NOSSO estudo
do ministério de Cristo no santuário necessariamente deve começar referindo-se
ao santuário terrestre e à razão pela qual foi estabelecido.
Deus ordenou
construir o santuário do deserto para dar a seu povo uma lição objetiva das
verdades espirituais e eternas.1 O Eu "habitarei no meio
deles" de Êxodo 25.8 contém o vocábulo "habitar",2 que
foi traduzido da palavra hebraica shakan, a qual, embora se traduz
"habitar", "morar", "tabernacular", tem uma
conotação ainda mais profunda, já que nos comunica a idéia de que esse
"habitar" é o de um vizinho, alguém que quer estar perto e gozar de
nossa amizade. Ainda em nossos dias, para os israelitas um shaken é a
pessoa cuja amizade se deseja.
O santuário
do deserto foi o recinto sagrado onde Deus morava em meio de seu povo, mas
obviamente isto é um símbolo de uma verdade superior: em vez de em templos
materiais feitos pelo homem (Atos 17.24), Deus quer morar no templo da alma
humana (1 Cor. 3.16-17) para enchê-la3 com a
glória do Espírito Santo, quem é o representante pessoal do Senhor Jesus
Cristo, porque é "Cristo em vós, a esperança da glória" (Cl. 1.27).
Essencialmente
são três os templos ou santuários dos quais nos fala a Escritura: (1) o do
deserto (Êx 25.8); (2) o do céu (Hb 8.1-2; Ap 11.19), e (3) o templo
humano (1 Cor. 3:16-17; 2 Cor. 6:16; Sl 114.2).
Como no
santuário e seu serviço há uma quantidade de símbolos, vamos referir-nos
brevemente a seu propósito.
Valor do Símbolo
Alguém se
surpreende ao descobrir que a Escritura é um livro saturado de símbolos e
ilustrações. O símbolo não é a linguagem dos filósofos. A diferença das ideias
abstratas que só podem ser compreendidas por uma aristocracia intelectual, os
símbolos constituem uma linguagem acessível a todos, a pessoas cultas e
iletradas, a adultos e a meninos.4
A Escritura
Sagrada do começo ao fim nos dá uma mensagem de significação eterna envolto no símbolo,
que é acessível a toda mentalidade. Os símbolos da Escritura assinalam a
Cristo, que é o coração e a periferia de toda mensagem apresentada tanto no
Antigo Testamento como no Novo.
A palavra
hebraica shakan (habitar), da qual viemos falando, está relacionada com
outro vocábulo hebreu, Shekinah,5 que,
embora não aparece na Escritura, tem uma longa tradição nos escritos rabínicos.
Deriva da mesma raiz da qual se origina shakan, e é usada para expressar
a solene proximidade da presença de Deus entre seu povo. A idéia original
expressa na palavra Shekinah nasce do Antigo Testamento, mas se amplia
grandemente no Novo Testamento quando nos diz que o "Verbo se fez carne''
(Jo 1.14) e "habitou" ou tabernaculou entre nós. Deste modo
atracamos à idéia de que o tabernáculo ou santuário foi ordenado por Deus para
nos dar uma revelação objetiva do Senhor Jesus Cristo e de sua obra
redentora. É na verdade a antecipação do Evangelho, já que a pessoa de Cristo
como plenamente Deus e plenamente homem está delineada simbolicamente em todos seus aspectos, até os
menores, no "tabernáculo do testemunho", em seu mobiliário e em seus
serviços ou liturgia.
Tempo e Santidade
A palavra
"santuário", que aparece na Escritura Sagrada 144 vezes e é usada
para expressar a idéia de "santo", "lugar sagrado",
"morada do santo",6 figura pela primeira vez em Êxodo 15.17, e se
origina na palavra hebraica miqtlash, a que a sua vez deriva da raiz
hebraica qadash, que comunica a idéia de "pôr à parte" algo,
ou a alguém, separando-o assim para um uso sagrado.
Obviamente
Deus é o Ser santo por excelência, e portanto tudo aquilo que entre em relação
com Ele ou culto que se Lhe oferece tem que participar do atributo da
santidade.
O escritor
judeu Abraham Joshua
Heschel7 assinala acertadamente que uma das palavras
mais significativas da Escritura é o essencial qódesh (santo), uma
palavra, insiste ele, que "mais que qualquer outra é representativa do
mistério e majestade do divino". Ora, na história deste mundo, qual foi o primeiro
objeto santificado? Foi acaso uma montanha, um altar, uma pessoa? De
maneira nenhuma. A primeira vez que se usa o verbo qadash na Bíblia
Sagrada é no Gênesis, em relação com a história da criação, e quão
significativo é o fato de que se aplique ao tempo: "E abençoou Deus o
sétimo dia, e o santificou" (Gn 2.3). "A santidade do tempo veio
primeiro, a santidade do homem depois, e no fim a santidade do espaço. O tempo
foi santificado por Deus; o espaço, o tabernáculo, por Moisés".
Referências:
1. E.
G. de White, Patriarcas
y profetas (Mountain View: Pacific Press, 1955), p.
372.
2. Véase
The Interpreter's Dictionary of the Bible
(New York: Abingdon Press, 1955), t. 4, p. 498.
3. F.
C. Gilbert, Practical Lessons (Nashville: Southern Publishing
Association, 1974), p. 153.
4. V.
Fatone, El hombre y Dios (Buenos Aires: Columba, 1958), pp. 33-35.
5. Véase
The Interpreter's Dictionary of the Bible,
art. "Shekinah". E. G. de White,
El Deseado de todas las gentes (Mountain
View: Pacific Press, 1955), p. 705; y Patriarcas y profetas, p. 360.
6. Véase
The Seventh-Day Adventist Bible Dictionary,
pp. 1058-60.
7. Véase
A. J. Heschel, The Sabbath
(New York: Harper Torchbooks, 1966), pp. 8-10.
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