PERFEIÇÃO HUMANA NO ANTIGO
TESTAMENTO
A. O Concerto da Graça
Restauradora
Uma
das questões que sempre tem assombrado a raça humana desde que ela conheceu a
história de Adão e Eva no Paraíso é: Como poderia o homem reconquistar o
Paraíso? Como poderia o homem atingir a perfeição sem pecado?
Muitas
diferentes filosofias e sistemas religiosos conflitantes têm sido projetados
para atender ao anseio inerente do homem por buscar uma vida mais elevada,
perfeita. Nosso propósito específico é investigar a resposta inspirada
oferecida no antigo Israel e registrada no Antigo Testamento.
Moisés
e todos os profetas começaram da pressuposição religiosa de que o homem foi
criado por seu Criador à imagem de Deus, à Sua semelhança (Gên. 1:26), e então
foi colocado no belo Jardim do Éden com o privilégio de ter comunhão com Deus e
governar o mundo como representante de Deus (Gên. 2; Sal. 8).
O
homem não foi criado para viver para si mesmo ou para o mundo, tentando achar
significado ou perfeição em si mesmo ou na humanidade. Perfeição original do
homem era a perfeita relação com seu Criador-Pai que lhe deu Seu mandato e
missão para o mundo. Esta dimensão religiosa do homem como criatura recebeu um
símbolo concreto no descanso de Deus no sétimo dia da Semana da Criação (Gên.
2:2-3). A celebração da obra da Criação de Deus no sétimo dia deu significado e
direção à vida e pensamento do homem. A adoração de Deus como Criador deu-lhe
verdadeira dignidade e liberdade ao homem. O homem estava livre da escravidão
da auto-deificação e de imaginários deuses na natureza.
Conhecendo
seu Criador, o homem podia conhecer-se a si mesmo. O homem não pode conter o
significado da vida em si mesmo. Isto não pode ser achado na natureza ou no
mundo ao seu redor.
O
dia de Sábado foi designado especificamente para apontar ao homem a Deus como a
fonte de sua nobreza e destino: ser um filho de Deus, seu Pai. Não foi no
Sábado, mas no sexto dia que o homem foi criado – um fato impressionante e
significativo. Embora ele pudesse ser chamado a obra prima da Criação, a
perfeição do homem foi dada no sétimo dia, o dia de adoração e louvor. Entrando
no repouso de Deus do sétimo dia como filho e participante festivo de Deus,
regozijando-se na perfeita obra do Pai, o homem receberia a alegria da
santidade e perfeição de seu Benfeitor.
Sem
a adoração do Criador, o homem é escravo para adorar um outro deus, um ídolo de
sua própria fabricação. A miséria do homem moderno secularizado é que ele nem
mesmo compreende sua auto-deificação e auto-adoração.
Israel
foi escolhido como o único povo que conhecia a soberania do Criador como seu
Deus Redentor, que lhes deu um único modo de adoração e missão no mundo.
O
centro da adoração de Israel era o santuário e seu sagrado culto expiatório. É
desse centro cúltico que nós temos que entender o livro dos Salmos que fala de
apenas dois grupos ou classes de pessoas: o justo e o ímpio. Quem são estes
justos ou perfeitos, quando contrastados com os ímpios ou malfeitores nos hinos
do templo de Israel? São essas classes moralmente definidas de tal modo que os
salmistas poderiam qualificar um certo tipo de pessoas como moralmente
perfeitas e as outras como moralmente ímpias?
O
aspecto moral ocupa um largo papel na descrição de ambas as partes. Contudo, os
poetas dos Salmos penetram através de todas qualificações morais, apontando a
fonte de toda a vida moral. A relação com o Deus vivente determina a qualidade
do coração e vida de alguém. Esta relação espiritual com Deus vem do Deus de
Israel, e é estabelecida por Ele no serviço do santuário. Não os desejos pios,
os sentimentos, as orações; somente o ato de aceitação de Yahweh através do
sacerdote levítico pode declarar um adorador arrependido como
"justo", livre de culpa. "O sacerdote, por essa pessoa, fará
expiação do seu pecado que cometeu, e lhe será perdoado." (Lev. 4:35).
Isto
não implica que o sacerdote perdoasse em sua própria autoridade, de acordo com
o seu próprio gosto. O sacerdote era o representante apontado do Deus de
Israel. Deus mesmo permanecia o soberano Senhor que realmente perdoava os
pecados confessados, pela causa de Seu próprio nome. A tendência de Israel em
confiar nos sacerdotes levíticos e nos seus sacrifícios de animais para o
perdão era contestada por Deus com enfáticas censuras: "Eu, eu mesmo, sou
o que apago as tuas transgressões por amor de mim e dos teus pecados não me
lembro." (Isa. 43:25).
A
Lei de Moisés ensinava explicitamente que não era Israel quem dava o sangue
expiatório sobre seus altares a Deus, mas pelo contrário, dizia: "Eu vo-lo
tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pela vossa alma, porquanto é o
sangue que fará expiação em virtude da vida." (Lev. 17:11).
Esta
era a revelada e única doutrina do serviço do santuário de Israel, separando-o
de todas os cultos religiosos gentílicos que eram baseados no princípio da
salvação pelas obras. Israel era fundamental-mente diferente de todas as outras
nações em sua origem e missão, sua adoração e teologia. A causa disto não devia
ser procurado em qualquer superioridade ou virtude da raça em si mesma, mas
exclusivamente em Deus que escolheu a este povo, em fidelidade às Suas próprias
promessas feitas aos patriarcas.
Eles
foram chamados para ser santos, por causa que Yahweh era santo (Lev. 11:45). O
Senhor os tinha escolhido para serem o seu povo peculiar, "um povo para a
Sua própria possessão" (Deut. 7:6). Constantemente, Israel estava em
perigo de mal entender o propósito gracioso de sua eleição por pensar:
"Por causa da minha justiça é que o SENHOR me trouxe a esta terra para a possuir"
(Deut. 9:4). Contudo, a despeito de sua teimosia, rebelião e apostasia do
Senhor durante 40 anos no deserto, Ele renovou o Seu concerto e imutável amor
para com Israel, apelando com renovada força: "Agora, pois, ó Israel, que
é que o SENHOR requer de ti? Não é que temas o SENHOR, teu Deus, e andes em
todos os seus caminhos, e o ames, e sirvas ao SENHOR, teu Deus, de todo o teu
coração e de toda a tua alma, para guardares os mandamentos do SENHOR e os seus
estatutos que hoje te ordeno, para o teu bem?" (Deut. 10:12-13).
Tendo
sido provado uma perfeita redenção pela graça unicamente, Israel estava agora
sob a santa obrigação de render perfeita gratidão e obediência a seu Redentor
em resposta. Então, a obediência moral de Israel seria motivada por gratidão
pela libertação, perdão e glorioso futuro recebidos. A ética de Israel era
portanto, condicionada e enraizada em sua redenção pela graça de Deus. O
concerto que Deus fez com Israel no monte Sinai, exatamente como o Seu concerto
com Abraão, era um concerto de graça, de perdoadora graça através do serviço do
santuário, dirigido pela esperança de paz na Terra Prometida.
Enfaticamente,
Moisés tentou ensinar a Israel esta estrutura de graça redentora como a
exclusiva motivação para a verdadeira e aceitável obediência. Na fronteira da
Terra Prometida, ele reiterou esta ordem indicada de redenção-moralidade.
"Falou
mais Moisés, juntamente com os sacerdotes levitas, a todo o Israel, dizendo:
Guarda silêncio e ouve, ó Israel! Hoje, vieste a ser povo do SENHOR, teu Deus.
Portanto, obedecerás à voz do SENHOR, teu Deus, e lhe cumprirás os mandamentos
e os estatutos que hoje te ordeno." (Deut. 27:9-10).
Esta
ordem divina era especificamente enfatizada nos próprios Dez Mandamentos, os
quais começam com a lembrança: "Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei da
terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de
mim." (Êxo. 20:2-3). A grande Lei moral de Israel constitui assim a santa
vontade de um Redentor para um povo redimido a fim de guardar e santificar Seu
povo dentro da recebida redenção. Amor grato de um povo salvo, então, seria a
única e verdadeira condição aceitável para o cumprimento desta Lei de Deus.
Ademais, o segundo mandamento também lembra desta motivação do amor: "Faço
misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os Meus
mandamentos." (Êxo. 20:6).
Não
admira que perfeito amor a Deus é exaltado constantemente como a específica
raiz da adoração e da vida moral de Israel. "Ouve, Israel, o SENHOR, nosso
Deus, é o único SENHOR. Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu
coração, de toda a tua alma e de toda a tua força." (Deut. 6:4-5).
O
requerimento de tal amor totalitário e exclusivo a Deus se torna compreensível
somente quando nós consideramos a situação histórica e o contexto em que esta
reivindicação de Deus sobre Israel foi feita. Este apelo por um perfeito amor
de Israel foi feito após Israel ter experimentado o perfeito amor e graça de
Deus em Sua grande salvação do Êxodo. Esta era a resposta, a grata entrega de
um povo salvo a seu amante Salvador, que o Senhor esperava e justamente
ordenava para o Seu povo.
O
rei Davi foi considerado como o grande exemplo para os governantes teocráticos
de Israel, porque "Davi... guardou os Meus mandamentos e andou após Mim de
todo o seu coração, para fazer somente o que parecia reto aos Meus olhos"
(1Reis 14:8; ver também 1Reis 9:4).
Como
perfeito amor renderia perfeita obediência aos Mandamentos de Deus por Sua
graça aparece novamente na bênção do rei Salomão: "Seja perfeito o vosso
coração para com o SENHOR, nosso Deus, para andardes nos seus estatutos e
guardardes os seus mandamentos, como hoje o fazeis." (1Reis 8:61).
Incansavelmente,
Deus estava procurando por aqueles que respondiam ao Seu atrativo amor e
inclinavam os seus corações e vida completamente, perfeitamente a Ele.
"Porque, quanto ao SENHOR, seus olhos passam por toda a terra, para
mostrar-se forte para com aqueles cujo coração é totalmente dele." (2Crô.
16:9).
B. A Consciência de Pecado
nos Salmos de Israel
Os
150 salmos foram todos usados como hinos cúlticos cantados pelos coros com
acompanhamentos instrumentais no templo de Jerusalém. Muitos deles foram
compostos por Davi em sua juventude quando ele ainda era um pastor nos montes
da Judéia. Cantando seus hinos como orações, ele usava uma harpa como seu
instrumento musical.
Mais
tarde, um grande número de canções de Davi foram incorporados no culto do
Templo oficial como o verdadeiro e legítimo meio de adoração e comunhão com
Deus (Nee. 12:24). No cânon da Escritura estas e outras canções foram
finalmente aceitas como efetivas e inspiradas orações, exemplares para todos os
que adoravam em espírito e em verdade na cidade de Jerusalém.
Uma
característica emoção dos salmos bíblicos que fica acima de toda a beleza
literária e ascético prazer é o senso de contrição e uma consciência despertada
de pecado. Isto relembra a consciência profética dos pecados de Judá e Israel
quando contrastados com a revelação da santidade divina e pureza moral. Pecado
e santidade são corolários contrastantes. Um profundo senso de um relaciona-se
necessariamente com um grande conceito da outra. Contudo, ambas idéias não são
tanto conceitos intelectuais ou puramente éticos, como são revelações divinas
ao coração e à consciência do adorador que recebe um lampejo da realidade do
Deus de Israel.
Compositores
como Davi, Asafe o levita, e outros tinham uma experiência pessoal e viva com
Deus, a quem adoravam como o Criador do mundo e Redentor de Israel. Salmo 78 e
105-107 revelam um claro conhecimento do Torah de Moisés, lembrando sua
mensagem com dramático apelo e fervor religioso.
Os
salmos despertavam Israel para a sua única herança, erguendo-o de sua natural
apatia e letargia, e estimulam o adorador à renovada experiência do coração
para o temor do Senhor. Eles fazem isso exibindo a verdadeira natureza do
pecado e culpa de um lado, e de justiça e perfeição de outro lado.
Como
podem os poetas do templo religioso cantar sobre a perfeição ou justiça do
homem, quando eles têm tão profunda consciência da pecaminosidade humana? Um
olhar em dois salmos nos ajudará a responder a esta questão.
Salmo 19
"Quem
há que possa discernir as próprias faltas? Absolve-me das que me são ocultas.
Também da soberba guarda o teu servo, que ela não me domine; então, serei
irrepreensível e ficarei livre de grande transgressão." (Salmo 19:12-13).
Tendo confessado a glória do Criador como brilha de Suas obras da Criação, o
salmista continua a reconhecer a maior glória de Yahweh, brilhando de Seu Torah
em luz salvadora para o povo do Seu concerto. O Torah era experimentado pelo
verdadeiro israelita como uma fonte de alegria redentora, "mais desejáveis
do que ouro, ... mais doces do que o mel" (v. 10). Isso estimulava o
crente à resposta moral de andar com seu santo Deus, escolhendo seu caminho
abençoado, e afastar-se da estrada da desobediência.
"Além
disso, por eles se admoesta o teu servo; em os guardar, há grande
recompensa." (v. 11). Considerando as reivindicações da Infinita Pureza,
Davi compreendeu que nem a Natureza nem o Torah como tal poderiam salvar sua
alma no julgamento. Conhecendo os olhos perscrutadores do Senhor que pesa os
motivos internos do coração de cada homem (1Crô. 28:9), Davi sentiu a
pecaminosidade de seu ser que excedia todo o senso das transgressões
cerimoniais ou atos pecaminosos. Ele entendeu o pecado primariamente como uma
atitude rebelde e um ato contra Yahweh (Sal. 41:4; 51:4). O verdadeiro
discernimento do mal e da compreensão do pecado não era o resultado de
reflexões éticas, mas o dom da revelação do santo Deus do concerto.
Considerando o seu coração diante de Deus, Davi moveu-se a uma confissão
sincera de sua própria impotência moral, orando pela graça perdoadora: "Quem
há que possa discernir as próprias faltas? Absolve-me das que me são
ocultas." (Sal. 19:12).
Este
longo alcance de consciência de pecado era o característico específico
religioso da adoração de Israel. O adorador compreendia diante do seu santo
Deus que ele era pecaminoso na essência do seu ser e não podia mesmo determinar
um adequado auto-conhecimento. Em contraste com toda a filosofia religiosa
grega, que sempre começava com a ordem "Conhece-te a ti mesmo!", a
maneira israelita de auto-conheci-mento começava com o conhecimento de Yahweh,
o Doador da vida. "Pois em ti está o manancial da vida; na tua luz, vemos
a luz." (Sal. 36:9). "Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração,
prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau e
guia-me pelo caminho eterno." (Sal.139:23-24). "Examina-me, Senhor, e
prova-me; sonda-me o coração e os pensamentos." (Sal. 26:2).
O
salmista sabia que Yahweh estava pesando os mais profundos motivos e desejos do
seu coração em uma balança celestial e que Ele agiria de acordo com ela.
"Se eu no coração contemplara a vaidade, o Senhor não me teria
ouvido." (Sal. 68:18). Ele sabia que a observância meticulosa de todos os
cultos cerimoniais, a guarda dos sábados e festas, o cantar de orações rituais
seriam uma demonstração objetável de piedade se a fonte do coração não estava
purificada pelo Espírito de Yahweh. "Lava-me completamente da minha
iniqüidade e purifica-me do meu pecado... Cria em mim, ó Deus, um coração puro
e renova dentro de mim um espírito inabalável... Restitui-me a alegria da tua
salvação e sustenta-me com um espírito voluntário... Sacrifícios agradáveis a
Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o
desprezarás, ó Deus." (Sal. 51: 2,10,12,17).
Perdão
divino pressupõe uma verdadeira, sincera contrição, sentindo o peso do pecado e
uma disposição para obedecer a Deus com alegria. O profeta considera isto como
um assunto de vida ou morte: "Vinde, pois, e arrazoemos, diz o SENHOR;
ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos
como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã.
Se quiserdes e me ouvirdes, comereis o melhor desta terra. Mas, se recusardes e
fordes rebeldes, sereis devorados à espada; porque a boca do SENHOR o
disse." (Isa. 1:18-20; ver também Deut. 28:47).
A
oração de Davi de súplica em Sal. 19:12 considera o peso do pecado à luz dos
olhos de Deus; portanto, ele avalia a graça divina muito altamente. Tendo
pedido pela graça perdoadora de Deus, Davi continua orando pela graça
mantenedora, pelo poder que restringe os impulsos pecaminosos: "Também da
soberba guarda o teu servo, que ela não me domine; então, serei irrepreensível
e ficarei livre de grande transgressão." (Sal. 19:13).
O
que são pecados da "soberba"? Eles são distinguidos de faltas
escondidas ou inconscientes no verso 12. Estes dois tipos de pecado – de
soberba ou inconsciência – são identificados claramente na Lei levítica,
particularmente em Núm. 15. O santuário abria o caminho para o perdão
sacerdotal dos pecados de ignorância, que são pecados cometidos
involuntariamente, sem o pleno conhecimento de seu significado diante de Deus,
e após sério arrependimento dele. Arrependimento era o critério decisivo,
implicando confissão e o abandono do pecado, como afirmado no livro de
Provérbios: "O que encobre as suas transgressões jamais prosperará; mas o
que as confessa e deixa alcançará misericórdia." (Pro. 28:13). Pecados de
presunção, conseqüentemente são todos classificados diferentemente: "Mas a
pessoa que fizer alguma coisa atrevidamente, quer seja dos naturais quer dos
estrangeiros, injuria ao SENHOR; tal pessoa será eliminada do meio do seu povo,
pois desprezou a palavra do SENHOR e violou o seu mandamento; será eliminada
essa pessoa, e a sua iniqüidade será sobre ela." (Num. 15:30-31).
Pecado
cometido "com a mão levantada" (versão Corrigida) significa não uma
queda acidental no pecado, mas uma entrega ao pecado em uma atitude de desafiar
a autoridade de Deus. Então, o pecador deliberadamente peca após ter recebido o
"pleno conhecimento da verdade" (Heb. 10:26). Consciente e
voluntariamente ele despreza a palavra revelada de Deus. Característica desse
tipo de pecado é a ausência de qualquer verdadeiro arrependimento,
posteriormente quando o pecado é acariciado e justificado.
Números
15: 32-36 apresenta um exemplo deste tipo de atitude pecaminosa. Um homem
desafiou o prévio mandamento de Deus para guardar o Sábado do Senhor como um
dia de solene repouso. "Portanto, guardareis o sábado, porque é santo para
vós outros; aquele que o profanar morrerá; pois qualquer que nele fizer alguma
obra será eliminado do meio do seu povo. Seis dias se trabalhará, porém o sétimo
dia é o sábado do repouso solene, santo ao SENHOR; qualquer que no dia do
sábado fizer alguma obra morrerá." (Êxo. 31:14-15). Mostrando o seu
desprezo pela Lei de Deus, um homem se aventurou em aberta rejeição da vontade
revelada de Deus, ajuntando lenha no Sábado. Por veredito divino este homem
rebelde devia morrer. Ellen G. White explana isto: "O ato deste homem foi
uma violação voluntária e deliberada do quarto mandamento - pecado este não
cometido por inadvertência ou ignorância, mas por presunção." (Patriarcas
e Profetas, 409).
O
Torah, portanto, define presunção como um desafio à autoridade de Deus, um
desprezo da obediência às ordenanças divinas (Deut. 17:12). Não há provisão de
expiação ou perdão para tal pecado, desde que então o pecado seria desculpado
ou basicamente eternizado (ver 1Sam. 3:14; Isa. 22:14; Jer. 7:16).
Isto
não implica em que seres mortais podem determinar quando um pecado de presunção
está sendo cometido. Quem pode discernir os motivos do coração de um homem?
Jeremias nos lembra: "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e
desesperadamente corrupto; quem o conhecerá? Eu, o SENHOR, esquadrinho o
coração, eu provo os pensamentos; e isto para dar a cada um segundo o seu
proceder, segundo o fruto das suas ações." (Jer. 17:9-10). Sentindo sua
grande necessidade do poder salvador e santificador, ele portanto, ora:
"Cura-me, SENHOR, e serei curado, salva-me, e serei salvo; porque tu és o
meu louvor." (Jer. 17:14).
Por
esta dupla graça Davi orou no Salmo 19: 12-13. Não somente perdão ele
procurava, mas uma vida santificada sob a graça prevalecente de Deus. Ele pediu
por ambas estas coisas: pelo apagar de sua culpa e a subjugação dos poderes do
mal que lutam pelo domínio. Então ele cria, ele seria um servo justo de Yahweh,
sua "Rocha e Redentor". "Então, serei irrepreensível e ficarei
livre de grande transgressão." (Sal. 19:13).
Assim,
o Salmo 19 declara que perfeição humana não é o cultivo de alguma inerente
bondade na natureza do homem, mas o persistente andar em dependência do perdão e
graça mantenedora de Yahweh. Perdão divino restaurou Israel na abençoada e
perfeita comunhão com Yahweh. Embora culpa e pecado possam ser distinguidos, o
Antigo Testamento nunca separa culpa do ato ou vida de pecado.
Conseqüentemente, perdão também possui uma relação sobre a vida moral. O poder
dominante do pecado é quebrado, quando Deus mesmo governa supremo. Esta
perfeição é tanto um dom quanto um requerimento do concerto de Deus com Israel.
Um
homem pode inadvertidamente cair em um pecado, uma transgressão da Lei do
concerto, mas isto não o separa de Deus ou de Seu povo. O serviço do santuário
provia reconciliação para o arrependido adorador pelos meios do sangue da
expiação sobre o altar (Lev. 4). Não havia perfeição sem expiação cúltica no
concerto de Deus com Israel.
Qualquer
perfeição moral que uma voluntária obediência a Deus pudesse desenvolver, nunca
podia ser relacionada com um sentimento de santidade ou justiça própria. A
experiência de um contrito coração e um espírito humilde apenas aumentariam em
intensidade se o santo Yahweh habitasse mais e mais no suplicante adorador.
"Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o
nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e
abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e vivificar o
coração dos contritos." (Isa. 57:15).
Salmo 15
No
Salmo 15, nós encontramos de novo perfeição (tamîm). Desta vez é o
pré-requisito moral para entrar no templo e desfrutar da proteção e bênção de
Yahweh. "Quem, SENHOR, habitará no teu tabernáculo? Quem há de morar no
teu santo monte? O que vive com integridade, e pratica a justiça, e, de
coração, fala a verdade" (Sal. 15:1, 2).
Soa
estranho ouvir que perfeição é o pré-requisito para adoração de Yahweh e recebimento
de Sua graciosa comunhão. Não é a perfeição o próprio dom a ser procurado e
recebido no santuário? Como então pode a perfeição ser uma condição para a
participação da adoração de Israel?
Para
achar o próprio escopo do Salmo 15, precisamos buscar a mais ampla perspectiva
de todo o Torah. Moralidade não era a base da eleição de Deus a Israel (Deut.
7-9). A grande salvação histórica do Êxodo e o concerto subsequente com Israel
no Sinai foram dons reais de Yahweh, dados por Sua graça somente, em fidelidade
às promessas de Deus aos patriarcas. O próprio nome do Deus de Israel, Yahweh,
denota-O como o gracioso e fiel Deus do concerto.
O
Salmo 15, começa com uma questão suplicante: "Quem, SENHOR, habitará no
teu tabernáculo?"; portanto, pressupõe imediatamente o concerto da graça
expiatória. Tanto a Lei como o Santuário eram dons do concerto de Deus,
provendo uma contínua expiação para Israel, a presença permanente do santo amor
de Deus. O ministério sacerdotal da graça perdoadora não intentava perdoar a
culpa no abstrato. Pelo contrário, ele intentava tirar os pecados, tanto no
aspecto da culpa, como em seu real domínio na conduta do homem (ver acima sobre
o Sal. 19).
De
acordo com isto, era prerrogativa e dever de Israel andar com Deus e com seus
semelhantes em uma nova obediência à vontade de Deus. Os poderes divinos da
graça redentora, como manifestados na libertação de Israel do Egito, a casa da
escravidão, estavam disponíveis a partir daí no serviço sacerdotal do
santuário. O propósito da festa anual da Páscoa era para renovar e continuar a
redenção graciosa e comunhão do concerto com Yahweh, para dar a Israel uma
renovada e vívida participação na salvação histórica do Êxodo. A mesma graça
era oferecida por Deus diariamente no santuário. Contudo, era a santa graça que
purificava da injustiça e impiedade, transformando o coração do adorador.
"Continua
a tua benignidade aos que te conhecem, e a tua justiça, aos retos de coração.
Não me calque o pé da insolência, nem me repila a mão dos ímpios." (Sal.
36:10-11). "Porém eu, pela riqueza da tua misericórdia, entrarei na tua
casa e me prostrarei diante do teu santo templo, no teu temor." (Sal.
5:7).
A
ardente santidade e honra de Deus como Rei não poderiam suportar um povo
profano e impuro que fosse escravizado pelo pecado ou tivesse o coração
dividido. Israel deveria ser uma nação santa, uma luz para os gentios,
gloriando-se não em sua sabedoria, riquezas ou poder, mas em seu conhecimento
do verdadeiro Deus vivente (Jer. 9:23-24). Era seu santo privilégio andar em
voluntária e alegre obediência a Deus, que incluía arrependimento, confissão e
restauração.
Este
novo coração necessariamente seria manifestado em fazer o que é direito de
acordo ao concerto, falando a verdade do coração. Assim, o concerto da graça transformadora
provia o poder motivador para uma nova conduta sócio-ética. A participação nas
festas anuais é condicionada, diz o Salmo 15, pela aceitação e apropriação da
salvação e graça previamente recebidas.
A
recusa para arrepender-se, por rejeitar a obediência voluntária ao concerto de
Deus, caracteriza o pecado como pecado de presunção. Por outro lado, o
requerimento do Salmo 15 não é um senso de isenção de pecado ou um sentimento
de justiça própria. Como poderia tal emoção mesmo existir em uma profunda
convicção de indignidade diante de Deus?
O
que o Salmo 15 requer é uma vida social e ética purificada e fiel, como
apresentada nos versos 3-5: "O que não difama com sua língua, não faz mal
ao próximo, nem lança injúria contra o seu vizinho; o que, a seus olhos, tem
por desprezível ao réprobo, mas honra aos que temem ao SENHOR; o que jura com
dano próprio e não se retrata; o que não empresta o seu dinheiro com usura, nem
aceita suborno contra o inocente. Quem deste modo procede não será jamais
abalado."
Este
modo de vida do concerto pela graça de Deus é um perfeito andar, por causa que
o coração é purificado e as mãos são limpas (v. 2). Esta mensagem também é
comunicada em outro salmo de Davi: "Quem subirá ao monte do SENHOR? Quem
há de permanecer no seu santo lugar? O que é limpo de mãos e puro de coração,
que não entrega a sua alma à falsidade, nem jura dolosamente. Este obterá do
SENHOR a bênção e a justiça do Deus da sua salvação. Tal é a geração dos que o
buscam, dos que buscam a face do Deus de Jacó." (Salmo 24:3-6).
Mais
forte do que o Salmo 15 aparenta aqui é o inter-relacionamento indissolúvel da
experiência redentiva e da vida moral. Aqueles que buscam a Deus em oração, que
diariamente O fazem Seu Senhor e Salvador, receberão bênção e vindicação
divinas. Toda a vida moral é enraizada e ancorada na graciosa redenção de Deus
como recebida no serviço do templo de Israel.
C. Os Inspiradores
Oráculos dos Profetas
Onde
quer que os sacerdotes levíticos começaram a confiar nas cerimônias dos santos
rituais propriamente ditos, não vendo a mensagem divina nelas, e perdendo o
incentivo e motivação para a verdadeira obediência moral ao concerto, então o
serviço do santuário de Israel se tornava distorcido e objetável a Deus, e Ele
reagia enviando Seus profetas com mensagens especiais para os sacerdotes e seu
ritualismo objetável. Os livros proféticos do Antigo Testamento repetidamente
testificam da pecaminosa negligência de Israel de andar humildemente com Deus e
perfeitamente com os seus companheiros de concerto.
No
século oitavo AC, o profeta Miquéias, um contemporâneo de Isaías, dirigiu-se à
Jerusalém com algumas questões específicas em nome de Yahweh: "Povo meu,
que te tenho feito? E com que te enfadei? Responde-me! Pois te fiz sair da
terra do Egito e da casa da servidão te remi; e enviei adiante de ti Moisés,
Arão e Miriã. Povo meu, lembra-te, agora, do que maquinou Balaque, rei de
Moabe, e do que lhe respondeu Balaão, filho de Beor, e do que aconteceu desde
Sitim até Gilgal, para que conheças os atos de justiça do SENHOR." (Miq.
6:3-5).
Miquéias
desafiou o cerimonialismo morto e o materialismo pecaminoso de Jerusalém,
anunciando o julgamento de destruição total da cidade santa e seu Templo
(3:9-12). Contudo, esta mensagem de julgamento implicava no apelo divino para o
arrependimento e retorno Deus de todo coração e alma. O profeta relembrou à
escolhida nação de sua grande redenção do Êxodo. Relembrou os atos justos e
salvadores de Yahweh! Isto poderia desmascarar todos os atos rituais como um
esforço para expiar seus pecados como uma tentativa fútil. Até mesmo o
sacrifício de um primogênito não poderia tirar o pecado! "Com que me
apresentarei ao SENHOR e me inclinarei ante o Deus excelso? Virei perante ele
com holocaustos, com bezerros de um ano? Agradar-se-á o SENHOR de milhares de
carneiros, de dez mil ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha
transgressão, o fruto do meu corpo, pelo pecado da minha alma? Ele te declarou,
ó homem, o que é bom e que é o que o SENHOR pede de ti: que pratiques a
justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus."
(Miq. 6:6-8).
Com
este apelo desafiador os profetas proclamaram suas mensagens de julgamento a
uma nação complacente, se era Amós e Oséias no reino do norte, ou Isaías,
Miquéias, Jeremias, Ezequiel, no reino do sul. Em dramáticas e emocionantes
exibições eles revelaram à nação escolhida a rejeição divina de um culto
religiosos formal que tolerava e desculpava o pecado. Onde o serviço sacrifical
falhava em purificar à nação de injustiça social, auto-glorificação e justiça
pelas obras, os profetas por ordem de Deus eram chamados para sustentar o
padrão da perfeição e santidade sacerdotais.
Isaías,
com seu poder e brilho poético, reitera os pré-requisitos morais originalmente
sustentados pelos sacerdotes: "Os pecadores em Sião se assombram, o tremor
se apodera dos ímpios; e eles perguntam: Quem dentre nós habitará com o fogo
devorador? Quem dentre nós habitará com chamas eternas? O que anda em justiça e
fala o que é reto; o que despreza o ganho de opressão; o que, com um gesto de
mãos, recusa aceitar suborno; o que tapa os ouvidos, para não ouvir falar de
homicídios, e fecha os olhos, para não ver o mal, este habitará nas alturas; as
fortalezas das rochas serão o seu alto refúgio, o seu pão lhe será dado, as
suas águas serão certas. Os teus olhos verão o rei na sua formosura, verão a
terra que se estende até longe." (Isa. 33:14-17).
O
Yahweh de Israel é um Deus santo, assim como também Ele é um Deus
misericordioso e gracioso. Ele não pode e não tolerará pecado na nação
escolhida por Sua graça. A ira de Deus foi derramada sobre uma Judá não
arrependida através do exílio babilônico, que veio em três estágios
intensificados (605, 597, 586 AC).
Após
o segundo estágio (597 AC), 10.000 "todos os príncipes, homens
valentes" foram levados cativos (2Reis 24:14), entre os quais estava o
sacerdote Ezequiel. Os exilados judeus começaram a usar um provérbio que
acusava seus pais de pecados pelo que eles tinham de levar a penalidade:
"Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que se
embotaram?" (Eze. 18:2). Contra esta tendência de pensamento entre os
cativos de Babilônia, que prevenia qualquer aceitação de culpa pessoal e
portanto de verdadeiro arrependimento, Ezequiel teve que falar: "A alma
que pecar, essa morrerá" (18:4).
Por
outro lado, se uma alma andasse com Deus de acordo com o santo concerto, ele
poderia seguramente viver. O concerto de Deus o consideraria perfeito ou
"justo". Ezequiel assim coloca diante do povo do concerto no exílio
os antigos requerimentos do Torah de Moisés, como ordenados originalmente pelo
ministério sacerdotal (Sal.15; 24): "Sendo, pois, o homem justo e fazendo
juízo e justiça, não comendo carne sacrificada nos altos, nem levantando os
olhos para os ídolos da casa de Israel, nem contaminando a mulher do seu
próximo, nem se chegando à mulher na sua menstruação; não oprimindo a ninguém,
tornando ao devedor a coisa penhorada, não roubando, dando o seu pão ao faminto
e cobrindo ao nu com vestes; não dando o seu dinheiro à usura, não recebendo juros,
desviando a sua mão da injustiça e fazendo verdadeiro juízo entre homem e
homem; andando nos meus estatutos, guardando os meus juízos e procedendo
retamente, o tal justo, certamente, viverá, diz o SENHOR Deus." (Eze.
18:5-9).
Após
uma detalhada aplicação desta ética do concerto a um pai e seu filho a fim de
inculcar uma responsabilidade a Deus, a instrução terminava num clímax com um
emocionante apelo a Israel para arrepender-se, à luz do quadro purificado do
santo e redentivo amor de
Deus.
"Portanto, eu vos julgarei, a cada um segundo os seus caminhos, ó casa de
Israel, diz o SENHOR Deus. Convertei-vos e desviai-vos de todas as vossas
transgressões; e a iniqüidade não vos servirá de tropeço. Lançai de vós todas
as vossas transgressões com que transgredistes e criai em vós coração novo e
espírito novo; pois, por que morreríeis, ó casa de Israel? Porque não tenho
prazer na morte de ninguém, diz o SENHOR Deus. Portanto, convertei-vos e vivei.
(Eze. 18:30-32).
Após
os 70 anos de exílio em Babilônia, um novo começo foi feito quando Deus entrou
em um novo concerto com o remanescente fiel após à crise. Os profetas como Ageu
e Zacarias reavivaram as almas dos cativos que retornaram, comunicando
mensagens de esperança, coragem e um glorioso futuro: "A glória desta
última casa será maior do que a da primeira, diz o SENHOR dos Exércitos; e,
neste lugar, darei a paz, diz o SENHOR dos Exércitos." (Ageu 2:9).
"Assim diz o SENHOR: Voltarei para Sião e habitarei no meio de Jerusalém;
Jerusalém chamar-se-á a cidade fiel, e o monte do SENHOR dos Exércitos, monte
santo." (Zac. 8:3) "E há de acontecer, ó casa de Judá, ó casa de
Israel, que, assim como fostes maldição entre as nações, assim vos salvarei, e
sereis bênção; não temais, e sejam fortes as vossas mãos." (Zac. 8:13).
Mas
o novo concerto requeria uma nova obediência: "A palavra do SENHOR veio a
Zacarias, dizendo: Assim falara o SENHOR dos Exércitos: Executai juízo
verdadeiro, mostrai bondade e misericórdia, cada um a seu irmão; não oprimais a
viúva, nem o órfão, nem o estrangeiro, nem o pobre, nem intente cada um, em seu
coração, o mal contra o seu próximo." (Zac. 7:8-10).
Deus
ainda era o mesmo santo e gracioso Deus, odiando o pecado, enquanto amava o
pecador. O novo serviço do santuário no templo reconstruído novamente oferecia
graça perdoadora, requerendo uma vida perfeita em verdadeira obediência do
coração, exatamente como antes do exílio (Jer. 31:31-33; Eze. 36:26-27).
Em
uma significativa visão, Zacarias viu o sumo-sacerdote Josué em pé diante do
"Anjo de Yahweh" e sendo acusado por Satanás. Josué representava os
cativos de Israel que haviam retornado, "um tição tirado do fogo"
(Zac. 3:2). Josué estava "trajado com vestes sujas", a iniqüidade
confessada de Israel. Sob a ordem de Deus, as vestes sujas são removidas e
trocadas por limpos e perfeitos trajes. Esta ação retrata vividamente a graça
perdoadora de Deus. O pecado é removido, uma nova justiça ou perfeição é
imputada e entregue a um novo Israel.
Contudo,
perdão pressupõe culpa e condenação reais. Não obstante, o perdão significa não
meramente a remoção negativa da culpa, mas positivamente – e tão justo como
real – a imputação e comunicação da justiça ou perfeição. O aspecto da
santificação, a nova obediência, é enfatizado como um pré-requisito específico
para a final e eterna bênção.
"O
Anjo do SENHOR estava ali, protestou a Josué e disse: Assim diz o SENHOR dos
Exércitos: Se andares nos meus caminhos e observares os meus preceitos, também
tu julgarás a minha casa e guardarás os meus átrios, e te darei livre acesso
entre estes que aqui se encontram." (Zac. 3:5-7).
Zacarias
tinha tornado inequivocamente claro que a graça divina obriga a uma perfeita
obediência, a obediência da fé que brota de um coração recriado e voluntário.
Ellen G. White fez uma aplicação particular da visão de Zacarias à tentada e
provada igreja remanescente. Dela, Cristo declara: "Eles podem ter
imperfeições de caráter; podem ter falhado em seus esforços; mas se
arrependeram, e Eu os perdoei e aceitei." (Profetas e Reis, 589).
Quão
lamentável é ler no último livro do Antigo Testamento que Israel após o exílio
falhou novamente em manifestar a comunhão transformadora do concerto com Deus e
a obediência da fé. Como causa principal de sua vida ética-social degenerada,
Malaquias apontou a um ministério sacerdotal falido. A adoração no Templo de
novo deteriorou-se a um ritualismo morto, sem o temor do Senhor – que é a
tremente reverência em humilde obediência. Deus dirigiu-Se a Israel com algumas
questões pertinentes ao sacerdócio em Jerusalém: "O filho honra o pai, e o
servo, ao seu senhor. Se eu sou Pai, onde está a minha honra? E, se eu sou
Senhor, onde está o respeito para comigo? — diz o SENHOR dos Exércitos a vós
outros, ó sacerdotes que desprezais o meu nome. Vós dizeis: Em que desprezamos
nós o teu nome? Ofereceis sobre o meu altar pão imundo e ainda perguntais: Em
que te havemos profanado? Nisto, que pensais: A mesa do SENHOR é
desprezível." (Mal. 1:6-7).
Falta
do temor de Deus foi manifestado inevitavelmente em deslealdade social, em
profanação do santuário, e em infidelidade da aliança matrimonial. (Mal.
2:14,16). A quebrada comunhão do concerto com Yahweh, contudo, seria restaurada
uma vez mais através da específica graça de Deus. Deus mesmo tomaria a
iniciativa de trazer Seu povo de volta a um novo e perfeito relacionamento de
concerto com Ele. Por causa que os sacerdotes levíticos tinham se
"desviado do caminho... e, por [sua] instrução" tinham "feito
tropeçar a muitos", e violaram "a aliança de Levi" (Mal. 2:8),
Deus enviaria um mensageiro especial ao Seu Templo. Ele refinaria e purificaria
Israel até que eles trouxessem "ofertas justas ao Senhor".
"Então, a oferta de Judá e de Jerusalém será agradável ao SENHOR, como nos
dias antigos e como nos primeiros anos." (Mal. 3:1-4).
Este
mensageiro especial viria como o profeta Elias, a fim de conduzir a nação
escolhida a uma última decisão a favor ou contra Deus, preparando Israel para
"o grande e terrível dia do Senhor", o Dia de Julgamento de Deus
(Mal. 4:5-6): "Chegar-me-ei a vós outros para juízo; serei testemunha
veloz contra os feiticeiros, e contra os adúlteros, e contra os que juram
falsamente, e contra os que defraudam o salário do jornaleiro, e oprimem a
viúva e o órfão, e torcem o direito do estrangeiro, e não me temem, diz o
SENHOR dos Exércitos." "Então, vereis outra vez a diferença entre o
justo e o perverso, entre o que serve a Deus e o que não o serve." (Mal.
3:5,18).
Assim
terminou o Antigo Testamento, ou antes permaneceu aberto ao futuro, com a
promessa de um novo reavivamento e reforma. Finalmente, a linha de demarcação
entre o justo e o ímpio, entre os perfeitos e os impenitentes malfeitores, se
tornaria clara em sua reação à mensagem de advertência final de Deus.
Autor:
Hans K. LaRondelle
Pr. Cirilo Gonçalves
Doutorando em Teologia
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