Este estudo
começou já nos primórdios do cristianismo como nos comprovam os documentos
existentes.
Para facilidade
didática, estudiosos da hermenêutica costumam dividir este estudo em cinco
fases, como o faz Louis
Berkohof no livro: Princípios de
Interpretação Bíblica.
I – Fase Patrística
Os principais
representantes deste período foram: Clemente de Alexandria e seu mais notável
discípulo, Orígenes. Ambos defendiam o sentido literal da Bíblia, mas criam que
uma interpretação alegórica era muito útil para um conhecimento real.
A escola destes
dois vultos preeminentes teve como sede Alexandria, por isso sofreu a decisiva
influência da filosofia grega e do gnosticismo.
Outra figura
que não pode ser olvidada pela pujança do seu talento exegético, mas sobretudo
pelos seus dotes de orador foi João Crisóstomo (boca de ouro). Crisóstomo, que
pertenceu à Escola de Antioquia, sustentou denodadamente que a Bíblia é a
infalível Palavra de Deus. Defendeu uma exegese científica, para isto
pesquisando bem o sentido original do vocábulo. Rejeitou terminantemente o
processo alegórico de interpretação, fixando-se no sentido literal da Bíblia.
Merecem uma
rápida menção no período patrístico: Hilário, Ambrósio, Jerônimo e Agostinho. A
característica fundamental da exegese dos quatro nomes citados, se encontra no
acréscimo de um elemento novo, não considerado nas escolas de Alexandria e da
Síria, isto é, a autoridade da tradição e da Igreja na interpretação da
Bíblia.
Nenhum dos
quatro foi grande exegeta no sentido completo do termo. Jerônimo, sua maior
fama lhe vem da tradução da Vulgata, pois no campo da exegese, limitou-se a
notas linguísticas, históricas e arqueológicas. Agostinho, conhecido na
teologia católica como o sistematizador de verdades bíblicas, apresentou boas regras
hermenêuticas na obra De Doctrina Christiana, mas não soube
comprová-las na prática. Quando o sentido bíblico era dúbio ele se valeu da
autoridade da Igreja na conhecida expressão – regula fidei. Sua influência se projeta na
exegese da Idade Média.
II – Período da Idade Média
A frase que
melhor caracterizaria a exegese deste tempo seria esta: A profunda ignorância
da Bíblia fez com que a hermenêutica estivesse de mãos e pés amarrados pela
tradição e autoridade da Igreja dominante. Os dois nomes mais significativos
seriam os de Pedro Lombardo com os seus livros das Sentenças e Tomás de Aquino
com nove comentários bíblicos aos quatro livros das sentenças de Pedro Lombardo
e a sua obra mais destacada – A Súmula
Teológica.
III – Período da Reforma
Primeira
característica. Os intérpretes da Bíblia tinham necessidade de estudá-la nas
línguas originais. Contribuíram para este incentivo os dois grandes humanistas
– Reuchlin e Erasmo.
Característica
fundamental. A mais alta autoridade na interpretação da Bíblia é a própria
Bíblia. Opuseram-se tenazmente à infalibilidade da Igreja, defendendo a
infalibilidade da Palavra. Seu roteiro foi este: Não é a Igreja que determina o
que as Escrituras ensinam, mas as Escrituras que determinam o que a Igreja deve
ensinar.
A exegese da
reforma está baseada nestas duas premissas:
1ª.) A
Escritura é a intérprete da própria Escritura.
2ª.) Toda a
compreensão bíblica deve estar de acordo com a analogia da fé.
Pela ordem
decrescente de valor, como exegetas, destacam-se:
a) Calvino – o maior exegeta da
reforma. Condenou o método alegórico como uma arma de Satanás.
De suas
múltiplas ideias na explicação bíblica avultam.
1ª) os profetas
deviam ser interpretados à luz das circunstâncias históricas.
2º) O primeiro dever de um
intérprete é permitir que o autor diga o que realmente diz, ao invés de lhe
atribuir o que pensamos que devia dizer.
b) Melanchton. Sua notável cultura
e profundo conhecimento do grego e do hebraico capacitaram-no a tornar-se um
exímio intérprete.
Seus trabalhos
exegéticos foram pautados pelos princípios de que as Escrituras devem ser
entendidas gramaticalmente antes de o serem teologicamente e ainda que há nas
Escrituras apenas um simples e determinado sentido.
c) Lutero. Suas regras
hermenêuticas foram bem melhores do que sua comprovação na prática.
Seus
fundamentais conceitos são conhecidos os seguintes:
1º) Cristo é
encontrado em toda a parte na Bíblia.
2º) O
intérprete deve possuir intuição espiritual e fé.
3º) Enfatizou a
necessidade de se considerar o contexto e as circunstâncias históricas.
Os intérpretes
católicos quase nada fizeram no campo da explicação bíblica, no período da
Reforma, porque se opunham tenazmente ao direito do juízo individual e por
defenderem, ardorosamente, que a Bíblia devia ser interpretada de acordo com a
tradição.
IV – O Período do Confessionalismo
Foi assim
denominado por se deixarem escravizar pelos Confessionais da Igreja. Surgiram
acérrimas controvérsias entre os grupos emersos da Reforma, todos apelando para
as Escrituras na busca de textos – provas para confirmação de suas idéias.
A exegese
envereda por um caminho perigoso porque os estudiosos valorizaram muito suas
próprias idéias em vez de se deixarem guiar pela simplicidade dos ensinos
divinos.
Merecem ligeira
menção os seguintes movimentos:
1º) Os Socinianos
Suas crenças hermenêuticas poderiam
ser apresentadas nesta síntese:
A Bíblia deve
ser interpretada racionalmente, isto é, em harmonia com a razão. Diante desta
afirmativa é fácil concluir que doutrinas fundamentais do Cristianismo, como a
Trindade e as duas naturezas de Cristo foram abandonadas.
2º) As idéias defendidas por Coccejus
Coccejus foi um
notável teólogo holandês que se opôs duramente ao uso da Bíblia como textos –
provas para defesa de opiniões pessoais. Conclamou os intérpretes a usarem a
Bíblia como um todo harmonioso e também a explicarem cada passagem à luz do seu
contexto.
3º) Os pietistas. Como o próprio nome
indica estes foram os defensores uma vida verdadeiramente piedosa.
Opuseram-se ao
estudo teórico das Escrituras, que não traz nenhum benefício, defendendo o
estudo porismático (aquele que é útil para repreensão) e o prático (com muita
oração e tristeza pela nossa condição desvalida perante Deus).
Introduziram um
elemento novo, chamado de interpretação psicológica, segundo o qual o
intérprete deveria estar em harmonia com o autor bíblico para compreendê-lo
melhor.
V – O Período Histórico-Crítico
Não há necessidade
de nos demorarmos nesta fase quando sabemos que ela se caracterizou por
defender princípios interpretativos não aceitos pelos estudiosos conservadores.
Basta citar
estas afirmações capitaneadas por seus mais notáveis poderes.
1º) A negação
da infalibilidade das Escrituras.
2º) Discordavam
da inspiração divina, crendo que os escritores bíblicos foram inspirados
somente no sentido de terem capacitação natural, como a tiveram Homero e Camões
na elaboração de suas obras,
3º) A
interpretação bíblica deve ser feita como a de qualquer outro livro. A
conseqüência mais significativa destas opiniões foi surgimento da interpretação
gramático-histórica da Bíblia.
a) A Escola Gramatical
Ernesti, o
iniciador da Escola, apresentou em notável trabalho os princípios que deveriam
nortear os intérpretes da Bíblia.
O fato mais
destacado seria a valorização das palavras do texto como a verdadeira fonte de
interpretação da verdade religiosa.
b) A Escola Histórica
O vulto mais
preeminente desta corrente interpretativa foi Semler. Para ele os livros da
Bíblia se originaram de modo histórico e historicamente devem ser
interpretados.
As tendências
resultantes destas escolas antagônicas foram muito trágicas para a hermenêutica
e a exegese, pelo surgimento do Racionalismo na explicação dos fatos bíblicos.
A principal
conseqüência foi a afirmativa de que há muitos erros no texto sagrado. Apesar
destas declarações corrosivas dos críticos, não devemos dobrar os joelhos
diante da falsa ciência dos que se arrogam o direito de criticar a inspirada
palavra de Deus.
Muito poderia
ser dito sobre os resultados em nossos dias desta exegese. Um destes é o
caráter mitológico do Novo Testamento defendido com todo o ardor pelo teólogo
Bultmann.
Cremos ser
melhor não prosseguir com os aspectos negativos na explicação da Palavra de
Deus. Quero apenas concluir com as declarações de Paul M. Schelp, encontradas
no prefácio do livro Dificuldades
Bíblicas de M. Arndt:
"Na Bíblia
não consta qualquer erro, qualquer contradição. Afirmamos isso, porque toda a
Escritura foi inspirada por Deus (II Tim. 3:16). O Espírito Santo falou por
intermédio dos santos escritores (Mat. 4:14; At. 4:25 e outros). A Escritura
não pode falhar numa única palavra (João 10:35), nem no singular nem no plural
dum substantivo (Gál.
3:16).
"Contradições
aparentes podem ser resolvidas por exegese sadia, e sendo, ao nosso ver,
impossível a harmonização de certas passagens, o crente terá paciência e
esperará tranqüilamente a sua transferência para as mansões celestiais, onde
tudo lhe será claríssimo como a luz meridiana".
NOTA: A fonte
mais significativa para a elaboração deste ponto foi Princípios de Interpretação Bíblica de Louis Berkhof, editado pela Casa
Publicadora Batista.
Sou Grato ao Professor Pedro Apolinário pelo brilhante trabalho
Pr. Cirilo Gonçalves
Evangelista da IASD - AP, SP.
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