domingo, 10 de março de 2013

ESCATOLOGIA - SIGNIFICADO

 
SIGNIFICADO DE ESCATOLOGIA SEGUNDO A TESE:
"ESCATOLOGIA E MILENARISMO NA
HISTÓRIA DA IGREJA CRISTÃ" PP 51 A 54 (Edson Pereira Lopes)


A palavra “escatologia” se fundamenta em textos das Escrituras, por exemplo:


• Isaías (2:2): “Nos últimos dias o momento do templo do SENHOR será estabelecido como o principal; será elevado acima das colinas, e todas as nações correrão para ele”.
• Miqueias (4:1): “Nos últimos dias o momento do templo do SENHOR será estabelecido como o principal [...]”.

• Primeira carta de Pedro (1:20): “[...] conhecido antes da criação do mundo, revelado nestes últimos tempos em favor de vocês”.
• Primeira carta de João (2:18): “Filhos, esta é a última hora e, assim como vocês ouviram que o anticristo está vindo, já agora muitos anticristos têm surgido”.
Destacamos que o termo utilizado para traduzir “últimos dias”, “últimos tempos” e ‘última hora” provém do gregoéschaton éschata, cuja tradução corresponde a “último” (BROWER, 2009, p. 726). Em junção com “logos” (CARRIKER, 2008, p. 359-362), traduzida por “palavra”, convencionalmente referimo-nos à“escatologia” como a “doutrina das últimas coisas” (BRUCE, 1990, p. 34). Berkhof (1990) entende que a escatologia nos mostra que a história do mundo e da raça humana chegará à sua consumação


Villac, Manzatto e Passos (2009, p. 25 ) pontuam uma interessante diferença entre os termos

éschaton e éschata: este se preocupaem perguntar pelas coisas últimas, enquanto aquele tem como finalidade a busca de um sentido último para todas as coisas. Percebemos que,
se a
escatologia estiver fundamentada na éschata, sua ênfase recairá nas discussões teóricas a respeito das últimas coisas que hão de ocorrer no mundo. Talvez por essa razão é que muitas vezes encontramos pouca preocupação na Igreja atual com o estudo da escatologia. Esse ensino parecer demonstrar apenas especulações sobre os fins dos tempos, a morte, a ressurreição, entre outros assuntos, sem
nenhuma ligação com a vida prática do cristão. Todavia, quando rememoramos que o ensino da escatologia provém ou deveria prover de
éschaton, percebemos a relevância dessadoutrina para a vida prática dos fiéis, justamente porque a escatologia,entendida a partir de
éschaton, não está preocupada, a priori, em fazer perguntas acerca das coisas últimas ou com coisas relativas somente ao futuro, mas sim em buscar um sentido último para todas as coisas.
Trata-se de uma preocupação que envolve a vida prática, isto é, agimos pensando no futuro, com a consciência de que devemos lutar por um mundo melhor, no qual o reino de Deus seja implantado,
daí lermos na oração do Pai Nosso: “venha o teu Reino”, que, segundo Lloyd-Jones (1989), já está presente nos corações que se submetem a Cristo. Entretanto, chegará o dia em que o reinado de
Jesus terá sido estabelecido sobre a face da terra. Trata-se da convicção escatológica que ora pelo sucesso do Evangelho em sua amplitude e poder e de uma oração que indica que estamos

esperando e apressando a vinda do dia de Deus [...]. Isso significa que deveríamos viver na antecipação do dia em que
todo o pecado, a maldade, o erro e tudo quanto faz oposição a Deus finalmente será desarraigado. Significa que deveríamos sentir no coração anelo pelos dias quando nosso Senhor tiver
de retornar ao mundo, quando então todos quantos se opõem a Ele serão lançados no lago do fogo, quando os reinos deste
mundo tornar-se-ão o reino de nosso Deus e do Seu Cristo (LLOYD-JONES, 1989, p. 349).
 
Na prática, isso implica que o sentido dado ao futuro está relacionado ao sentido que damos ao presente. Em outras palavras,

os fins últimos direcionam, em última instância, os fins imediatos do dia a dia, assim como todos os meios que planejamos para que sejam realizados. Portanto, os valores que assumimos como absolutos condicionam nossas ações presentes, e os “grandes planos que desejamosrealizar e as últimas esperanças escatológicas situam-se num planotranscendente que alimenta sem cessar a nossa rotina, as nossas criações e as nossas crises” (VILLAC; MANZATTO; PASSO, 2009, p. 43). Com base nessa perspectiva, Moltmann (2005, p. 30) critica a Igreja, visto que, em sua concepção, toda a pregação e mensagem cristãs têm uma orientação escatológica, a qual é também essencial à existência cristã e à totalidade da Igreja, pois ela não pretende “iluminar a realidade que aí está, mas a realidade que virá. Não deseja produzir no espírito uma imagem da realidade atual, mas levar a realidade atual a transformar-se naquilo que está prometido e é esperado”. No mesmo contexto, vale ressaltar as palavras de Motlmann (2005, p. 30), ao tratar da escatologia como esperança: Essa esperança torna a igreja cristã perpetuamente inquieta em meio às sociedades humanas, que querem se estabilizar como “cidade permanente”. Ela faz da comunidade cristã uma fonte de impulsos sempre novos para a realização do direito, da liberdade e da humanidade aqui mesmo, à luz do futuro predito e que virá [...] sempre que isto acontece, o cristianismo se encontra em sua verdade e é testemunha do futuro de Cristo.

Está claro, portanto, que a escatologia não deve apenas propiciar discussões teóricas acerca do futuro, mas também impulsionar a Igreja de Cristo a ser uma fonte cristã que não se preocupe somente com o futuro ou em conhecer a realidade do mundo, mas que seja capaz de transformar a sociedade naquilo que ela deve ser para a glória de Deus. Isso posto, é bom lembrarmos aqui que é comum dividirmos
o conteúdo a ser debatido nos estudos escatológicos da seguinte maneira:

Escatologia individual: cujo foco são os seres humanos. Os temas correlatos são: morte física, imortalidade da alma, estado intermediário e ressurreição do corpo (HOEKEMA, 1989, p. 8). Também denominada “escatologia da pessoa” por Blank (2000).
 
Escatologia geral: engloba acontecimentos sobre o mundo, a história e a humanidade, que irromperiam no fim dos tempos. Entre esses acontecimentos, estão a segunda vinda de Cristo em glória, o juízo final e o estado final de todas as coisas (MOLTMANN, 2005, p. 29).

 
Edson Pereira Lopes

Doutor em Ciências da Religião. Diretor da Escola Superior de Teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM). Docente do Programa de Pós-Graduação de Ciências da Religião na mesma universidade.



Pr. Cirilo Gonçalves da Silva
Doutorando em Teologia
TWITTER: @prcirilo

Nenhum comentário: