quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

A IRA DE DEUS E A IRA DO HOMEM

A  IRA  DE  DEUS  E  A  IRA  DO  HOMEM
 
INTRODUÇÃO

 Este é um dos assuntos mais difíceis de ser explicado dentro das Escrituras, porque estas condenam a ira e de outro lado apresentam tantas referências à ira de Deus. Este estudo tenciona esclarecer os estudantes da Bíblia sobre a necessidade de fazer nítida distinção entre ira humana (que também pare sofrer dupla distinção) e o real significado da expressão ira de Deus.

Sobre a importância do tema basta mencionar estes aspectos: 1) O Theological Dictionary of the New Testament de Kittel dedica 62 páginas ao estudo da   palavra ira: 2) Há uma compreensão totalmente errada, de modo geral no mundo e mesmo entre nós com respeito à expressão "ira de Deus". Faz pouco tempo obtive da Biblioteca Evangélica de São Paulo uma brochura, que é um sermão intitulado "Pecadores nas Mãos de um Deus Irado" de autoria de Jonathan Edwards, um destacado teólogo e erudito dos Estados Unidos no século XVIII. Suas ponderações sobre a ira divina são verdadeiramente absurdas. Para termos uma idéia precisa do que ele pregou basta este trecho:

"Ó pecador, considera o temível perigo em que te achas! E sobre uma grande fornalha de ira, um abismo hiante e sem fundo, cheio do fogo da ira, que és seguro na mão daquele Deus, cuja ira é provocada e despertada contra ti, tanto quanto contra muitos dos condenados do inferno.. ." O sermão é todo neste mesmo diapasão, mostrando uma distorção total do caráter de Deus.

 COMENTÁRIOS GERAIS

Definição de Ira
"Mágoa ou paixão que a injúria desperta na pessoa injuriada; raiva, cólera. Desejo de vingança." – Laudelino Freire. No consenso comum esta palavra significa fúria, raiva, cólera, com um desordenado desejo de vingança. Esta seria a ira humana, por isso é condenada na Bíblia.

IRA DO HOMEM

De acordo cem o Dicionário Enciclopédico da Bíblia (Editora Vozes Limitada, Petrópolis) a ira do homem geralmente é reprovada na Escritura; quanto ao Velho Testamento sobretudo, nos escritos de Salomão. O motivo parece ser mais utilitário desde que a ira nos causa prejuízo.

· Prov. 15:18 – "O homem iracundo suscita contendas, mas o longânimo apazigua a luta."
· Prov. 18:19 – "Homem de grande ira tem de sofrer o dano."
O Novo Testamento também condena a ira, basta ler:

v Mat. 5: 22 – "Quem se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento."
v Efésios 4:31 – "Longe de vós toda a amargura, e cólera e ira..." Pode-se ler ainda: Gál. 5:20; Ecles. 7:9; Jó 5:2, Sal. 37:8; Prov.14:17.

A ira está classificada pela Igreja Católica entre os sete pecados capitais; sendo os outros seis: orgulho, avareza, luxúria, gula, inveja, preguiça. Destes sete há dois que merecem, no uso corrente da linguagem, uma exceção muito honrosa, o orgulho e a ira. Falamos habitualmente em santo orgulho (a justa soberba) como em santa ira (o ódio bem fundado). Quando nos orgulhamos de atos que merecem o nosso respeito e representam verdadeiros paradigmas de nossa conduta, o orgulho deixa de ser pecado para se transformar em virtude. É o santo orgulho. Quando odiamos a injustiça, o erro, o pecado e discernimos, com isso, o bem do mal, o certo do errado, a virtude do relaxamento, esse ódio se transfigura e se redime. É a santa ira. Desta santa ira o próprio Jesus nos deu o exemplo, como se vê na sua maneira de falar sobre os fariseus e no seu comportamento no templo. Estas atitudes estão relatadas em Marcos 3:5 e Mat. 21:12. Em Marcos 3:5 no grego se encontra: olhando-os ao redor, cem ira – orguê. Não seria a esta ira que se refere a Palavra Divina, quando preceitua: "Irai-vos e não pequeis" (Efés. 4:26?

A PALAVRA IRA NO ESCRITO ORIGINAL

No Velho Testamento a palavra ira é a tradução de várias palavras do original hebraico, enquanto no Novo Testamento ira é a tradução de três palavras gregas:
(orguê); (thimós); (parorguismós) 

1ª) orguê, a mais usada no Novo Testamento, por aparecer 385 vezes. É ira com desejo de vingança. É a ira pensara, mais calma, mais firmada na vontade e na razão, orguê é usada para a ira do homem: Efés. 4:31; Col. 3:8; I Tim. 2: 8; Tiago 1:19, 20; para a ira de Cristo contra os fariseus, relatada em Marcos 3:5; mas também para o julgamento final de Deus: Mateus 3:7; Luc. 3:7; Rom. 1:18; 2:5, 8; 3:5; 12:10; Efésios 2:3; 5:6; Col. 3:6; I Tess. 1:10; 5:9.

2ª) thimós, empregada apenas18 vezes, 10 das quais se acham no Apocalipse. É a paixão irascível, ira a ferver, ira como algo em ebulição. W. E. Vine Expository Dictionary of the New Testament Words, pág. 55 assim a distingue de orguê – "thimós expressa mais o sentimento interno, orguê a emoção ativa." Vincent afirma: "Tanto orguê como thimós são unidos no Novo Testamento para ira ou cólera, e sem qualquer distinção comumente observada. Orguê denota um mais profundo e mais permanente sentimento, um hábito mental estabelecido, enquanto que thimós é uma agitação mais turbulenta, embora temporária. Ambas as palavras são usadas na frase ira de Deus, que comumente denota uma manifestação distinta do juízo divino (Rom. 1: 18; 3: 5; 9: 22; 12: 19)." – Word Studies in the New Testament, vol. II, pág. 110.

De acordo com The Interpreter's Dictionary of the Bible, vol. I, pág. 135, a distinção a ser feita é esta: "Se há qualquer distinção entre estas duas palavras no Novo Testamento em relação à emoção humana, parece que thimós denota melhor a paixão irrefletida da ira (por ex. Luc. 4:28); orguê, a indignação moral mais relativamente considerada (Tiago1:19).

Nota: Há autores que afirmam que nenhuma distinção rode ser feita entre estas duas palavras.

3ª) parorguismós. Nesta palavra se encontra uma reforçada forma de orguê. Ela aparece apenas uma vez no Novo Testamento em Efés. 4:26, com o sentido de ira provocada. O verbo cognato parorguidzo, irritar, excitar à ira é usado duas vezes: Rom. 10:19 e Efés. 6:4. Vine ao explicar parorguismós de Efés. 4: 26 afirma:

"O verbo precedente, orguidzo; neste verso faz supor uma ocasião justa para o sentimento. Isto é confirmado pelo fato de que é uma citação do Salmo 4:4 (Septuaginta), onde a palavra hebraica significa tremer com forte emoção." – Expository Dictionary of the New Testament Words, pág. 56.

IRA DE DEUS

Uma pesquisa na Bíblia nos leva à conclusão de que a ira humana e a ira de Deus são totalmente distintas. Freqüentemente o princípio da ira de Deus é apresentado em termos antropomórficos. Veja apêndice. Russel Norman Champlin, em seu comentário sobre Romanos 1:18 pondera:

"A ira de Deus não indica alguma forma de emoção humana, que perturbe o equilíbrio emocional das pessoas e as torne desejosas de ferir às outras, em forma de ações maldosamente planejadas, conforme a ira humana geralmente obriga as suas vitimas a fazerem. A ira de Deus é ordinariamente aludida em termos escatológicos, referindo-se ao julgamento que haverá no futuro dia do Senhor."

"É a justa indignação de Deus quando do julgamento contra o pecado." – Idem, comentário de Rom. 5:9. 

F. F. Bruce no livro: Romanos – Introdução e Comentário, pág. 69 ao analisar Rom. 1:18 nos esclarece:

"Se se pensa que a palavra ira não é muito apropriada para usar-se com relação a Deus, é provavelmente porque a ira como a conhecemos na vida humana, constantemente envolve paixão egocêntrica, pecaminosa. Com Deus não é assim. Sua 'ira' é a reação da santidade divina face à impiedade e rebelião. Paulo decerto concordaria com Isaías ao descrever esta ira de Deus, como 'sua obra estranha' (Isaías 28:21) à qual Ele a aplica lentamente e com relutância. ...

"A idéia de que Deus é ira não é mais antropopática do que o pensamento de que Deus é amor. A razão pelo qual a idéia da ira divina está sempre sujeita a mal-entendidos é que a ira entre os homens é eticamente errada. E contudo, mesmo entre os homens não falamos da ira justa?"

Há dois extremos que devem ser evitados ao tratar-se da ira de Deus. O primeiro pertence àqueles que O apresentam cheio de amor e longanimidade e como um Pai amoroso não irá destruir os seus filhos, portanto não acreditam na severidade ou na ira de Deus. No extremo oposto se encontram os que apresentam a Deus como um ser vingativo e irado que fará os homens queimarem para sempre. Muitos sacrifícios têm sido feitos para aplacar esta ira.

Não há nenhuma discrepância nos versos que apresentam a Deus cheio de bondade e amor com aqueles que revelam sua ira contra o pecado e os pecadores que acintosamente o rejeitam. O amor requer julgamento. A severidade divina é sempre manifestação do amor.

Como bem se expressou Arthur John Gossip:

"Mas no Novo Testamento os homens não ouvem qualquer choque entre a ira divina e a longanimidade divina: pelo contrário, ficam certos tanto da bondade como da severidade de Deus; certos de que a sua severidade faz parte da Sua bondade, e que, se essa severidade estivesse ausente, ele não seria bom, porquanto os alicerces morais do mundo se desequilibrariam e entrariam em colapso."

 Do cotejo de várias passagens bíblicas os estudiosos têm chegado à conclusão de que há uma dupla necessidade da ira de Deus, que neste caso seria sinônimo de sua justiça:

1ª) Para que haja manutenção das leis divinas que pedem justiça.
2ª) Para extermínio do pecado e dos pecadores impenitentes que se opuseram à misericórdia divina. A Bíblia nos apresenta a ira de Deus desviada após confissão do pecado e arrependimento. Salmo 106:43-45; Jer. 3:12, 13; 31:18-20; Luc. 15:18-20.

A ira de Deus é justa. Salmo 58: 10, 11; Rom. 6:2, 8; Apoc. 16:6, 7. De acordo com Rom. 2:4 e 5 a ira de Deus significa o juízo de Deus. Ela é usada contra:

a)     Os ímpios – Isa. 13:9; Rom. 1:18; Efés. 5:6.
b)    A apostasia – Heb. 10:26-27.
c)     A idolatria – Deut. 29:27-28; Jos. 26:16; Jer. 44:3.
d)    Aqueles que se opõem ao evangelho. Salmo 2:2, 3, 5; I Tess. 2:16.

Ela é temperada com misericórdia no caso dos santos. Salmo 30: 5; Isa. 26:20; Jer. 30:11. Ela deve conduzir-nos ao arrependimento. Isa. 42: 24-25; Jer. 4:8.

O livro Essays in Honor of Edward Heppenstall – The Stature of Christ apresenta como capítulo final: "An Interpretation of the Wrath of God", de Morris D. Lewis, trabalho honesto, bem fundamentado e que expressa de maneira feliz a crença adventista sobre este empolgante tema. Para que se tenha melhor compreensão do problema aqui se encontram traduzidos das primeiras 8 páginas, das 22 de sua pesquisa, alguns trechos mais significativos:

"As centenas de textos bíblicos que descrevem a ira como uma característica de Deus criam um problema. O amor na personalidade da Divindade parece estar em conflito com as muitas referências às demonstrações de cólera, furor e ira de Deus. Uma referência típica é aquela de Jeremias retratando a exasperação divina por causa da pecaminosidade dos habitantes de Jerusalém.

"Assim diz o Senhor, o Deus de Israel: . . . eu planejarei contra vós com mão estendida, e com braço forte, e com ira, e com indignação e com grande furor. E ferirei os habitantes desta cidade, assim os homens como os animais: de grande pestilência morrerão. (Jer. 21:4-6).

"A maioria dos teólogos modernos hoje crêem que em adição à característica divina de amor, a personalidade da Divindade, às vezes, se inflama ante a rebelião do homem e exibe cólera e ira para testificar contra a odiosidade do pecado. Alguns escritores tendem ao raciocínio de que a ira de Deus é justificável porque é expressa somente após incessante agravamento dos pecadores. Outros enfatizam que a ira de Deus apenas confirma sua santa aversão ao pecado."

"Seja qual for o arrazoamento para justificar a característica de cólera e ira na natureza da Divindade, a argumentação é destituída de fundamento escriturístico. Os Escritos da Inspiração como registrados por Isaías testificam da declaração do próprio Deus: "Não há indignação em mim": (Isa. 27: 4). O mesmo escritor também confirmou a atitude divina no verso nove do capítulo 54:9 – ". . . assim jurei que não me irarei mais contra ti, nem te repreenderei." A palavra hebraica mais freqüentemente usada para provocação é a mesma palavra usada muitas vezes para ira. Ficar zangado e ser provocado e mostrar ira são expressões muito semelhantes e intimamente relacionadas. Mas de Cristo, a escritora de O Desejado de Todas as Nações disse: "Sua calma resposta proveio de um coração imaculado, paciente e brando, que não se irritava."1 Cristo nunca foi agitado por pecadores a ponto de revidar com uma atitude excitada. "O qual, quando o injuriavam, não injuriava, e quando padecia não ameaçava" (I Ped. 2:23). Cristo nunca foi provocado à cólera ou ira, e ele expressava o caráter de Deus o Pai.

"Que Deus é soberano é indisputável. Como o termo ira de Deus está relacionado com a soberania da Divindade, liga-se primeiramente com a operação da lei. Quer em função da natureza, quer em função do relacionamento moral do homem, a mesma posição predominante de Deus permanece.

Disse o salmista, falando de Deus: "Tu firmaste a terra, e firme permanece. Conforme o que ordenaste, tudo se mantém até hoje; porque todas as coisas te obedecem." Sal. 119:90, 91. Em outra referência o escritor depois de exaltar o poder criador de Deus em estabelecer o sol, a lua, as estrelas e as águas, concluiu: "Louvem o nome do Senhor, pois mandou, e logo foram criados. E os confirmou para sempre, e lhes deu uma lei que não ultrapassarão. (Sal. 148:5, 6).

São estas apenas umas poucas das muitas referências em que Deus é retratado como constantemente controlando a natureza pela lei natural. Neste contexto a operação da natureza é declarada Sua serva.

Os  processos da natureza que dão vida, alimento, beleza e prazer são os servos de Deus. Eles executam Seu mando. Esses mesmos processos podem tornar a ser uma tempestade ou uma praga para destruir o homem e a natureza. As funções destrutivas da natureza podem muito bem ser chamadas a ira ou a cólera de Deus.

"O Senhor é um Deus zeloso e que toma vingança, o Senhor toma vingança e é cheio de furor: o Senhor toma vingança centra os seus adversários, e guarda a ira contra os seus inimigos. O Senhor é tardio em irar-se, mas grande em força, e ao culpado não tem por inocente; o Senhor tem o seu caminho na tormenta, e na tempestade, e as nuvens são o pó dos seus pés" (Naum 1:2-3).

O Senhor tem o Seu caminho nas tempestades; elas, também, são Suas servas. Tempestades de tal violência podem destruir os ímpios" (Jer. 23:19-20). Quer as operações da natureza sejam tranqüilas e serenas, quer sejam violentas e destruidoras, ambas as funções são mencionadas como sendo a mão de Deus.

A Palavra Inspirada fornece uma compreensão mais profunda e atribui as funções naturais de destruição aos poderes do mal. Disse Isaías: "Eis que o Senhor mandará um homem valente e poderoso; como uma queda de saraiva, uma tormenta de destruição, e como uma tempestade de impetuosas águas que transbordam, violentamente e derribará por terra" (Isa. 28:2).

O valente e poderoso é a força satânica. Em outra referência em Isaías o profeta observou o poder de Deus como a força que cria o destruidor. ". . . também criei o assolador para destruir". (Isa. 54:16). O artigo com a palavra assolador indica uma pessoa específica. A mesma palavra aqui empregada ocorre em Êxo. 12:23, e nesta referência é traduzida por destruidor e tem também consigo o artigo. Satanás é o poderoso como uma tempestade destruidora fazendo devastação em a natureza.

Ellen White faz as mesmas observações:

"Assim foi que Lúcifer, “o portador de luz”, aquele que participava da glória de Deus, que servia junto ao Seu trono, tornou-se, pela transgressão, Satanás, o “adversário” de Deus e dos seres santos, e destruidor daqueles a quem o Céu confiou a sua guia e guarda."2

"Satanás também opera por meio dos elementos a fim de recolher sua colheita de almas desprevenidas. Estudou os segredos dos laboratórios da Natureza, e emprega todo o seu poder para dirigir os elementos tanto quanto o permite Deus. . . . nos violentos furacões e terríveis saraivadas, nas tempestades, inundações, ciclones, ressacas e terremotos, em toda parte e sob milhares de formas, Satanás está exercendo o seu poder."3

Para o observador casual a fúria da tempestade parece ser a demonstração direta do poder divino. Isto não é totalmente verdade. O princípio bíblico de soberania atribui a Um que comanda todos os atos feitos sob Sua autoridade.

Isto se verifica claramente no trato de Davi com o amalequita que pretendia ter matado Saul. Em uma referência (II Sam. 1:15), é dito que Davi chamou um de seus jovens para lançar-se sobre o amalequita e matá-lo, e em outro relato (II Sam. 4:10), Davi disse que lançou mão do homem e o matou. Aqui não há nenhuma contradição. O que foi feito por aqueles que estavam sob o comando de Davi é dito ter sido feito pelo próprio Davi. Este mesmo princípio é verdade na descrição do profeta da soberania de Deus sobre todas as forças da natureza. A fúria da tempestade é declarada ser a ira de Deus, quando em realidade a ira é Satanás usando os elementos da tempestade quando Deus permite.

Como pode ser dito que Deus trouxe a tempestade e ao mesmo tempo declarar que Ele não estava nas funções destrutivas da natureza? Quando as impetuosas exibições da natureza ocorreram no vento, terremoto e fogo, foi dito ao profeta Elias que Deus não estava nelas. (I Reis 19:11, 12). A declaração acima de O Grande Conflito torna claro que tempestades e calamidades da natureza são a obra do diabo, não de Deus. Satanás usa as leis de Deus para destruir. As leis são de Deus. O propósito de destruir é o intento de Satanás. A destruição é a obra do poder maligno, até onde Deus o permite.

Enfermidade, sofrimento e morte são obra de um poder antagônico. Satanás é o destruidor, Deus é o Restaurador.4 Onde quer que a Bíblia fale de Deus como estando a causar destruição através dos elementos da natureza, a destruição ocorre apenas por Sua soberana permissão e através da operação de Suas leis.

"Nada ocorre na Terra ou no Céu sem o conhecimento do Criador. Nada pode acontecer sem Sua permissão."5

A obra de destruição no mundo natural é a obra de Satanás; é dito ser de Deus apenas no sentido de Sua soberania.

Para entender a ira, é muito importante ver a relação íntima entre a lei natural e a lei moral.

"Os homens podiam aprender do desconhecido pelo conhecido; coisas celestiais foram reveladas pelas terrenas; . . . As coisas naturais eram o veículo para as espirituais; cenas da Natureza e da experiência diária de Seus ouvintes eram relacionadas com as verdades das Escrituras Sagradas."6

Todo o esquema do ensino bíblico está baseado na íntima relação das leis natural e moral. Paulo concluiu: "Não erreis; Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia na sua carne, na carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna" (Gál. 6:7, 8).

Cristo repetiu o mesmo princípio básico de ensino quando Se referiu à Sua morte como um grão de trigo caído no solo. (João 12:24, 25).

É mais evidente perceber a lei física na operação de cada simples função do corpo humano. É menos aparente, mas certamente como concreto, concluir que a operação da evolução e inteligência humanas está em conexão com a lei moral.

Como supremo Soberano do Universo, Deus ordenou leis para o governo não só de todos os seres vivos, mas de todas as operações da Natureza. Todas as coisas, quer grandes quer pequenas, animadas ou inanimadas, acham-se sujeitas a leis fixas, que não podem ser desrespeitadas. Não há exceções a esta regra; pois coisa alguma feita pela mão divina, foi esquecida pela mente divina. Mas se bem que tudo em a Natureza seja governada pela lei natural, o homem, tão-só, como ser inteligente, capaz de compreender seus reclamos, é responsável à lei moral.7

Cada função, seja física ou mental, está operando por lei. É bastante íntima a influência de uma sobre a outra, e o princípio funcional é também íntimo. A autora White, tendo citado Sal. 19:1-6, disse: "O salmista relaciona a lei de Deus no mundo natural com as leis dadas às Suas inteligentes criaturas.8 Assim, a mesma função operacional de vida e destruição na lei natural seria encontrada também na lei moral.

Os dez mandamentos são a regra básica para a vida e a morte; amor e ódio. O segundo mandamento estabelece este duplo conceito.

". . . Porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a maldade dos pais nos filhos até à terceira geração daqueles que me aborrecem. E faço misericórdia em milhares aos que me amam e guardam os meus mandamentos" (Êxo. 20:5, 6).

A lei diz que Deus visitará suas iniqüidades sobre aqueles que odeiam e a Sua misericórdia sobre aqueles que amam. Um princípio muito importante e distinto é formulado aqui que envolve a natureza da ira e a fonte de sua origem. Deus é a fonte de misericórdia sobre aqueles que amam, mas iniqüidade e ira vêm sobre o homem tendo o próprio homem como fonte.

A palavra para visitar no texto acima é a mesma  palavra usada para mandamento no texto seguinte: "As obras das suas mãos são verdade e juízo; fiéis todos os seus mandamentos." (Sal. 11:7). O princípio da visitação é uma lei. Quando o Senhor visitar os pecadores, Ele visitará os seus pecados sobre eles. (Êxo. 32:34). Esta função da lei moral é precisamente a mesma que a lei da natureza; o que é semeado, o mesmo é ceifado. Se alguém semeia na carne, colherá na carne. O profeta Jeremias falando dos falsos profetas disse que o Senhor visitaria sobre eles a maldade de suas ações. (Jer. 23:2). No mesmo capítulo o profeta explicou o processo mais detalhadamente.

"Portanto, o caminho deles será como lugares escorregadios na escuridão; serão empurrados e cairão nele; porque trarei sobre eles calamidade, o ano mesmo em que os castigarei, diz o SENHOR" (Jer. 23:12).

O Senhor visitaria os caminhos escorregadios sobre eles, e eles cairiam em trevas. Assim, o dia da visitação é um dia de recompensa. (Osé. 9:7). O dia da visitação é o dia em que os pecados que o pecador semeou tornar-se-ão uma ceifa. A visitação dos pecados sobre os pecadores funciona à parte da intervenção direta de Deus. Visitar a iniqüidade dos pais sobre os filhos é retribuir o mal dos pecadores sobre si mesmos. Este processo é chamado a ira de Deus.

"E aos que são fiéis em Seu serviço, promete-se a misericórdia, não meramente à terceira e quarta geração, como é ameaçada a ira contra os que O aborrecem, mas a milhares de gerações."9

Na citação acima a autora cita o comentário do segundo mandamento e iguala o termo "visita a maldade dos pais sobre os filhos" com ira. Deste modo, o processo de visitação como uma operação de lei traz ira sobre aqueles que odeiam. Paulo faz a mesma declaração em Rom. 4:15 – ". . . a lei opera a ira".

A lei moral como a lei natural opera em um sentido duplo, para a vida e para a morte. Paulo salientou distintamente a operação da lei do pecado como outra lei e a denominou a lei do pecado e da morte.

"Mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros." "causou-me a morte" (Rom. 7:23, 13).

"Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte." (Rom. 8:2).

A palavra outra está enfatizando outra em qualidade de preferência a outra em número. (A palavra outra de Rom. 7:23 em grego é – héteros e não – álos, por ser álos outro da mesma qualidade e héteros  – outro de natureza diferente. Nota do autor do livro.)

Deus fala de ambos os grupos, aqueles que são governados por Sua lei de amor. Falando de Israel, o Senhor disse que eles eram Seus servos (Lev. 25:55) Também, a maioria dos ímpios são chamados Seus servos. Assim o Senhor falou de Nabucodonosor quando ele primeiro veio contra Judá. Sua soberania é inquestionável no domínio do pecado e da justiça. A operação da vontade é do homem; a operação da lei é Sua. Como declarou Davi que a ação de seu oficial subordinado era sua própria, assim Deus fala do caminho dos pecadores como Sua própria realização.

"Eu sou o SENHOR, que faço todas as coisas, que sozinho estendi os céus e sozinho espraiei a terra; que desfaço os sinais dos profetizadores de mentiras e enlouqueço os adivinhos; que faço tornar atrás os sábios, cujo saber converto em loucuras" (Isa. 44:24, 25).

O Senhor conduz os tortuosos e aqueles que obram a maldade (Sal. 125:5). O Senhor conduz os mentirosos, os adivinhadores, os sábios, e os tortuosos pela função de Sua lei do pecado em suas vidas. Os poderosos da Terra são a vara da indignação de Sua ira.

"Ai da Assíria, cetro da minha ira! A vara em sua mão é o instrumento do meu furor." (Isa. 10:5).

"O orgulho assírio, conquanto usado por Deus por algum tempo como a vara de Sua ira, para punir as nações, não deveria sempre prevalecer.10

A ira não era uma expressão pessoal da Divindade. Os assírios, como servos de Deus da lei do pecado, estavam sob Seu soberano controle. A palavra hebraica para ira neste contexto é a mesma usada em muitos lugares.

Deus usou Sisaque como Sua ira.

". . . Humilharam-se, não os destruirei; antes, em breve lhes darei socorro, para que o meu furor não se derrame sobre Jerusalém, por intermédio de Sisaque." (II Crôn. 12:7)

Não havia nenhuma expressão de ira da parte de Deus neste exemplo. O Egito, como os outros poderosos da Terra, era o servo de Deus. "Eu dei ordens aos meus consagrados, sim, chamei os meus valentes para executarem a minha ira, os que com exultação se orgulham." (Isa. 13:3). Deus usa a ira dos homens para controlar os homens. Assim disse o profeta: "Tão certo como eu vivo, diz o SENHOR Deus, com mão poderosa, com braço estendido e derramado furor, hei de reinar sobre vós" (Ezeq. 20:33).

A operação da lei do pecado (ira de Deus) é a relação de homens maus contra os homens maus. Desta forma, Deus governa em sociedade com a ira dos homens maus para com homens maus.

"Quando pais ou governadores negligenciam o dever de punir a iniqüidade, Deus mesmo tomará o caso em Suas mãos. Seu poder restringidor será em certa medida removido dos agentes do mal, de tal forma que uma sucessão de circunstâncias se levantarão, as quais punirão o pecado com pecado."11 

Assim, vemos na Bíblia e no Espírito de Profecia que Deus não é um Deus de ira. Ele é um Deus que tem soberano controle de tudo, mesmo dos ímpios. As expressões nas Escrituras que parecem indicar Deus com raiva e ira são, na realidade, a verificação de Seu soberano controle.

A lei moral do Deus de amor funciona pelo desejo e intenção da divindade; a lei do pecado e da morte, que é a ira de Deus, funciona pela permissão de Deus. É um idiomatismo da semântica bíblica para atribuir a Deus aquilo que em Sua providência Ele permite que ocorra. "Deus domina sobre tudo" (Sal. 103:19). Isto inclui também os ímpios. (II Crôn. 20:6). O trato de Deus para com os ímpios é o da permissão. Do contrário, a Bíblia parece contradizer-se.

"Pois, ainda que entristeça a alguém, usará de compaixão segundo a grandeza das suas misericórdias; porque não aflige nem entristece de bom grado os filhos dos homens" (Lam. 3:32, 33).

No primeiro versículo acima, é declarado que Deus causa aflição e no seguinte é dito que Ele não aflige ou entristece. Jeremias disse que o Senhor afligiu Jerusalém. (Lam. 1:12) e Jó disse que o Todo-Poderoso não aflige (Jó 37:23). A verdade é encontrada da avaliação das citações de Lamentações. O Senhor não aflige de Seu coração; isto quer dizer, não é Sua intenção segundo Sua santidade. O Senhor permite que a aflição ocorra.

"Nós lemos que Deus tentou a Abraão, que Ele tentou aos filhos de Israel. Isto significa que Ele permitiu que ocorressem circunstâncias para testar sua fé, e conduzi-los a olhar para Ele para obter auxilio."12

Desta forma, o Espírito de Profecia e a Bíblia concordam na semântica da permissão divina. O que é dito do que Deus faz no reino do pecado é feito somente pela Sua permissão. Um bom exemplo disto é encontrado em Isaías: "Eu formo a luz, e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas" (Isa. 45:7).

Sob esta luz, Jeremias disse: "Acaso não procede do Altíssimo assim o mal como o bem?" (Lam. 3:38). O mal não procede do coração de Deus. A divindade somente permite que o mal ocorra.

Tais contradições aparentes são numerosas na Bíblia. As declarações da ira de Deus são somente uma delas. Há um princípio muito definido e padronizado revelado em uma longa conseqüência de causa e efeito do pecado. O eminente sábio hebreu Mainmonides mostrou todos os eventos humanos como uma fila de dominós, tendo efeito contingente sobre os eventos bem sucedidos. Sejam eles bons ou maus, Deus foi a primeira grande causa. Então, citou ele o idiomatismo dos profetas hebreus que cancela os eventos intermediários e conecta o primeiro ao último como se não houvesse entre eles registro intermitente. Ao invés de um caso sem envolvimento com o mal ou a ira, parecia como se Deus fosse o real causador.

"Satanás procura esconder dos homens a ação divina no mundo físico – a fim de conservar fora das vistas a incansável operação da primeira grande causa."13

"Os homens têm geralmente atribuído a Deus tais características de raiva, ira, tentação, maldade, enviando fogo e oprimindo o coração dos homens, quando na realidade tais termos são usados para estabelecer Deus como a primeira causa e, por conseguinte, o soberano da terra. É tempo de as dissimulações de Satanás serem expostas. Assim fazendo, Satanás é removido de seu alto e cobiçado lugar e sujeito a uma linha de ação permitida por Deus. Satanás pode exercer sua autoridade usurpada somente como Deus permite."14

"Seus sofrimentos são muitas vezes representados como sendo castigo a eles infligido por decreto direto da parte de Deus. É assim que o grande enganador procura esconder sua própria obra. Pela obstinada rejeição do amor e misericórdia divina, os judeus fizeram com que a proteção de Deus fosse deles retirada, e permitiu-se a Satanás dirigi-los segundo a sua vontade."15

Quantas vezes a ira que veio a Israel foi interpretada como vinda de Deus. Assim, Satanás oculta sua obra, atribuindo-a a Deus. Ele tem alistado muitos teólogos ao seu lado para ajudá-lo nesta fraude.

"Satanás exerce domínio sobre todos os que Deus não guarda especialmente. Ajudará e fará prosperar alguns, a fim de favorecer os seus próprios intuitos; trará calamidade sobre outros, e levará os homens a crer que é Deus que os aflige."16

Após outros exemplos, confirmações e elucidações para ilustrar as maneiras distintas de agir de Deus e Satanás, Morris D. Lewis conclui suas ponderações declarando:

Embora a ira do homem opere pela lei de Deus, pela mesma lei o amor de Deus opera a ira do homem. Deus não é um Deus de ira, mas um Deus de amor.

CONCLUSÃO

Quando a Bíblia fala da ira de Deus ela nos deseja ensinar que Ele é justo e tem aversão ao pecado. Ira de Deus é uma expressão bíblica que significa o castigo dos ímpios no Juízo Final. Ira de Deus é outra expressão para a justiça divina.

APÊNDICE: Os judeus apresentavam a divindade com reações humanas antropomórficas.

A palavra antropomorfismo significa em grego – antropos, homens e morfê, forma. Seria atribuir a Deus formas e qualidades humanas. A Bíblia fala da boca, lábios, mãos, olhos, etc. de Deus. Atribui ainda à Divindade as paixões e sentimentos experimentados pelos homens, por isso fala em cólera, alegria e vingança de Deus.

Referências

1.  O Desejado de Todas as Nações, pág. 700.
2.  Patriarcas e Profetas, pág. 40.
3.  O Grande Conflito, págs. 589-590.
4.  O Ministério da Cura, pág. 11.
5.  Minha Vida Hoje, pág. 291. 
6.  Parábolas de Jesus, pág. 17.
7.  Mensagens Escolhidas, vol. I, pág. 216.
8.  SDABC, vol. III, pág. 1114.
9.  Idem, pág. 306.
10.  Profetas e Reis, pág. 349.
11.  Profetas e Reis, pág. 728.
12.  SDABC, vol. I, pág. 1094.
13.  Patriarcas e Profetas, pág. 509.
14.  Desire of Ages, pág. 130.
15.  O Grande Conflito, pág. 35.
16.  O Grande Conflito, pág. 589.

Extraído de Leia e Compreenda Melhor a Bíblia de Pedro Apolinário:
Adaptações, Grifos e Didática de: 

Pr. Cirilo Gonçalves da Silva
Mestre em Teologia e Evangelista
Twitter: @prcirilo

PARACLETO - O ESPÍRITO SANTO CONSOLADOR

PARACLETO –  Paravklhtov
 Este vocábulo que é usado no Novo Testamento 5 vezes, aparece apenas nos escritos joaninos (4 vezes no evangelho 14:16, 26; 15: 26; 16: 7; e uma vez na primeira epístola – 2:1). A forma verbal paraclein e o substantivo paráclesis são freqüentes nos escritos neotestamentários, porém, não são usados por João.
Paracleto não aparece na Septuaginta, A palavra é formada da preposição paravpará = ao lado de, junto a; e do verbo kalevw kaleo = chamar; significando portanto – chamado para o lado de, alguém chamado para ajudar ao lado de outrem.
Os gnósticos usavam esta palavra com o sentido de assistente ou ajudante. No grego clássico paracleto é usada com o sentido de advogado, alguém que pleiteia a causa de outrem, sentido este que passou ao grego helenista, nos escritos de Josefo, Filo e também para os papiros dos tempos apostólicos. No início a palavra apenas designava um advogado, mas o seu sentido se ampliou, indicando idéias de consolo e conselho. O verbo paracleo, tão comum na Septuaginta, ocorre com freqüência, para indicar o auxílio que Deus concede, aos seus filhos, a fim de ajudá-los em todas as suas necessidades. 
Paracleto é usado no Novo Testamento tanto para o Espírito Santo quanto para cristo. O Espírito Santo não se limita ao papel de um advogado, pois Cristo declara que ele nos guiará a toda a verdade, convencerá o mundo do pecado, havendo de operar a nossa transformação para que nos qualifiquemos para o céu.
Para Arthur John Gossip a obra do Espírito Santo é a seguinte: "O Espírito que ele 'Deus' nos envia, é um Espírito poderoso, que insta conosco de forma intensa. Ele impele, ele reaviva, ele revigora, ele infunde novo ânimo e nova coragem aos descoroçoados e, repondo na ordem as fileiras dispersas, permite-nos tirar a vitória da própria derrota".

Qual a Melhor Palavra em Português Para Traduzir o Paracletos Grego?

A Almeida Revista e Atualizada traduz por Consolador. A tradução inglesa R.S.V. traz Conselheiro. Goodspeed preferiu chamá-lo de Ajudador. A New English Bible o identifica como Advogado nas cinco referências onde aparece, concordando com a maioria das traduções quanto a I João 2:1, que se refere a Cristo e não ao Espírito Santo. Destas quatro traduções crêem os eruditos que a melhor é Ajudador, por ser mais abarcante, no que concordamos. Veja o Novo Testamento Interpretado de Russell Champlin, 11 Vol. pág. 534.
Parte do trabalho de intercessão de Cristo consiste em proteger seu povo das tentações e acusações de Satanás, como nos diz Paulo em Rom. 8: 33 e 34. Satanás é o acusador dos irmãos. Apoc. 12: 10. Acusar não é obra de Cristo. Paulo nos indica em Romanos que quando Satanás acusa o pecador arrependido, Cristo diante de Deus intercede em seu favor. Para aqueles que reclamam os méritos de Cristo, não há condenação. Cristo veio destruir as obras do diabo (Heb. 2:14-15). Ele derrotou a Satanás na cruz (João 12: 31-32). Ele continua a mesma obra de refutar as acusações do adversário.
A menos que o povo de Deus tenha ao seu lado Alguém mais poderoso, apto a afastar as acusações do inimigo ele poderá cair presa de seus estratagemas e ceder aos seus ataques. Apenas seremos vitorios contra o príncipe das trevas se tivermos ao nosso lado o Paracleto Divino fortalecendo-nos e amparando-nos das ciladas do inimigo.
Extraído de Leia e Compreenda Melhor a Bíblia de Pedro Apolinário
Adaptação, Grifos e Didática
Pr. Cirilo Gonçalves da Silva
Mestre em Teologia e Evangelista
Twitter: @prcirilo

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

CONCEITOS E SUGESTÕES PARA A COMPREENSÃO DA BÍBLIA

CONCEITOS E SUGESTÕES ÚTEIS PARA EXPLICAR E COMPREENDER A BÍBLIA
A tarefa de explicar a Bíblia é difícil pelas seguintes circunstâncias:
  1. Muitos foram seus autores.
  2. O tempo da sua composição compreende um período de 1.600 anos.
  3. Seus livros foram compostos em lugares inteiramente diversos.
  4. Os costumes daquelas pessoas eram totalmente diferentes dos do mundo moderno.
  5. O cunho das línguas hebraica e grega é bem diferente das línguas modernas. 
 Regras de Interpretação 
  
1º) O texto bíblico deve ser explicado gramaticalmente, tendo em vista a significação das palavras; observando que há palavras que possuem significados diferentes em contextos diferentes.
Um exemplo frisante é carne, que significa, algumas vezes, o que é terno e dócil, como em Ezeq. 11:19: "Dar-lhe-ei um coração de carne", em oposição a um coração de pedra. Significa também a natureza humana sem referência alguma ao estado pecaminoso, como em S. João 1:14, Rom. 1:3; 9:3; porém, mais comumente ainda se refere à natureza humana, corrupta e pecadora como, em Rom. 8:5; Efés. 2:3. Tem, além disso, a significação daquilo que, religiosamente falando, é exterior e cerimonial, como distinto do que é interior e espiritual, o que se pode ver em Gál. 6:12 e 3:3. Em Rom. 11:14 (RC) – "incitar à emulação os da minha carne", significa – minha raça, meu povo. João 1:14 – "o verbo se fez carne" = Deus se tornou um ser humano. Outra palavra importante por possuir muitas significações é sangue. As passagens seguintes confirmam suas diferenças:
  • Mat. 27:25 – "Caia sobre nós o seu sangue", significa – a culpa de o terem sentenciado à morte caia sobre nós.
  • Rom. 5:9 – "... sendo justificados pelo seu sangue", tem o sentido da sua obediência até a morte.
  • Heb. 9:14 – "... o sangue de Cristo purificará a nossa consciência das obras mortas", isto é, o seu sacrifício é o fundamento da justificação e o instrumento e o motivo da santificação.
2º) A segunda regra de interpretação muito útil é conhecer o objetivo de certos livros serem escritos e também específicos capítulos.

 
Gálatas foi escrito porque membros da Galácia influenciados por mestres judaizantes pensavam em ser justificados guardando a lei e requisitos dos judaizantes. (Gál. 2:16; 3:1-6)

 
Tiago – o objetivo do autor é provar que ninguém pode ser justificado por uma fé passiva, uma fé que não produza boas obras. Certas parábolas apenas serão compreendidas levando em consideração as circunstâncias em que foram proferidas, como exemplo a do Rico e Lázaro.

 
3º) A terceira regra exegética da Bíblia é comparar a Escritura com a Escritura.

Se este princípio fosse sempre seguido muitos erros seriam evitados. Um exemplo bastante frisante neste aspecto e S. Mateus 16:18 - "tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja". Comparando esta passagem com I Cor. 3:11, tudo começa a se esclarecer, porque Paulo diz que o único fundamento da igreja é Cristo. Outra passagem incisiva para provar quem era a pedra sobre a qual a igreja seria edificada é do próprio Pedro na sua primeira epístola, capítulo 2:4 a 8. Este princípio hermenêutico é também denominado de consulta às passagens paralelas, isto é, aquelas que tratam do mesmo assunto. Dentre os muitos exemplos bíblicos, que podem ser citados de passagens paralelas, o primeiro que me veio à mente foi Lucas 16:16. A passagem paralela muito mais clara em explicar o que Lucas queria dizer é S. Mateus 11:13. "Porque todos os profetas e a lei profetizaram até João". Como segundo exemplo elucidativo pode se ver Atos 2:21. Neste verso Pedro declarou: "todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo". Parece haver uma contradição com Mateus 7:21. "Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor entrará no reino dos céus". Que significa invocar o nome do Senhor? A leitura das passagens paralelas de Rom. 10:13 a 15 é I Cor. 1:2, citação do profeta Joel (2:32) nos informa que significa a aceitação da obra do Messias e ter confiança nas doutrinas que Ele revelou. Muitas passagens das Escrituras têm de ser explicadas pondo-as em relação, não com um ou mais textos, mas com as normas gerais da Palavra de Deus. Por exemplo – Se alguém quiser interpretar as passagens da Bíblia, que se referem à justificação pela fé, como se elas nos desobrigassem de obedecer à lei e de levar uma vida de santidade, tal interpretação deve ser rejeitada, porque é contraria ao espírito do evangelho. Uma passagem sempre citada para esposar idéias não defensáveis pela Bíblia é Prov. 16:4 – "O Senhor fez todas as cousas para determinados fins, e até o perverso para o dia da calamidade". Uma interpretação deste texto isoladamente parece indicar que os ímpios foram criados para poderem ser condenados, mas esta idéia não se conforma com muitas outras passagens da Bíblia. Basta ler Salmo 145:9 e II Pedro 3:9. O significado portanto de Prov. 16:4 é este: todo mal contribui para a glória de Deus e promove a realização dos seus insondáveis desígnios. O sentido geral das Escrituras, foi denominado por teólogos antigos, como Orígenes de "a analogia da fé", pela interpretação que davam a Romanos 12:6 onde está a palavra analoguioa. Hoje os intérpretes afirmam que a passagem se refere à medida ou à proporção da fé dos que profetizam.

 
Auxílios Prestados pelas Línguas Originais
Mesmo as melhores traduções não conseguem transmitir as nuances de certas palavras, as subtilezas das expressões idiomáticas, as tênues diferenças de significação dos sinônimos. Sendo que muitos destes aspectos ficam velados nas traduções, a leitura do verso no hebraico e no grego poderá captar o seu verdadeiro sentido.

Particularidades idiomáticas
Certas peculiaridades do original são mantidas nas traduções, dificultando assim a compreensão do verdadeiro sentido.

Os seguintes exemplos são primordiais:
  1. Romanos 12:20 - "Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça". Amontoar brasa viva sobre a cabeça de alguém, é uma expressão idiomática hebraica, com o sentido de fazer com que a pessoa fique envergonhada do seu procedimento.
  2. Mateus 6:3 - "Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita". Este idiotismo assim deveria ser traduzido: quando deres esmola, não deves contar o que fizeste nem mesmo ao mais íntimo amigo.
Sistema Verbal Hebraico e Grego
A compreensão destas línguas, quanto ao verbo, é muito útil na explicação de passagens difíceis. No hebraico há o intensivo e o causativo.
  • Intensivo – Piel e Pual  
  • Causativo - Hifil e Hofal
Hifil é causativo, mas também é permissivo. Em Êxodo 7:3 se diz que Deus endureceu o coração de Faraó. Moisés pergunta em Êxodo S: 22 - "Ò Senhor, por que afligiste este povo?" Há nestas duas passagens um idiotismo hebraico, o verbo usado não para expressar a execução de algo, mas a permissão para fazer isso. Não é possível alguém fazer uma exegese correta, se desconhecer alguns princípios do sistema verbal grego, como o "aspecto", que é a duração da ação verbal. O aspecto linear nos ajuda a explicar I João 3:9.
O uso da voz média nos indica em Atos 9:39 que as mulheres estavam usando as vestes naquele momento.

Alguns hebraísmos
Os judeus, muitas vezes, exprimiam o sentido de qualidade, usando não o adjetivo mas um segundo nome, tendência também seguida no grego hebraizado do Novo Testamento. I Tess. 1:3 – "a obra da vossa fé" = a vossa obra fiel. Efés. 1:13 – "o Santo Espírito da promessa", logo se percebe que significa – o Espírito Santo prometido. É um hebraísmo comum na Bíblia chamar a uma pessoa que tinha uma qualidade ou era inclinada a certo mal, o filho dessa qualidade ou desse mal. Luc.10: 6 – "filho da paz" = pessoa pacífica. Efés. 5: 6 – "filhos da desobediência" = filhos desobedientes.
Por respeito e consideração os hebreus evitam o uso excessivo do nome de Deus, por isso em vez de usarem a expressão "reino de Deus" eles a substituíam por "reino dos céus". É um hebraísmo, usar no plural nomes designativos de coisas grandes e suntuosas, como o céu e o mar. Daí ser comum na Bíblia o emprego de "céus" em lugar de "céu". A linguagem humana é muito imperfeita para transmitir conceitos divinos. Não existe nenhuma língua perfeita que possa transmitir precisamente pela palavra o pensamento exato. Neste sentido a língua grega leva vantagens sobre todas as línguas modernas. Alguém já disse com muita presteza ser a língua portuguesa "o túmulo do pensamento". Concorda você com esta assertiva? Não é possível numa tradução reproduzir variantes de pensamento que se encontram em uma única palavra hebraica e grega. Os exemplos poderiam ser citados às centenas confirmando esta verdade, mas limitemo-nos a estes bem elucidativos. A mesma palavra hebraica significa abençoar e amaldiçoar, o mesmo acontecendo com ligar e separar, afligir e honrar, conhecer e desconhecer, emprestar e tomar emprestado, matar e curar. Em oposição a esta pobreza vocabular, o hebraico por vezes é rico em outros aspectos, apresentando subtilezas difíceis de serem expressas em outras línguas; por exemplo: há três palavras para janela no relato do dilúvio; três traduzidas por bolsa na história dos irmãos de José no Egito; três traduzidas por fermento no relato da páscoa; três para navio no primeiro capítulo de Jonas; cinco traduzidas por leão em apenas dois versos de Jó (4:10 e 11); dez palavras para lei no Salmo 119. Estes exemplos são suficientes para comprovarem a quase impossibilidade de comunicar em uma tradução todas as sombras de pensamento encontradas na língua hebraica. Existem palavras tanto no hebraico quanto no grego difíceis de serem traduzidas por terem muitos significados, ou por não termos nenhuma palavra que transmita o seu significado original. Hesed - afirmam os estudiosos ser a palavra mais difícil de ser traduzida do hebraico porque não temos nenhuma com o seu significado. Tem sido traduzida por graça, amor, misericórdia, compaixão, tolerância, clemência, favor, bondade etc., etc. Logos é o melhor exemplo do grego, de uma palavra com muitos significados, são mais ou menos uns 15.
  • João 1:1 - verbo
  • João 21:23 - dito, notícia
  • Atos 1:1 - livro, tratado
  • I Cor. 2:1 - expressão, declaração

O tradutor ao deparar com um termo como este, precisa escolher uma palavra que transmita mais exatamente o pensamento do escrito original. Doxa, normalmente traduzida por glória, nem de longe expressa a idéia do original. Significa em grego o caráter de Deus, ou o conjunto dos atributos divinos. O expositor das verdades bíblicas precisa estar bem consciente deste fato: muitas palavras tinham um significado no hebraico e grego secular, mas adquiriram no contexto bíblico outro significado, às vezes totalmente diferente. Uma extensa e interessante monografia poderia ser escrita sobre este assunto. Pensemos nos seguintes exemplos: batizar, fé, graça, justificar, expiar, mundo, conversão, salvar, apóstolo.

 
O Problema das Variantes nos Manuscritos

 Chama-se variante a maneira diferente da mesma passagem se apresentar nos manuscritos ou nas traduções. Infelizmente não temos nenhum autógrafo ou manuscrito original da Bíblia. Possuímos apenas cópias de cópias. Na maioria das passagens da Bíblia existe perfeito acordo, mas em outras surgem dificuldades de correntes da obscuridade dos caracteres originais ou de dificuldades gramaticais dessas línguas, acrescentando-se ainda algumas mudanças de um ou outro copista, de que resultam variações textuais. Um dos trabalhos da Crítica Textual é estudar essas variações e determinar o que teria escrito o autor bíblico. Uma verdade deve ser conhecida: nenhuma doutrina bíblica foi afetada por mudanças no seu texto. Um dos maiores expoentes em Arqueologia Bíblica e Crítica Textual Frederico Kenyon afirma: "Nenhuma doutrina fundamental da fé cristã repousa num texto em disputa.... O cristão deve tomar a Bíblia em suas mãos e afirmar, sem hesitação, que ele está segurando a verdadeira Palavra de Deus, transmitida, de geração em geração através dos séculos sem nenhuma essencial". Our Bible and the Ancient Manuscripts, pág. 23.

 
Linguagem Figurada

Pelo seu amplo uso merece estudo aprofundado. Por não ter sido bem compreendida, muitos erros de interpretação têm aparecido. Joseph Angus, em História Doutrina e Interpretação da Bíblia cita muitos exemplos, como este da página 169: "Diz-se, no Salmo 18:11, que "Deus fez das trevas o seu lugar oculto" e em I Tim. 6:16, que "Deus habita na luz". No primeiro caso, as trevas significam inescrutabilidade, e, no segundo, a luz significa pureza, inteligência ou honra". A boa compreensão das alegorias, símbolos, tipos, metáforas, parábolas bíblicas é fator indispensável na exposição das verdades escriturísticas. É princípio fundamental na exegese bíblica que nenhuma parábola ou alegoria deve ser tomada como base ou prova de doutrina. As parábolas nos foram dadas para ilustrar ou confirmar verdades e não para ensinar doutrinas. Ver H D I B de Angus. Leis da Linguagem Figurada, pág. 172. Cântico dos Cânticos é considerado por muitos comentaristas como uma extensa alegoria representando a afeição espiritual de Cristo para com a Sua Igreja. É fato conhecido dos intérpretes bíblicos que as parábolas e muitos outros escritos figurados jamais devem ser tomados no sentido literal. Se alguém usar tal processo violentará o que o autor almejava transmitir. As metáforas devem ser entendidas metaforicamente. É sempre útil ter em mente o que declarou W. Arndt no livro Dificuldades Bíblicas, pág. 14: "Muitas vezes não é fácil traçar a linha divisória entre as duas espécies de linguagem. Também neste caso recomendamos ao leitor da Bíblia humildade e oração, assim que gradualmente possa desenvolver conhecimento e entendimento". "Outro princípio capital da interpretação da Escritura assim pode enunciar-se: as passagens obscuras e figurativas devem ser interpretadas por meio daquelas que são claras e desprovidas de sentido metafórico".

 
Um Bom Conselho

A pesquisa, para o esclarecimento de qualquer verso da Bíblia, deve ser feita com humildade e não com pretensões à infalibilidade.

 
Esta recomendação inspirada é oportuna:

"Irmãos, cumpre-nos cavar fundo na mina da verdade. Podeis examinar o assunto a sós ou em consulta recíproca, unicamente se o fizerdes num espírito sincero. Demasiadas vezes, porém, o eu é grande, e logo que se inicia a investigação, manifesta-se um espírito não cristão. Exatamente nisto se deleita Satanás, mas devemos ter um coração humilde para conhecer, por nos mesmos, o que é a verdade". Counsel to Writers and Editors, pág. 41.

 
Pensamentos Esparsos
  1. O conhecimento dos costumes antigos, da índole das línguas hebraica e grega, dos escritos de autores contemporâneos da Bíblia, da história, arqueologia, etnologia facilitam a exegese dos trechos mais obscuros da Escritura, evitando-se assim graves enganos e erros na interpretação. .
  2. É útil na interpretação de um texto, ter em mente, certas regras simples, que se aplicam à compreensão de qualquer texto bíblico. Uma delas é lembrarmo-nos do tempo e das circunstâncias em que foi escrita uma declaração.
  3. Os Adventistas do Sétimo Dia sustentam a posição protestante de que a Bíblia e somente a Bíblia é a regra única de fé e prática para os cristãos.
  4. Para a formação de idéias equilibradas sobre uma verdade bíblica, é preciso atentar para tudo o que os diversos autores inspirados disseram sobre o assunto. Exemplo: Como somos salvos?  Idéias extremistas e fanáticas surgem quando alguém defende uma doutrina baseado numa só passagem.
  5. As aparentes contradições da Bíblia podem ser resolvidas com um estudo aprimorado de alguns princípios exegéticos, como: atentar bem para o contexto, a analogia da fé, estudar as passagens paralelas; consultando ainda uma concordância bíblica e um comentário digno de confiança, como o SDABC.
  6. Há duas espécies de passagens difíceis na Bíblia, algumas podem ser aclaradas com o trabalho consciencioso dos estudiosos, outras jamais serão esclarecidas aqui. As palavras de Pascal são oportunas: "O último passo da razão é saber que há uma infinidade de coisas que ela não pode atingir. Resolvam-se todas as questões, expliquem-se todas as palavras da Bíblia, e ficarão ainda as maiores dificuldades para a prova da nossa fé: a origem do mal, o mistério da divina presciência e da livre ação, e muito ainda sobre o plano da redenção".
  7. Só devemos esperar encontrar nas Escrituras Sagradas o que sob o ponto de vista religioso nos importa conhecer. Tudo o que foi revelado deve-se estudar, o que não foi considere-se como não essencial ao plano da salvação.  
  8. "Não pode haver conflito entre a ciência e a religião. A Bíblia é autoridade absoluta e decisiva no domínio da verdade religiosa, mas não pretende ser a respeito de fatos e princípios científicos". Angus - História, Doutrina e Interpretação da Bíblia, pág. 109.
  9. A Bíblia é, em essência, uma revelação graduada e progressiva do plano de Deus em salvar o homem. Revela em toda a parte o mesmo Deus, santo, sábio e bom, fala dos seus desígnios no governo do mundo, e do resultado final da presente luta entre o bem e o mal.
  10. É um fato bastante conhecido, que muitas palavras mudam o seu significado com o passar dos anos; portanto, provas baseadas no significado de uma palavra têm que levar em consideração o seu sentido quando o autor bíblico a empregou.
  11. Dentre tantos comentaristas bíblicos notáveis, como Orígenes, Crisóstomo, Jerônimo, Lutero, Adão Clarke, Strong, Barnes, Vincent a quem devemos seguir? A única resposta segura seria esta: nenhuma interpretação da Escritura por uma pessoa, embora culta e bem intencionada deveria ser considerada como infalível.
  12. A Igreja Católica estabeleceu no Concílio de Trento um plano ou base de doutrina, de acordo com o qual toda a Escritura devia ser interpretada, mas apesar disso ela nunca publicou um comentário infalível que pudesse explicar as passagens difíceis da Escritura.
  13. "Há realmente passagens e frases cujo sentido é obscuro. Esta obscuridade é, em muitos casos, devida à nossa ignorância de algum fato especial que esclareça o assunto, e a respeito do sentido exato das palavras". História Doutrina e Interpretação da Bíblia, pág. 203.  
  14. Sendo a Santa Bíblia a Palavra de Deus, ela não deve ser interpretada de modo arbitrário e particular. As Escrituras estão baseadas em princípios claros e firmes, por isso Jesus declarou: "a Escritura não pode falhar". S. João 10:35.  
  15. É princípio fundamental da exegese que as Escrituras são seu próprio intérprete. Cristo o aplicou quando repreendeu o diabo por interpretar mal um texto da Bíblia (Mat. 4:6 e 7).
Extraído de Leia e Compreenda Melhor a Bíblia de Pedro Apolinário

 
Adaptações, Grifos e Didática de
Pr. Cirilo Gonçalves da Silva
Mestre em Teologia e Evangelista
Twitter: @prcirilo

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A TRINDADE NA BÍBLIA


A TRINDADE NA BÍBLIA

“Há um só Deus: Pai, Filho e Espírito Santo, uma unidade de três Pessoas coeternas” – Crença Fundamental n.º 2
A doutrina da Trindade (do latim trinitas = “triunidade” ou “três-em-unidade”) é uma das mais importantes doutrinas da fé cristã. Mas ultimamente alguns têm questionado sua validade. Por exemplo, em uma monografia, Fred Allaback argumenta que “a Igreja Adventista do Sétimo Dia não cria na doutrina da Trindade até muito tempo depois da morte de Ellen G. White”. 1 “Os pioneiros adventistas”, escreveu ele, “acreditavam que em um ponto longínquo da eternidade somente um Ser divino existia. Então esse Ser divino teve um Filho.”2 Dessa forma, Cristo teve um começo. Com respeito ao Espírito Santo, Allaback crê que Ele é o Espírito de Deus e de Cristo; não um outro Ser divino.3
A mesma visão é adotada por Bill Stringfellow, 4 Rachel Cory-Kuehl 5 e Allen Stump.6 Todos esses ensinam que em um ponto no tempo Jesus não existia; e que o Espírito Santo é apenas uma força. Stringfellow diz: “Houve um certo e específico dia quando Deus deu à luz Seu Filho... Houve um tempo (embora seja impossível identificá-lo precisamente no passado) quando Cristo não existia.”7

O MISTÉRIO
Embora a palavra Trindade não seja encontrada na Bíblia (nem a palavra encarnação), o ensinamento que ela descreve é encontrado ali. A doutrina da Trindade estabelece o conceito de que há três Seres plenamente divinos: Pai, Filho e Espírito Santo, que formam um Deus.8 Por sua vez, Ellen White usa o termo “Divindade” que é encontrado em Romanos 1:20 e Colossenses 2:9. Através dessa palavra ela transmite a mesma idéia contida no termo Trindade, ou seja, há três Seres viventes na Divindade. Segundo uma de suas declarações, “há três pessoas vivas pertencentes ao Trio celeste; em nome destes três grandes poderes – o Pai, o Filho e o Espírito Santo – os que recebem a Cristo por fé viva são batizados, e esses poderes cooperarão com os súditos obedientes do Céu em seus esforços para viver a nova vida em Cristo”.9 O próprio Deus é um mistério, 10 quanto mais a encarnação ou a Trindade. Entretanto, isso não deveria nos embaraçar, já que os diferentes aspectos desses mistérios são ensinados nas Escrituras. Embora não possamos compreender tudo sobre a Trindade, necessitamos tentar entender, tanto quanto possamos, o ensino bíblico a seu respeito. Todas as tentativas para explicá-la serão insuficientes, “especialmente quando refletimos sobre a relação das três pessoas com essência divina... todas as analogias são limitadas e nós nos tornamos profundamente conscientes de que a Trindade é um mistério muito além da nossa compreensão. É a incompreensível glória da Divindade”. 11 Portanto, é sábio admitir que o homem “não pode compreendê-la nem torná-la compreensível. É compreensível em algumas de suas relações e modos de se manifestar, mas ininteligível em sua natureza essencial”.12 Certos elementos se tornarão claros, e outros permanecerão um mistério, pois “as coisas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus; porém as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei” (Dt 29:29). Onde não temos uma palavra clara das Escrituras o silêncio é ouro. 13

NO ANTIGO TESTAMENTO
Algumas passagens do Antigo Testamento sugerem, ou implicam, a existência de Deus em mais de uma pessoa. Quando não necessariamente em uma Trindade, pelo menos em duas pessoas.

Gênesis 1. No relato da criação em Gênesis 1, a palavra traduzida como Deus é ’Elohim, a forma plural de ’Eloha. Geralmente essa forma é interpretada como um plural de majestade ao invés da idéia de pluralidade. Entretanto, G. A. F. Knight argumenta que essa interpretação corresponde a ler um conceito moderno no texto hebraico antigo, desde que os reis de Israel e Judá são tratados na forma singular, no relato bíblico.14 Knight aponta que as palavras hebraicas para água e céu também são plurais. Os gramáticos nomeiam esse fenômeno como plural quantitativo. A água pode aparecer em forma de pequenas gotas ou grandes oceanos. Essa diversidade quantitativa em unidade, segundo Knight, é uma forma adequada de compreender o plural ’Elohim. E também explica por que o substantivo singular ’Adonai é escrito como plural.15 Em Gênesis 1:26, lemos: “Também disse Deus [singular]: Façamos [plural] o homem à nossa [plural] imagem, conforme a nossa [plural] semelhança...” O que é significativo aqui é a mudança do singular para o plural. Moisés não está usando o verbo no plural com ’Elohim, mas Deus está usando um verbo e um pronome no plural, em referência a Si mesmo. Alguns intérpretes acreditam que Deus está falando aqui de anjos. Mas, de acordo com as Escrituras, os anjos não participaram da criação. A melhor explicação é que, já no primeiro capítulo de Gênesis, há uma indicação de pluralidade de pessoas em Deus.

Deuteronômio 6:4. De acordo com Gênesis 2:24, “deixa o homem pai e mãe, e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só [’echad] carne”. É uma união de duas pessoas distintas. Em Deuteronômio 6:4, é usada a mesma palavra em relação a Deus: “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único [’echad] Senhor.” Segundo Millard J. Erickson, “aparentemente alguma coisa está sendo afirmada aqui sobre a natureza de Deus – Ele é um organismo, isto é, uma unidade de partes distintas”.16 Moisés bem poderia ter usado a palavra yachid (“um”; “único”), mas o Espírito Santo escolheu não fazê-lo.

Outros textos. Após a queda do homem, Deus disse: “Eis que o homem se tornou como um de nós” (Gn 3:22). E algum tempo depois, quando o homem começou a construir a torre de Babel, o Senhor ordenou: “Vinde, desçamos e confundamos ali a sua linguagem” (Gn 1:7). Em cada caso, a pluralidade da Divindade é enfatizada. Em sua visão do trono de Deus, Isaías ouviu o Senhor perguntando: “A quem enviarei, e quem há de ir por nós?” (Is 6:8). Aqui encontramos Deus usando o singular e o plural na mesma sentença. Muitos eruditos modernos tomam isso como uma referência ao Concílio Celestial. Mas, pediria Deus algum conselho às Suas criaturas? Em Isaías 40:13 e 14, Ele parece refutar essa noção. Deus não necessita aconselhar-Se nem mesmo com criaturas celestiais. Portanto, o uso do plural em Isaías 6:8, embora não especifique a Trindade, sugere que há uma pluralidade de seres no Orador.

O anjo do Senhor. A frase “anjo do Senhor” aparece 58 vezes no Antigo Testamento. “O anjo de Deus” aparece onze vezes. A palavra hebraica para “anjo” – mal’ak – significa mensageiro. Se o “anjo do Senhor” é Seu mensageiro, então deve ser distinto do Senhor. Todavia, em alguns textos, o “anjo do Senhor” também é chamado “Deus” ou “Senhor” (Gn 16:7-13; Nm 22:31-38; Jz 2:1-4; 6:22). Os pais da Igreja identificavam esse anjo com o Logos pré-encarnado. Eruditos modernos vêem-nO como um Ser que representa Deus, como o próprio Deus, ou como algum poder externo de Deus. Por sua vez, eruditos conservadores geralmente aceitam que “este ‘mensageiro’ deve ter sido como uma manifestação especial do Ser do próprio Deus”.17 Se isso é correto, temos aqui outra indicação da pluralidade de pessoas na Divindade.

NO NOVO TESTAMENTO
A verdade, na Bíblia, é progressiva. Por isso, é no Novo Testamento que encontramos um quadro mais explícito da natureza trinitária de Deus.

A declaração de que Ele é amor (I Jo 4:8) implica que deve haver uma pluralidade dentro da Divindade, considerando-se que o amor só pode revelar-se em um relacionamento pluralístico.

Por ocasião do batismo de Jesus, encontramos os três membros da Divindade em ação ao mesmo tempo: “Batizado Jesus, saiu logo da água, e eis que se Lhe abriram os Céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba, vindo sobre Ele. E eis uma voz dos Céus que dizia: Este é o Meu Filho amado, em quem Me comprazo” (Mt 3:16). Eis uma notável manifestação da doutrina da Trindade. Ali estava Cristo em forma humana, visível a todos; o Espírito Santo desceu sobre Ele na forma de uma pomba; e a voz do Pai foi ouvida dos Céus: “Este é o Meu Filho amado, em quem me comprazo”. Em João 10:30 Cristo fala de Sua igualdade com o Pai, e em Atos 5:3 e 4, o Espírito Santo é identificado como Deus. É impossível explicar a cena do batismo de Jesus por qualquer outra maneira senão assumindo que há três pessoas, iguais em natureza ou essência divina. No batismo, o Pai referiu-Se a Jesus como “Meu Filho amado”. Essa filiação, entretanto, não é ontológica, mas funcional.

No plano da salvação, cada membro da Trindade aceitou um papel específico, com o propósito de cumprir um alvo particular. Não se trata de mudança de essência ou status. Millard J. Erickson o explica desta maneira: “O Filho não Se tornou inferior ao Pai durante a encarnação, mas subordinou-Se funcionalmente à vontade do Pai. Semelhantemente, o Espírito Santo agora está subordinado ao ministério do Filho (ver Jo 14-16) bem como à vontade do Pai, mas isso não implica inferioridade em relação a Eles.”18 No pensamento ocidental, os termos “Pai” e “Filho” contêm a idéia de origem, dependência e subordinação. Na mente oriental ou semítica, entretanto, eles enfatizam igualdade de natureza. Assim, quando as Escrituras falam de “Filho” de Deus, estão afirmando a divindade de Cristo.

Ao terminar Seu ministério terrestre, Jesus ordenou aos discípulos: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28:19). Nessa comissão, nota-se claramente a Trindade. Primeiramente, notamos que a frase “em nome” [eis to onoma] é singular, não plural (nos nomes). Ser batizado em nome de três pessoas da Trindade significa identificar-se com tudo o que Ela representa; comprometerse com o Pai, Filho e Espírito Santo.19 Em segundo lugar, a união desses três nomes indica que o Filho e o Espírito Santo são iguais ao Pai. Seria estranho, para não dizer blasfemo, unir o nome do Deus eterno com um “ser criado” e uma “força” ou “energia” na fórmula batismal. “Quando o Espírito Santo é colocado na mesma expressão e no mesmo nível das outras duas pessoas, é difícil evitar a conclusão de que Ele também é visto como sendo igual ao Pai e ao Filho.”20 Paulo e outros escritores do Novo Testamento geralmente usam a palavra “Deus” para se referir ao Pai; “Senhor”, em referência ao Filho, e “Espírito”, em referência ao Espírito Santo.

Em I Coríntios 12:4-6, o apóstolo fala dos três no mesmo texto: “Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo. E também há diversidade nos serviços, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade nas realizações, mas o mesmo Deus é quem opera tudo em todos.” Da mesma forma, em II Coríntios 13:13, ele enumera as três pessoas da Trindade, ao mencionar “a graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo”. Embora não possamos dizer que esses textos sejam uma enunciação formal da Trindade, eles e outros como, por exemplo, Efésios 4:4-6, são trinitarianos em caráter. E embora a Igreja tenha elaborado os detalhes dessa doutrina em tempos posteriores, ela o fez sobre o fundamento dos escritores bíblicos.

DIVINDADE DE CRISTO
Um elemento crucial na doutrina da Trindade é a divindade de Cristo. Diante do ensinamento de que há um Deus em três pessoas, e que cada uma dessas pessoas é plenamente divina, é importante verificarmos o que as Escrituras ensinam sobre a divindade de Cristo. Existem passagens no Novo Testamento que confirmam a plena deidade de Cristo.

João 1:1-3;14. “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” A frase introdutória “no princípio” nos leva de volta ao começo do tempo. Se o Verbo estava “no princípio”, então Ele não teve princípio, que é outra forma de dizer que era eterno. “O Verbo estava com Deus” nos diz que o Verbo era uma pessoa ou personalidade separada. O Verbo não estava em (en) Deus, mas com (pros) Deus. Desde que o Pai e o Espírito Santo são Deus, a palavra “Deus”muito provavelmente inclui esses dois outrosmembros da Trindade. “E o Verbo era Deus”. O Verbo não era uma emanação de Deus, mas Deus mesmo. Embora o verso 1 não diga quem é o Verbo, o verso 14 claramente O identifica: “E o Verbo Se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a Sua glória, glória como do unigênito do Pai.” Como disse Arthur W. Pink, “é impossível conceber uma afirmação mais enfática e inequívoca da deidade absoluta do Senhor Jesus Cristo”.21

João 20:28. “Respondeu-Lhe Tomé: Senhor meu e Deus meu.” Essa é a única vez, nos evangelhos, em que alguém se dirige a Cristo, chamando-O de “meu Deus” (ho Theos mou). É significativo que nem Cristo nem João desaprovaram a declaração de Tomé; pelo contrário, esse episódio constituiu um ponto alto da narração do evangelista, que imediatamente fala a seus leitores: “Na verdade fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em Seu nome” (vs. 30 e 31). Este evangelho, diz João, foi escrito para persuadir outros indivíduos a imitarem Tomé no reconhecimento de Cristo como “Senhor meu e Deus meu”.

Filipenses 2:5-7. Essa passagem foi escrita para ilustrar a humildade. Mas é um dos textos de apoio à divindade de Cristo. “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois Ele, subsistindo em forma [morphé] de Deus não julgou como usurpação [harpagmos] o ser igual a Deus; antes a Si mesmo Se esvaziou, assumindo a forma [morphé] de servo, tornando-Se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana...” Morphé, que significa “forma” ou “aparência visível’, é uma palavra descritiva da natureza genuína, a essência, de uma coisa. “Não se refere a qualquer forma mutável, mas uma forma específica da qual dependem a identidade e o status.”22 Morphé contrasta com schema (2:8), que também significa “forma” porém no sentido de aparência superficial, ao invés de essência. O substantivo harpagmos aparece apenas nesse texto, no Novo Testamento, e o verbo correspondente significa “roubar, tirar à força”. No grego secular, o substantivo significa “roubo”. O contexto deixa claro que Jesus não cobiçou, não tentou roubar “o ser igual a Deus”; não tentou agarrar-Se à igualdade com Deus a qual Ele possuía intrinsecamente. Em outras palavras, não tentou reter Sua igualdade com Deus pela força. Em vez disso, “tratou-a como uma oportunidade para renunciar qualquer vantagem ou privilégio decorrentes; como uma oportunidade para auto-empobrecimento e sacrifício próprio sem reserva”.23 Esse é o significado da expressão “antes a Si mesmo Se esvaziou”. Sua igualdade com Deus era algo que Ele possuía intrinsecamente; e alguém igual a Deus deve ser Deus. Assim, essa “é uma passagem que demanda a compreensão de que Jesus era divino no mais pleno sentido”.24

Colossenses 2:9. “Porquanto nEle habita corporalmente [somatikos] toda a plenitude [pleroma] da Divindade.” O termo grego pleroma tem o significado básico de “plenitude”, “plenamente”. No Antigo Testamento ele é aplicado à plenitude da Terra ou do mar (Sl 24:1; cf. 50:12; 89:11; 96:11; 98:7), que é citada em I Coríntios 10:26. No grego secular, pleroma referia-se à totalidade da tripulação de um navio, ou à quantia necessária para completar uma transação financeira. Em Colossenses 1:19 e 2:9, Paulo usa a palavra para descrever a soma total de cada função da divindade.25 Essa plenitude habita corporalmente em Cristo, mesmo durante Sua encarnação, Ele reteve todos os atributos essenciais da divindade, embora não os empregasse em benefício próprio. “... Foi claramente visto que a divindade habitava na humanidade, pois através do invólucro terrestre, vez após vez cintilavam lampejos de Sua glória.”26

Tito 2:13. Paulo descreve os santos como “aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus”. Notemos que: 1) De acordo com uma regra da gramática grega, o artigo o antes de “Deus” e “Salvador” une esses dois substantivos como designações do mesmo objeto. Assim, Jesus Cristo é “o grande Deus e Salvador”. 2) Todo o Novo Testamento aguarda a segunda vinda de Cristo. 3) O contexto do verso 14 fala apenas de Cristo. 4) Essa interpretação está em harmonia com outras passagens, tais como João 20:28; Romanos 9:5; Hebreus 1:8; II Pedro 1:1, de modo que esse texto é mais uma afirmação da divindade de Cristo.

Mateus 3:3. “... Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor.” De acordo com o verso 1, esse texto de Isaías refere-se a João Batista que era o precursor do Messias. Em Isaías 40:3, a palavra traduzida como “Senhor” é Yahweh. Assim, o Senhor cujo caminho João prepararia não era outro senão o próprio Jeová.

Romanos 10:13. “Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.” O contexto (vs. 6-12) deixa claro que, ao se referir ao “nome do Senhor”, Paulo está pensando em Cristo. O texto é uma citação de Joel 2:32, onde novamente a palavra Senhor é tradução do hebraico Yahweh.

Hebreus 1:8 e 9. “O Teu trono, ó Deus, é para todo o sempre... por isso Deus, o Teu Deus Te ungiu...” Neste capítulo, são usados sete textos do Antigo Testamento para apoiar o argumento de que Cristo é superior aos anjos.

O quinto texto, citado nos versos 8 e 9, é Salmos 45:6 e 7, onde um rei da casa de Davi é mencionado como “Deus”. Seria isto uma hipérbole poética, como algumas vezes é encontrada em cortes orientais, ou está o texto apontando para outra pessoa além do Antigo Testamento, príncipe da casa de Davi? Para os poetas e profetas hebreus, um príncipe da casa de Davi era o vice-regente do Deus de Israel; pertencente à dinastia à qual Deus fizera promessas especiais ligadas ao cumprimento de Seu propósito no mundo. Ao lado disso, o que era apenas parcialmente verdadeiro na linhagem e no governo histórico de Davi, ou mesmo em sua pessoa, deveria ser compreendido plenamente quando aparecesse o filho de Davi, no qual todas as promessas e ideais associados com a dinastia deveriam ser incorporados. Agora, finalmente, o Messias aparecera. Em sentido pleno, era possível para Davi, ou qualquer dos seus sucessores, que este Messias pudesse ser referido não apenas como Filho de Deus (v. 5), mas como realmente Deus, pois Ele é o Messias da linhagem de Davi, a refulgente glória de Deus e a própria imagem de Sua substância.27 Todas essas passagens indicam que Cristo e Yahweh são um.

AUTOCONSCIÊNCIA DE JESUS
Cristo nunca afirmou diretamente Sua divindade, mas dizia ser o Filho de Deus (Mt 24:36; Lc 10:22; Jo 11:4). E, de acordo com a idéia hebraica de filiação, tudo o que o pai é o filho também é. Os judeus entenderam que assim Ele estava reivindicando igualdade com o Pai: “Por isso, os judeus ainda mais procuravam matá-Lo, porque não somente violava o sábado, mas também dizia que Deus era Seu próprio Pai, fazendo-Se igual a Deus” (Jo 5:18; cf. 10:33). Repetidas vezes Cristo disse possuir o que só pertence a Deus. “Ele falou dos anjos de Deus (Lc 12: 8 e 9; 15:10) como Seus anjos (Mt 13:41). Referiu-Se ao reino de Deus (Mt 12:28; 19:14 e 24; 21:31 e 34) e aos eleitos de Deus (Mc 13:20) como Suas propriedades.”28 Em Lucas 5:20 Jesus perdoou os pecados do paralítico, e os judeus, com base em Isaías 43:25, argumentaram: “Quem pode perdoar pecados senão Deus?” Dessa forma, a ação perdoadora de Jesus O identificava como Deus.
A divindade de Cristo também é indicada no uso que fez do tempo presente em Sua resposta aos judeus: “Antes que Abraão existisse [genesthai] Eu sou [ego eimi]” (Jo 8:58). Ao usar om termo genesthai – “nascesse” ou “se tornasse” – e ego eimi – “Eu sou” –, Jesus contrasta Sua existência eterna com o início histórico da existência de Abraão. Pelo menos os judeus compreenderam dessa maneira, ou seja, que Jesus reivindicava ser Yahweh, o “Eu sou” da sarça ardente (Êx 3:14); por isso, apanharam pedras para matá-Lo (Jo 8:59). Finalmente, o fato de que Jesus aceitou adoração evidencia que Ele próprio reconhecia Sua divindade. Depois que Jesus apareceu aos discípulos andando sobre as águas, “eles O adoraram” (Mt 14:33). O cego que teve a visão restaurada, depois de lavar-se no tanque de Siloé, “O adorou” (Jo 9:38). Após a ressurreição, os discípulos foram para a Galiléia onde Cristo lhes apareceu. E eles “O adoraram” (Mt 28:17). E Ellen White assegura: “Em Cristo há vida original, não emprestada, não derivada. ‘Quem tem o Filho tem a vida.’ I João 5:12. A divindade de Cristo é a certeza de vida eterna para o crente.“2“Falando de Sua preexistência, Cristo conduz a mente através de séculos incontáveis. Afirmanos que nunca houve tempo em que Ele não estivesse em íntima comunhão com o eterno Deus.”30

TEXTOS DIFÍCEIS
Os antitrinitarianos usam alguns textos para apoiar a idéia de que Jesus, em algum tempo na eternidade, foi gerado, isto é, que Ele teve um começo e que não é absolutamente igual a Deus.

Apocalipse 3:14. Aqui, Jesus, “a Testemunha fiel e verdadeira”, é mencionado como “o princípio da criação de Deus”, o que leva alguns a interpretarem que Ele foi criado em algum ponto no passado, sendo assim a primeira obra de Deus. Mas a palavra grega traduzida como “princípio” é arché. Além de “princípio”, ela também significa “causa primeira ou principal”, “soberano”, “regente”. O próprio Pai também é chamado “princípio”, em Apocalipse 21:6. O mesmo título é novamente aplicado a Cristo em Apocalipse 22:13. Embora a palavra arché possa ter um sentido passivo, o que poderia fazer de Jesus o primeiro ser criado, o sentido ativo do termo O torna a “causa principal” o “criador”. Que Jesus não é o primeiro ser criado, mas o próprio criador, é o testemunho de outras passagens do Novo Testamento (Jo 1:3; Cl 1:16; Hb 1:2).

Provérbios 8:22-31. “Eu nasci...” (v. 24). Argumenta-se que esse verso se refere a Jesus, ensinando que Ele foi nascido ou criado. Mas o contexto da passagem fala da sabedoria, não sobre Jesus. A personificação da sabedoria é uma figura literária que ocorre também em outras partes das Escrituras. Em Salmos 85:10-13, temos “misericórdia e verdade” encontrando-se, “justiça e paz” se beijando. Em Salmo 96:12, “os campos” se alegram, e “todas as árvores dos bosques regozijarão diante do Senhor”. (Ver também I Cr 16:33; Isa. 52:9; Ap 20:13 e 14). Esse tipo de alegoria não deve ser interpretada literalmente. “A personificação é uma figura literária e poética que serve para criar atmosfera e para avivar idéias abstratas e objetos inanimados, ao representá-los como se fossem seres humanos.”31 A personificação do divino atributo da sabedoria começa no capítulo 1: “Grita na rua a sabedoria, nas praças levanta a sua voz” (v. 20). No capítulo 3, é-nos dito que ela “mais preciosa é do que pérolas” e “os seus caminhos são... paz” (vs. 15 e 17). No capítulo 7 ela é chamada “irmã” (7:4); e no capítulo 8, a sabedoria mora junto com a prudência (8:12). Sabedoria personificada também é o tema de Provérbios 9:1-5. Aplicar tais passagens a Cristo exige um modelo alegórico de interpretação que nos leva a métodos incompatíveis com outras passagens. Foi justamente esse tipo de hermenêutica que suscitou a rejeição do método alegórico de interpretação pelos reformadores. É importante notar que nenhum verso dessa passagem é citado no Novo Testamento. Provérbios 8:22-31 contém imagens poéticas que necessitam ser bem interpretadas. A primeira frase no verso 22 pode ser traduzida como "o Senhor me possuiu”, “o Senhor me criou”, ou “o Senhor me gerou”. O significado básico do verbo qanah é “comprar”, “adquirir” e “possuir”. Mas as outras duas traduções são também possíveis. Além de qanah, duas outras palavras referem-se à sabedoria nesse texto: nasak = “estabelecer” (v. 23) e chil = “nascer” (vs. 24 e 25). O pensamento básico é sempre o mesmo, isto é, a sabedoria estava com Deus antes do início da criação. Se Deus a criou, se foi gerada ou simplesmente possuída, não é o foco. O que é central não é o modo de sua origem, mas sua antiguidade e precedência dentro da criação de Deus. Considerando a linguagem poética e metafórica da passagem, ela não deve ser usada para estabelecimento de qualquer doutrina sobre uma suposta origem de Cristo. Ellen White, às vezes, aplicou homileticamente Provérbios 8 a Cristo; mas ela usou o texto para apoiar Sua preexistência eterna. Antes de usar Provérbios 8, ela disse que “Cristo era, essencialmente e no mais alto sentido, Deus. Estava Ele com Deus desde toda a eternidade, Deus sobre todos, bendito para todo o sempre”.32

Colossenses 1:15. Cristo é “o primogênito de toda a criação”. Considerando que Ele é chamado primogênito (prototokos), argumenta-se que deve ter tido um começo. Mas o termo “primogênito”, nesse texto, é um título e não a definição de uma condição biológica. Segundo 1:16, tudo foi criado por Jesus. Portanto, Ele não poderia criar a Si mesmo. A palavra “primogênito” tem um significado especial para os hebreus. Em geral, o primogênito era o líder de um grupo de pessoas ou uma tribo, o sacerdote na família, e o único que recebia a herança duas vezes mais que seus irmãos. Ele tinha certos privilégios e responsabilidades. Algumas vezes, entretanto, o fato de que alguém fosse o primogênito não importava aos olhos de Deus. Por exemplo, embora Davi fosse o filho mais novo, Deus o chamou de “Meu primogênito” (Sl 89:20 e 27). A segunda linha do paralelismo no verso 27 nos diz que isso significava que Davi devia se tornar o rei mais exaltado. Vejamos também as experiências de Jacó (Gn 25:25 e 26; Êx 4:22) e Efraim (Gn 41:50-22; Jr 31:9). Nesses casos, “primeiro”, no sentido de tempo, foi desconsiderado. O importante era apenas a distinção e a dignidade de quem era chamado primogênito. No caso de Jesus, esse termo também se refere à Sua posição exaltada e não a um ponto no tempo no qual Ele tenha sido criado. Em Colossenses 1:18, Cristo é chamado “o primogênito de entre os mortos”, embora não o tenha sido cronologicamente. Sabemos que Moisés e outros O precederam. O sentido é que Ele é o preeminente.

João 1:1-3. “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus.” Alguns dizem que aqui há uma distinção entre Deus o Pai, que é o Deus, e Jesus, que é apenas um deus. O termo grego para Deus (theos) é encontrado com artigo (ho), “o Deus”, ou sem artigo, “deus” ou “Deus”. Em João 1:1-3, o Pai é chamado ho theos ao passo que o Filho é chamado theos. Será que isso justifica a argumentação de que o Pai é Deus Todo-poderoso, enquanto o Filho é apenas um deus menor? O termo theos sem artigo freqüentemente também é usado para o Pai, inclusive no mesmo capítulo (Jo 1:6, 13 e 18; Lc 2:14; At 5:39; I Ts 2:5; I Jo 4:12; II Jo 9). Jesus também é chamado o Deus (Hb 1:8 e 9; Jo 20:28). Em outras palavras, o uso do termo Deus, com ou sem artigo, não pode ser argumento para se fazer distinção entre Deus o Pai e Deus o Filho. Deus o Pai é theos e ho theos, assim como o Filho. Muitas vezes, a ausência do artigo, no idioma grego, denota qualidade especial. Nesse caso, o substantivo não deveria ser traduzido com o artigo indefinido “um”. Se João tivesse usado o artigo definido cada vez em que aparece theos, ele estaria indicando a existência de apenas uma pessoa divina. Mas João 1:1 diz: “No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus, e o verbo era theos.” Caso tivesse usado apenas ho theos, deveríamos ler: “No princípio era o Verbo e o Verbo estava com ho theos, e o Verbo era ho theos.” Segundo João 1:14, o Verbo é Jesus. Portanto, substituindo “Verbo” por “Jesus” temos a sentença “no princípio era Jesus e Jesus estava com ho theos, e Jesus era ho theos.” Ho theos refere-se claramente ao Pai. O texto modificado seria: “No princípio era o Verbo e o Verbo estava com o Pai, e o Verbo era o Pai.” Isso é teologicamente errado. Falando de duas pessoas da Divindade, João não teve escolha senão usar ho theos uma vez e, na seguinte vez, usar theos. A ausência de artigo no segundo caso não pode ser usada como argumento contra a igualdade entre Pai e Filho.

João 1:14 e 18; 3:16 e 18; I João 4:9. Esses versos falam de Jesus como o Filho unigênito (monogenes) do Pai. Em razão disso, algumas pessoas sugerem que a palavra grega monogenes indica que Jesus foi gerado literalmente. A palavra monogenes significa “único de uma espécie”. Seu uso ocorre nove vezes no Novo Testamento. Três vezes em Lucas (7:12; 8:42; 9:38) sempre se referindo a um único filho. Nos escritos de João, ela aparece cinco vezes (1:14 e 18; 3:16 e 18; I Jo 4:9), como uma designação do relacionamento de Cristo com o Pai. Em Hebreus 11:17, ela se refere a Isaque como o filho unigênito de Abraão. Sabemos, entretanto, que Isaque não era o único filho do patriarca. Era o único filho da promessa. A ênfase aqui não é sobre o nascimento, mas sobre a unicidade do filho. O termo normalmente traduzido como “gerado” é gennao. Ele aparece em Hebreus 1:5 e pode estar se referindo à ressurreição ou à encarnação de Cristo. Na versão Septuaginta, a palavra monogenes é a tradução da palavra hebraica yachid, cujo significado é “único” ou “amado” (cf. Mc 1:11, em conexão com o batismo de Jesus). Não é claro se monogenes se refere apenas ao Senhor ressuscitado, histórico, ou também ao Senhor preexistente. Mas é interessante notar que nem João 1:1-14, nem 8:58 e nem o capítulo 17 usam o termo Filho para o Senhor preexistente.

Mateus 14:33. “És Filho de Deus!”. Esse é um título messiânico (Sl 2:7; At 13:33; Hb 1:5), que enfatiza a deidade de Jesus. Embora seja um dos muitos títulos que possuía, Ele o usava muito raramente para referir-Se a Si mesmo (Jo 11:4). Na tentativa de compreender quem era Cristo, todos esses títulos necessitam ser investigados para termos um quadro coerente. Que o título “Filho de Deus” salienta a divindade de Jesus é evidente em João 10:29-36. Isso é apoiado posteriormente pelo fato de que o Filho é a exata imagem de Deus, sendo igual ao Pai (Cl 1:15; Hb 1:3; Fp 2:6). A palavra “Filho” tem um amplo significado na linguagem original. Portanto, não é possível reduzi-la aos limites de idiomas modernos, dando-lhe um significado literal. A filiação de Jesus é atestada em conexão com o Seu nascimento (Luc. 1:35), batismo (Luc. 3:22), transfiguração (Luc. 9:35) e ressurreição (Atos 13:32 e 33). A Bíblia silencia quanto a se esses títulos descrevem o eterno relacionamento entre Pai e Filho. Em qualquer caso, as Escrituras atribuem existência eterna a Jesus (Isa. 9:6; Apoc. 1:17 e 18). Durante a encarnação, Jesus subordinou-Se voluntariamente ao Pai, sendo o Filho de Deus. Isso incluiu a entrega de prerrogativas, mas não a natureza da deidade. O Senhor ressuscitado, ao ser entronizado como Rei e Sacerdote, também aceitou voluntariamente a prioridade do Pai, mas Ele e o Pai são, conforme a Escritura, personalidades iguais e coeternas da Divindade.

O ESPÍRITO SANTO
Que o Espírito Santo é uma pessoa divina, igual em substância, poder e glória com o Pai e o Filho, podemos observar nas Escrituras.

É um Ser pessoal. Alguns crêem que o Espírito Santo é um “poder” ou uma “energia” de Deus. Mas há muitos versos onde o Ele é mencionado junto com o Pai e o Filho (Mat. 28:19; I Cor. 12:4-6; II Cor. 13:14). Isso indica que o Pai e o Filho são pessoas; portanto, o Espírito Santo deve também ser uma pessoa. Freqüentemente, o pronome masculino “Ele” é usado em referência ao Espírito Santo (João 14:26; 15:26; 16:13 e 14), embora a palavra grega para Espírito (pneuma) seja neutra e não masculina. A palavra “consolador” ou “confortador” (parakletos) refere-se a uma pessoa, não a uma força. O Espírito Santo fala (Atos 8:29), ensina (João 14:26), dá testemunho (João 15:26), intercede por outros (Rom. 8:26 e 27), distribui dons (I Cor. 12:11) e proíbe ou permite certas coisas (Atos 16:6 e 7). De acordo com Efés. 4:30, o Espírito Santo pode também ser entristecido. Essas atividades são características de uma pessoa, não de uma força.

É Deus. As Escrituras vêem o Espírito Santo como Deus. Desde a eternidade de Deus o Espírito Santo participa da Divindade como Seu terceiro componente. Em Mat. 28:19, os discípulos foram ordenados a batizar “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Esse verso coloca o Espírito Santo em igualdade com o Pai e o Filho. Ao repreender Ananias, Pedro lhe disse que mentindo ao Espírito Santo, ele tinha mentido “não a homens mas a Deus” (Atos 5:3 e 4). “O Espírito Santo é onipotente. Ele distribui dons espirituais ‘como Lhe apraz, a cada um individualmente’ (I Cor. 12:11). Ele é onipresente; habitará com Seu povo para sempre (João 14:16). Ninguém pode fugir à Sua influência (Sal. 139:7-10). Ele também é onisciente, porque ‘a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus’ e ‘as coisas de Deus ninguém conhece, senão o Espírito de Deus’ (I Cor. 2:10 e 11).”33 Ellen White acreditava na personalidade do Espírito Santo: “Precisamos reconhecer que o Espírito Santo, que é tanto uma pessoa como o próprio Deus, está andando por esses terrenos.”34 Vimos então que a Divindade existe em uma pluralidade; que Jesus é Deus, coexistente desde a eternidade com o Pai, e que o Espírito Santo é a terceira pessoa da Divindade.

Há muitos outros detalhes sobre o tema, os quais somente no Céu entenderemos plenamente. Textos difíceis da Bíblia são melhor compreendidos em harmonia com o restante da Escritura. Embora o mistério da Trindade nunca possa ser completamente entendido pelo homem finito, é uma doutrina bíblica, apoiada por escritos de Ellen White e é uma das 27 crenças fundamentais da Igreja.

REFERÊNCIAS:

1. Fred Allaback, No Leaders ... No New Gods (Creal Spring, Ill, 1966), pág. 11.
2. Ibidem, pág. 15.
3. Ibidem, pág. 30.
4. Bill Stringfellow, Tue Red Flag Is Waving (Spencer, TN: Concerned Publications, s/d).
5. Rachel Cory-Kuehl, The Persons of God (Aggelia Publications, 1966).
6. Allen Stump, The Foundation of Our Faith (Smyma Gospel Ministry, s/d).
7. Bill Stringfellow, Op. Cit., pág. 15.
8. W. Grudem, Systematic Theology (Zondervan, 1994), pág. 226.
9. Ellen G. White, Evangelismo, pág. 615.
10. ___________, Testimonies For the Church, vol. 8, pág. 295.
11. Louis Berkhof, Systematic Theology (Eerdmans, 1941), pág. 88.
12. Ibidem, pág. 89.
13. Escreveu EllenWhite: “Há muitos mistérios que não busco compreender nem explicar; eles são muito
elevados para mim e para vocês. Em alguns desses pontos, o silêncio é ouro” (Manuscrito 14, pág. 179).
14. G. A. F. Knight, A Biblical Approach to the Doctrine of the Trinity (Edimburgo, 1953), pág. 20.
15. Ibidem.
16. Millard J. Erickson, Christian Theology (Baker, 1983), vol. 1, pág. 329.
17. G. Ch. Aalders, Genesis (Zondervan, 1981), pág. 300.
18. Millard J. Erickson, Op. Cit., pág. 338.
19. Alguns comentaristas acreditam que atrás desta fórmula está a linguagem utilizada para transferência
de dinheiro, na era helenista. Desse modo, a fórmula expressa figuradamente que a pessoa batizada é
“transferida” para a conta do Senhor e se torna Sua possessão. Outros interpretam “nome” como
“autoridade”. Nesse caso, a pessoa é batizada pela autoridade do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
20.W. Grudem, Op. Cit., pág. 320.
21. ArthurW. Pink, Exposition of the Gospel of John (Zondervan, 1945), pág. 22.
22.W. Poehlmann, Exegetical Dictionary of the New Testament (Eerdmans, 1981), vol. 2, pág. 443.
23. F. F. Bruce, Philippians, Hendrickson, 1989), pág. 69.
24. Leon Morris, The Lord from Heaven: A Study of the New Testament Teaching in the Deity and
Humanity of Jesus (Eerdmans, 1958), pág. 74.
25. Alguns comentaristas definem pleroma em termos do pensamento gnóstico, segundo o qual essa
palavra significa uma nova emanação que se tem encarnado no Redentor.
26. John Eadie, Colossians, Classic Commentary Library (Zondervan, 1957), pág. 145.
27. F. F. Bruce, Hebrews (Eerdmans, 1964), págs. 19 e 20.
28. Millard J. Erickson, Op. Cit., pág. 326.
29. Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, pág. 530.
30. ___________, Evangelismo, pág. 615.
31. Kenneth T. Aitken, Proverbs (Westminster Press, 1986), pág. 85.
32. Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, vol. 1, pág. 247.
33. Seventh-day Adventists Believe (Hagerstown, 1988), pág. 60.
34. Ellen G. White, Evangelismo, pág. 616.

Gerhard Pfandl;

Ph.D., Diretor Associado do Instituto de Pesquisa Bíblica da Associação Geral da IASD

Adaptações, Grifos e Didática por
Pr. Cirilo Gonçalves da Silva
Mestre em Teologia e Evangelista
Twitter: @prcirilo