A JUSTIÇA PELA FÉ NA MENSAGEM DOS 3 ANJOS DE APOCALIPSE 14
INTRODUÇÃO
A mensagem dos
três anjos de Apocalipse 14 ocupa um lugar de central importância no último
livro da Bíblia. Como mensagem final de encerramento do livro contida nos capítulos
12-19, as mensagens dos três anjos de Apocalipse 14 funcionam como sendo o seu
próprio coração e espinha dorsal; coração, porque o primeiro anjo dá
ênfase ao "evangelho eterno" como última mensagem de misericórdia e
salvação; espinha dorsal, porque o apelo deste evangelho e colocado numa
perspectiva histórico-redentora do "tempo do fim" apocalíptico,
quando a "besta" e "sua imagem" terão domínio universal e a
"marca da besta" será imposta a todos os homens (Apoc. 14:9-11),
precedendo imediatamente o Juízo do Segundo Advento de Cristo (Apoc. 14:14-20).
Este contexto
apocalíptico dá à mensagem final do evangelho uma seriedade e urgência únicas.
As três mensagens evangélicas não são três mensagens diferentes do evangelho.
Elas são o mesmo e único evangelho que existiu desde o princípio, o evangelho
eterno. Unem o lado positivo do evangelho salvador com o negativo do juízo de
Deus para aqueles que recusam este apelo final do evangelho. Seguem basicamente
o mesmo princípio dos apelos feitos pelos profetas do Velho Testamento e pelo
apóstolo S. João quando anunciou:
"Por isso
quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantêm rebelde contra o
Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus" (S. João
3:36).
Apenas
Apocalipse 14 explica claramente e com mais detalhes que a ira de Deus contra a
geração final se manifestara em sete pragas específicas a serem derramadas do
santuário celeste sobre uma Babilônia universal, enquanto que o Israel de Deus
será poupado no Monte de Sião. Os três anjos proclamam o ultimato de Deus para
um planeta em rebelião. São, portanto, as verdades que provam, o evangelho
aplicado à situação da apostasia final e ao surgimento do Anticristo.
O que será preciso, então, para ser salvo, é ter aquela mesma fé que
Abraão precisou ter quando creu na palavra de Deus e obedeceu, a mesma que
Habacuque precisou ter quando disse para a Judá ameaçada: "Mas o justo
vivera pela sua fé" (Hab. 2:4). Jesus focalizou o ponto essencial ao
perguntar:
"Contudo,
quando vier o Filho do homem, achará porventura fé na Terra? (S. Luc. 18:8).
O assunto
crucial parece ser, portanto, se compreendemos e exercitamos ou não a
verdadeira fé, a fé que salva e santifica. O que é fé? Qual é a sua natureza?
Como se gera ela? Como se cultiva? Como se manifesta?
Estas são
perguntas perenes que já eram relevantes nos tempos de Abraão, de Moisés, de
Davi, dos profetas, nos dias do próprio Cristo, na era apostólica, no período
da Reforma, em cada reavivamento verdadeiro, e especialmente e relevante para a
igreja remanescente de hoje.
Qual é a nossa
doutrina central, o verdadeiro empuxo da mensagem que devemos dar ao mundo e a
todas as demais igrejas? Como se relacionam todas as nossas doutrinas caracteristicamente
adventistas com a mensagem central de adoração a Deus pela fé em Cristo Jesus?
O EVANGELHO ETERNO
Os três anjos de
Apocalipse 14 apresentam suas grandes mensagens numa ordem definida e
divina e, desde o início do seu cumprimento em 1843 AD, o fizeram nesta mesma
ordem (cf. 2ME 104-105). É de importância vital compreender que "não pode
haver terceira sem primeira e segunda" mensagens (2ME 105). Antes de ser
dada qualquer mensagem com respeito à Babilônia apocalíptica, e a besta e a sua
imagem e sua marca, é preciso exaltar a mensagem do primeiro anjo com o seu
glorioso "evangelho" e com o Israel nela implicado.
Os ministros adventistas do sétimo dia são chamados, em primeiro lugar,
não para serem pregadores do Juízo Final, mas para serem pregadores do
evangelho. O primeiro anjo proclama as boas novas, as novas do evangelho
antigo, o evangelho eterno, isto é, um evangelho que desde o princípio nunca
foi mudado, um evangelho que, na verdade, é imutável, porque o plano
de Deus foi concebido desde o princípio em Cristo (cf. Ef. 1:4; 1 Ped. 1:20).
O primeiro anjo
é, portanto, o anjo do evangelho que convida todos os povos para adorarem a
Deus no Temor do Senhor, para darem a Deus toda a gloria como Criador do Céu e
da Terra.
Por que a
Escritura acrescenta o adjetivo "eterno" (aionios) ao
"evangelho" do primeiro anjo? Comparando este adjetivo aionios que
aparece junto a vários outros substantivos como "salvação (Heb. 5:9),
"juízo" (Heb. 6:2), "redenção" (Heb. 9:12),
"Espírito" (Heb. 9:14), "herança" (Heb. 9:15),
"aliança" (Heb. 13:20), "glória" (2 Tim. 2:10),
"reino" (2 Ped. 1:11), etc., notamos que ele dá ênfase ao caráter
permanente, divino e imutável do evangelho.
Isto tem significado
particular diante do fato de que já os apóstolos fizeram advertências contra
falsificações do evangelho, fossem elas de natureza legalista ou sem lei. Tais
distorções proclamariam apenas um "evangelho diferente", um
"Soberano Senhor" renegado, e um "espírito diferente" do
autentico evangelho apostólico (2 Cor. 11:4; Gál. 1:6-9; 2 Ped. 2:1, 19; Jud.
4; 2 Cor. 11:4).
Os próprios
apóstolos tiveram de repelir tanto a perversão do evangelho feita pelos
legalistas judaizantes, como a feita pelo antinomismo gnóstico (Ver Gálatas e 1
S. João). Dentro desta perspectiva histórica se torna ainda mais significativo
o fato da mensagem apocalíptica do primeiro anjo insistir no fim do mundo, para
que seja proclamado um evangelho que não foi e nunca será mudado. Em outras
palavras, ele insiste na completa restauração dum evangelho apostólico não
adulterado. (Cf. Seventh-day
Adventists Answer Questions on Doctrine, Review and Herald Pub. Assn.,
1957, p. 613.)
O evangelho apostólico evitou tanto as ciladas do nominianismo como as
do antinomianismo, porque reconheceu sempre em Jesus Cristo a unidade orgânica
da lei e do evangelho, da redenção pela graça através da fé, e o valor moral
das boas obras operadas pela fé através do amor.
As mensagens dos
três anjos pedem que os santos do tempo final de prova guardem também "os
mandamentos de Deus e a fé em Jesus" (Apoc. 14:12).
Estas são as
credenciais celestes da igreja remanescente. Não as recebemos para pregar algum
evangelho moderno segundo filosofias humanas ou algum espantoso
super-evangelho, mas sim a religião dos velhos tempos dos apóstolos, dos
profetas e de Jesus Cristo. O evangelho eterno não é um tratado teológico sobre
o equilíbrio entre a lei e a graça. Não conhece nem a dicotomia e nem a síntese
da lei e do evangelho. Mas conhece a amplidão que está incorporada no próprio
Salvador, nossa única Justiça. A serva do Senhor nos aconselhou o seguinte:
"De todos
os professos cristãos, devem os adventistas do sétimo dia ser os primeiros a
levantar a Cristo perante o mundo" (OE 152; Ev 188).
O evangelho não é apenas uma teoria ou doutrina
embelezadora, mas um poder de salvação para todos os que creem em Cristo, nosso
Senhor e Salvador. Seu propósito não é a exaltação própria, mas a adoração de
Deus em espírito e em verdade.
Autor: Hans K. LaRondelle,
TH.D.
Tradução de Renato Emir ObergPr. Cirilo Gonçalves
Evangelista da IASD-AP, SP
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