Este estudo foi extraído do livro: Revelação Messiânica no Velho Testamento de Gerard Van Groningen, págs. 676-679.
EZEQUIEL: O SACERDOTE PROFETA:
• Ezequiel era um sacerdote (1:3a); era filho de Buzi, o sacerdote.
• Os filhos dos sacerdotes seguiam a profissão dos pais. (cf. NVI. 1:3).
• Não há nenhum indício, porém, de que ele atuou como sacerdote.
• Não há nenhum indício de que Ezequiel atuou como sacerdote. Mas parece claro através de muitas referências em suas profecias que ele estava familiarizado de maneira proficional com o sacerdócio, seu ambiente (especiamente o templo), seus sacrifícios e deveres. Ezequiel frequentemente fala em termos da vida e do trabalho do sacerdote.
• Ezequiel tem uma compreenção clara do pacto mosaico e da legislação. Ele faz uma descrição das cenas de glória indicando assim o ambiente do templo e do sacerdócio.
Contraste marcante na vida de Ezequiel:
• Por um lado ele vê a glória de Deus rodeando Seu trono (1:28b),
Sua presença no templo (10:4), e Sua partida (10:18,19). Vê Seu
retorno ao templo (43:1-5) e, finalmente testemunha a glória de Deus,
enchendo o templo (44:4) Ele vê a glória, mas não lhe é permitido,
ser envolvido diretamente nela, ou rodeada por ela. Ao contrário,
Ezequiel é levado ao exílio, onde vive em circunstâncias humildes e
sem poder funcionar adequadamente na gloriosa habitação de Deus.
• Ele é humilhado como sacerdote; tem de viver sacrificialmente.
Nesse aspecto ele tipifica seu grande antítipo, o Cristo que veio da
glória, que a viu umas poucas vezes na terra (Jo 2:11; 17:22,24), que
serviu humilde e sacrificialmente, “em exílio na terra”.
2. EZEQUIEL: O PROFETA
Ezequiel não é só chamado para ser sacerdote, é chamado também para ser profeta.
• Isaías viu a glória de Deus no seu chamado (Is 6:1-4). Ezequiel também (Ez 1).
• Isaías e Jeremias receberam mandatos específicos para falar ao povo do pacto (Is 6:8-10; Jr 1:4- 11), Ezequiel também (Ez 2:3).
• Ezequiel não vai ser um missionário a nações estrangeiras, mas é chamado, enviado e comissionado a falar aos rebeldes, obstinados filhos de Israel (2:3-8).
• Ezequiel deve falar de modo que seja conhecido (Kî nabî’ hayâ betôkam – que há um profeta entre eles Ez 2:3; 33:33).
• Ezequiel é instruído a falar as próprias palavras de Yahwéh aos hebreus (2:4,7; 3:4,11).
• Isaías teve seus lábios preparados por uma brasa viva (6:6); Jeremias teve o toque da mão de Yahwéh em seus lábios (1:9); a Ezequiel foi dado o rolo de um livro para comer (2:9-3:3). Cada um dos três profetas foi preparado para a sua tarefa.
• O Espírito Santo veio sobre Ezequiel levantou-o e falou-lhe como Yahwéh. Assim, Ezequiel fala diretamente do papel do Espírito em qualificá-lo e dar-lhe a palavra da revelação divina para o povo de Deus.
• O chamado de Ezequiel para profeta foi confirmado por visões (1:4; 8:3; 40:2). Assim além do chamado e da comissão verbal para ser profeta, ele vê e prova a presença de Yahwéh e seus meios de comunicar-se com seu porta-voz e apoiá-lo.
• Ezequiel como profeta também tipifica Jesus Cristo. Tanto Ezequiel como Cristo, ambos estavam certos de que falavam por Yahwéh e que tinham de comunicar verdades relativas a Yahwéh, a fim de que as pessoas pudessem conhecê-Lo; ambos falaram em parábolas, alegorias e imagens escatológicas. Ambos referiram a si mesmos como “filho do homem” (Ez 2:1,3; Mt 24:37). Realmente Ezequiel como profeta foi um precursor profético, uma prefiguração e um tipo de Jesus Cristo.
3. EZEQUIEL: O SENTINELA
Ezequiel recebe uma ordem para ser uma sentinela (atalaia, vigia).
• No cap.3 esse encargo segue de perto seu chamado para ser um profeta. Ser uma sentinela é um aspecto integral da obra profética de Ezequiel.
• Como sentinela, Ezequiel deve receber suas instruções somente de Yahwér. Sua tarefa não é somente simpatizar, confortar e dar palavras de esperança, nem é somente dar senso de segurança. Ezequiel tem de abrir os olhos do povo para os mais profundos males que os rodeiam, quebrar as ilusões e erguer o grito de perigo, quando nenhum perigo é suspeitado.
• A Ezequiel o sacerdote é dada essa responsabilidade sacerdotal (ser uma sentinela), como parte integral de seu papel como profeta.
• A posição de uma sentinela era de grande importância para a segurança de Israel e Judá. O vigia tinha de manter em mente que ele era um representante do governador da cidade. Assim, havia uma dimenção real em sua posição também. No próprio centro das responsabilidades de Ezequiel está a “retidão punitiva” de Yahwéh, o Rei de seu povo.
• Ezequiel é um sacerdote comissionado para ser um profeta, recebe também um dever administrativo ou régio (sentinela). Como tiveram Moisés e Samuel de funcionar em tríplice capacidade, assim também Ezequiel.
• O povo de Deus está no exílio, longe do templo e do palácio em Jeruzalém. Ezequiel é o agente e representante de Yahwéh, supervisor espiritual, porta-voz, pastor e sentinela. Ele cumpre os três ofícios messiânicos. É um tipo de Cristo.
4. EZEQUIEL O FILHO DO HOMEM
Ezequiel é chamado de “filho do homem”. As discussões a respeito dessa frase são extensas, em parte devido a seu uso em outras passagens.
1. O “filho do homem como fraqueza humana.
• Jó 25:6. Filho do homem= Humanidade mais baixa.
• Nm 23:19. Filho do homem= O homem é mentiroso.
• Is 51:12. Filho do homem= O homem é mortal; é erva.
2. O “Filho do Homem” como grandeza humana.
• Sl 8:4; Dn 8:17. Esta frase “Filho do homem”, refere-se à humanidade numa perspectiva mais ampla.
• Andrew B. Davidson em The Book of Ezequiel the Prophet, p.15, diz que esta frase expressa o contraste entre o profeta e a majestade de Deus.
• Walther Zimmerli, grande erudito e, especialista em Ezequiel, na sua obra Ezekiel: A Commentary on the Book of the prophet Ezekiel, 1.131, expessa o fato de que Deus se dirige a Ezequiel como um indivíduo dentro da ordem criada. Utilizando como exemplo o Salmo 8:4-8.
• A humanidade caiu; o resultado é fraqueza e mortalidade. Mas a ênfase principal em Ezequiel é que o profeta, confrontado com a majestade de Deus, cai prostrado (2:1). Como filho do homem, pelo poder do E.S., ele fica em pé ante a magestade de Deus, e dá expressão a seu status real humano e assim serve a Yahwéh como porta-voz.
5. EXEGESE DE EZEQUIEL 1:25-28
As perguntas de interesse específico para o nosso estudo são:
1. Quê (ou quem) Ezequiel vê nesta parte de sua visão?
2. De quem são as as vozes que ele ouve?
Da visão de Ezequiel (1:25-28) podemos perceber que ele como sacerdote estava 1) familiarizado com os materiais mosaicos. Ele faz referência ao glorioso carro de nuvens, e que ele 2) foi grandemente influenciado pelo estudo de Isaías, que também tinha tido uma uma visão quando foi chamado.
O que Ezequiel realmente vê é difícil descrever com precisão. Ezequiel não vê um objeto real, tangível, concreto, mas uma “imagem visionária”. Não vamos discutir sobre o carro da glória com sua tripulação celestial (1:4-24). Devemos dar atenção ao que soa como a voz do Deus Todo-poderoso (1:24) surgindo do meio das criaturas celestes.
Nesta visão temos quatro níveis ascendentes:
1) Ezequiel
2) As Criaturas
3) O Trono
4) A Aparência de um homem.
Três fatos importantes devem ser notados nesta visão:
1. A idéia da realeza domina toda cena. O homem sobre o trono é rei. Afinal somente um rei senta-se num trono e é rodeado por brilho, glória e servos que o atendem e o servem. A cena, portanto, representa o governo soberano de Yahwéh sobre todas as forças da natureza, fatos da história,e especialmente sobre seu povo - os que estão no exílio e os que estão em Jeruzalém. E o aspecto divino, integralmente associado na cena com a realeza não deve ser subestimado. Um governante divino fala de seu trono! Ele está presente com o seu povo; Ele está dirigindo o fluxo dos acontecimentos.
2. Ezequiel vê a “aparência de um homem” (1:26b KJV); isso, em correlação com o glorioso conceito de soberania divina, sugere a idéia da encarnação.
• John Skinner, em The Book of Ezekiel. The Expositor’s Bíble, 6:228. Afirma que “o Deus que Ezequiel viu estava em forma de homem”.
• John Calvino escreveu em Commentaries on the Prophet Ezekiel, 1:99, sobre a frase semelhança da aparência humana, e destaca especialmente que “o profeta falou de Deus quanto à sua própria essência, que é comum ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo”. Acrescentou, porém, que a frase “na forma de homem pertence somente a cristo”.
• Arie Noordtzij, The Profeet Ezechiel,1:52, refere-se com aprovação à interpretação de Calvino; ele destaca o mistério que “Deus foi revelado em carne”. E Keil mensiona Deus em forma humana sentado no trono.
Devemos ter cautela ao discutir este ponto. Ezequiel não profetizou diretamente a respeito da encarnação de Jesus Cristo nem das suas duas naturezas. Escreveu, entretanto, sobre Deus na forma de homem.
Esse antropomorfismo não se originou com Ezequiel. Isaías já tinha falado isso (Is 52:13-15) e Zacarias também (Zc1-8).
3. Ezequiel tem a revelação da inter-relação entre o finito e o infinito, o eterno e o limitado no tempo, o onipresente e o presente limitado no espaço no conceito messiânico.
CONCLUSÃO
A nossa conclusão deve destacar o fato de que Deus, o Todo-Poderoso, Chamou Ezequiel. Porém quando o chamado veio foi- lhe dada somente uma revelação parcial do conceito messiânico.
Foi-lhe lembrada a realeza soberana daquele que falava como Deus e exercia domínio divino, e que, além disso, estava “velado na aparência de homem”. Dessa maneira é expressa a inter-relação entre o divino e o humano. Esses três fatos:
1. Realeza.
2. Divinitude em aparência de carne.
3. Inter-relação entre o divino e o humano. São integrais ao conceito messiânico.
JESUS CRISTO ESTÁ PRESENTE EM EZEQUIEL CAPÍTULO 1
Pr. Cirilo Gonçalves da Silva
Mestre em Teologia e Evangelista
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