Marcos 13 (E PARALELOS)
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APOCALIPSE 6
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1. Guerras v. 7. Mar. 24:6
2. Luta internacional. V. 8; Mat. 24:7
3. Terremotos v. 8; Mat. 24:7
4. Fomes v. 8; Mat. 24:7
5. Perseguição vs. 9,10; Mat.
24:9
6. Pregação do
evangelho vs. 10,13; Mat. 24:14
7. Eclipses, queda
de
estrelas vs. 24,25; Mat. 24:29
8. Temor
pela vinda v. 19; Luc. 21:25,26;
de Cristo Mat.
24:30
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Guerra v. 2
Luta v. 4
Fome vs. 5.6 Pestilência v. 8
Perseguições vs. 9,10
TempodeEspera v.11
Eclipses, queda de
estrelas vs. 12,13
Temor pela ira do Cordeiro vs.15-17
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Esta comparação mostra que devemos considerar os selos consecutivos em Apocalipse 6 como a exposição ulterior de Cristo de seu discurso anterior no que tinha resumido a seus discípulos o que lhes aconteceria durante sua missão no mundo. Isto significa que os selos predizem não só os juízos do tempo do fim mas também os juízos messiânicos durante toda a época da igreja. Em Mateus 24 Jesus adotou o estilo apocalíptico de Daniel de repetição e ampliação. Duas vezes Jesus começou seu esboço com sua própria geração e depois passou rapidamente adiante na história até o fim da era da igreja, como se pode ver por Mateus 24:1-4 e 24:15-31. Jesus anunciou que as guerras que viriam, as fomes, as perseguições e a apostasia não precederiam imediatamente a sua volta:
"Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não vos
assusteis; pois é necessário que primeiro aconteçam estas coisas... E cairão a
fio de espada e para todas as nações serão levados cativos; e Jerusalém será
pisada pelos gentios, até que os tempos dos gentios se completem" (Luc.
21:9, 24).
Jesus lhes
advertiu especificamente contra uma expectativa iminente:
"Respondeu ele: Vede que não sejais enganados; porque
muitos virão em meu nome, dizendo: Sou eu! E também: Chegou a hora! Não os
sigais" (Luc. 21:8).
Se os selos
desenvolvem em forma adicional Mateus 24, então os selos igualmente se estendem
sobre os séculos do período da era cristã. Esta perspectiva histórica dos selos
expressa o fluxo estrutural do livro do Apocalipse da época histórica até o
juízo final.
O Significado da Era Cristã
"Porque a mim me parece que Deus nos pôs a nós, os
apóstolos, em último lugar, como se fôssemos condenados à morte; porque nos
tornamos espetáculo ao mundo, tanto a anjos, como a homens" (1 Cor. 4:9).
O crisol da
história humana é o meio pelo qual Cristo santifica os que aceitam seu senhorio
e testemunho de verdade sob as circunstâncias mais adversas. Por outro lado,
demonstra sobre a terra os amargos frutos da rebelião contra ele, perdoando as
vistas de seus inimigos, desde Caim para frente. Ellen White oferece esta
profunda revelação:
"Satanás está constantemente em atividade, com intensa
energia e sob mil disfarces para representar falsamente o caráter e governo de
Deus. Com planos extensos e bem organizados, e com poder maravilhoso está ele a
agir para conservar sob seus enganos os habitantes do mundo. Deus, o Ser
infinito e todo sabedoria, vê o fim desde o princípio, e, ao tratar com o mal,
Seus planos foram de grande alcance e compreensivos. Foi o Seu intuito não
somente abater a rebelião, mas demonstrar a todo o Universo a natureza da mesma.
O plano de Deus estava a desdobrar-se, mostrando tanto Sua justiça como Sua
misericórdia, e amplamente reivindicando Sua sabedoria e justiça em Seu trato
com o mal".2
Cada
calamidade proporciona uma nova oportunidade para que o homem caído se volte para
Deus. Cristo ensinou esta lição a partir dos acontecimentos de seu próprio
tempo (ver Luc. 13:1-5; também João 9:2, 3).
No passado do
Israel, Deus tinha enviado quatro juízos sobre seu povo do pacto, que era
rebelde: guerra, praga, fome e morte (ver Lev. 26:23-26; Deut. 32:23-25,
42 ["minhas setas"]; Ezeq. 14:12-14, 21). Mas esses juízos nunca
foram o juízo final de Deus. Serviram como juízos preliminares, para motivar
seu povo rebelde a voltar-se para Deus (ver Osé. 5:14, 15; 6:1-3). Quanto a
isto também o Antigo Testamento é um livro de lições para a igreja (1 Cor.
10:11 ).
Cristo deseja
que a igreja compreenda que os juízos vindouros ainda estão limitados por sua
vontade. Deus ainda está no comando mesmo que seus filhos morram como mártires.
Também coloca limites ao cavaleiro amarelo sob o quarto selo (Apoc. 6:8). De
igual maneira, Apocalipse 12 e 13 afirmam que o anticristo recebe não mais de 3
½ tempos proféticos, enquanto que à última rebelião é concedida apenas
"uma hora" (Apoc. 17:12).
Apocalipse 5
ensina que a responsabilidade pelos juízos de Deus foi transferida a Cristo. Os
selos apocalípticos, e por extensão as trombetas e as pragas, todos devem
entender-se como juízos messiânicos. O Cristo entronizado é o Senhor da
história, ou como Leão de Israel ou como o Cordeiro de Deus (Apoc. 5:5, 6).
Isto significa que os que rechaçam o sangue do Cordeiro terão que enfrentar a
"ira do Cordeiro" (Apoc. 6:16, 17). Pela fé em Cristo os homens podem
confiar que a era cristã tem significado, porque leva a humanidade adiante, a
seu destino glorioso.
Desenrolando o Livro da Providência
Isto quer dizer
que os primeiros 4 selos ainda não estão completos, inclusive no tempo do fim.
João está em dívida com o Antigo Testamento para esta linguagem figurada de
cavalaria celestial. Em suas visões, Zacarias descreve 4 cavalos com cores
diferentes (Zac. 1:8-17 e 6:1-8). Isto indica que devemos considerar o
significado dos 4 cavalos simbólicos do Zacarias antes de interpretar os 4
cavaleiros apocalípticos.
Em Zacarias 1
atribuiu-se aos cavaleiros o dever de inspecionar o mundo gentio com o fim de
observar qualquer movimento para restaurar Jerusalém e Judá (1:10). Este
relatório foi frustrante: nada estava acontecendo (v. 11). Entretanto, Deus
assegura ao profeta que apesar das aparências contrárias, ele estava
trabalhando por Jerusalém e Sião com grande zelo (v. 14), enquanto que ao mesmo
tempo estava irado contra as nações (v. 15). O Deus do Israel voltaria para
Sião, e seu templo e sua cidade seriam reconstruídos. Seriam estabelecidas paz
e prosperidade permanentes (8:12).
No capítulo
6, o profeta apresenta o complemento de sua primeira visão. Esta vez vê 4
cavalos diferentes com carros de guerra [merkaba], cada um enviado pelo
Deus do céu em todas as direções da terra, para levar a cabo o plano redentor
de Deus para Jerusalém. O anjo que interpreta, explica que os 4 carros
significam "os quatro ventos dos céus" que são enviados como
ministros do Senhor para cumprir a vontade redentora de Deus em todo mundo
hostil (Zac. 6:5; cf. Sal. 104:3, 4; Jer. 49:36; Isa. 66:15).
A "terra do
norte", ou Babilônia, é escolhida como um lugar exemplar onde o Deus de
Israel deseja governar e estabelecer seu descanso (Zac. 6:8). Isto significa
que os 4 carros de guerra da visão foram enviados ao mundo com uma missão
dupla: (1) submeter todos os poderes políticos do mundo à vontade do Deus de
Israel (ver Ag. 2:7-10, 20-23); (2) reunir a todos os crentes israelitas e
gentios em Jerusalém e no monte Sião (Zac. 8:8, 20-23). O propósito fundamental
é a realização do plano de redenção de Deus e a restauração da verdadeira
adoração (vs. 22, 23).
No
Apocalipse, Cristo envia seus cavaleiros apocalípticos à terra, desta vez com
uma missão do novo pacto (Apoc. 6:2-8): para conquistar os corações humanos a
Cristo com o arco e as flechas do evangelho, e para levar a humanidade à
reflexão por meio de alguns juízos limitados como antecipações do castigo final
de Deus por sua rebelião contra Cristo.
O Primeiro Selo
O cavalo
branco leva um cavaleiro com um arco e uma coroa de vencedor, saindo como
"vencendo e para vencer". Alguns expositores modernos interpretam
este cavaleiro apocalíptico como símbolo da avidez do homem para conseguir
poder e domínio mundial. O argumento é que os 4 cavaleiros de Apocalipse 6
iniciam juízos, de modo que parece "inapropriado ao contexto" ver
aqui a conquista de Cristo por meio do evangelho. Os cavalos se usavam para
liberar a guerra. Entretanto, cada símbolo deve receber seu significado de seu
próprio contexto e nele podemos descobrir a natureza dessa guerra.
Os selos
desenvolvem mais amplamente a visão do trono de Apocalipse 5, onde Cristo é
descrito como o Senhor ressuscitado, simbolizado pelo Leão que tinha triunfado
(Apoc. 5:5). Estabeleceu sua vitória por sua morte na cruz, simbolizado pelo Cordeiro imolado (V. 6). Depois enviou
os discípulos, dando-lhes autoridade, para ir a todas as nações e fazer
discípulos (Mat. 28:19). Deu-lhes o poder do Espírito Santo para conquistar para
ele, até os fins da terra (At. 1:8), assim como conquistou a seu
"inimigo" Saulo perto da porta de Damasco (cap. 9). Continua
conquistando através do poder do evangelho e a "espada de dois fios"
de sua Palavra (Heb. 4:12), com o fim de ganhar para seu reino os corações
sinceros de homens e mulheres até o fim do tempo de prova.
Além disso, a
estrutura quiástica do Apocalipse coloca a Cristo como o Guerreiro em
Apocalipse 19:11-16, como a contraparte significativa e como a consumação do
tempo do fim de Apocalipse 6:2. As profecias messiânicas do Antigo Testamento
representavam ao Rei davídico como conquistando com arco e flechas (ver Sal.
45:4, 5; Deut. 32:23; Hab. 3:8-11; Sal. 7:12; 21:12). Cristo anunciou que veio
trazer a "espada" para todos os que rechaçam sua paz (Mat. 10:34;
Luc. 12:51-53). Portanto podemos interpretar o cavalo branco do primeiro selo
como o cavalo do evangelho que oferece a todos os homens a justiça perfeita de
Cristo. Este cavaleiro evangélico ainda conquista homens e mulheres ao redor do
globo (1 João 5:4, 5). A última confissão de fé de Paulo ilustra o poder do
cavaleiro do cavalo branco: " Combati
o bom combate, completei a carreira, guardei a fé" (2 Tim. 4:7).
O Segundo Selo
Os três
seguintes cavaleiros apocalípticos têm autoridade para trazer consigo juízos
severos sobre a terra. Não devemos considerar estas incursões que produzem
morte, fome e praga como os resultados das guerras seculares. Durante séculos
houve paz no Império Romano, a "pax romana", desde Armênia até a
Espanha.
O cavalo vermelho
representa o espírito de oposição ao cavaleiro do evangelho, ou guerra contra o
povo de Cristo. Jesus tinha advertido que o testemunho de seus seguidores
causaria uma oposição encarniçada: "Não pensem que vim trazer paz à terra;
não vim trazer paz, senão espada" (Mat. 10:34; ver a conexão com os vs. 32
e 33 e Luc. 12:51-53). Isto foi o que experimentou a igreja apostólica, como
pode ver-se nas cartas de Cristo às igrejas em Esmirna e Pérgamo (Apoc. 2:10,
13). Por outro lado, só Cristo traz a paz do coração: "Deixo-vos a paz, a
minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo" (João 14:27); "E
a paz de Deus, que ultrapassa todo entendimento, guardará os vossos corações e
as vossas mentes em Cristo Jesus" (Filip. 4:7).
Os césares
romanos não toleravam nenhum pensamento de Cristo como o supremo Rei e Senhor.
Tentaram erradicar todas as testemunhas públicas cristãs até o tempo da
conversão do Constantino no século IV. A interpretação de que o cavalo vermelho
significa a perseguição religiosa-política por causa de Cristo fica
confirmado pela carta de Cristo à igreja da Esmirna (Apoc. 2:8-11 ) e o clamor
dos mártires degolados sob o quinto selo (6:9).
Em qualquer
lugar que se rechaça o Príncipe da paz, os resultados são luta e violência, não
só dentro da igreja mas também na sociedade. O derramamento de sangue nos selos
se cumpre em dois níveis: primeiro, dentro da igreja de Cristo e segundo,
contra a igreja ao executar os seguidores de Cristo durante toda a época da
igreja.
O Terceiro Selo
"Quando abriu o terceiro selo, ouvi o terceiro ser vivente
dizendo: Vem! Então, vi, e eis um cavalo preto e o seu cavaleiro com uma
balança na mão. E ouvi uma como que voz no meio dos quatro seres viventes
dizendo: Uma medida de trigo por um denário; três medidas de cevada por um
denário; e não danifiques o azeite e o vinho" (Apoc. 6:5, 6).
A cor
"preta" do terceiro cavalo apocalíptico é o contrário exato do
primeiro cavalo. Isto sugere que agora se rechaça ou se desconhece a justiça de
Cristo. Uma situação assim resulta em fome espiritual, o que nos recorda do
juízo predito por Amós (8:11). A palavra de Deus e o testemunho de Jesus
chegaram a ser tão escassos que podem simbolizar-se pelo fato de pesar o
principal alimento do homem em uma balança (Apoc. 6:5, 6). Este símbolo está
tomado de Levítico 26:26, onde primeiro se refere ao juízo de Deus sobre um
povo rebelde que sofreria uma fome literal (ver também Ezeq. 4:16). A Escritura
também usa a balança para simbolizar um veredicto celestial (Dan. 5:27). O terceiro
cavaleiro apocalíptico anuncia uma fome da Palavra e o Espírito de Deus na
igreja pós-apostólica, sugerindo que chegará a ser fraco na verdade do
evangelho, substituindo-a por um sistema de crenças doutrinais chamado
ortodoxia. Mas as doutrinas e cerimônias não podem alimentar a alma, tal como
Cristo admoestou em sua carta à igreja de Pérgamo (Apoc. 2:14-16). O terceiro
selo se aplica especialmente a esse período da história da igreja quando a
Igreja e o Estado se uniram e começaram a impor a ortodoxia sobre a consciência
humana. A ordem: "Não danifiques o azeite e o vinho" (6:6), sugere um
juízo limitado de Deus, que Deus protege seu evangelho em um tempo de escassez
espiritual. Revela que Deus cuida ternamente de seu povo.
O Quarto Selo
"Quando o Cordeiro abriu o quarto selo, ouvi a voz do
quarto ser vivente dizendo: Vem! E olhei, e eis um cavalo amarelo e o seu
cavaleiro, sendo este chamado Morte; e o Inferno o estava seguindo, e foi-lhes
dada autoridade sobre a quarta parte da terra para matar à espada, pela fome,
com a mortandade e por meio das feras da terra" (Apoc. 6:7, 8).
O cavaleiro
do cavalo amarelo é chamado Morte, seguido pelo Hades (a tumba). Os quatro
juízos foram enviados antes pelo Deus de Israel a seu povo do antigo pacto (ver
Ezeq. 14:21). A cor de um pálido mortal sugere um estado contínuo de decadência
espiritual e de um endurecimento maior do coração. O resultado é a apostasia da
alma. Podemos pensar nas heresias e enganos como uma conseqüência
de rechaçar a verdade do evangelho (ver Apoc. 2:20-23). É o caminho à morte
eterna. Então, as "feras da terra" são uma antecipação simbólica das
bestas perseguidoras de Apocalipse 13, as quais também receberam permissão de
"fazer guerra contra os santos e vencê-los" (vs. 7, 14, 15). O quarto
cavaleiro concentra os resultados do trabalho dos cavaleiros anteriores: morte
e condenação. Representa a situação prolongada da igreja medieval.
Os primeiros
4 selos seguem o esboço do discurso profético do Jesus em Mateus 24:6-8. A
diferença entre Mateus 24 e os selos apocalípticos está no fato de que no
Apocalipse pode detectar-se um significado mais profundo porque o primeiro
cavaleiro é o evangelho de Cristo.
Os selos 2 a
4 mostram um endurecimento crescente da incredulidade dos habitantes da terra,
ao rechaçar a mensagem do evangelho do cavaleiro do cavalo branco. Sua morte
espiritual será selada finalmente na morte eterna quando receberem a "ira
do Cordeiro" durante o sexto selo (Apoc. 6:15-17).
Embora haja
uma progressão histórica, os selos refletem a experiência de todos os que
aceitam ou rechaçam o evangelho de Cristo. Isso significa que a história pode
repetir-se e que o passado outra vez pode chegar a ser o futuro. Ellen White
faz esta aplicação pastoral do terceiro e quarto selos:
"Hoje se vê o mesmo espírito que o que está representado em
Apocalipse 6:6-8. A história se repetirá. O que foi, voltará a ser. Este
espírito trabalha para confundir e desconcertar. Ver-se-á dissensão em cada
nação, tribo, língua, e povo; e os que não tiveram um espírito para seguir a
luz que Deus deu por meio de seus oráculos viventes, através de suas agências
assinaladas, chegarão a confundir-se. Seu juízo
revelará debilidade. Na igreja se verão a desordem, a luta e a confusão".3
Em resumo, os
cavaleiros apocalípticos dos selos 2 a 4 encontraram seu cumprimento da igreja
pós-apostólica que se corrompeu, mas a apostasia e a perseguição não estão
limitadas à história passada. Como declara Roy C. Naden: "Uma vez solto,
cada cavalo contínua até a segunda vinda".4
O Quinto Selo
Esta imagem
simbólica deve interpretar-se pela Escritura. Jesus tinha anunciado que depois
das revoltas políticas e os cataclismos naturais, seus discípulos seriam
perseguidos (ver Mat. 24:9-11, 21).
Depois de
abrir o quinto selo, escuta-se o clamor para que se faça justiça divina de
todos os que morreram uma morte violenta "por causa da palavra de Deus e
por causa do testemunho que sustentavam" (Apoc. 6:9). Este clamor não sai
de crentes vivos, e sim simbolicamente de suas "almas" depois de ter
sido derramado seu sangue, assim como no caso de Abel, o primeiro mártir. Deus
pediu contas a seu assassino com estas palavras: "Que fizeste? A voz do sangue de teu irmão clama da terra
a mim" (Gên. 4:10). Isto
nos ensina que o Criador nunca esquecerá seus filhos fiéis e faz responsáveis a
seus assassinos! Considera o lugar onde suas testemunhas morreram como um
"altar" onde foi derramado o sangue de seu sacrifício (cf.
Lev. 4:7). De igual maneira, Paulo considerou que sua iminente decapitação pela
ordem do imperador Nero, era uma morte como sacrifício a Deus (2 Tim. 4:6).
A visão do
quinto selo serve como um paralelo esclarecedor de pisotear e pisar os santos
que aparece nas visões do Daniel (Dan. 7-12). A visão do Daniel 7 se estende
dos impérios mundiais sucessivos, através da divisão de Roma, até o surgimento
do chifre pequeno e a perseguição dos santos durante a Idade Média, até o tempo
do fim com a cena de seu juízo majestoso na sala do trono de Deus. Naquele
tempo, o "Ancião de dias" pronunciará seu veredicto em favor dos
santos (v. 22).
O significado
do quinto selo deve ser aberto com a chave de Daniel. Especialmente a visão de
Daniel da prevaricação assoladora e do pisar dos verdadeiros adoradores aparece
no antecedente do quinto selo. O clamor dos mártires: "Até quando... não julgas, nem vingas o
nosso sangue" (Apoc. 6:10), corresponde ao mesmo clamor em Daniel 8:
"Até quando durará a visão...entregando o santuário e o exército
para serem pisoteados?" (v. 13).
O quinto selo
revela que o momento para a vindicação deve esperar "um pouco de
tempo", porque incluso não chegou a perseguição do tempo do fim. A
resposta de Deus à pergunta das testemunhas assassinadas em Apocalipse 6 é:
"Então, a cada um deles foi dada uma vestidura branca, e lhes disseram que
repousassem ainda por pouco tempo..." (v. 11). As vestimentas brancas
dadas aos mártires expressam o cumprimento da predição de Daniel de uma
vindicação forense dos santos caluniados (ver Dan. 7:22, 25). Isto dá segurança
ao povo de Deus de que ele cuida deles, ouve seu clamor por justiça divina e os
vindicará publicamente. Esta consideração leva à conclusão de que o quinto selo
alcança até o fim da era cristã, quando Deus executará seus juízos com respeito
aos santos e seus perseguidores (Apoc. 11:15, 18). O clamor dos mártires
cristãos evoca "a ira do Cordeiro" sobre os que mataram os seguidores
de Cristo.
A Palavra de Deus e o Testemunho de Jesus
Antes de
passar ao sexto selo, devemos prestar atenção à causa declarada pela qual
morreram todos os verdadeiros mártires. O quinto selo diz que morreram
"por causa da palavra de Deus e por causa testemunho que sustentavam"
(Apoc. 6:9). À primeira vista, podemos pensar que o "testemunho" que tinham
se refere ao testemunho pessoal de sua fé em Cristo e na palavra de Deus. Isto
certamente é verdade. Mas uma comparação com as referências cruzadas que há no
Apocalipse indica que "o testemunho" pelo qual deram sua vida foi o
testemunho da própria revelação de Jesus, transmitida pelo Espírito de profecia
através dos apóstolos (ver 19:10).
João usa
usualmente o termo "testemunho" para referir-se ao testemunho
dado pelo próprio Jesus. O próprio livro do Apocalipse é chamado "o
testemunho destas coisas [de Jesus] nas igrejas" (Apoc. 22:16). João
escreve que estava na ilha de Patmos "por causa da palavra de Deus e o
testemunho de Jesus Cristo" (1:9). Isto indica que o sentido mais amplo da
frase "o testemunho de Jesus Cristo" é "o evangelho como a
revelação da vida e obra de Cristo".5 Isto
significa que os Evangelhos do Novo Testamento estão incluídos no testemunho de
Jesus.
O Apocalipse
se abre com a declaração que continua a revelação que Deus deu a Jesus para a
igreja (Apoc. 1:1). Portanto, no Apocalipse, João dá testemunho sobre "a
palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo" (v. 2). O Apocalipse como
um todo, junto com a proclamação do evangelho do Novo Testamento é parte do
testemunho de Jesus. Identifica a igreja remanescente que aparece na profecia
do capítulo 12 por esta dupla característica: "Os que guardam os
mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus Cristo" (v. 17). O
Apocalipse chama à igreja a ser fiel a esta dupla norma da verdade. Esta
expressão repetida no livro do Apocalipse serve como uma linha de demarcação
entre a adoração verdadeira e falsa de Deus durante toda a era cristã (ver
20:4). Dentro deste amplo contexto chega a ser claro que os mártires durante a
era cristã sofreram uma morte violenta por causa de ter mantido a palavra de
Deus e do testemunho do Jesus (6:9). Os mártires se aferraram [éijon]
ao testemunho que tinham recebido de Jesus e dessa forma foram testemunhas
fiéis. "Aceitaram-no, recusaram renunciar a ele, e por conseguinte foram
executados. O 'testemunho' não menos que a 'palavra' era uma posse objetiva dos
mártires".6 Para um estudo mais amplo do termo
apocalíptico "o testemunho de Jesus", ver mais adiante, no capítulo
XXI desta obra, sobre Apocalipse 12:17.
O Sexto Selo
A abertura do
sexto selo descreve a resposta final de Cristo ao clamor das almas "debaixo
do altar" (Apoc. 6:10). Anuncia sua chegada como o Guerreiro divino com os
mesmos sinais cósmicos no céu e na terra como as que fez Deus quando apareceu
como o Rei de Israel. Moisés descreveu a manifestação do Jeová no monte Sinai
dizendo:
"Houve
trovões, e relâmpagos, e uma espessa nuvem sobre o monte, e mui forte clangor
de trombeta, de maneira que todo o povo que estava no arraial se estremeceu.
... Todo o monte Sinai fumegava, porque o Senhor descera sobre ele em fogo; a
sua fumaça subiu como fumaça de uma fornalha, e todo o monte tremia
grandemente. E o clangor da trombeta ia aumentando cada vez mais" (Êxo.
19:16,18, 19).
Esta vinda de
Deus sobre o monte Sinai esteve acompanhada por um terremoto violento, o
escurecimento do sol com uma nuvem espessa e fumaça, e um som forte de
trombeta. Fez com que todo o povo tremesse com temor (Êxo. 20:18, 19). Esta
descrição de Moisés foi adotada pelos profetas de Israel como o arquétipo de
todas as teofanias seguintes. Descreveram cada visitação do Senhor em favor de
seu povo com sinais cósmicos similares às da teofania do monte Sinai.
Além do
terremoto e dos trovões, acrescentaram granizo, uma forte chuva, o secamento
repentino de um rio, um pânico aterrador entre os inimigos de Deus e seu povo,
e até o sol, a lua e as estrelas como participando da guerra santa de Deus a
favor de seu povo do pacto (ver Jos. 3:13; 4:22-24; 5:1; Qui. 5:20, 21; 1 Sam.
7:10; 14:15, 20; Jos. 10:11-14). Este aspecto cósmico proveu uma prova
dramática de que o Deus do pacto também era o Criador do céu e da terra. Fez
com que as nações pagãs reconhecessem que o Deus vivente estava do lado do
Israel (Êxo. 14:25). Raabe de Jericó disse: "Ouvindo isto, desmaiou-nos o
coração, e em ninguém mais há ânimo algum, por causa da vossa presença; porque
o Senhor, vosso Deus, é Deus em cima nos céus e embaixo na terra" (Jos.
2:11 ).
Um grande
terremoto, chuva e tormenta de granizo e o obscurecimento do sol e das estrelas
chegaram a ser parte dos anúncios da aparição de Deus nas predições do
"dia de Jeová" (Yom Yahveh) como o dia do juízo (ver Ezeq.
38:19-23; Joel 2:30, 31; Isa. 24:1-4, 13, 18-23; Jer. 4:23-28).
A Teologia Hebraica dos Sinais Cósmicos
A predição de
sinais cósmicos no céu e na terra não tinha o propósito de ser uma predição de
alguns fenômenos isolados e intermitentes. Os sinais cósmicos têm um
significado teológico na teologia hebraica porque foram descritas como
manifestações do Criador vindo como Rei e Guerreiro santo em favor de seu povo
do pacto (ver o estudo de 8 exemplos no cap. VI, sob o subtítulo: "A
teologia de Cristo dos sinais cósmicos"). Joel declara que o
obscurecimento do sol ocorrerá "antes que venha o dia grande e espantoso de Jeová" (Joel 2:31).
Entretanto, em suas outras duas predições Joel não indica nenhuma perspectiva
dos sinais celestes fora do ponto de vista padrão profético: que os sinais introduzem
e acompanham a manifestação do dia do juízo (2:10, 11; 3:15, 16).
Os profetas
nunca sugeriram que podemos esperar para ver algum sinal insólito no céu ou na
primeiro terra, antes de nos converter ao Senhor. Seu simbolismo cósmico tinha
o propósito de motivar o povo de Deus a arrepender-se agora (ver Joel 1:15;
2:1, 10-17). Os profetas nunca estiveram preocupados em ensinar uma ordem
determinada de sinais cósmicos. De fato, sentiram-se livres para mudar o modelo
dos sinais, algumas vezes deixando que o terremoto precedesse aos cataclismos
celestes e outras vezes que o seguisse (Joel 2:10 e 3:15, 16; também Isa.
13:10-13 e 24:18-23; além disso, Jer. 4:23-28).
O profeta
Ageu inclusive menciona um terremoto apocalíptico como um sinal cósmico:
"Porque assim diz Jeová dos exércitos: daqui a pouco eu farei tremer os
céus e a terra, o mar e a terra seca; e farei tremer a todas as nações..."
(Ag. 2:6, 7). Este futuro terremoto universal não se apresenta como um desastre
isolado para informar o mundo da presciência de Deus a respeito de um terremoto
vindouro. Ageu apresenta sua predição de uma maneira similar a que houve no
Monte Sinai para anunciar a visitação final de Deus sobre a terra, para julgar
o mundo e para estabelecer sua glória messiânica sobre a terra (v. 7). A carta
aos hebreus aplica a predição do Ageu ao terremoto cósmico ao fim da era
cristã:
"Agora, porém, ele promete, dizendo: Ainda uma vez por
todas, farei abalar não só a terra, mas também o céu. Ora, esta palavra: Ainda
uma vez por todas significa a remoção dessas coisas abaladas, como tinham sido
feitas, para que as coisas que não são abaladas permaneçam. Por isso, recebendo
nós um reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo
agradável, com reverência e santo temor; porque o nosso Deus é fogo
consumidor" (Heb. 12:26-29).
Esta
aplicação do terremoto profetizado por Ageu mostra que o Novo Testamento toma
sua linguagem descritiva literalmente para falar de um terremoto cósmico de
todas as "coisas criadas" que ocorrerá no fim da era cristã. Isto
corresponde exatamente com a abertura do sexto selo em Apocalipse 6:12:
"Houve um grande terremoto..." Não será alguma sinal de advertência
que proporcionará lugar para um período de arrependimento. Simplesmente
introduzirá a era vindoura de glória messiânica (ver Ag. 2:7-9). O propósito
moral tanto de Ageu como da carta aos Hebreus é claramente levar a um
compromisso para adorar a Deus agora, não quando ocorrer o terremoto
cósmico! Além disso, aprendemos a lição importante de que o terremoto
apocalíptico não se apresenta como um precursor isolado do dia do juízo, mas
sim como a mesma manifestação desse dia.
A Predição de Cristo de Grande Aflição para seus Escolhidos
O discurso
profético de Jesus está apoiado no livro apocalíptico do Daniel (ver Mat.
24:15). Indicou a seus discípulos onde estavam no esboço profético da história
da salvação. Naquele tempo Jerusalém e seu templo estavam a ponto de ser destruídos
pelo inimigo de Israel que se aproximava (Luc. 21:21-24), em cumprimento da
profecia de Daniel (Luc. 21:22; Dan. 9:26, 27). Além disso, Jesus ressaltou uma
preocupação ulterior para seus discípulos que ficariam depois da destruição de
Jerusalém. "Porque nesse tempo haverá grande tribulação [thlípsis],
como desde o princípio do mundo não tem havido até agora e nem haverá
jamais" (Mat. 24:21). Esta maneira de expressar também se deriva da
profecia de Daniel e exige um olhar mais detido:
Mateus 24:21
|
DANIEL 12:1
|
"Porque
nesse tempo haverá grande tribulação [thlípsis
megále], como desde o princípio do mundo até agora não tem havido e nem
haverá jamais".
|
"Nesse tempo, se levantará Miguel, o grande
príncipe, o defensor dos filhos do teu povo, e haverá tempo de angústia [kairós thlípsis], qual nunca houve,
desde que houve nação até àquele tempo".
|
Existe um
consenso comum de que Cristo em sua predição da "grande tribulação"
referiu-se à tribulação do tempo do fim do povo de Deus em Daniel 12:1, a que
será abreviada pelo levantamento de Miguel como o Guerreiro divino. Entretanto,
Jesus aplicou essa tribulação vindoura a seus próprios seguidores durante toda
a era cristã (ver Mat. 24:21, 22, 29). Jesus não restringiu sua aplicação da
tribulação do tempo do fim de que fala Daniel a um período determinado dentro
da época da igreja.
O contexto
imediato em Mateus 24 (e em Mar. 13) conecta a "tribulação"
diretamente com a destruição de Jerusalém (Mat. 24:21; ver Mar. 13:18, 19).
Jesus cobre todos os períodos de angústia para seus verdadeiros seguidores,
começando com a tribulação sob o judaísmo e Roma imperial (ver Mar. 13:9; Apoc.
2:10), e depois com a morte de seus discípulos "por todas as nações"
(Mat. 24:9, CI) durante os séculos da Idade Média aos quais tinha indicado
Daniel 7:25. Mas agora Jesus usou a frase "grande tribulação" (Mat.
24:21, 22) não de Daniel 7 mas sim de Daniel 12:1 (ver o gráfico anterior).
Assim como em Daniel 12:1, Jesus enfatizou também a natureza sem precedentes da
tribulação na história humana (Mat. 24:21). Anunciou que a tribulação seria "abreviada”
por causa dos escolhidos naqueles dias ou nenhum sobreviveria àquela aflição
(Mat. 24:22; Mar. 13:20). Este "abreviar" os dias corresponde
exatamente com a promessa que apresenta Daniel, que Miguel se levantaria "naquele
tempo” (o "tempo do fim", Dan. 11:40-45) para liberar a seu povo
por meio de sua intervenção sobrenatural (Dan. 12:1). A libertação de Miguel
abrevia a última aflição, ou não sobreviveria nenhum do povo de Deus.
A divina
"interrupção" da aflição global para prevenir a aniquilação completa
dos escolhidos dos quais Jesus fala no Mateus 24:22, pode aplicar-se como um
cumprimento parcial do surgimento do protestantismo e do seguinte período do
Iluminismo ou o "século das luzes", que obteve gradualmente a
liberdade religiosa e o fim da perseguição.
Em resumo, Jesus predisse dias de "aflição"
para seus seguidores não singularizando um tempo particular de perseguição sob
o judaísmo, sob Roma imperial, sob Roma papal ou sob a cristandade apóstata.
Abrange todo o período entre os dois adventos, com uma ênfase especial sobre a
aflição universal e intensiva no fim da história, a qual assinala em Mateus
24:21 com palavras derivadas de Daniel 12:1. Este alcance exaustivo dos dias de
aflição é também o alcance do quinto selo em Apocalipse 6:9-11. O clamor dos
mártires mortos não provém exclusivamente de um período de perseguição, mas sim
de todo o tempo da era cristã "até que se completasse o número de seus
conservos, que também tinham que ser mortos como eles" (Apoc. 6:11). A
aflição final para os seguidores de Cristo será abreviada pela intervenção e a
libertação divinas.
Os Sinais Cósmicos Seguem-se à Aflição Final
Jesus terminou sua predição profética com esta promessa: "Logo em seguida à tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão do firmamento, e os poderes dos céus serão abalados. Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem..." (Mat. 24:29, 30).
Nesta
metáfora cósmica, Jesus também usa as palavras dos profetas. Inclusive combina
em uma imagem o que Isaías descreveu em dois conceitos sobre o dia do Senhor
(Isa. 13:10 e 34:4). Como a perspectiva de Isaías não se enfocava nos sinais
astronômicos em si, a não ser sobre a aparição do Jeová como o Santo guerreiro,
assim a mensagem central do Jesus no Mateus 24 não se centra sobre os sinais
celestiais como tais, a não ser no "sinal" de que virá
como o designado "filho de homem" da profecia do Daniel (Mat. 24:30),
e que ele juntará não a nação escolhida, a não ser seus próprios
escolhidos de todas as tribos da terra (V. 31; Mar. 13:27; cf. Mat. 8:11, 12).
A frase,
"logo em seguida à tribulação daqueles dias" (Mat. 24:29), ou
"naqueles dias, após a referida tribulação" (Mar. 13:24), encaixa no
tempo do fim de Daniel 12:1, o qual também assinalava ao quinto selo de
Apocalipse 6:11. Essa "tribulação" seria abreviada por causa dos
escolhidos de Cristo mediante o resgate imediato de Miguel (Dan. 12:1), quem
aparece com os sinais cósmicos como o Filho do Homem em seu carro de nuvens
(Mat. 24:30; Mar. 13:27).
Toda a
idéia-chave do discurso profético de Jesus é a nova reinterpretação
cristológica do dia de Jeová, e esta foi uma notícia espantosa para o judaísmo.
O dia do Senhor chegou a ser o dia do Senhor Jesus. Esta verdade fundamental
chegou a ser uma parte essencial do evangelho apocalíptico (ver 1 Cor. 1:8; 2
Cor. 1:14; 2 Tes. 2:2; Filip. 1:10). O simbolismo cósmico padrão de Israel,
centrado na teofania de Jeová, é reconstituído por Jesus como apoiando-se em
sua própria cristofania gloriosa. O segundo advento de Cristo revelará a todas
as nações sua glória messiânica como o Filho de Deus.
Exegese Literal do Sexto Selo
Seguimos o
método reconhecido para fazer uma exegese responsável quando examinamos o uso
anterior da linguagem e o tema do sexto selo nos outros livros da Bíblia.
Nenhum texto no Apocalipse deve ser interpretado isolado de seu contexto
imediato e de seu contexto mais amplo. O procedimento contextual é nosso amparo
contra qualquer exegese especulativa ou forçada. Permite lançar um olhar novo a
nossas interpretações correntes com a possibilidade de descobrir uma
compreensão mais adequada.
Temos
descoberto uma teologia consistente dos sinais cósmicos nas profecias e
teofanías do Antigo Testamento que estão enraizadas na narração da criação de
Gênesis 1. O fato de que o Deus do pacto de Israel é ao mesmo tempo o Criador
do céu e da terra proporciona a razão fundamental teológica para os fenômenos
naturais excepcionais que ocorrem à aparição do Criador. Tais transtornos,
literais e dramáticos, nas leis da natureza sobressaltam tanto a crentes como a
incrédulos com um esmagador sentido de insegurança de enfrentar o Criador como
o Juiz de toda a terra. Virtualmente, todas as profecias de condenação inclui a
linguagem figurada cósmica como a introdução ao dia final da guerra santa a
favor do Israel de Deus.
Aprendemos do
discurso profético de Jesus (Mat. 24 e paralelos) que sua volta como o
"filho de homem" de Daniel 7 foi o "sinal" designado (Mat.
24:30) para o qual olhar. Os sinais celestiais sobrenaturais introduzirão e
acompanharão imediatamente sua vinda. Então se lamentarão todas as linhagens da
terra, quer dizer, estarão cheios de um remorso amargo por causa dele (Mat.
24:30; Apoc. 1:7). Não há nenhuma sugestão em Mateus 24, Marcos 13 e Lucas 21
de que os sinais celestiais são sinais de admoestação para arrepender-se e
preparar-se para sua vinda.
Só o
Evangelho de Lucas nos diz que quando acontecerem os cataclismos finais sobre a
terra e nos céus, "exultai e erguei a vossa cabeça; porque a vossa
redenção se aproxima" (Luc. 21:28). Esse não será o tempo para que os que
não se prepararam recebam outro apelo ao arrependimento. George R. Knight o
recapitula adequadamente: "Dessa maneira, o modelo do Mateus 24 parece ser
que os sinais reais não são sinais da proximidade e sim sinais da vinda. Os
sinais menos precisos são para animar os crentes a manter-se vigiando,
esperando e trabalhando".7
No
Apocalipse, Cristo reiteradamente coloca o evento de sua volta no centro,
inclusive como a medula de todo o livro (Apoc. 1:7; 6:12-17; 14:14-20; 17:14;
19:11-21). O sexto selo começa com um estremecimento cósmico que sacode tanto a
terra como os céus (6:12-14). Descreve o efeito universal sobre os moradores da
terra que não têm refúgio contra a "ira do Cordeiro" (vs. 15-17).
O sexto selo
nos deixa com a impressão de que haverá uma ruína universal de toda a
humanidade. Todos exclamam: "Quem poderá ficar de pé?" (Apoc.
6:17, BJ). A resposta a esta pergunta cheia de ansiedade se apresenta em forma
extensa no capítulo 7, um dos capítulos mais consoladores no livro do
Apocalipse. Ali encontramos a verdadeira motivação para o arrependimento em
preparação para sua vinda: precisamos ser selados com o selo do Deus vivo antes
que se soltem os ventos finais de juízo (7:1-3).
O Terremoto Apocalíptico
O sexto selo
se abre com: "E sobreveio grande terremoto" (Apoc. 6:12). Este
característico requer uma atenção cuidadosa olhando as referências recíprocas
em outros livros da Bíblia. No Antigo Testamento, um "terremoto" tem
um significado teológico. Constitui uma característica regular da aparição de
Deus a Israel (uma teofania), do tempo quando desceu sobre o monte Sinai com um
terremoto (Êxo. 19:18; Sal. 68:7, 8; ver também Sal. 144:5; Isa. 64:1, 3).
Enquanto o
Antigo Testamento fala freqüentemente de terremotos locais como manifestações
das visitações de Jeová como Santo Guerreiro em favor de Israel, os profetas
descrevem o último terremoto na história da salvação como um estremecimento
cósmico que sacudirá a terra e todos os corpos celestiais (ver Joel 2:10, 11;
Isa. 2:19-21; 13:10, 11, 13; Sof. 1:2, 3). Este estremecimento global do céu e
da terra como a introdução à glória messiânica de uma nova terra se apresenta
na perspectiva apocalíptica de Ageu:
"Porque assim diz o Senhor dos Exércitos: Ainda uma vez,
daqui a pouco, e farei tremer os céus, e a terra, e o mar, e a terra seca; e
farei tremer todas as nações, e virá o Desejado de todas as nações, e encherei
esta casa de glória, diz o Senhor dos Exércitos
" (Ag. 2:6, 7).
A predição de
Ageu se aplica a um tremor literal cósmico que introduz a segunda vinda de
Cristo em Hebreus 12:26 e 27. Este terremoto apocalíptico se distingue
claramente de todos os terremotos locais anteriores que Jesus tinha anunciado
como o "princípio de dores" (Mat. 24:7, 8; Mar. 13:8). Todos os
terremotos locais podem ser interpretados como chamados a despertar para
preparar-se para a vinda de Cristo; como fortes motivações para arrepender-se
antes que seja muito tarde (ver Luc. 13:4, 5).
A qual das
duas categorias pertence o "grande terremoto" do sexto selo (Apoc.
6:12), à cósmica ou a local? Não todos os terremotos que aparecem no Apocalipse
se descrevem com o tremor cósmico que sacode tanto o mundo como os corpos
celestiais. Por exemplo, o "grande terremoto" em Apocalipse 11:13
está caracterizado por sua colocação em "o segundo ai", durante a
sexta trombeta, como um sinal preliminar de advertência, com o propósito de
levar ao arrependimento. Além disso o descreve como um tremor local, porque
"a décima parte da cidade se derrubou, e pelo terremoto morreram em número
de sete mil homens; e todos outros se aterrorizaram e deram glória ao Deus do
céu" (Apoc. 11:13). Este tremor local se distingue do terremoto universal
que ocorrerá durante a sétima trombeta ou o "terceiro ai" em
Apocalipse 11:19, que ulteriormente se amplia na sétima praga (16:17-21).
O Grande Terremoto do Sexto Selo (Apoc. 6:11-14)
Menciona o
sexto selo dois terremotos diferentes, um local (Apoc. 6:12) e um cósmico (v.
14)? Nem a sétima trombeta nem a sétima praga mencionam dois terremotos. Em
Mateus 24, Jesus não se referiu a nenhum terremoto particular no tempo do fim.
Entretanto, a resposta a nossa pergunta pode encontrar-se no mesmo contexto do
sexto selo. O estilo literário de Apocalipse 6:12-14 e 15-17 assinala a seu
significado. A primeira unidade dos versículos 12-14 mostra o modelo do ABB1A1, a estrutura típica do paralelismo inverso:
A. Há um
grande terremoto.
B. O sol, a
lua e as estrelas funcionam mau.
B1. O céu se desvanece como um pergaminho que
se enrola.
A1. Todo monte e toda ilha se remove de seu
lugar.
O argumento
literário descreve uma sacudida do céu e da terra, exatamente como
haviam predito Ageu (2:6) e Hebreus (12:26, 27). "Porque assim diz Jeová
dos exércitos: daqui a pouco eu farei tremer os céus e a terra, o mar e a terra
seca". Nenhum terremoto local pode igualar a finalidade e as dimensões
universais das descrições de Ageu, de Hebreus e a do sexto selo.
Apocalipse
6:12-14 descreve em primeiro lugar os sinais cósmicos na terra e no céu (A e
B); depois continua descrevendo os efeitos destes sinais na ordem inversa: no
céu (B1) e na
terra (Ao terremoto mencionado em "A" é a origem dos efeitos
universais mencionados em "A1: o desaparecimento dos montes e das ilhas.
Uma descrição similar de causa e efeito pode ver-se na sétima praga, onde se
menciona primeiro um terremoto tremendo e universal (ver Apoc. 16:18), seguido
por seu efeito sobre Babilônia e sobre os montes e as ilhas (vs. 19, 20). A
descrição da sétima praga é um paralelo literário surpreendente com a do sexto
selo! Precisamos entender ambos da mesma maneira. Este paralelo indica que o
sexto selo não projeta dois terremotos diferentes, com centenas de anos entre
eles (em Apoc. 6:12-14).
Para entender
a composição literária que João apresenta dos cataclismos no céu durante o
sexto selo, é instrutivo observar sua adoção da descrição que faz Isaías do
juízo mundial devastador de Deus:
"Todo o exército dos céus se dissolverá, e os céus se
enrolarão como um pergaminho; todo o seu exército cairá, como cai a folha da
vide e a folha da figueira" (Isa. 34:4).
"Porque as estrelas dos céus e os astros não deixarão
brilhar a sua luz; o sol se escurecerá ao nascer, e a lua não fará resplandecer
a sua luz... Pelo que farei estremecer
os céus; e a terra se moverá do seu lugar, por causa do furor do Senhor dos
Exércitos e por causa do dia da sua ardente ira" (Isa. 13:10, 13).
Nesta
linguagem figurada tão vívida que formula os aspectos espantosos do dia do
Senhor, não temos à vista uma ordem de acontecimentos e tampouco há indicação
bíblica de que o sexto selo tenha o propósito de ensinar uma ordem específica
de eventos (ver no cap. VI a seção "A teologia de Cristo dos sinais
cósmicos").
Na unidade
seguinte (Apoc. 6:15-17), João descreve o impacto universal do estremecimento
cósmico sobre o mundo político, militar, econômico e social. Em vão tratam de
procurar refúgio ante o Juiz da terra. Dessa maneira o sexto selo descreve a
ordem progressiva de causa e efeito. Se compararmos as descrições do terremoto
apocalíptico do Apocalipse, observamos uma ampliação gradual do mesmo na sétima
trombeta e na sétima praga:
APOC. 6:12-14
|
APOC. 8:5
|
APOC. 11:19
|
APOC. 16:18,20,21
|
"E sobreveio grande
terremoto. O sol se tornou negro como saco de crina, a lua toda, como sangue,
as estrelas do céu caíram pela terra, como a figueira, quando abalada por
vento forte, deixa cair os seus figos verdes, e o céu recolheu-se como um
pergaminho quando se enrola. Então, todos os montes e ilhas foram movidos do
seu lugar".
|
"E houve trovões, vozes,
relâmpagos e terremoto".
|
"e sobrevieram relâmpagos,
vozes, trovões, terremoto e grande saraivada."
|
"E sobrevieram relâmpagos,
vozes e trovões, e ocorreu grande terremoto, como nunca houve igual desde que
há gente sobre a terra; tal foi o terremoto, forte e grande ... Todas as
ilhas fugiram, e os montes não foram achados;
também desabou do céu sobre os
homens grande saraivada".
|
Este
desenvolvimento progressivo do terremoto cósmico não é, obviamente, a predição
de dois ou mais terremotos. A composição literária do Apocalipse ensina um
terremoto final e cósmico, que se amplia na descrição de cada série seguinte,
em harmonia com a crescente severidade dos juízos das trombetas e as pragas à
medida que se aproxima o fim.
É
significativo que João se apropria em forma consistente das antigas profecias
do dia do Senhor para sua descrição do sexto selo. Isto é especialmente verdade
de sua adoção dos sinais cósmicos de Isaías (13:10, 13; 24:18, 19, 23; 34:4, 8)
e do Joel (2:10, 11, 30, 31; 3:14-16). João não encontrou nos profetas uma
lista uniforme de sinais cósmicos! Inclusive troca o arranjo de sua fonte
principal, Isaías 34:4, em sua própria descrição em Apocalipse 6:12-14. A
preocupação dominante de João não é criar uma ordem cronológica determinada de
sinais cósmicos, a não ser colocá-as ao redor de Cristo como o novo centro e
meta dos cataclismos finais no universo, em harmonia com o próprio entendimento
de Jesus em Mateus 24:29-31. Este empréstimo penetrante do Antigo Testamento
destaca a unidade teológica de ambos os Testamentos e seu panorama apocalíptico
comum. Ambos os Testamentos revelam um Criador-Redentor e um dia de juízo (ver
Heb. 1:1, 2; Apoc. 6:17). .
Em conclusão,
o sexto selo não pode ser entendido corretamente por si mesmo, divorciado dos
cinco selos anteriores. O sexto selo é a consumação dos selos anteriores. O
clamor dos mártires por vindicação foi respondido só em um sentido preliminar
com a vindicação celestial ("as vestimentas brancas") sob o quinto
selo. Têm que "esperar um pouco de tempo", até que se complete a
tribulação do tempo do fim para o povo de Deus (Apoc. 6:11). O sexto selo não
se abre com outro período de espera para os santos mortos e vivos, a não ser
com a chegada do dia de ajuste de contas, o dia de justiça e vindicação.
O Sétimo Selo
O sétimo
selo não acrescenta nenhum evento adicional, só "silêncio no céu como por
meia hora" (Apoc. 8:1). Este silêncio sugere que a justiça de Deus foi plenamente
apoiada sobre as expectativas de Israel (Isa. 62:1; 65:6, 7; Sal. 50:3-6). É
interessante notar que o 4° livro de Esdras, escrito na última parte do século
I de nossa era, relata uma crença judaica que menciona que o fim da história
trará um "silêncio" correspondendo ao silêncio antes da criação do
mundo:
"E o mundo voltará para silêncio primitivo por sete dias,
como foi no primeiro princípio; de maneira que ninguém ficará".8
O sétimo selo
parece declarar um "silencio no céu" como o fim da "grande
voz" dos mártires por justiça divina. Dessa forma, o ciclo profético dos
selos ressegura à igreja que Cristo é o Senhor da história e um fiel guardador
do pacto. As bênçãos do pacto prometidas à igreja em Apocalipse 2 e 3 serão
outorgadas aos que perseveram na fé ou no testemunho de Jesus até o fim! Este
tema de cumprimento chega a ser o enfoque principal de consolo na visão de João
de Apocalipse 7.
Referências:
Bibliografia, ver na página seguinte do mesmo livro.
1. Beasley-Murray, Revelation,
p. 129.
2. Ellen White, PP
78.
3. Ellen White, Carta 65, 1898; citado em Simpósio sobre o
Apocalipse, t. 1, pp. 371, 372.
4. Naden, The Lamb
Among the Beasts. Finding Jesus in the Book of Revelation, p. 110.
5. Pfandl, Simpósio sobre o Apocalipse, t. 2, P. 310.
6. Ibid., p. 313.
7. Knight, Matthew. Bible Amplifier, p. 237.
8. Charlesworth, The
Old Testament Pseudepigrapha, t. 1, p. 537 (4 Esdras 7:30).
Livros
Beasley-Murray, George R. Revelation [O Apocalipse]. New Century
Bible Commentary [Comentário da Bíblia do Novo Século]. Grand Rapids, MI: Wm.
B. Eerdmans, 1983.
Charlesworth, J. H., ed., The Old Testament Pseudepigrapha [Os
Livros Pseudoepigráficos do Antigo Testamento]. Garden City, New
York: Doubleday, 1983-1985. 2 ts..
Ellul, Jacques.
Apocalypse. The Book of Revelation [Apocalipse: O livro da Revelação].
Nova York: Seabury Press, ET 1977.
Knight, George R.
Matthew [Mateus]. Bible
Amplifier [A Bíblia
Amplificada]. Boise, Idaho: Pacific Press. Pub. Assn., 1994.
Naden. Roy C. The
Lamb Among the Beasts. Finding Jesus in the Book of Revelation.
Tenney, Merril C. Interpreting
Revelation [Interpretando o Apocalipse]. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans,
1973. Cap. 6: "The Process
of World Judgment" [O processo de juízo do mundo].
Artigos
Bauckham, Richard J. "The Eschatological Earthquake in the
Apocalypse of John" [O terremoto Escatológico no Apocalipse de João], Novum
Testamentun [Novo
Testamento] XIX (1977), pp. 224233.
Pfandl, Gerhard. "The Remnant Church and the Spirit of Prophecy"
[A Igreja Remanescente e o Espírito de Profecia], Simpósio sobre o
Apocalipse. t. 2, cap. 10.
Paulien, Jon. "Seals and Trumpets: Some Current Discussions"
[Os Selos e as Trombetas: Algumas Discussões Atuais], Simpósio sobre o
Apocalipse.
______ "The
Seven Seals" [Os Sete Selos], Ibid. T. 1, cap. 11.
Schlier, H.
"Thlipsis" [Thlípsis], Theological Dictionary of the New Testament
[Dicionário Teológico do Novo Testamento], Gerhard Kittel, ed. Grand
Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1966. T. 3, pp. 139-148.
Strand, Kenneth A.
"The Two Witnesses of Rev. 11:3-12" [As Duas Testemunhas de
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(1981), pp. 127-135.
Thomas, R. L.
"The Spiritual Gift of Prophecy in Revelation 22:18" [O Dom
Espiritual de Profecia em Apocalipse 22:18], JETS 32:2 (1989), pp.
201-216.
Extraído de Profecias do Tempo do Fim: H. K. Larondelle
Pr. Cirilo Gonçalves da Silva
Mestre em Teologia e Evangelista
Twitter: @prcirilo
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