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sábado, 9 de abril de 2016

OS SANTUÁRIOS DE DEUS


OS  SANTUÁRIOS  DE  DEUS  

NOSSO estudo do ministério de Cristo no santuário necessariamente deve começar referindo-se ao santuário terrestre e à razão pela qual foi estabelecido.

Deus ordenou construir o santuário do deserto para dar a seu povo uma lição objetiva das verdades espirituais e eternas.1 O Eu "habitarei no meio deles" de Êxodo 25.8 contém o vocábulo "habitar",2 que foi traduzido da palavra hebraica shakan, a qual, embora se traduz "habitar", "morar", "tabernacular", tem uma conotação ainda mais profunda, já que nos comunica a idéia de que esse "habitar" é o de um vizinho, alguém que quer estar perto e gozar de nossa amizade. Ainda em nossos dias, para os israelitas um shaken é a pessoa cuja amizade se deseja.

O santuário do deserto foi o recinto sagrado onde Deus morava em meio de seu povo, mas obviamente isto é um símbolo de uma verdade superior: em vez de em templos materiais feitos pelo homem (Atos 17.24), Deus quer morar no templo da alma humana (1 Cor. 3.16-17) para enchê-la3 com a glória do Espírito Santo, quem é o representante pessoal do Senhor Jesus Cristo, porque é "Cristo em vós, a esperança da glória" (Cl. 1.27).

Essencialmente são três os templos ou santuários dos quais nos fala a Escritura: (1) o do deserto (Êx 25.8); (2) o do céu (Hb 8.1-2; Ap 11.19), e (3) o templo humano (1 Cor. 3:16-17; 2 Cor. 6:16; Sl 114.2).

Como no santuário e seu serviço há uma quantidade de símbolos, vamos referir-nos brevemente a seu propósito.  

Valor do Símbolo

Alguém se surpreende ao descobrir que a Escritura é um livro saturado de símbolos e ilustrações. O símbolo não é a linguagem dos filósofos. A diferença das ideias abstratas que só podem ser compreendidas por uma aristocracia intelectual, os símbolos constituem uma linguagem acessível a todos, a pessoas cultas e iletradas, a adultos e a meninos.4 

A Escritura Sagrada do começo ao fim nos dá uma mensagem de significação eterna envolto no símbolo, que é acessível a toda mentalidade. Os símbolos da Escritura assinalam a Cristo, que é o coração e a periferia de toda mensagem apresentada tanto no Antigo Testamento como no Novo.

A palavra hebraica shakan (habitar), da qual viemos falando, está relacionada com outro vocábulo hebreu, Shekinah,5 que, embora não aparece na Escritura, tem uma longa tradição nos escritos rabínicos. Deriva da mesma raiz da qual se origina shakan, e é usada para expressar a solene proximidade da presença de Deus entre seu povo. A idéia original expressa na palavra Shekinah nasce do Antigo Testamento, mas se amplia grandemente no Novo Testamento quando nos diz que o "Verbo se fez carne'' (Jo 1.14) e "habitou" ou tabernaculou entre nós. Deste modo atracamos à idéia de que o tabernáculo ou santuário foi ordenado por Deus para nos dar uma revelação objetiva do Senhor Jesus Cristo e de sua obra redentora. É na verdade a antecipação do Evangelho, já que a pessoa de Cristo como plenamente Deus e plenamente homem está delineada simbolicamente em todos seus aspectos, até os menores, no "tabernáculo do testemunho", em seu mobiliário e em seus serviços ou liturgia.  

Tempo e Santidade

A palavra "santuário", que aparece na Escritura Sagrada 144 vezes e é usada para expressar a idéia de "santo", "lugar sagrado", "morada do santo",6 figura pela primeira vez em Êxodo 15.17, e se origina na palavra hebraica miqtlash, a que a sua vez deriva da raiz hebraica qadash, que comunica a idéia de "pôr à parte" algo, ou a alguém, separando-o assim para um uso sagrado.

Obviamente Deus é o Ser santo por excelência, e portanto tudo aquilo que entre em relação com Ele ou culto que se Lhe oferece tem que participar do atributo da santidade.

O escritor judeu Abraham Joshua Heschel7 assinala acertadamente que uma das palavras mais significativas da Escritura é o essencial qódesh (santo), uma palavra, insiste ele, que "mais que qualquer outra é representativa do mistério e majestade do divino". Ora, na história deste mundo, qual foi o primeiro objeto santificado? Foi acaso uma montanha, um altar, uma pessoa? De maneira nenhuma. A primeira vez que se usa o verbo qadash na Bíblia Sagrada é no Gênesis, em relação com a história da criação, e quão significativo é o fato de que se aplique ao tempo: "E abençoou Deus o sétimo dia, e o santificou" (Gn 2.3). "A santidade do tempo veio primeiro, a santidade do homem depois, e no fim a santidade do espaço. O tempo foi santificado por Deus; o espaço, o tabernáculo, por Moisés".

 

Referências:

1.  E. G. de White, Patriarcas y profetas (Mountain View: Pacific Press, 1955), p. 372.

2.  Véase The Interpreter's Dictionary of the Bible (New York: Abingdon Press, 1955), t. 4, p. 498.

3.  F. C. Gilbert, Practical Lessons (Nashville: Southern Publishing Association, 1974), p. 153.

4.  V. Fatone, El hombre y Dios (Buenos Aires: Columba, 1958), pp. 33-35.

5.  Véase The Interpreter's Dictionary of the Bible, art. "Shekinah". E. G. de White, El Deseado de todas las gentes (Mountain View: Pacific Press, 1955), p. 705; y Patriarcas y profetas, p. 360.

6.  Véase The Seventh-Day Adventist Bible Dictionary, pp. 1058-60.

7.  Véase A. J. Heschel, The Sabbath (New York: Harper Torchbooks, 1966), pp. 8-10.
 
 
 
Fonte: "Cristo no Santuário". Dr. Salim Japas
 
Pr. Cirilo Gonçalves
Diretor de Evangelismo Público da IASD - AP, SP
Bacharel e Mestre em Teologia - UNASP
Doutorando em Teologia - Reformed Theological Seminary
Twitter: @prcirilo
Instagram: @cirilogoncalves
 

segunda-feira, 23 de março de 2015

SINTÉTICA HISTÓRIA DA HERMENÊUTICA NA IGREJA CRISTÃ




Este estudo começou já nos primórdios do cristianismo como nos comprovam os documentos existentes.

Para facilidade didática, estudiosos da hermenêutica costumam dividir este estudo em cinco fases, como o faz Louis Berkohof no livro: Princípios de Interpretação Bíblica.

I – Fase Patrística

Os principais representantes deste período foram: Clemente de Alexandria e seu mais notável discípulo, Orígenes. Ambos defendiam o sentido literal da Bíblia, mas criam que uma interpretação alegórica era muito útil para um conhecimento real.

A escola destes dois vultos preeminentes teve como sede Alexandria, por isso sofreu a decisiva influência da filosofia grega e do gnosticismo.

Outra figura que não pode ser olvidada pela pujança do seu talento exegético, mas sobretudo pelos seus dotes de orador foi João Crisóstomo (boca de ouro). Crisóstomo, que pertenceu à Escola de Antioquia, sustentou denodadamente que a Bíblia é a infalível Palavra de Deus. Defendeu uma exegese científica, para isto pesquisando bem o sentido original do vocábulo. Rejeitou terminantemente o processo alegórico de interpretação, fixando-se no sentido literal da Bíblia.

Merecem uma rápida menção no período patrístico: Hilário, Ambrósio, Jerônimo e Agostinho. A característica fundamental da exegese dos quatro nomes citados, se encontra no acréscimo de um elemento novo, não considerado nas escolas de Alexandria e da Síria, isto é, a autoridade da tradição e da Igreja na interpretação da Bíblia.

Nenhum dos quatro foi grande exegeta no sentido completo do termo. Jerônimo, sua maior fama lhe vem da tradução da Vulgata, pois no campo da exegese, limitou-se a notas linguísticas, históricas e arqueológicas. Agostinho, conhecido na teologia católica como o sistematizador de verdades bíblicas, apresentou boas regras hermenêuticas na obra De Doctrina Christiana, mas não soube comprová-las na prática. Quando o sentido bíblico era dúbio ele se valeu da autoridade da Igreja na conhecida expressão – regula fidei. Sua influência se projeta na exegese da Idade Média.

II – Período da Idade Média

A frase que melhor caracterizaria a exegese deste tempo seria esta: A profunda ignorância da Bíblia fez com que a hermenêutica estivesse de mãos e pés amarrados pela tradição e autoridade da Igreja dominante. Os dois nomes mais significativos seriam os de Pedro Lombardo com os seus livros das Sentenças e Tomás de Aquino com nove comentários bíblicos aos quatro livros das sentenças de Pedro Lombardo e a sua obra mais destacada – A Súmula Teológica.

III – Período da Reforma

Primeira característica. Os intérpretes da Bíblia tinham necessidade de estudá-la nas línguas originais. Contribuíram para este incentivo os dois grandes humanistas – Reuchlin e Erasmo.

Característica fundamental. A mais alta autoridade na interpretação da Bíblia é a própria Bíblia. Opuseram-se tenazmente à infalibilidade da Igreja, defendendo a infalibilidade da Palavra. Seu roteiro foi este: Não é a Igreja que determina o que as Escrituras ensinam, mas as Escrituras que determinam o que a Igreja deve ensinar.

A exegese da reforma está baseada nestas duas premissas:

1ª.) A Escritura é a intérprete da própria Escritura.

2ª.) Toda a compreensão bíblica deve estar de acordo com a analogia da fé.

Pela ordem decrescente de valor, como exegetas, destacam-se:

a) Calvino – o maior exegeta da reforma. Condenou o método alegórico como uma arma de Satanás.

De suas múltiplas ideias na explicação bíblica avultam.

1ª) os profetas deviam ser interpretados à luz das circunstâncias históricas.

2º) O primeiro dever de um intérprete é permitir que o autor diga o que realmente diz, ao invés de lhe atribuir o que pensamos que devia dizer.

b) Melanchton. Sua notável cultura e profundo conhecimento do grego e do hebraico capacitaram-no a tornar-se um exímio intérprete.

Seus trabalhos exegéticos foram pautados pelos princípios de que as Escrituras devem ser entendidas gramaticalmente antes de o serem teologicamente e ainda que há nas Escrituras apenas um simples e determinado sentido.

c) Lutero. Suas regras hermenêuticas foram bem melhores do que sua comprovação na prática.

Seus fundamentais conceitos são conhecidos os seguintes:

1º) Cristo é encontrado em toda a parte na Bíblia.

2º) O intérprete deve possuir intuição espiritual e fé.

3º) Enfatizou a necessidade de se considerar o contexto e as circunstâncias históricas.

Os intérpretes católicos quase nada fizeram no campo da explicação bíblica, no período da Reforma, porque se opunham tenazmente ao direito do juízo individual e por defenderem, ardorosamente, que a Bíblia devia ser interpretada de acordo com a tradição.  

IV – O Período do Confessionalismo

Foi assim denominado por se deixarem escravizar pelos Confessionais da Igreja. Surgiram acérrimas controvérsias entre os grupos emersos da Reforma, todos apelando para as Escrituras na busca de textos – provas para confirmação de suas idéias.

A exegese envereda por um caminho perigoso porque os estudiosos valorizaram muito suas próprias idéias em vez de se deixarem guiar pela simplicidade dos ensinos divinos.

Merecem ligeira menção os seguintes movimentos:

1º) Os Socinianos

Suas crenças hermenêuticas poderiam ser apresentadas nesta síntese:

A Bíblia deve ser interpretada racionalmente, isto é, em harmonia com a razão. Diante desta afirmativa é fácil concluir que doutrinas fundamentais do Cristianismo, como a Trindade e as duas naturezas de Cristo foram abandonadas.

2º) As idéias defendidas por Coccejus

Coccejus foi um notável teólogo holandês que se opôs duramente ao uso da Bíblia como textos – provas para defesa de opiniões pessoais. Conclamou os intérpretes a usarem a Bíblia como um todo harmonioso e também a explicarem cada passagem à luz do seu contexto.

3º) Os pietistas. Como o próprio nome indica estes foram os defensores uma vida verdadeiramente piedosa.

Opuseram-se ao estudo teórico das Escrituras, que não traz nenhum benefício, defendendo o estudo porismático (aquele que é útil para repreensão) e o prático (com muita oração e tristeza pela nossa condição desvalida perante Deus).

Introduziram um elemento novo, chamado de interpretação psicológica, segundo o qual o intérprete deveria estar em harmonia com o autor bíblico para compreendê-lo melhor.  

V – O Período Histórico-Crítico  

Não há necessidade de nos demorarmos nesta fase quando sabemos que ela se caracterizou por defender princípios interpretativos não aceitos pelos estudiosos conservadores.

Basta citar estas afirmações capitaneadas por seus mais notáveis poderes.

1º) A negação da infalibilidade das Escrituras.

2º) Discordavam da inspiração divina, crendo que os escritores bíblicos foram inspirados somente no sentido de terem capacitação natural, como a tiveram Homero e Camões na elaboração de suas obras,

3º) A interpretação bíblica deve ser feita como a de qualquer outro livro. A conseqüência mais significativa destas opiniões foi surgimento da interpretação gramático-histórica da Bíblia.

a) A Escola Gramatical

Ernesti, o iniciador da Escola, apresentou em notável trabalho os princípios que deveriam nortear os intérpretes da Bíblia.

O fato mais destacado seria a valorização das palavras do texto como a verdadeira fonte de interpretação da verdade religiosa.

b) A Escola Histórica

O vulto mais preeminente desta corrente interpretativa foi Semler. Para ele os livros da Bíblia se originaram de modo histórico e historicamente devem ser interpretados.

As tendências resultantes destas escolas antagônicas foram muito trágicas para a hermenêutica e a exegese, pelo surgimento do Racionalismo na explicação dos fatos bíblicos.

A principal conseqüência foi a afirmativa de que há muitos erros no texto sagrado. Apesar destas declarações corrosivas dos críticos, não devemos dobrar os joelhos diante da falsa ciência dos que se arrogam o direito de criticar a inspirada palavra de Deus.

Muito poderia ser dito sobre os resultados em nossos dias desta exegese. Um destes é o caráter mitológico do Novo Testamento defendido com todo o ardor pelo teólogo Bultmann.

Cremos ser melhor não prosseguir com os aspectos negativos na explicação da Palavra de Deus. Quero apenas concluir com as declarações de Paul M. Schelp, encontradas no prefácio do livro Dificuldades Bíblicas de M. Arndt:

"Na Bíblia não consta qualquer erro, qualquer contradição. Afirmamos isso, porque toda a Escritura foi inspirada por Deus (II Tim. 3:16). O Espírito Santo falou por intermédio dos santos escritores (Mat. 4:14; At. 4:25 e outros). A Escritura não pode falhar numa única palavra (João 10:35), nem no singular nem no plural dum substantivo (Gál. 3:16).

"Contradições aparentes podem ser resolvidas por exegese sadia, e sendo, ao nosso ver, impossível a harmonização de certas passagens, o crente terá paciência e esperará tranqüilamente a sua transferência para as mansões celestiais, onde tudo lhe será claríssimo como a luz meridiana".  

NOTA: A fonte mais significativa para a elaboração deste ponto foi Princípios de Interpretação Bíblica de Louis Berkhof, editado pela Casa Publicadora Batista.

Sou Grato ao  Professor Pedro Apolinário pelo brilhante trabalho
Pr. Cirilo Gonçalves
Evangelista da IASD - AP, SP.
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TWITTER: @prcirilo

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

CRONOLOGIA DA CONTROVERSIA ARIANA


CRONOLOGIA DA CONTROVERSIA ARIANA

A Chronology of the Arian Controversy

 

256 - Líbia - Nascimento de Ário.

311 - Egito - Ário é ordenado presbítero pelo bispo Aquiles de Alexandria, sucessor de Pedro, martirizado em 311.

311 - Palestina - Eusébio é sagrado bispo de Cesaréia em algum momento entre 311 e 318.

312 - Egito - Alexandre é sagrado bispo de Alexandria.

317 - Ásia Menor - Eusébio, um seguidor de Luciano de Antioquia, torna-se bispo de Nicomédia.

318 ou 319 - Egito - Em uma discussão informal sobre a Trindade entre o bispo Alexandre e seus presbíteros, Ário acusa Alexandre de sabelianismo. Ele continua dando forma a sua visão adocionista seguindo a teologia de Luciano de Antioquia. Mais tarde, Alexandre de Alexandria convoca um concílio que condena e exila Ário. Este então escreve sua Carta a Eusébio de Nicomédia na qual se queixa de ter sido injustamente perseguido. A carta menciona que Eusébio de Cesaréia e muitos outros bispos orientais também foram condenados. Ário então viaja a Nicomédia a convite de Eusébio, após o que Eusébio começa uma campanha, mediante cartas aos bispos da Ásia Menor, apoiando Ário. Por esse fervoroso respaldo a Ário, Eusébio “transforma o que poderia ter sido uma disputa egípcia numa controvérsia ecumênica” (Quasten III, 91).

Em algum momento do mesmo ano, Alexandre escreve sua Epístola Católica na qual informa a seus companheiros bispos que Eusébio de Nicomédia está também propagando a heresia ariana. Ele adverte seus colegas que não sigam Eusébio, porque do contrário eles também cairão na apostasia.

320 - Ásia Menor - Enquanto se encontra em Nicomédia, Ário escreve sua Carta a Alexandre de Alexandria, na qual apresenta outro resumo de suas opiniões. Aproximadamente no mesmo momento, Ário escreve O Banquete (ou a Thalia), talvez numa tentativa de popularizar sua doutrina. Só sobrevivem fragmentos desse trabalho, a maioria na forma de citações nos escritos de Atanásio.

324 - Egito - Alexandre escreve uma Carta a Alexandre de Constantinopla que é também enviada aos bispos fora do Egito. Nessa carta, Alexandre adverte seus companheiros bispos do perigo que contém a ameaça ariana. Ele também menciona Luciano de Antioquia e Paulo de Samósata como os verdadeiros iniciadores dessa heresia.

325 - Palestina - Nos primeiros meses do ano, Ósio, um representante do imperador Constantino, preside um concílio antiariano em Antioquia. Esse concílio condena Eusébio de Cesaréia por ser um seguidor ariano e formula um credo doutrinal a favor da teologia de Alexandre.

325 - Ásia Menor - Constantino convoca o Concílio de Nicéia para desenvolver uma fórmula de fé que possa unificar a Igreja. Redige-se o Credo Niceno, declarando que o Pai e o Filho são da mesma substância (homoousios), tomando uma posição claramente antiariana. Ário é exilado na Ilíria.

327 - Ário e Euzônio escrevem uma Carta ao Imperador Constantino. Essa carta inclui um credo que tenta mostrar a ortodoxia da posição ariana e uma petição para serem restituídos à Igreja.

328 - Constantino ordena que Ário retorne do exílio na Ilíria.

328 - Egito - Alexandre de Alexandria morre a 17 de abril. Atanásio é sagrado bispo de Alexandria a 18 de junho.

335 - Palestina - Um Pronunciamento do Sínodo de Tiro e Jerusalém restitui a Ário e seus amigos a comunhão com a Igreja. Tanto Eusébio de Cesaréia como Eusébio de Nicomédia têm papéis importantes nesse sínodo. Atanásio é deposto e vai queixar-se ao imperador Constantino, com quem se encontra na metade do caminho. Diante da persistência de Atanásio em demandar uma audiência, Constantino aceita escutar seu protesto. O imperador então escreve sua Carta aos Bispos Reunidos em Tiro pedindo que se encontrem em sua presença para discutir o tema. Alguns dos bispos começam a voltar a suas casas, mas Eusébio de Nicomédia vai-se encontrar com Constantino e sua consorte.

336 - O imperador concorda com o que foi decidido no concílio a respeito de Atanásio e exila-o em Trieste.

336 - Marcelo, bispo de Ancira, é deposto em um concílio em Constantinopla. Ele havia escrito um tratado em 335 defendendo a teologia nicena, mas foi considerado um sabeliano por seus oponentes.

336 - Grécia - Ário morre repentinamente em Constantinopla na tarde anterior à cerimônia formal na qual iria reaver seu estado presbiterial.

337 - Ásia Menor - Eusébio de Nicomédia batiza Constantino, que morre a 22 de maio em Nicomédia. Sua apologia é pronunciada por Eusébio de Cesaréia. O império se divide entre seus três filhos: Constâncio no Oriente, Constantino II toma a Bretanha e as Gálias e Constante, a Itália e a Ilíria. Em 17 de junho Constâncio ordena o retorno de Atanásio a Alexandria.

338 - Grécia - Eusébio de Nicomédia é designado bispo de Constantinopla.

338 - Palestina - Um concílio em Antioquia depõe Atanásio e ordena um segundo exílio.

339 - Egito - Atanásio se apressa a voltar a Alexandria antecipando-se à expulsão. Gregório, um homem da Capadócia (não é Gregório de Nazianzo ou Gregório de Nissa) toma posse da sede do bispo Atanásio.

339 - Eusébio de Cesaréia morre no fim de 339 ou no início de 340.

340 - Depois da morte de Constantino II, Constante passa a ser o único governante do Ocidente. Ele apóia os nicenos e Atanásio, enquanto seu irmão no Oriente, Constâncio, como sabemos, se opõe à teologia nicena. Também Júlio I, bispo de Roma, recebe Marcelo e Atanásio em comunhão com a Igreja de Roma.

341 - Palestina - Realizam-se dois concílios arianos em Antioquia durante esse ano, o primeiro por ocasião da dedicação de uma igreja que fora começada sob a direção do imperador Constantino. Dos 97 bispos presentes, nenhum é do ocidente e muitos são hostis a Atanásio. Durante esse concílio, são escritas a Primeira e a Segunda Confissão Ariana, iniciando, desse modo, uma tentativa de produzir uma doutrina formal de fé oposta ao Credo Niceno (a Segunda Confissão Ariana é também conhecida como o Credo da Dedicação). A Quarta Confissão Ariana é escrita no segundo concílio do ano. Os bispos orientais negam ser arianos, elaborando a seguinte declaração: “Como, sendo bispos, deveríamos seguir um sacerdote?” (O sacerdote a que se referem é obviamente Ário).

341 - Eusébio de Nicomédia morre no inverno de 341-342.

342 ou 343 – Constante convoca um concílio na Sárdica numa tentativa de restaurar a unidade da Igreja. O concílio é um fiasco. Os bispos orientais e ocidentais se separam e denunciam-se uns aos outros. Os ocidentais publicam uma declaração que é considerada um ataque ao arianismo e os orientais retiram-se para Filipópolis, onde elaboram uma declaração fechada em Sárdica que justifica a deposição de Atanásio e Marcelo e condena Júlio I e outros. A isso se junta o 4º credo de Antioquia com anátemas adicionais dirigidos a Marcelo.

344 - Realiza-se outro concílio ariano em Antioquia. Aqui, o concílio redige a Quinta Confissão Ariana (ou Macrostich), a qual é bem mais longa que as confissões escritas em Antioquia em 341. O Macrostich é o credo oriental da Sárdica mais oito parágrafos dirigidos aos bispos ocidentais.

345 - Itália - Realiza-se um concílio em Milão. Os bispos ocidentais lêem o Macrostich.

345 - Egito - Gregório, bispo de Alexandria, morre em junho.

346 - Egito - Atanásio é restituído à sede alexandrina.

347 - Itália - Realiza-se um segundo concílio em Milão.

350 - O rebelde Magnésio assassina Constante.

351 - Um segundo concílio é convocado em Sirmium sob a supervisão de Basílio de Ancira. É escrita a Sexta Confissão Ariana (ou Primeira de Sirmium), que parece ser uma revisão aumentada da Quarta Confissão Ariana escrita em 341.

353 - Um concílio dirigido contra Atanásio é realizado em Arles no outono.

353 - Constâncio derrota Magnésio e se torna o único governante do império; ao desaparecer Constante, que apoiava os nicenos, ele trabalha para eliminar a teologia nicena.

355 - Itália - Realiza-se um concílio em Milão. Atanásio é condenado novamente.

356 - Egito - Atanásio é deposto a 8 de fevereiro, começando o terceiro exílio.

356 - George é nomeado bispo de Alexandria. Aécio, que afirma que o Filho é distinto (anomoios, daí o título de anomoeanismo) e não pode ser da mesma essência ou similar ao Pai, exerce influência sobre George.

357 - Palestina - Eudóxio, outro teólogo influenciado por Aécio, torna-se bispo de Antioquia.

357 - O terceiro concílio de Sirmium se realiza durante o inverno. Redige-se a Sétima Confissão Ariana (ou Segunda de Sirmium), também chamada “A Blasfêmia”. Os bispos ocidentais se esforçam o mais que podem para alcançar um acordo com os arianos. Tanto homoousios (de uma essência) como homoiousios (de distinta essência) são evitados por serem antibíblicos, e chega-se a um acordo de que o Pai é maior que seu Filho subordinado.

358 - Um concílio realizado em Ancira sob a liderança de seu bispo, Basílio, dá a conhecer uma declaração usando o termo homoiousios. Os bispos participantes são considerados “semi-arianos”.

359 - Realiza-se o quarto concílio de Sirmium a 22 de maio. Redige-se a Quarta Confissão de Sirmium (ou o Credo Fechado). Propõe-se uma fórmula de compromisso, que não é técnica, mas feita para agradar a todos (embora seja demasiado diluída para fazer algum bem).

359 - Constâncio convoca dois concílios para finalizar o que Nicéia havia começado, ou seja, para desenvolver um credo que unificará a Cristandade. O Sínodo de Ariminum (Rimini) é realizado no Ocidente durante o mês de maio e participam mais de 400 bispos. O Sínodo de Selêucia acontece em outubro ou dezembro e dele participam cerca de 160 bispos. Aqui se escreve a Nona Confissão Ariana, que afirma que Cristo é “como o Pai”, enquanto anatematiza os anomoeanos. Finalmente, ambos os concílios se põem de acordo com essa fórmula de fé, semi-ariana, embora não se especifique como o Filho é igual ao Pai. De qualquer modo, esse acordo parece ter sido forçado em Ariminum, o qual teria terminado, se não fosse assim, a favor de Nicéia.

360 - Grécia - Realiza-se um concílio em janeiro para revisar as conclusões de Ariminum e Selêucia do ano anterior. Redige-se a Décima Confissão Ariana. Jerônimo escreve em relação a esse concílio, vinte anos mais tarde, que “o mundo despertou um dia e gemeu ao ver-se ariano”.

360 - As tropas de Constâncio enfrentam dificuldades e estão sendo derrotadas. As forças gálicas declaram Juliano - primo de Constâncio - imperador, ao invés de dar seu apoio ao decadente Constâncio.

361 - Constâncio morre a 3 de novembro, depois de nomear Juliano imperador.

361 - Palestina - Realiza-se um concílio em Antioquia enquanto se instala Euzônio como bispo de Antioquia (Euzônio havia sido excomungado com Ário em 318 e 325 e readmitido com ele em 335). Durante esse concílio, escreve-se a Décima-Primeira Confissão Ariana. Esse credo é fortemente anomoeano, o que leva Atanásio a observar que os arianos tinham retornado às primeiras doutrinas forjadas por Ário.

373 - Atanásio morre a 3 de maio.

373 - Grécia - O Primeiro Concílio (segundo ecumênico) de Constantinopla se realiza para rever a controvérsia desde Nicéia. Sob a direção de Gregório de Nazianzo, reavalia-se o Credo Niceno, que é aceito com a junção das cláusulas sobre o Espírito Santo e outros temas.

383 - Revisam-se as decisões do Primeiro Concílio de Constantinopla. 383 pode ser identificado como o ano em que terminou a controvérsia ariana, ou seja, a Igreja finalmente aceitou uma fórmula de fé não-ariana que não foi mais questionada por outras confissões arianas. Embora os arianos continuem existindo durante muito tempo ainda, a agenda teológica da Igreja se desvia da Trindade e se precipita em outra controvérsia, a cristológica do século V.”


ADAPTADO DE Anthony Beavers e Robert Rivers, A Chronology of the Arian Controversy.
POR - Pr. Cirilo Gonçalves
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quinta-feira, 30 de maio de 2013

DOIS ATRIBUTOS DO NOSSO MARAVILHOSO E PERFEITO ESPÍRITO SANTO: (1) SUA PERSONALIDADE E (2) SUA DIVINDADE.

DOIS ATRIBUTOS DO NOSSO MARAVILHOSO E PERFEITO ESPÍRITO SANTO: (1) SUA PERSONALIDADE E (2) SUA DIVINDADE.

A natureza trinitária do único Deus bíblico não é completa sem o Deus Espírito Santo. O fato de revelação do Espírito Santo como a terceira pessoa da Divindade vir depois da revelação do Filho e do Pai, não significa que Ele seja menos importante ou que Se tenha envolvido nas atividades salvadoras somente a partir do momento em que foi revelado. A devida compreensão do Deus cristão único e de Sua pluralidade pessoal requer, portanto, cuidadoso exame do testemunho bíblico sobre o Espírito.

O PRIMEIRO ANÚNCIO QUE JESUS CRISTO FEZ SOBRE A VINDA DO ESPÍRITO SANTO.

Revelação de Cristo sobre a vinda do Espírito Santo na Festa dos Tabernáculos:

Foi Jesus Cristo que na tentativa de preparar os discípulos para Sua partida da Terra, revelou-lhes a existência e o papel salvador específico de uma terceira pessoa da Divindade (Jo 7.33; 14.1-3). Cristo fez uma apropriada alusão à personalidade e vinda histórica do Espírito Santo ainda na Festa dos Tabernáculos, antes da Sua morte quando prometeu que “rios de água viva” fluiriam do coração dos crentes. Dizia isso com respeito ao “Espírito que haviam de receber os que nEle crescem” (Jo 7.38-39).

Revelação de Cristo, com mais clareza, à vinda do Espírito Santo:

Cristo anunciou com mais clareza a vinda do Espírito Santo somente algumas horas antes de Sua crucificação: “Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco (Jo 14.16-17; 16.4-7, 13).

Revelação mais ampla, feita por Cristo, sobre a divindade do Espírito Santo:

Depois de ressuscitar, Jesus chamou novamente a atenção dos discípulos para a vinda do Espírito Santo (Lc 24.49; At 1.4, 5, 8). A existência do Espírito como pessoa divina foi revelada nessa ocasião, porque o Espírito Santo precisava ser revelado como pessoa divina para explicar como a obra redentora de Cristo continuaria após a Sua ascensão, simultaneamente na Terra e no Santuário Celestial (Hb 8.1, 2). É desvendada então a natureza trinitária de Deus, não com o propósito de fazer especulações sobre a composição da divindade, mas para que os seres humanos pudessem entender os atos redentores de Deus na história.

1. A PERSONALIDADE DO ESPÍRITO SANTO: 

A. Ele Possui os Elementos Essenciais à Sua Personalidade:
O Espírito é Um Ser Pessoal, sendo distinto do Pai e do Filho.

(1) Dotado de Inteligência: (Is 40.13, 14; Jo 14.26; At 15.28; Rm 8.27; 1Co 2.10-12).
(2) Possuidor de Vontade Própria: (Sl 106.32-33; Is 34.16; At 13.2; 16.7; 21.11; 1Co 12.11; 1Tm 4.1).
(3) Revestido de Sensibilidade: (Mq 2.7; Rm 15.30; Is 63.10; Ef 4.30).


B. Ele é Mestre de Toda Vida Intelectual:

O Espírito Santo está por trás de toda a vida intelectual de diversos homens que viveram na época do AT (Jó 32.8; 35.10, 11; Gn 2.7; Êx 31. 2-6; 35.31-35; Nm 11.17, 25-29; 27.18-21; Dt 34.9; Jz 3.10; 6.34; 11.29; 13.25; 14.6; 15.14; 1Sm 10.6; 11.6).

C. Ele é Mencionado através de Pronomes Pessoais:

Jesus Cristo fala do Espírito Santo usando um pronome pessoal (Ekeinós) masculino, embora o substantivo grego, Pneuma, seja neutro (Jo 14.17; 16.8, 13, 14). O Espírito prometido é o “Santo Espírito da Promessa”. (Ef 1.13, 14).

D. Ele é Chamado Consolador:

Se este designativo (Parákletos) é aplicado a Cristo,  sua Personalidade (Jo 14.16; 1Jo 2.1), o mesmo é viável em relação à Pessoa do Espírito Santo. No texto de Jo 14.16, Jesus Cristo se refere a uma pessoa que viria substituir outra; um Consolador semelhante a ele (Jo 14.26; 15.26; 16.7). O Consolador é Aquele que conforta, exorta, guia, instrui e defende; é um amigo que assiste a seus amigos; essas atividades  são próprias de uma pessoa não de uma mera força ou influência.

E. Ele tem Atitude e é visto nas Escrituras sempre em ação:

(1) Trabalha: (1Co 12:11).
(2) Intercede: (Rm 12.11).
(3) Proíbe (At 16.7).
(4) Decide (At 15.28).
(5) Perscruta (1Co 2.10).
(6) Fala (At 13.2//Ap 2.10).
(7) Testifica (Jo 15.26; At 5.32; Rm 8.16).
(8) Ensina (Ne 9.20; Jo 14. 26; 1Co 12.3).
(9) Consola (At 9.31).
(10) Reprova (Jo 16.8-11).
(11) Regenera (Jo 3.5; Tt 3.5).
(12) Ora (Rm 8.26).
(13) Guia à Verdade (Jo 16.13).
(14) Glorifica a Cristo (Jo 16.14).
(15) Chama ao Trabalho e Dirige (Is 61.1; At 13.2-4; 16.6, 7; 20.28).


2. SUA DIVINDADE: O Espírito é uma Pessoa Divina.

A. O Espírito Santo é chamado Deus (At 5.3-4).

B. O Espírito Santo recebe Nomes Divinos.

As expressões “Palavra de Deus” e “Palavra do Espírito” são usadas intercambiavelmentes. (Êx 17.7; Hb 3.7-9; Nm 12.6; 2Pe 1.21; Sl 95.7-11; Hb 3.7-11; Is 6.3, 8-10; At 28.25; Sl 78.17, 21; At 7.51; Jr 31.31-34; Hb 10.15-17; Nm 20.2-13; Sl 106.32-33).

C. O Espírito Santo Possui Atributos Divinos:

1. Santidade (Jo 14.26; Is 63.10).
2. Onipresença (Sl 139.7-10; Jr 23.24).
3. Onipotência (Lc 1.35; Rm 15.19).
4. Onisciência (Is 40.13-14; Rm 11.34; 1Co 2.10-11; Jo 16.13; 2Pe 1.21).
5. Liberdade Soberana (Is 40.13; 1Co 2.10-11; Hb 2.4).
6. Eternidade Hb 9.14; Gn 1.2).
7. Glória (1Pe 4.14).
8. Graça (Hb 10.29).
9. Vida (1Co 15.45; Rm 8.11).


D. O Espírito Santo Realiza Obras Divinas

1. Cria (Gn 1.1-3; Jó 33.4; Sl 33.6).
2. Preserva e Governa (Jó 26.13; 33.4; Sl 104.30).
3. Inspiração das Escrituras (2Pe 1.20-21; 2Tm 3.16).
4. Regenera (Jo 3.5-6;; Tt 3.5).
5. Revela o Futuro (Lc 2.26; Jo 16.13; At 11,28; 1Tm 4.1).
6. Ressuscita (Rm 8.11; 1Pe 3.18).
7. Confere Dons (1Co 12.4-11).
8. Governa a Igreja (At 13.2; 15.28; 20.28).
9. Ilumina (Ef 1.17-18).
10. Santifica (2Ts 2.13; 1Pe 1.2).
11. Realiza Milagres (Mt 12.28).





Pr. Cirilo Gonçalves
Evangelista da IASD - AP, SP
Bacharel e Mestre em Teologia - UNASP, SP.
Doutorando em Teologia - MACKENZIE, SP.
TWITTER: @prcirilo

segunda-feira, 15 de abril de 2013

O PECADO DA HUMANIDADE

O PECADO DA HUMANIDADE

No Livro "O que é Teologia Reformada" de RC Sproul, (pp 5-11), o autor faz brilhantemente uma síntese do pecado da humanidade.

Antes, porém, Diz Sproul sobre três fontes para o conhecimento de Deus no no campo da Teologia e não da Religião: (1) Escrituras Sagradas, (2) História e (3) Natureza. Claro que ele fala de várias ondulações permeando cada fonte apresentada; após, então, ele sintetiza o pecado da humanidade:

"O pecado da humanidade está em recusar RECONHECER o CONHECIMENTO que tem". (p11).



Pr. Cirilo Gonçalves da Silva 
Evangelista AP da IASD
Doutorando pelo Mackenzie, SP
TWITTER: @prcirilo

domingo, 10 de março de 2013

ESCATOLOGIA - SIGNIFICADO

 
SIGNIFICADO DE ESCATOLOGIA SEGUNDO A TESE:
"ESCATOLOGIA E MILENARISMO NA
HISTÓRIA DA IGREJA CRISTÃ" PP 51 A 54 (Edson Pereira Lopes)


A palavra “escatologia” se fundamenta em textos das Escrituras, por exemplo:


• Isaías (2:2): “Nos últimos dias o momento do templo do SENHOR será estabelecido como o principal; será elevado acima das colinas, e todas as nações correrão para ele”.
• Miqueias (4:1): “Nos últimos dias o momento do templo do SENHOR será estabelecido como o principal [...]”.

• Primeira carta de Pedro (1:20): “[...] conhecido antes da criação do mundo, revelado nestes últimos tempos em favor de vocês”.
• Primeira carta de João (2:18): “Filhos, esta é a última hora e, assim como vocês ouviram que o anticristo está vindo, já agora muitos anticristos têm surgido”.
Destacamos que o termo utilizado para traduzir “últimos dias”, “últimos tempos” e ‘última hora” provém do gregoéschaton éschata, cuja tradução corresponde a “último” (BROWER, 2009, p. 726). Em junção com “logos” (CARRIKER, 2008, p. 359-362), traduzida por “palavra”, convencionalmente referimo-nos à“escatologia” como a “doutrina das últimas coisas” (BRUCE, 1990, p. 34). Berkhof (1990) entende que a escatologia nos mostra que a história do mundo e da raça humana chegará à sua consumação


Villac, Manzatto e Passos (2009, p. 25 ) pontuam uma interessante diferença entre os termos

éschaton e éschata: este se preocupaem perguntar pelas coisas últimas, enquanto aquele tem como finalidade a busca de um sentido último para todas as coisas. Percebemos que,
se a
escatologia estiver fundamentada na éschata, sua ênfase recairá nas discussões teóricas a respeito das últimas coisas que hão de ocorrer no mundo. Talvez por essa razão é que muitas vezes encontramos pouca preocupação na Igreja atual com o estudo da escatologia. Esse ensino parecer demonstrar apenas especulações sobre os fins dos tempos, a morte, a ressurreição, entre outros assuntos, sem
nenhuma ligação com a vida prática do cristão. Todavia, quando rememoramos que o ensino da escatologia provém ou deveria prover de
éschaton, percebemos a relevância dessadoutrina para a vida prática dos fiéis, justamente porque a escatologia,entendida a partir de
éschaton, não está preocupada, a priori, em fazer perguntas acerca das coisas últimas ou com coisas relativas somente ao futuro, mas sim em buscar um sentido último para todas as coisas.
Trata-se de uma preocupação que envolve a vida prática, isto é, agimos pensando no futuro, com a consciência de que devemos lutar por um mundo melhor, no qual o reino de Deus seja implantado,
daí lermos na oração do Pai Nosso: “venha o teu Reino”, que, segundo Lloyd-Jones (1989), já está presente nos corações que se submetem a Cristo. Entretanto, chegará o dia em que o reinado de
Jesus terá sido estabelecido sobre a face da terra. Trata-se da convicção escatológica que ora pelo sucesso do Evangelho em sua amplitude e poder e de uma oração que indica que estamos

esperando e apressando a vinda do dia de Deus [...]. Isso significa que deveríamos viver na antecipação do dia em que
todo o pecado, a maldade, o erro e tudo quanto faz oposição a Deus finalmente será desarraigado. Significa que deveríamos sentir no coração anelo pelos dias quando nosso Senhor tiver
de retornar ao mundo, quando então todos quantos se opõem a Ele serão lançados no lago do fogo, quando os reinos deste
mundo tornar-se-ão o reino de nosso Deus e do Seu Cristo (LLOYD-JONES, 1989, p. 349).
 
Na prática, isso implica que o sentido dado ao futuro está relacionado ao sentido que damos ao presente. Em outras palavras,

os fins últimos direcionam, em última instância, os fins imediatos do dia a dia, assim como todos os meios que planejamos para que sejam realizados. Portanto, os valores que assumimos como absolutos condicionam nossas ações presentes, e os “grandes planos que desejamosrealizar e as últimas esperanças escatológicas situam-se num planotranscendente que alimenta sem cessar a nossa rotina, as nossas criações e as nossas crises” (VILLAC; MANZATTO; PASSO, 2009, p. 43). Com base nessa perspectiva, Moltmann (2005, p. 30) critica a Igreja, visto que, em sua concepção, toda a pregação e mensagem cristãs têm uma orientação escatológica, a qual é também essencial à existência cristã e à totalidade da Igreja, pois ela não pretende “iluminar a realidade que aí está, mas a realidade que virá. Não deseja produzir no espírito uma imagem da realidade atual, mas levar a realidade atual a transformar-se naquilo que está prometido e é esperado”. No mesmo contexto, vale ressaltar as palavras de Motlmann (2005, p. 30), ao tratar da escatologia como esperança: Essa esperança torna a igreja cristã perpetuamente inquieta em meio às sociedades humanas, que querem se estabilizar como “cidade permanente”. Ela faz da comunidade cristã uma fonte de impulsos sempre novos para a realização do direito, da liberdade e da humanidade aqui mesmo, à luz do futuro predito e que virá [...] sempre que isto acontece, o cristianismo se encontra em sua verdade e é testemunha do futuro de Cristo.

Está claro, portanto, que a escatologia não deve apenas propiciar discussões teóricas acerca do futuro, mas também impulsionar a Igreja de Cristo a ser uma fonte cristã que não se preocupe somente com o futuro ou em conhecer a realidade do mundo, mas que seja capaz de transformar a sociedade naquilo que ela deve ser para a glória de Deus. Isso posto, é bom lembrarmos aqui que é comum dividirmos
o conteúdo a ser debatido nos estudos escatológicos da seguinte maneira:

Escatologia individual: cujo foco são os seres humanos. Os temas correlatos são: morte física, imortalidade da alma, estado intermediário e ressurreição do corpo (HOEKEMA, 1989, p. 8). Também denominada “escatologia da pessoa” por Blank (2000).
 
Escatologia geral: engloba acontecimentos sobre o mundo, a história e a humanidade, que irromperiam no fim dos tempos. Entre esses acontecimentos, estão a segunda vinda de Cristo em glória, o juízo final e o estado final de todas as coisas (MOLTMANN, 2005, p. 29).

 
Edson Pereira Lopes

Doutor em Ciências da Religião. Diretor da Escola Superior de Teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM). Docente do Programa de Pós-Graduação de Ciências da Religião na mesma universidade.



Pr. Cirilo Gonçalves da Silva
Doutorando em Teologia
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