sábado, 9 de abril de 2016

OS SANTUÁRIOS DE DEUS


OS  SANTUÁRIOS  DE  DEUS  

NOSSO estudo do ministério de Cristo no santuário necessariamente deve começar referindo-se ao santuário terrestre e à razão pela qual foi estabelecido.

Deus ordenou construir o santuário do deserto para dar a seu povo uma lição objetiva das verdades espirituais e eternas.1 O Eu "habitarei no meio deles" de Êxodo 25.8 contém o vocábulo "habitar",2 que foi traduzido da palavra hebraica shakan, a qual, embora se traduz "habitar", "morar", "tabernacular", tem uma conotação ainda mais profunda, já que nos comunica a idéia de que esse "habitar" é o de um vizinho, alguém que quer estar perto e gozar de nossa amizade. Ainda em nossos dias, para os israelitas um shaken é a pessoa cuja amizade se deseja.

O santuário do deserto foi o recinto sagrado onde Deus morava em meio de seu povo, mas obviamente isto é um símbolo de uma verdade superior: em vez de em templos materiais feitos pelo homem (Atos 17.24), Deus quer morar no templo da alma humana (1 Cor. 3.16-17) para enchê-la3 com a glória do Espírito Santo, quem é o representante pessoal do Senhor Jesus Cristo, porque é "Cristo em vós, a esperança da glória" (Cl. 1.27).

Essencialmente são três os templos ou santuários dos quais nos fala a Escritura: (1) o do deserto (Êx 25.8); (2) o do céu (Hb 8.1-2; Ap 11.19), e (3) o templo humano (1 Cor. 3:16-17; 2 Cor. 6:16; Sl 114.2).

Como no santuário e seu serviço há uma quantidade de símbolos, vamos referir-nos brevemente a seu propósito.  

Valor do Símbolo

Alguém se surpreende ao descobrir que a Escritura é um livro saturado de símbolos e ilustrações. O símbolo não é a linguagem dos filósofos. A diferença das ideias abstratas que só podem ser compreendidas por uma aristocracia intelectual, os símbolos constituem uma linguagem acessível a todos, a pessoas cultas e iletradas, a adultos e a meninos.4 

A Escritura Sagrada do começo ao fim nos dá uma mensagem de significação eterna envolto no símbolo, que é acessível a toda mentalidade. Os símbolos da Escritura assinalam a Cristo, que é o coração e a periferia de toda mensagem apresentada tanto no Antigo Testamento como no Novo.

A palavra hebraica shakan (habitar), da qual viemos falando, está relacionada com outro vocábulo hebreu, Shekinah,5 que, embora não aparece na Escritura, tem uma longa tradição nos escritos rabínicos. Deriva da mesma raiz da qual se origina shakan, e é usada para expressar a solene proximidade da presença de Deus entre seu povo. A idéia original expressa na palavra Shekinah nasce do Antigo Testamento, mas se amplia grandemente no Novo Testamento quando nos diz que o "Verbo se fez carne'' (Jo 1.14) e "habitou" ou tabernaculou entre nós. Deste modo atracamos à idéia de que o tabernáculo ou santuário foi ordenado por Deus para nos dar uma revelação objetiva do Senhor Jesus Cristo e de sua obra redentora. É na verdade a antecipação do Evangelho, já que a pessoa de Cristo como plenamente Deus e plenamente homem está delineada simbolicamente em todos seus aspectos, até os menores, no "tabernáculo do testemunho", em seu mobiliário e em seus serviços ou liturgia.  

Tempo e Santidade

A palavra "santuário", que aparece na Escritura Sagrada 144 vezes e é usada para expressar a idéia de "santo", "lugar sagrado", "morada do santo",6 figura pela primeira vez em Êxodo 15.17, e se origina na palavra hebraica miqtlash, a que a sua vez deriva da raiz hebraica qadash, que comunica a idéia de "pôr à parte" algo, ou a alguém, separando-o assim para um uso sagrado.

Obviamente Deus é o Ser santo por excelência, e portanto tudo aquilo que entre em relação com Ele ou culto que se Lhe oferece tem que participar do atributo da santidade.

O escritor judeu Abraham Joshua Heschel7 assinala acertadamente que uma das palavras mais significativas da Escritura é o essencial qódesh (santo), uma palavra, insiste ele, que "mais que qualquer outra é representativa do mistério e majestade do divino". Ora, na história deste mundo, qual foi o primeiro objeto santificado? Foi acaso uma montanha, um altar, uma pessoa? De maneira nenhuma. A primeira vez que se usa o verbo qadash na Bíblia Sagrada é no Gênesis, em relação com a história da criação, e quão significativo é o fato de que se aplique ao tempo: "E abençoou Deus o sétimo dia, e o santificou" (Gn 2.3). "A santidade do tempo veio primeiro, a santidade do homem depois, e no fim a santidade do espaço. O tempo foi santificado por Deus; o espaço, o tabernáculo, por Moisés".

 

Referências:

1.  E. G. de White, Patriarcas y profetas (Mountain View: Pacific Press, 1955), p. 372.

2.  Véase The Interpreter's Dictionary of the Bible (New York: Abingdon Press, 1955), t. 4, p. 498.

3.  F. C. Gilbert, Practical Lessons (Nashville: Southern Publishing Association, 1974), p. 153.

4.  V. Fatone, El hombre y Dios (Buenos Aires: Columba, 1958), pp. 33-35.

5.  Véase The Interpreter's Dictionary of the Bible, art. "Shekinah". E. G. de White, El Deseado de todas las gentes (Mountain View: Pacific Press, 1955), p. 705; y Patriarcas y profetas, p. 360.

6.  Véase The Seventh-Day Adventist Bible Dictionary, pp. 1058-60.

7.  Véase A. J. Heschel, The Sabbath (New York: Harper Torchbooks, 1966), pp. 8-10.
 
 
 
Fonte: "Cristo no Santuário". Dr. Salim Japas
 
Pr. Cirilo Gonçalves
Diretor de Evangelismo Público da IASD - AP, SP
Bacharel e Mestre em Teologia - UNASP
Doutorando em Teologia - Reformed Theological Seminary
Twitter: @prcirilo
Instagram: @cirilogoncalves