornado brancas no sangue do cordeiro. O nosso título ao céu é a justiça de Cristo imputada: nossa adaptação para o céu, é a justiça de Cristo comunicada, representada pelas vestiduras lavadas. A evidência exterior da justiça de Cristo comunicada é perfeita obediência aos mandamentos de Deus. Por isso as duas ideias de vestiduras lavadas e obediência aos mandamentos de Deus estão intimamente relacionadas. "À luz dos problemas de tradução aqui discutidos, pareceria mais sábio construir os fundamentos da doutrina da obediência aos mandamentos de Deus, sobre outras passagens das Escrituras que tratam da obediência, sobre as quais nenhum problema de evidência textual tenha surgido. Há muitas delas. "Para um estudo mais completo deste problema veja Problems in Bible Translation, págs. 257 –262." O Comentário Exegético y Explicativo de la Biblia de Roberto Jamieson, A. R. Fausset e David Brown da Casa Bautista de Publicaciones assim se expressa sobre Ap. 22.14: " 'Guardam os seus mandamentos', assim aparece na tradução Siríaca, na Cóptica e nos escritos de Cipriano, porém, os códices Alexandrino e Alef ou Sinaítico e a Vulgata trazem 'Bem-aventurados os que lavam suas vestes' isto é, no sangue do cordeiro – Ap 7.14. Este ensino tira o pretexto da salvação pelas obras. A nossa versão é mais compatível com a salvação pela graça, pois que o mandamento evangélico maior e primeiro, dado por Deus é crer em Jesus Cristo. Assim nosso poder (em grego – privilégio ou autoridade legal – exousia) sobre a árvore da vida, não se deve a nossas obras, mas aquilo que Jesus fez por nós. O direito ou privilégio, está baseado não em nossos méritos, mas na graça de Deus". II Vol. pág. 831. Conforme o New Testament of our Lord and Savior Jesus, With Commentary and Critical Notes, by Adam Clarke – Published by Lane & Scott (New York) 1950, temos a seguinte declaração: "Para que eles tenham direito à árvore da vida, precisam ser obedientes aos mandamentos de Deus. Todavia, sem a graça, não há obediência, sem a obediência não há acesso à árvore da vida. Através da graça de Cristo nós recebemos o bem".
Conclusão:
Creio serem oportunas e muito adequadas as palavras de C.W. Irwin, inseridas em O Ministério Adventista, maio e junho de 1954, pág. 20, como fecho destas considerações:
"Os escritores do Novo Testamento têm a tendência de dar mais ênfase ao princípio da justiça pela fé do que à justiça pelas obras da lei, do que resultou a tradução: 'Bem-aventurados aqueles que lavaram as suas vestiduras'. . . etc. Isto parece estar mais em conformidade com o espírito do Novo Testamento, e é, sem dúvida, a tradução dum original grego correto. "De maneira nenhuma pode essa versão ser usada como argumento contra a validade e perpetuidade da lei de Deus, concretizada nos Dez Mandamentos. É simplesmente uma confirmação de que o escritor inspirado, nesse passo, não se referia aos Dez Mandamentos, mas enunciava um princípio de concerto novo de justiça pela fé.
"Tanto no Velho como no Novo Testamento a expressão "vestir" refere-se ao caráter. Em Zacarias, os trapos imundos representam a pobreza espiritual, pelo que, a mudança das vestes ou vestes brancas, é um símbolo da pureza de caráter, atingida apenas por meio da fé na graça salvadora de Jesus Cristo. Deste ponto de vista, o passo é esclarecedor e belo."
Nota:
O livro citado, Publicação Adventista da Review and Herald, é bastante útil para obreiros e mesmo para os que não são técnicos da área, mas são  estudiosos.
 
Adaptado de Pedro Apolinário
Pr. Cirilo Gonçalves - Evangelista da IASD - AP,SP.
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domingo, 5 de junho de 2016

SALMO 1 - BÊNÇAO OU MALDIÇÃO PARA TODOS

SALMO 1

1 Bem-aventurado o homem

    que não anda no conselho dos ímpios,

não se detém no caminho dos pecadores,

    nem se assenta na roda dos escarnecedores.

2  Antes, o seu prazer está na lei do SENHOR,

    e na sua lei medita de dia e de noite.

3  Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas,

    que, no devido tempo, dá o seu fruto,

e cuja folhagem não murcha;

    e tudo quanto ele faz será bem sucedido.

4 Os ímpios não são assim;

    são, porém, como a palha

    que o vento dispersa.

5  Por isso, os perversos não prevalecerão no juízo,

    nem os pecadores, na congregação dos justos.

6  Pois o SENHOR conhece o caminho dos justos,

    mas o caminho dos ímpios perecerá.

Este poema é uma introdução de encaixe ao livro de 150 salmos. Revela o padrão básico da sabedoria e adoração de Israel. A vida é vista não nos momentos isolados do presente, mas na perspectiva da eternidade, na visão de Deus. O autor conecta vida humana intimamente com a vontade e o coração de Deus. O salmo lança um apelo desafiador a Israel – e a todos os que buscam a bênção de Deus – a voltar à Sua Palavra revelada para receber o verdadeiro conhecimento de Deus e andar à luz de Sua sabedoria.

O caminho da bênção está aberto diante do homem mediante uma vida de companheirismo incessante com o Deus de Israel. Não é de maneira nenhuma um atalho em que a razão humana pode descobrir por si só, mas é um dom do Redentor de Israel. Como a fonte de vida, o Senhor mostra o modo de vida. Todos os outros caminhos conduzem à ruína. Tais cursos de vida escolhidos pelo eu são por definição o oposto do modo do Senhor, modos que divergem de Sua lei. Os que rejeitam o Senhor, o Deus de Israel, e a Sua lei são descritos em condições negativas como os irreligiosos (Sal. 119:51, 78) porque não há nenhum outro Deus além do Senhor.

Pois quem é Deus além do SENHOR [Yahweh]?

    E quem é rocha senão o nosso Deus?

                                                  (Sal. 18:31, NVI)

Os salmos de Israel tencionam atrair a todas as nações para adorar o Deus de Israel como o único Deus vivo (Sal. 2:10-12; 115; 117). Mais que isso, eles definitivamente prevêem muitos adoradores do SENHOR entre as nações gentílicas (Sal. 87:4). Várias razões são determinadas para a efetividade deste apelo universal do Deus de Israel.

O Senhor é o Criador do mundo e de todos os homens (veja Sal. 24:1;

96:4-5).

O Senhor é o Salvador de todos os que escolhem adorá-Lo (veja Sal. 

105-106; 2:12; 34:8).

O Senhor é o soberano Monarca do mundo que restaurará justiça, paz,

e prosperidade na Terra (veja Sal. 2; 46; 72).

O Senhor é o Juiz de todos os homens, que retribuirá ao homem de

acordo com as suas obras (veja Sal. 62:12; 96:10-13).

Pelo fato de que nenhum outro deus salvou Israel de sua escravização do Egito, o Senhor fez uma reivindicação exclusiva no amor e lealdade de Israel. Se uma voz surgisse entre Israel, insistindo com eles para servirem a outros deuses que podem executar milagres, tal profeta ou vidente seria posto à morte, "pois pregou rebeldia contra o SENHOR, vosso Deus, que vos tirou da terra do Egito e vos resgatou da casa da servidão, para vos apartar do caminho que vos ordenou o SENHOR" (Deut 13:5).

Isto mostra como a Torah de Israel fez da adoração do Senhor um assunto de suprema importância, uma questão de vida ou morte. A última crença era: "Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR [ou: o SENHOR só]" (Deut 6:4). A posição de Israel diante do Senhor era de uma nação redimida e santa, de "filhos do SENHOR", de "seu tesouro pessoal" (Deut 14:1, 2, NVI).

Antes do povo escolhido entrar na terra prometida, Moisés bendisse Israel desta maneira:

O Deus eterno é o seu refúgio,

    e para segurá-lo estão os braços eternos.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Como você é feliz, Israel

    Quem é como você,

povo salvo pelo Senhor?

Ele é o seu abrigo, o seu ajudador

    e a sua espada gloriosa.

                                 (Deut 33:27, 29, NVI)

Este privilégio único da eleição divina não excluiu mas antes inclui uma solene responsabilidade:

Hoje invoco os céus e a terra como testemunhas contra vocês, de que coloquei diante de vocês a vida e a morte, a bênção e a maldição. Agora escolham a vida, para que vocês e os seus filhos vivam, e para que vocês amem o Senhor, o seu Deus, ouçam a sua voz e se apeguem firmemente a ele. Pois o Senhor é a sua vida, e ele lhes dará muitos anos na terra que jurou dar aos seus antepassados, Abraão, Isaque e Jacó (Deut 30:19, 20).

Como fundamento do Livro de Salmos, o primeiro salmo pressupõe a Torah e a história da salvação de Israel – a redenção do êxodo e a aliança da graça em particular. Este poema de sabedoria coloca diante de Israel e das nações o desafio constante para escolher o Senhor e o Seu modo de vida para homem.

Israel como um povo, depois de herdar a terra prometida, escolheu de fato andar na aliança do Senhor? O Livro de Juízes descreve como, depois da morte de Josué – que conduziu Israel a Canaã – surgiu uma geração "que não conhecia o Senhor e o que ele havia feito por Israel. Então os israelitas fizeram o que o Senhor reprova e prestaram culto aos baalins. Abandonaram o ­Senhor" (Juí. 2:10-12). Esta era a triste realidade. Revela tanto o poder destrutivo do coração natural do homem – que tende a confiar em seus próprios critérios – quanto a importância vital de conhecer o Senhor e de andar em Seus caminhos. A história de Israel ensina dramaticamente a indispensabilidade da Torah. O povo que conhece a Deus mediante o conhecimento da Torah será abençoado.

Bem-aventurada é a nação cujo Deus é o SENHOR,

    e o povo que ele escolheu para a sua herança.

                                                         (Sal. 33:12, RC)  

Bênçãos e Maldições São Favores da Aliança

O Salmo 1 convida Israel a comparar a bênção divina do justo com a maldição divina sobre o ímpio. Os cânticos sagrados de Israel começam com uma beatitude, uma invocação de bênção: "Bem-aventurado o homem . . . ." No Sermão no Monte, Jesus começou também com beatitudes: "Bem-aventurados os . . ." (Mat. 5). Isto implica felicidade para a pessoa que aceita o Senhor como o seu Mestre. A pessoa é descrita primeiro no que ela não está fazendo (vs. 1), então em o que ela faz verdadeiramente ou desfruta (vs. 2). A intenção é, não um quadro de alguma ação incidental do homem, mas uma caracterização do seu caminho ou padrão de vida:

. . . que não anda no conselho dos ímpios [ou planos, pensamentos], não se detém no caminho dos pecadores [ou padrão de vida], nem se assenta na roda dos escarnecedores. (Sal. 1:1, RA).

O caminho do ímpio é descrito aqui como uma vida de escravidão completa em pecado. Seus pensamentos – quer dizer, o seu coração – corrompe os seus atos e palavras da mesma maneira que uma fonte suja polui suas próprias correntes.

Feliz é o que evita tal modo de vida, porque o ímpio não tem paz, felicidade, bênção na vida. Por outro lado, onde o homem abençoado acha as suas alegrias?

Antes, o seu prazer está na lei do SENHOR,

    e na sua lei medita de dia e de noite.

                                                            (v. 2, RA)
 
Esta caracterização que menciona duas vezes a lei de Deus – a Torah – não descreve um piedoso fariseu legalista como o vemos no Novo Testamento. A lei de Deus não é um jugo ou fardo ao cantor do salmo. Pelo contrário, "o seu prazer está na lei do SENHOR". O seu coração está nela, porque a lei de Deus está no seu coração, como declarado em outros salmos:

Agrada-me fazer a tua vontade, ó Deus meu;

    dentro do meu coração, está a tua lei.

                                                        (Sal. 40:8, RA)

Ele traz no coração a lei do seu Deus;

    nunca pisará em falso.

                                 (Sal. 37:31, NVI)

Estes testemunhos de comunhão com o Senhor indicam que também os antigos santos experimentaram a aliança da graça de Deus! Eles caminharam com Deus e receberam o que o Senhor tinha prometido a todos os crentes: "Porei a minha lei no íntimo deles e a escreverei nos seus corações. Serei o Deus deles, e eles serão o meu povo." (Jer. 31:33; cf. Ezeq. 36:26, 27). Para tal, a vontade e a lei santa de Deus não são mais um comando externo que não encontra nenhuma resposta interna no coração. Pelo contrário, o coração que prova a bondade perdoadora do Senhor está sendo recriado ou é transformado em seus desejos íntimos pelo Espírito de Deus. Os salmos que tratam da Torah (Sal. 1; 19; 119) todos testemunham de uma alegria religiosa que o apóstolo  Paulo expressou nas palavras: "No íntimo do meu ser tenho prazer na Lei de Deus" (Rom 7:22, NVI). Isto não nega que Paulo tivesse um conhecimento mais profundo do pecado e da graça por meio de Cristo. Só afirma que a religião cristã de fé em Cristo Jesus não é basicamente diferente daquela dos salmistas de Israel. Cristo restabeleceu o que tinha estado perdido em judaísmo rabínico dos Seus dias, de forma que os salmos podem funcionar mais efetivamente nos que crêem no Messias o Jesus.

Cristo não somente professou, "eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai [aqueles do Deus de Israel] e no seu amor permaneço." (João 15:10), Ele entrou na raiz espiritual e motivação ao Ele dizer, "Minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra" (João 4:34). Tal uma paixão predominante em servir ao Senhor é expressa no Salmo 1 como a delícia do justo. Ele medita na lei de Deus "de dia e de noite" (v. 2). Ele conhece o Senhor como o seu Redentor "desde a terra de Egito" (Osé. 12:9, NVI), e a lei (literalmente: Torah) do Senhor como o dom de Sua graça.

É importante entender o termo "Torah" em seu âmbito pleno. Torah quer dizer ensino divino ou instrução (cf. Sal. 78:1) que é muito mais que os Dez Mandamentos em si. Torah também inclui as instruções de Deus para crer, confiar, arrepender-se, confessar, e buscar reconciliação com Ele em Seu santuário. Portanto, Torah compreende a lei e a graça reconciliadora. Os estudiosos do Antigo Testamentos concordam que a tradução de Torah por "lei" como o código moral é inadequada, muito estreita.

O costume de tomar a lei moral por si só, isolada da aliança da graça reconciliadora, era estranho aos salmistas. Eles nunca falam de "a lei", mas constantemente de "a lei do SENHOR" ou de "Tua lei" (veja Sal. 1; 19; 119). Quando os poetas dos salmos usam tais termos como "testemunhos", "estatutos", "ordens", "ordenanças", "preceitos", "palavra", "promessa", e até mesmo "o temor do SENHOR" (Sal. 19:9) como sinônimos da palavra "Torah", eles sempre têm em mente a Torah como um todo não dividido, centralizado nos serviços do santuário. Isto não nega o fato que a Torah tenha aspectos diferentes, legal e expiatório, mas estes nunca estavam isolados um do outro, como se se pudesse separar os dois. O Senhor uniu a lei moral e sua graça expiatória pelo ministério sacerdotal em um indissolúvel inter-relacionamento dinâmico. A santa lei de Deus permaneceu sempre lei da aliança; seu lugar e função estavam exclusivamente dentro do santuário de Deus.

Alegria na Torah

A característica dominante do judaísmo farisaico no tempo de Jesus parece ter sido que o conceito e a experiência da promessa da nova aliança de Jeremias tinham sido perdidos de vista. As ordens morais geralmente foram consideradas como o meio de salvação – como o meio de ganhar méritos – de forma que o perigo da justiça-própria não pôde mais ser evitado. Estas tinham sido a própria experiência e auto-estima de Paulo como um rabino fervoroso. Ele confessou que tendo sido um fariseu zeloso, "quanto à justiça que há na lei, irrepreensível" (Filip. 3:6).

O salmistas do antigo Israel, pelo contrário, todos viveram em uma consciência despertada do pecado e foram motivados por um senso profundo de gratidão pela graça recebida do Senhor. Na Torah do Senhor eles experimentaram o Santo em Sua pureza impecável e irresistível misericórdia. Por esta razão eles cantaram:

A lei do SENHOR é perfeita

    e restaura a alma. ...

Os preceitos do SENHOR são retos

    e alegram o coração.

                                   (Sal. 19:7, 8, RA)

Tenho visto que toda perfeição tem seu limite;

    mas o teu mandamento é ilimitado.

Quanto amo a tua lei!

    É a minha meditação, todo o dia!

                                         (Sal. 119:96, 97, RA)

Desvenda os meus olhos, para que

    eu contemple as maravilhas da tua lei.

                                            (Sal. 119:18)

Os poetas meditaram na lei maravilhosa (Torah) do Senhor somente com a finalidade de delícia? Certamente não! Eles se regozijaram na Torah por um propósito mais elevado que alegria mística. Eles buscavam saber a vontade de Deus para agradar e glorificar o seu Redentor.

De que maneira poderá o jovem guardar puro o seu caminho?

    Observando-o segundo a tua palavra.

De todo o coração te busquei;

    não me deixes fugir aos teus mandamentos.

Guardo no coração as tuas palavras,

    para não pecar contra ti.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Lâmpada para os meus pés é a tua palavra

    e luz para os meus caminhos.

                               (Sal. 119:9-11, 105, RA)

Os poetas hebreus inspirados conheciam poder salvador e santificador da palavra de Deus. Para eles com Deus, a vida ficava rica, significativa, e frutífera:

Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas,

    que, no devido tempo, dá o seu fruto,

e cuja folhagem não murcha;

    e tudo quanto ele faz será bem sucedido.

Os ímpios não são assim;

    são, porém, como a palha

    que o vento dispersa.

                                                                  (Sal. 1:3, 4, RA)

Comunhão com Deus é Vida ao Máximo

O poema revela a produção da bênção divina na vida do justo. Ele prosperará em tudo aquilo que ele faz. Por que? É por causa da lei de causa e efeito? Não. Ele é frutífero, efetivo em todos os seus empenhos porque ele continuamente utiliza o poder escondido do Senhor. Uma árvore plantada junto a ribeiros de água frutifica em sua estação porque constantemente pode utilizar água sustentadora da vida. Assim é com a pessoa que tem sede diante de Deus.

O que procura a Deus achará o Senhor dia e noite disposto a ouvir sua oração e súplica. Davi nos assegura:

Sempre tenho o Senhor diante de mim.

    Com ele à minha direita,

não serei abalado.

                                    (Sal. 16:8, NVI)

Por meio da meditação é assimilado o conhecimento da Torah no coração e está motivando a alma a amar.

O estudo da Bíblia e a oração juntos são os meios para continuar no caminho da bênção. A Escritura é como uma semente; através da oração ela recebe a água do Espírito. Deste modo Deus dá o crescimento espiritual.

O crente cristão fica na constante necessidade destes dois meios da graça divina. Cristo e os apóstolos fizeram uso efetivo tanto da Escritura quanto da oração.

As bênçãos de Deus sempre não são imediatamente visíveis em prosperidade material. O Salmo 73 mostra como Asafe lutou com esta aparente contradição, porque ele viu "a prosperidade dos ímpios" (73:3). Seu coração só veio descansar quando ele levou em conta o destino final do ímpio como revelado no santuário de Deus (73:17-20).

Porque a realização plena das promessas da aliança de Deus não pode freqüentemente ser vista nesta vida, é crucial pegar a perspectiva apocalíptica da aliança de Deus. O justo conhece o destino do ímpio.

O insensato não entende,

    o tolo não vê

que, embora os ímpios brotem como a erva

    e floresçam todos os malfeitores,

eles serão destruídos para sempre.

                                                (Sal. 92:6, 7)

O apóstolo Paulo acentua esta instrução da Torah: "Nunca procurem vingar-se, mas deixem com Deus a ira, pois está escrito: ‘Minha é a vingança; eu retribuirei’, diz o Senhor." (Rom 12:19). Contudo ele também confirma a mensagem do Salmo 1 que aqueles que amam a Deus serão abençoados, mesmo se eles não podem ver isto imediatamente:

Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito. (Rom 8:28).

O salmista usa a figura de contraste para sustentar sua mensagem mais vigorosamente. O ímpio, ele diz, é o próprio oposto do justo. Eles são como a palha que o vento dispersa. Em outras palavras, o ímpio não possui nenhuma substância, nenhum caroço frutífero, nenhum peso moral, enquanto o justo é comparado a uma árvore frutífera bem carregada.

O que faz o ímpio tão estéril e espiritualmente oco, até mesmo dentro de Israel? É sua falta, a sua negligência pecadora do conhecimento do Senhor. Davi diz: "Não há temor de Deus diante dos seus olhos" (Sal. 36:1). Ele pode pertencer exteriormente ao povo da aliança e ostentar-se nas promessas da aliança, mas a sua confiança está extraviada em sua descendência natural de Abraham. Quando João Batista veio preparar Israel para encontrar o seu Messias, ele chocou os fariseus e saduceus com sua mensagem: "Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento; e não comeceis a dizer entre vós mesmos: Temos por pai a Abraão" (Mat. 3:8, 9, RA). Sem o fruto do Espírito, isto é, sem uma vida santificada de acordo com a Torah do Senhor, todas as reivindicações religiosas do povo de Deus são inúteis e só conduzirão a completa vergonha. Isto acontecerá no juízo final, do qual ninguém pode escapar:

Por isso, os perversos não prevalecerão no juízo,

    nem os pecadores, na congregação dos justos.

                                                                (Sal. 1:5)

O Salmo 1 declara que o ímpio perecerá "no juízo". Desde que a expressão paralela é "a assembléia dos justos", poder-se-ia pensar principalmente nos juízos regulares de Israel no santuário (Deut 17:8, 9). Os Salmos 7 e 26 representam a liturgia sagrada para tais julgamentos (veja Sal. 7 abaixo). O mais pleno sentido aqui é indubitavelmente a perspectiva apocalíptica do juízo final de Deus. Lá o ímpio será completamente desmascarado e exposto em sua nudez moral e não terá nenhum abrigo para esconder-se, enquanto o justo se levantará para receber a sua herança (Dan 12:13, RA).

Cristo anunciou a separação final do bem e do mal repetidamente em Suas parábolas.

"Assim acontecerá no fim desta era. Os anjos virão, separarão os perversos dos justos e lançarão aqueles na fornalha ardente, onde haverá choro e ranger de dentes.”  (Mat. 13:49, 50).

O primeiro salmo finalmente aponta diretamente ao Senhor como o que sustenta um universo moral:

Pois o SENHOR conhece o caminho dos justos,

    mas o caminho dos ímpios perecerá.

                                                      (Sal. 1:6, RA)

A antítese que está por baixo do poema inteiro chega à revelação climática de que o Deus de Israel separará em última instância o justo e o ímpio. A tradução mais precisa de verso 6 seria, "Pois o SENHOR conhece o caminho do justo" (assim na RA e outras traduções).

O "conhecimento" do Senhor no verso 6 não é nosso tipo moderno e intelectual de conhecimento, mas a idéia hebraica de conhecimento experimental, um conhecimento apaixonado (Sal. 37:18). Portanto indica que o Senhor acompanha amorosamente o justo no seu modo de vida e lhes dá a bênção do Seu companheirismo que nunca falha. O ímpio, que não tem nenhuma ligação com o Senhor, terminará o seu caminho em morte, pelo juízo de Deus.

Cristo confirmou esta perspectiva apocalíptica dos dois caminhos para todas as pessoas:

"Entrem pela porta estreita, pois larga é a porta e amplo o caminho que leva à perdição, e são muitos os que entram por ela. Como é estreita a porta, e apertado o caminho que leva à vida! São poucos os que a encontram."  (Mat. 7:13, 14).

Cristo veio oferecer vida eterno para todos (veja João 12:32). Ele Se oferece à nossa alma de forma que todos os que O recebem participarão mesmo agora na alegria messiânica:

"Eu vim para que tenham vida, e a tenham plenamente.”

                                                             (João 10:10, NVI).

"Tenho lhes dito estas palavras para que a minha alegria esteja em vocês e a alegria de vocês seja completa." (João 15:11).


Extraído do livro: Libertação nos Salmos (Hans K. LaRondelle)

Pr. Cirilo Gonçalves
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sábado, 4 de abril de 2015

A MENSAGEM DO TERCEIRO ANJO DE APOCALIPSE 14.9-12


A MENSAGEM DO TERCEIRO ANJO - Apocalipse 14:9-12

 

"Seguiu-se a estes outro anjo, o terceiro, dizendo, em grande voz: Se alguém adora a besta e a sua imagem e recebe a sua marca na fronte ou sobre a mão, também esse beberá do vinho da cólera de Deus, preparado, sem mistura, do cálice da sua ira, e será atormentado com fogo e enxofre, diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro. A fumaça do seu tormento sobe pelos séculos dos séculos, e não têm descanso algum, nem de dia nem de noite, os adoradores da besta e da sua imagem e quem quer que receba a marca do seu nome. Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus" (Apoc. 14:9-12).

Esta advertência solene é dirigida a cada crente. Convoca a cada um a permanecer firme contra as ameaças de morte do anticristo, e desenvolve a mensagem do segundo anjo de que todas as nações se viram compelidas a "beber o vinho" de Babilônia (Apoc. 14:8): "Se alguém beber o vinho da ira de Babilônia, também terá que beber o vinho da ira de Deus!" O "cálice" simbólico da ira de Deus (Apoc. 14:10; 16:19) era um conceito tradicional nas profecias de juízo de Israel. O "cálice de vinho" na mão de Deus servia como o símbolo de sua justiça punitiva.

Até Israel que quebrantou o pacto teve que beber o vinho de sua ira (Jer. 25:15, 16, 17; 49:12; Ezeq. 23:31-34; Isa. 51:17, 22; Sal. 60:3; 75:8). Mas Israel experimentou a taça da ira de Deus só em forma temporária (ver Sal. 60:3; Isa. 51:22). Entretanto, alguns inimigos de Israel tiveram que beber a taça da ira até sua extinção: "Beberão, e engolirão, e serão como se não tivessem sido" (Ob. 16). "Bebei, embebedai-vos e vomitai; caí e não torneis a levantar-vos..." (Jer. 25:27; também o v. 33).

A aceitação por parte de Jesus da taça da ira divina da mão de Deus no Getsêmani pertence à essência do evangelho (Mat. 20:22; 26:39, 42). Declara E. W. Fudge: "Porque ele aceitou aquela taça, seu povo não tem que bebê-la. A taça que nos deixa [a taça da comunhão] é um recordativo constante de que ele ocupou nosso lugar (Mat. 26:27-29)".1 

Os adoradores da besta têm que beber a ira de Deus "pura" [em gr., akrátu; "sem diluir", NBE; "sem mistura", CI). Este cálice da ira já não está misturado com misericórdia. Derramar-se-á com as 7 últimas pragas (Apoc. 15:1). Isto significa que todas as pragas de Apocalipse 16 constituem uma parte integral da mensagem do terceiro anjo. Uma expressão hebraica nestes versículos tem desafiado os intérpretes:

"Será atormentado com fogo e enxofre, diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro. A fumaça do seu tormento sobe pelos séculos dos séculos, e não têm descanso algum, nem de dia nem de noite, os adoradores da besta e da sua imagem e quem quer que receba a marca do seu nome" (Apoc. 14:10, 11).

A frase "fogo e enxofre" é parte da maldição do pacto, maldição que inclui extinção ou aniquilação (Deut. 29:23; Sal. 11:6). O juízo sobre Sodoma e Gomorra resultou em que "subia da terra fumo como fumaça de um forno" (Gên. 19:23, 28, CI). Também foi o juízo de Deus sobre Edom, um dos arquiinimigos de Israel (Isa. 30:27-33; Ezeq. 38:22):

"Os ribeiros de Edom se transformarão em piche, e o seu pó, em enxofre; a sua terra se tornará em piche ardente. Nem de noite nem de dia se apagará; subirá para sempre a sua fumaça; de geração em geração será assolada, e para todo o sempre ninguém passará por ela" (Isa. 34:9, 10).

É evidente que a mensagem do terceiro anjo em Apocalipse 14 toma sua fórmula de maldição especificamente de Isaías 34. A desolação e a extinção histórica de Edom é o modelo ou o tipo da sorte de Babilônia (ver Jud. 6, 7). A natureza deste castigo não reside em um tormento eterno como pode ver-se hoje em dia de Edom, a não ser na conseqüência eterna do fogo: "Subirá para sempre a sua fumaça" (ver Isa. 34:10 e 66:24). O fogo é inextinguível até que tenha completado sua obra. Nas palavras do E. W. Fudge: "Os ímpios morrem uma morte atormentadora; a fumaça recorda a todos os espectadores que o Deus soberano tem a última palavra. Que a fumaça sobe perpetuamente no ar significa que as mensagens de juízo nunca chegarão a ser antiquadas".2 

A maldição que diz que os que adorem à besta não terão "repouso de dia nem de noite" está tirada de uma maldição específica do pacto sobre um Israel rebelde: "Por isso, jurei na minha ira: não entrarão no meu descanso" (Sal. 95:11). Enquanto que o significado original se referia ao repouso de Israel na terra prometida, o Novo Testamento aplica o repouso prometido ao repouso da graça de Deus no qual cada crente deve entrar agora (Heb. 4:3). Este repouso divino esteve disponível desde que Deus descansou no sétimo dia da semana da criação! (Gên. 2:2, 3). "Portanto, ainda fica um descanso sabático para o povo de Deus. Porque o que 'entra em seu repouso' descansa ele também de suas obras, como Deus das suas" (Heb. 4:9, 10, JS; CI; BJ).

O castigo final será o rechaço de Deus de dar repouso aos adoradores da besta. Por outro lado, uma voz celestial anuncia que os "mortos que, desde agora, morrem no Senhor.... que descansem das suas fadigas, pois as suas obras os acompanham" (Apoc. 14:13). Esta bem-aventurança se refere aos que morrem em Cristo durante as perseguições do anticristo do tempo do fim. Sua perseverança será recompensada. A mensagem do terceiro anjo pronuncia a resposta de Deus à ameaça feita pela besta, como mostra a seguinte comparação.

 

APOCALIPSE 13:16
APOCALIPSE 14:9, 11
"A todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos, faz que lhes seja dada certa marca sobre a mão direita ou sobre a fronte".
"Se alguém adora a besta e a sua imagem e recebe a sua marca na fronte ou sobre a mão ...  e não têm descanso algum, nem de dia nem de noite, os adoradores da besta e da sua imagem e quem quer que receba a marca do seu nome".

 

Estas correspondências temáticas e verbais entre Apocalipse 13 e 14 indicam que a tríplice mensagem de Apocalipse 14 depende de uma correta compreensão de Apocalipse 13. Entretanto, toda a informação a respeito da besta está exposta na visão do juízo de Apocalipse 17, o que significa que Apocalipse 17 constitui igualmente uma parte interpretativa essencial da mensagem de advertência de Apocalipse 14.

 

A Marca da Besta

 

Nosso tema agora é compreender o significado teológico de "a marca da besta". É a marca identificadora do culto de adoração que se rende à besta. "Não se pode ter a marca sem o ato de adoração".3 A ambição da besta-anticristo de receber adoração divina é a mentalidade de Babilônia. Seu endeusamento próprio entra em conflito com a chamada de Israel a adorar o Criador e Juiz da humanidade (Apoc. 14:7). A mensagem do terceiro anjo é o rogo do céu à humanidade para que se volte para o Criador, ao Deus do pacto do Israel, tal como está revelado nas Escrituras.

O assunto fundamental não é identificar a marca de uma maneira isolada, mas sim vê-la como um ato de adoração da besta e por isso, como uma atitude de idolatria. O terceiro anjo "indica a natureza da usurpação: a besta se apropria das prerrogativas do Deus Criador, e é adorada".4 

A usurpação das prerrogativas divinas pela besta é seguida por sua demanda para que a reconheçam por meio da "marca em sua fronte ou em sua mão" (Apoc. 14:9). Seu significado chega a ser claro quando se considera à luz do dever de Israel de atar os mandamentos e as palavras de Deus: "Ata-as à tua mão como um sinal, como um aviso ante teus olhos" (Deut. 6:8; cf. 11:18, BJ). Para Israel, seu significado espiritual era evidente: atuar e pensar em harmonia com a vontade de Deus e recordar diariamente a redenção do êxodo (ver Deut. 6:5; Êxo. 13:8, 9).*

Gerhard von Rad faz este comentário sobre o Deuteronômio 6:8: "Provavelmente temos que tratar ainda aqui com uma forma figurada de expressão que mais tarde foi entendida literalmente e levou ao uso dos chamados filactérios".5 De fato, Moisés mesmo explicou o propósito moral de atar os mandamentos de Deus a suas mãos e a suas frentes:

"O Senhor, teu Deus, temerás, a ele servirás, e, pelo seu nome, jurarás. Não seguirás outros deuses, nenhum dos deuses dos povos que houver à roda de ti, porque o Senhor, teu Deus, é Deus zeloso no meio de ti, para que a ira do Senhor, teu Deus, se não acenda contra ti e te destrua de sobre a face da terra... Diligentemente, guardarás os mandamentos do Senhor, teu Deus, e os seus testemunhos, e os seus estatutos que te ordenou" (Deut. 6:13-15, 17).

O mandamento do Senhor incluía também a observância ritual da Páscoa e o comer pães sem levedura para comemorar a libertação do êxodo:

"E será como sinal na tua mão e por memorial entre teus olhos; para que a lei do Senhor esteja na tua boca; pois com mão forte o Senhor te tirou do Egito. Portanto, guardarás esta ordenança no determinado tempo, de ano em ano" (Êxo. 13:9, 10).

Este histórico da adoração de Israel esclarece o propósito da marca da besta "na fronte e na mão" (Apoc. 20:4). A marca evoca a antítese intencional da adoração de Israel. Representa a essência de um culto falsificado como usurpação e substituição. A besta ameaça com a morte se suas ordens totalitárias são desobedecidas (Apoc. 13:15-17). Promete vida, mas só temporal, a todos os que levem sua marca. R. H. Charles comentou a respeito: "Ambos [o selo e a marca] estavam destinados a mostrar que os que levam as marcas estão sob a proteção sobrenatural: os primeiros sob a proteção de Deus; os últimos, sob a de Satanás".6 Beatrice S. Neall explica mais isto quando diz:

"No Apocalipse, o selo de Deus protege da ira de Deus (Apoc. 15:2, 3; 16:2) mas não da ira da besta (13:15, 17). De maneira similar, a marca da besta protege das sanções econômicas (v. 17) e do decreto de morte (v. 15) da besta, embora faça a seus possuidores elegíveis para receber a ira de Deus (14:9-11 )".7

Tanto Cristo como o anticristo desejam a lealdade indivisa de seus adoradores, a devoção completa de seu pensamento (a "fronte") e de seu atuar (a "mão"). O anticristo pode satisfazer-se com a marca ou na mão ou sobre a fronte, como sugere Apocalipse 13:16 e 14:9 (entretanto, ver Apoc. 20:4).

Uma diferença básica entre os sistemas rivais de adoração é que a besta emprega a coerção, enquanto que o Cordeiro emprega a persuasão. A prova final da adoração verdadeira não é crer porque há milagres, os quais podem ser enganosos (Apoc. 13:14; 19:20; Mat. 24:24), e sim crer na "Palavra de Deus e no testemunho de Jesus" (Apoc. 1:9; 6:9; 12:17; 20:4).

A verdade tanto do Antigo como do Novo Testamento é a revelação de que o Deus de Israel é o Criador Todo-poderoso e que ele ordenou o sétimo dia, no sábado, como um monumento recordativo de sua obra criadora (Gên. 2:2, 3; Êxo. 20:8-11; 31:12-17). Este mandamento da criação foi enriquecido como o sinal da redenção de Israel da escravidão (ver Deut. 5:12-15). A celebração do sábado identifica o Criador vivente que permanece fiel à sua criação (1 Ped. 4:19). Igualmente oferece a participação em sua graça redentora (ver Ezeq. 20:12, 20). Esta verdade chega a ser relevante de uma maneira especial no tempo do fim, quando o dogma da evolução veio a ser a hipótese da ciência (desde 1859). Por isso a tríplice mensagem de Apocalipse 14 assume cada vez mais relevância. Requer a celebração do sábado restaurado como "a expressão concreta da fé na criação, o sinal da dependência de um do céu... o sinal de que a salvação vem só de cima".8 

 

O Surgimento do Povo Remanescente de Deus (Apoc. 14:12)

 

No conflito entre as adorações rivais, Deus preserva os que se apegam a ele com lealdade. A mensagem do terceiro anjo conclui com uma chamada especial a perseverar na fé:

"Aqui está a paciência dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus" (Apoc. 14:12).

Este texto levou J. M. Ford a fazer o seguinte comentário:

"Parece que não há caminho intermediário; ou se adora a besta e está condenado, ou se aceita com paciente resistência a perseguição da besta, obedece os mandamentos de Deus, morre nele e recebe a recompensa por suas boas obras (v. 13)".9

Autores dispensacionalistas tomam aos santos de Apocalipse 14:12 como crentes judeus cuja parte não está no corpo de Cristo simplesmente porque "guardam os mandamentos de Deus". Mas isto mostra como um dogma preconcebido influi na exegese. Uma comparação de Apocalipse 14:12 com 12:17 e 1:9 demonstra que as características dos santos no capítulo 14:12 são as da igreja apostólica e as mesmas de João. A primeira epístola de João define o pecado como a transgressão da lei, como anomia ou ilegalidade (1 João 3:4). Exorta a todos os crentes cristãos a obedecer os mandamentos de Deus, incluindo o mandamento de crer em seu Filho Jesus Cristo e o mandamento de Cristo de amar-se uns aos outros (1 João 2:3-6; 3:21-24).

A ameaça final contra a vida dos santos requer uma perseverança [em gr., upomoné]. Jesus tinha mencionado esta característica como sendo essencial para o tempo do fim: "Mas o que perseverar [upomeínas] até o fim, este será salvo" (Mat. 24:13). Mas "perseverar" é o fruto da fidelidade à vontade de Deus, tanto ao evangelho como à lei de Deus. A advertência da epístola aos Hebreus também é a ter "perseverança [upomoné] para que, depois de fazer a vontade de Deus, consigam a promessa" (Heb. 10:36, CI; ver 12:1-3). A epístola aos Hebreus assinala os exemplos dos santos que viveram "por fé" [em hebreu, 'emunáh, "fidelidade"] em uma crise anterior (Heb. 10:37, 38; Hab. 2:3, 4).

 

Tiago explica que "a prova de sua fé produz paciência" e a maturidade da estabilidade (Sant. 1:3-8). Por isso anima a todos os santos dizendo: "Feliz o homem que suporta a prova! Superada a prova receberá a coroa da vida que o Senhor prometeu aos que o amam" (v. 12). Um exemplo evidente é Jó, que seguiu confiando em que Deus o vindicaria contra seus falsos acusadores (Tia. 5:11). Não entendendo por que tinha que sofrer tanto sendo inocente, Jó ainda expressou sua fé: "Eu sei que meu Redentor [ou "defensor", BJ; ou "reivindicador", CI] vive, e no fim se levantará sobre a terra" (Jó 19:25).

A última geração de crentes cristãos pode ter que suportar uma prova de fé similar a do Jó. A fé perseverante se expressa em guardar "os mandamentos de Deus e a fé de Jesus" (Apoc. 14:12, RC). Obedecem tanto à lei como à fé de Jesus em suas vidas (ver mais acima sobre Apoc. 12:17 e 19:10).

 

O Significado Bíblico do Sábado do Senhor

 

Muitos teólogos negam que o sábado seja uma ordem da criação. Insistem em que o sábado foi feito por Moisés só para a nação de Israel (Êxo. 16; Deut. 5:12-15). O assunto mais profundo que está em jogo neste debate teológico é a credibilidade do registro da criação em Gênesis 1 e 2 e seu reflexo no quarto mandamento em Êxodo 20. Um teólogo americano apresentou esta avaliação válida da origem do sábado:

"De acordo com o cânon da Escritura, a 'interpretação da criação' do sábado se afirma como teologicamente anterior à 'interpretação da redenção'. Entretanto, isto significa que o mandamento do sábado sempre é obrigatório para todos os homens, obedeçam-no ou não! Na redenção de Israel da terra do Egito não se estabeleceu o sábado pela primeira vez, mas sim se restaurou; a lei moral não foi primeiro proclamada no Sinai, mas sim ali se voltou a proclamá-la. Em conseqüência, porque a lei do sábado está fundada na ordem da mesma criação e pertence a todas as criaturas, a interpretação tradicional cristã do sábado como uma cerimônia abolida por Jesus Cristo, é incorreta".10

 

O motivo básico da tríplice mensagem de Apocalipse 14 é o da restauração! Desempenha o mesmo propósito que a chamada de Isaías a um Israel extraviado:

"Clama a plenos pulmões, não te detenhas, ergue a voz como a trombeta e anuncia ao meu povo a sua transgressão e à casa de Jacó, os seus pecados" (Isa. 58:1).

"Os teus filhos edificarão as antigas ruínas; levantarás os fundamentos de muitas gerações e serás chamado reparador de brechas e restaurador de veredas para que o país se torne habitável" (Isa. 58:12).

Para Isaías, a prova da verdadeira adoração era a restauração da justiça do pacto entre o povo de Deus. Isto significava ter amor pelos fracos (Isa. 58:6, 7) e obediência em louvar a Deus em seu "santo dia" (vs. 13, 14).

No tempo do fim, o céu suplica mais uma vez a seu povo extraviado para que faça frente ao desafio de usurpação e substituição com a chamada pela restauração e a restituição. Requer o reavivamento dos mandamentos de Deus e do evangelho de Jesus Cristo (Apoc. 14:12). Esta é a chamada final para um retorno à verdade e autoridade da Bíblia. A Escritura deve ter a última palavra para determinar a vontade de Deus. Toda certeza da verdade religiosa depende de se se aceitarem as Escrituras como a revelação autorizada da vontade de Deus. "Elas são a norma do caráter, o revelador das doutrinas, a pedra de toque da experiência religiosa".11

 

A Mensagem de Preparação para o Segundo Advento

 

As mensagens de Apocalipse 14 insistem a todos os adoradores a escutar atentamente a voz de Deus e a procurar uma compreensão melhor do evangelho e do testemunho de Jesus. Esta súplica assinala a diferença fundamental entre a Bíblia e a tradição da igreja. Insiste-nos a aceitar a responsabilidade pessoal para distinguir entre a autoridade bíblica e a autoridade da igreja, e a subordinar todos os profetas extrabíblicos à autoridade suprema da Escritura.

O assunto essencial da tríplice mensagem de Apocalipse 14 é a questão do que em última instância ata a consciência humana ante Deus! A súplica do céu em Apocalipse 14 nos recorda que a criação e a redenção não podem ser separadas, que o Redentor é o Sustentador da criação.

O sábado do Senhor nunca pode ser anulado ou mudado porque é o mandamento da criação do Criador e Redentor. É o monumento comemorativo de uma criação perfeita por parte de um Criador digno de confiança, Criador que nunca abandonará a obra de suas mãos (Sal. 138:8). Entretanto, suplica-nos que lhe respondamos como o "fiel Criador" (ver 1 Ped. 4:19).

"Bem-aventurado aquele que tem o Deus de Jacó por seu auxílio, cuja esperança está no Senhor, seu Deus, que fez os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há" (Sal. 146:5, 6).

 

O Convite do Último Elias

 

A relação da tríplice mensagem de Apocalipse 14 com a promessa de Malaquias de que Deus enviará o "profeta Elias, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor" (Mal. 4:5, 6), é de um significado dramático. É evidente que o último profeta do Antigo Testamento prediz uma chamada final para o reavivamento e a reforma entre o povo do pacto de Deus antes do dia do juízo apocalíptico (ver os vs. 1, 2).

Este convite corresponde em essência ao que Elias fez ao Israel: "Se Jeová é Deus, sigam-no; e se Baal, sigam-no" (1 Reis 18:21). O último convite de Deus no Apocalipse se apresenta em sua súplica a "adorar" a Deus como o Criador e a não adorar a besta nem a sua imagem (Apoc. 14:6-9).

Para compreender melhor o significado do Elias do tempo do fim, precisamos ler a narração da missão de Elias em 1 Reis 17 e 18. Malaquias exaltou a missão histórica de Elias, com sua confrontação dramática em combate com Baal no Monte Carmelo, como um tipo ou símbolo teológico para o tempo do fim. Uma análise detalhada desta correspondência tipo-antítipo da promessa de Elias em Malaquias 4 se oferece em outro lugar.12 

A medula deste tipo histórico pode compendiar-se em três pontos: (1) Elias foi enviado por Deus em um tempo de apostasia moral e religiosa em Israel (1 Reis 16:30-33; 18:18; 21:25); (2) Elias foi enviado com uma mensagem de restauração do Deus do pacto, que significava um compromisso novo de Israel com seu Deus e uma restauração de seu sagrado culto de adoração e de seus mandamentos morais (18:18, 21, 30, 31); e (3) a aceitação ou o rechaço da mensagem de Elias significava vida ou morte e, portanto, era um assunto de conseqüências eternas (ver 18:39-44).

A chave para a aplicação do tempo do fim nós a encontramos na mensagem de João Batista, porque sua mensagem em preparar o caminho para a vinda do Messias continha os fundamentos da mensagem de Elias (ver Luc. 1:11-17). Jesus reconheceu que João era o Elias da profecia mesmo que o judaísmo contemporâneo não o reconheceu (Mat. 17:10-13).

A missão de João era preparar a Israel para a vinda do Messias (João 1:23) e para "restaurar todas as coisas" (Mat. 17:11). Sua presença era o sinal visível do advento iminente do Messias (ver João 1:29; Mat. 3:10-12). João negou que ele fora uma reencarnação do Elias (João 1:21), mas afirmou que ele era a mensagem de Elias "com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto" (Luc. 1:17; ver João 1:23). João foi enviado no momento correto, com uma mensagem urgente de arrependimento para despertar Israel à vontade de Deus e a sua visitação iminente. Sua mensagem criou um povo remanescente novo dentro da nação de Israel. Jesus aceitou o batismo de João e chegou a ser parte deste remanescente. Escolheu a seus primeiros apóstolos dentre os seguidores de João Batista.

A mensagem de Apocalipse 14 é a mensagem de preparação para o tempo do fim. Sua ativação cria um povo que está preparado para encontrar-se com seu Criador. Assim como Elias, são fiéis à lei do pacto original de Deus. Escolheram estar ao lado de Deus, o Criador. Tornaram seus corações ao Deus de seus ascendentes espirituais e mantêm uma continuidade com o Israel do Antigo Testamento (Mal. 4:6).

A mensagem de Elias para o tempo do fim está desenvolvido pelo Espírito de profecia em Apocalipse 14:6-12. Sua proclamação mundial será seguida pela segunda vinda de Cristo como o Rei e Juiz (ver os vs. 14-20), o que define a tríplice mensagem como a chamada a despertar com o fim de preparar um povo para a segunda vinda de Cristo. Leva à hora da decisão, da mesma maneira que Elias e João Batista levaram ao Israel apóstata a um compromisso novo com seu Senhor.

Hoje a mensagem de Elias convoca a todas as pessoas para que deixem de idolatrar a criação e que adorem o Criador (Apoc. 14:7). Uma mensagem assim é oportuna considerando o surgimento da hipótese da evolução e o triunfo da filosofia materialista. Esta chamada de Deus tem aplicações de longo alcance:

"Na exaltação do humano sobre o divino, no louvor aos líderes populares, no culto a Mamom, e na exaltação dos ensinos da ciência sobre as verdades da Revelação, multidões hoje estão seguindo a Baal".13

 

Necessita-se cada vez mais a voz de Elias em nossa civilização decadente. Reverberará por toda a sociedade e está refletida no movimento mundial de cristãos guardadores do sábado. Fizeram um compromisso com o Deus de Israel e com seu Cristo neste tempo do fim. Aceitam como seu credo a Bíblia e a Bíblia só.

 

Referências

A Bibliografia para Apocalipse 12-14, encontrará nas páginas 458-466 do livro Profecias do Fim de H. K. LaRondelle

 

1 Fudge, The Fire That Consumes, p. 296.

2 Ibid., p. 298.

3 R. H. Charles, The Revelation of St. John, t. 1, p. 360.

4 Doukhan, Daniel: The Vision of the End, p. 69.

5 Von Rad, Deuteronomy, p. 64.

6 Charles, The Revelation of St. John, t. 1, p. 363.

7 Neall, The Concept of Character in the Apocalypse with Implications for Character Education, p. 151.

8 Doukhan, Daniel: The Vision of the End, p. 71.

9 J. M. Ford, Revelation, p. 249.

10 Richardson, Toward an American Theology, p. 115.

11 Ellen White, GC 7.

12 Ver LaRondelle, Chariots of Salvation, cap. 11.
13 Ellen White, PR 170.


* Nota do Tradutor: A nota da versão Cantera-Iglesias diz que a interpretação literal de Deuteronômio 6:8 deu origem aos filactérios, "par de pequenas caixas de couro usadas ritualmente, amarradas ao braço e à testa por correias, também de couro, e que contêm trechos das Escrituras" Dic. Aurélio.


Autor do artigo: Hans K. LaRondelle


Pr. Cirilo Gonçalves
Evangelista da IASD-AP,SP
Doutorando em Teologia
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