quarta-feira, 8 de abril de 2015

PERFEIÇÃO HUMANA NO ANTIGO TESTAMENTO


PERFEIÇÃO HUMANA NO ANTIGO TESTAMENTO

A. O Concerto da Graça Restauradora

Uma das questões que sempre tem assombrado a raça humana desde que ela conheceu a história de Adão e Eva no Paraíso é: Como poderia o homem reconquistar o Paraíso? Como poderia o homem atingir a perfeição sem pecado?

Muitas diferentes filosofias e sistemas religiosos conflitantes têm sido projetados para atender ao anseio inerente do homem por buscar uma vida mais elevada, perfeita. Nosso propósito específico é investigar a resposta inspirada oferecida no antigo Israel e registrada no Antigo Testamento.

Moisés e todos os profetas começaram da pressuposição religiosa de que o homem foi criado por seu Criador à imagem de Deus, à Sua semelhança (Gên. 1:26), e então foi colocado no belo Jardim do Éden com o privilégio de ter comunhão com Deus e governar o mundo como representante de Deus (Gên. 2; Sal. 8).

O homem não foi criado para viver para si mesmo ou para o mundo, tentando achar significado ou perfeição em si mesmo ou na humanidade. Perfeição original do homem era a perfeita relação com seu Criador-Pai que lhe deu Seu mandato e missão para o mundo. Esta dimensão religiosa do homem como criatura recebeu um símbolo concreto no descanso de Deus no sétimo dia da Semana da Criação (Gên. 2:2-3). A celebração da obra da Criação de Deus no sétimo dia deu significado e direção à vida e pensamento do homem. A adoração de Deus como Criador deu-lhe verdadeira dignidade e liberdade ao homem. O homem estava livre da escravidão da auto-deificação e de imaginários deuses na natureza.

Conhecendo seu Criador, o homem podia conhecer-se a si mesmo. O homem não pode conter o significado da vida em si mesmo. Isto não pode ser achado na natureza ou no mundo ao seu redor.

O dia de Sábado foi designado especificamente para apontar ao homem a Deus como a fonte de sua nobreza e destino: ser um filho de Deus, seu Pai. Não foi no Sábado, mas no sexto dia que o homem foi criado – um fato impressionante e significativo. Embora ele pudesse ser chamado a obra prima da Criação, a perfeição do homem foi dada no sétimo dia, o dia de adoração e louvor. Entrando no repouso de Deus do sétimo dia como filho e participante festivo de Deus, regozijando-se na perfeita obra do Pai, o homem receberia a alegria da santidade e perfeição de seu Benfeitor.

Sem a adoração do Criador, o homem é escravo para adorar um outro deus, um ídolo de sua própria fabricação. A miséria do homem moderno secularizado é que ele nem mesmo compreende sua auto-deificação e auto-adoração.

Israel foi escolhido como o único povo que conhecia a soberania do Criador como seu Deus Redentor, que lhes deu um único modo de adoração e missão no mundo.

O centro da adoração de Israel era o santuário e seu sagrado culto expiatório. É desse centro cúltico que nós temos que entender o livro dos Salmos que fala de apenas dois grupos ou classes de pessoas: o justo e o ímpio. Quem são estes justos ou perfeitos, quando contrastados com os ímpios ou malfeitores nos hinos do templo de Israel? São essas classes moralmente definidas de tal modo que os salmistas poderiam qualificar um certo tipo de pessoas como moralmente perfeitas e as outras como moralmente ímpias?

O aspecto moral ocupa um largo papel na descrição de ambas as partes. Contudo, os poetas dos Salmos penetram através de todas qualificações morais, apontando a fonte de toda a vida moral. A relação com o Deus vivente determina a qualidade do coração e vida de alguém. Esta relação espiritual com Deus vem do Deus de Israel, e é estabelecida por Ele no serviço do santuário. Não os desejos pios, os sentimentos, as orações; somente o ato de aceitação de Yahweh através do sacerdote levítico pode declarar um adorador arrependido como "justo", livre de culpa. "O sacerdote, por essa pessoa, fará expiação do seu pecado que cometeu, e lhe será perdoado." (Lev. 4:35).

Isto não implica que o sacerdote perdoasse em sua própria autoridade, de acordo com o seu próprio gosto. O sacerdote era o representante apontado do Deus de Israel. Deus mesmo permanecia o soberano Senhor que realmente perdoava os pecados confessados, pela causa de Seu próprio nome. A tendência de Israel em confiar nos sacerdotes levíticos e nos seus sacrifícios de animais para o perdão era contestada por Deus com enfáticas censuras: "Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim e dos teus pecados não me lembro." (Isa. 43:25).

A Lei de Moisés ensinava explicitamente que não era Israel quem dava o sangue expiatório sobre seus altares a Deus, mas pelo contrário, dizia: "Eu vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pela vossa alma, porquanto é o sangue que fará expiação em virtude da vida." (Lev. 17:11).

Esta era a revelada e única doutrina do serviço do santuário de Israel, separando-o de todas os cultos religiosos gentílicos que eram baseados no princípio da salvação pelas obras. Israel era fundamental-mente diferente de todas as outras nações em sua origem e missão, sua adoração e teologia. A causa disto não devia ser procurado em qualquer superioridade ou virtude da raça em si mesma, mas exclusivamente em Deus que escolheu a este povo, em fidelidade às Suas próprias promessas feitas aos patriarcas.

Eles foram chamados para ser santos, por causa que Yahweh era santo (Lev. 11:45). O Senhor os tinha escolhido para serem o seu povo peculiar, "um povo para a Sua própria possessão" (Deut. 7:6). Constantemente, Israel estava em perigo de mal entender o propósito gracioso de sua eleição por pensar: "Por causa da minha justiça é que o SENHOR me trouxe a esta terra para a possuir" (Deut. 9:4). Contudo, a despeito de sua teimosia, rebelião e apostasia do Senhor durante 40 anos no deserto, Ele renovou o Seu concerto e imutável amor para com Israel, apelando com renovada força: "Agora, pois, ó Israel, que é que o SENHOR requer de ti? Não é que temas o SENHOR, teu Deus, e andes em todos os seus caminhos, e o ames, e sirvas ao SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração e de toda a tua alma, para guardares os mandamentos do SENHOR e os seus estatutos que hoje te ordeno, para o teu bem?" (Deut. 10:12-13).

Tendo sido provado uma perfeita redenção pela graça unicamente, Israel estava agora sob a santa obrigação de render perfeita gratidão e obediência a seu Redentor em resposta. Então, a obediência moral de Israel seria motivada por gratidão pela libertação, perdão e glorioso futuro recebidos. A ética de Israel era portanto, condicionada e enraizada em sua redenção pela graça de Deus. O concerto que Deus fez com Israel no monte Sinai, exatamente como o Seu concerto com Abraão, era um concerto de graça, de perdoadora graça através do serviço do santuário, dirigido pela esperança de paz na Terra Prometida.

Enfaticamente, Moisés tentou ensinar a Israel esta estrutura de graça redentora como a exclusiva motivação para a verdadeira e aceitável obediência. Na fronteira da Terra Prometida, ele reiterou esta ordem indicada de redenção-moralidade.

"Falou mais Moisés, juntamente com os sacerdotes levitas, a todo o Israel, dizendo: Guarda silêncio e ouve, ó Israel! Hoje, vieste a ser povo do SENHOR, teu Deus. Portanto, obedecerás à voz do SENHOR, teu Deus, e lhe cumprirás os mandamentos e os estatutos que hoje te ordeno." (Deut. 27:9-10).

Esta ordem divina era especificamente enfatizada nos próprios Dez Mandamentos, os quais começam com a lembrança: "Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de mim." (Êxo. 20:2-3). A grande Lei moral de Israel constitui assim a santa vontade de um Redentor para um povo redimido a fim de guardar e santificar Seu povo dentro da recebida redenção. Amor grato de um povo salvo, então, seria a única e verdadeira condição aceitável para o cumprimento desta Lei de Deus. Ademais, o segundo mandamento também lembra desta motivação do amor: "Faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os Meus mandamentos." (Êxo. 20:6).

Não admira que perfeito amor a Deus é exaltado constantemente como a específica raiz da adoração e da vida moral de Israel. "Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR. Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força." (Deut. 6:4-5).

O requerimento de tal amor totalitário e exclusivo a Deus se torna compreensível somente quando nós consideramos a situação histórica e o contexto em que esta reivindicação de Deus sobre Israel foi feita. Este apelo por um perfeito amor de Israel foi feito após Israel ter experimentado o perfeito amor e graça de Deus em Sua grande salvação do Êxodo. Esta era a resposta, a grata entrega de um povo salvo a seu amante Salvador, que o Senhor esperava e justamente ordenava para o Seu povo.

O rei Davi foi considerado como o grande exemplo para os governantes teocráticos de Israel, porque "Davi... guardou os Meus mandamentos e andou após Mim de todo o seu coração, para fazer somente o que parecia reto aos Meus olhos" (1Reis 14:8; ver também 1Reis 9:4).

Como perfeito amor renderia perfeita obediência aos Mandamentos de Deus por Sua graça aparece novamente na bênção do rei Salomão: "Seja perfeito o vosso coração para com o SENHOR, nosso Deus, para andardes nos seus estatutos e guardardes os seus mandamentos, como hoje o fazeis." (1Reis 8:61).

Incansavelmente, Deus estava procurando por aqueles que respondiam ao Seu atrativo amor e inclinavam os seus corações e vida completamente, perfeitamente a Ele. "Porque, quanto ao SENHOR, seus olhos passam por toda a terra, para mostrar-se forte para com aqueles cujo coração é totalmente dele." (2Crô. 16:9).

B. A Consciência de Pecado nos Salmos de Israel

Os 150 salmos foram todos usados como hinos cúlticos cantados pelos coros com acompanhamentos instrumentais no templo de Jerusalém. Muitos deles foram compostos por Davi em sua juventude quando ele ainda era um pastor nos montes da Judéia. Cantando seus hinos como orações, ele usava uma harpa como seu instrumento musical.

Mais tarde, um grande número de canções de Davi foram incorporados no culto do Templo oficial como o verdadeiro e legítimo meio de adoração e comunhão com Deus (Nee. 12:24). No cânon da Escritura estas e outras canções foram finalmente aceitas como efetivas e inspiradas orações, exemplares para todos os que adoravam em espírito e em verdade na cidade de Jerusalém.

Uma característica emoção dos salmos bíblicos que fica acima de toda a beleza literária e ascético prazer é o senso de contrição e uma consciência despertada de pecado. Isto relembra a consciência profética dos pecados de Judá e Israel quando contrastados com a revelação da santidade divina e pureza moral. Pecado e santidade são corolários contrastantes. Um profundo senso de um relaciona-se necessariamente com um grande conceito da outra. Contudo, ambas idéias não são tanto conceitos intelectuais ou puramente éticos, como são revelações divinas ao coração e à consciência do adorador que recebe um lampejo da realidade do Deus de Israel.

Compositores como Davi, Asafe o levita, e outros tinham uma experiência pessoal e viva com Deus, a quem adoravam como o Criador do mundo e Redentor de Israel. Salmo 78 e 105-107 revelam um claro conhecimento do Torah de Moisés, lembrando sua mensagem com dramático apelo e fervor religioso.

Os salmos despertavam Israel para a sua única herança, erguendo-o de sua natural apatia e letargia, e estimulam o adorador à renovada experiência do coração para o temor do Senhor. Eles fazem isso exibindo a verdadeira natureza do pecado e culpa de um lado, e de justiça e perfeição de outro lado.

Como podem os poetas do templo religioso cantar sobre a perfeição ou justiça do homem, quando eles têm tão profunda consciência da pecaminosidade humana? Um olhar em dois salmos nos ajudará a responder a esta questão.

Salmo 19

"Quem há que possa discernir as próprias faltas? Absolve-me das que me são ocultas. Também da soberba guarda o teu servo, que ela não me domine; então, serei irrepreensível e ficarei livre de grande transgressão." (Salmo 19:12-13). Tendo confessado a glória do Criador como brilha de Suas obras da Criação, o salmista continua a reconhecer a maior glória de Yahweh, brilhando de Seu Torah em luz salvadora para o povo do Seu concerto. O Torah era experimentado pelo verdadeiro israelita como uma fonte de alegria redentora, "mais desejáveis do que ouro, ... mais doces do que o mel" (v. 10). Isso estimulava o crente à resposta moral de andar com seu santo Deus, escolhendo seu caminho abençoado, e afastar-se da estrada da desobediência.

"Além disso, por eles se admoesta o teu servo; em os guardar, há grande recompensa." (v. 11). Considerando as reivindicações da Infinita Pureza, Davi compreendeu que nem a Natureza nem o Torah como tal poderiam salvar sua alma no julgamento. Conhecendo os olhos perscrutadores do Senhor que pesa os motivos internos do coração de cada homem (1Crô. 28:9), Davi sentiu a pecaminosidade de seu ser que excedia todo o senso das transgressões cerimoniais ou atos pecaminosos. Ele entendeu o pecado primariamente como uma atitude rebelde e um ato contra Yahweh (Sal. 41:4; 51:4). O verdadeiro discernimento do mal e da compreensão do pecado não era o resultado de reflexões éticas, mas o dom da revelação do santo Deus do concerto. Considerando o seu coração diante de Deus, Davi moveu-se a uma confissão sincera de sua própria impotência moral, orando pela graça perdoadora: "Quem há que possa discernir as próprias faltas? Absolve-me das que me são ocultas." (Sal. 19:12).

Este longo alcance de consciência de pecado era o característico específico religioso da adoração de Israel. O adorador compreendia diante do seu santo Deus que ele era pecaminoso na essência do seu ser e não podia mesmo determinar um adequado auto-conhecimento. Em contraste com toda a filosofia religiosa grega, que sempre começava com a ordem "Conhece-te a ti mesmo!", a maneira israelita de auto-conheci-mento começava com o conhecimento de Yahweh, o Doador da vida. "Pois em ti está o manancial da vida; na tua luz, vemos a luz." (Sal. 36:9). "Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno." (Sal.139:23-24). "Examina-me, Senhor, e prova-me; sonda-me o coração e os pensamentos." (Sal. 26:2).

O salmista sabia que Yahweh estava pesando os mais profundos motivos e desejos do seu coração em uma balança celestial e que Ele agiria de acordo com ela. "Se eu no coração contemplara a vaidade, o Senhor não me teria ouvido." (Sal. 68:18). Ele sabia que a observância meticulosa de todos os cultos cerimoniais, a guarda dos sábados e festas, o cantar de orações rituais seriam uma demonstração objetável de piedade se a fonte do coração não estava purificada pelo Espírito de Yahweh. "Lava-me completamente da minha iniqüidade e purifica-me do meu pecado... Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável... Restitui-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito voluntário... Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus." (Sal. 51: 2,10,12,17).

Perdão divino pressupõe uma verdadeira, sincera contrição, sentindo o peso do pecado e uma disposição para obedecer a Deus com alegria. O profeta considera isto como um assunto de vida ou morte: "Vinde, pois, e arrazoemos, diz o SENHOR; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã. Se quiserdes e me ouvirdes, comereis o melhor desta terra. Mas, se recusardes e fordes rebeldes, sereis devorados à espada; porque a boca do SENHOR o disse." (Isa. 1:18-20; ver também Deut. 28:47).

A oração de Davi de súplica em Sal. 19:12 considera o peso do pecado à luz dos olhos de Deus; portanto, ele avalia a graça divina muito altamente. Tendo pedido pela graça perdoadora de Deus, Davi continua orando pela graça mantenedora, pelo poder que restringe os impulsos pecaminosos: "Também da soberba guarda o teu servo, que ela não me domine; então, serei irrepreensível e ficarei livre de grande transgressão." (Sal. 19:13).

O que são pecados da "soberba"? Eles são distinguidos de faltas escondidas ou inconscientes no verso 12. Estes dois tipos de pecado – de soberba ou inconsciência – são identificados claramente na Lei levítica, particularmente em Núm. 15. O santuário abria o caminho para o perdão sacerdotal dos pecados de ignorância, que são pecados cometidos involuntariamente, sem o pleno conhecimento de seu significado diante de Deus, e após sério arrependimento dele. Arrependimento era o critério decisivo, implicando confissão e o abandono do pecado, como afirmado no livro de Provérbios: "O que encobre as suas transgressões jamais prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia." (Pro. 28:13). Pecados de presunção, conseqüentemente são todos classificados diferentemente: "Mas a pessoa que fizer alguma coisa atrevidamente, quer seja dos naturais quer dos estrangeiros, injuria ao SENHOR; tal pessoa será eliminada do meio do seu povo, pois desprezou a palavra do SENHOR e violou o seu mandamento; será eliminada essa pessoa, e a sua iniqüidade será sobre ela." (Num. 15:30-31).

Pecado cometido "com a mão levantada" (versão Corrigida) significa não uma queda acidental no pecado, mas uma entrega ao pecado em uma atitude de desafiar a autoridade de Deus. Então, o pecador deliberadamente peca após ter recebido o "pleno conhecimento da verdade" (Heb. 10:26). Consciente e voluntariamente ele despreza a palavra revelada de Deus. Característica desse tipo de pecado é a ausência de qualquer verdadeiro arrependimento, posteriormente quando o pecado é acariciado e justificado.

Números 15: 32-36 apresenta um exemplo deste tipo de atitude pecaminosa. Um homem desafiou o prévio mandamento de Deus para guardar o Sábado do Senhor como um dia de solene repouso. "Portanto, guardareis o sábado, porque é santo para vós outros; aquele que o profanar morrerá; pois qualquer que nele fizer alguma obra será eliminado do meio do seu povo. Seis dias se trabalhará, porém o sétimo dia é o sábado do repouso solene, santo ao SENHOR; qualquer que no dia do sábado fizer alguma obra morrerá." (Êxo. 31:14-15). Mostrando o seu desprezo pela Lei de Deus, um homem se aventurou em aberta rejeição da vontade revelada de Deus, ajuntando lenha no Sábado. Por veredito divino este homem rebelde devia morrer. Ellen G. White explana isto: "O ato deste homem foi uma violação voluntária e deliberada do quarto mandamento - pecado este não cometido por inadvertência ou ignorância, mas por presunção." (Patriarcas e Profetas, 409).

O Torah, portanto, define presunção como um desafio à autoridade de Deus, um desprezo da obediência às ordenanças divinas (Deut. 17:12). Não há provisão de expiação ou perdão para tal pecado, desde que então o pecado seria desculpado ou basicamente eternizado (ver 1Sam. 3:14; Isa. 22:14; Jer. 7:16).

Isto não implica em que seres mortais podem determinar quando um pecado de presunção está sendo cometido. Quem pode discernir os motivos do coração de um homem? Jeremias nos lembra: "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá? Eu, o SENHOR, esquadrinho o coração, eu provo os pensamentos; e isto para dar a cada um segundo o seu proceder, segundo o fruto das suas ações." (Jer. 17:9-10). Sentindo sua grande necessidade do poder salvador e santificador, ele portanto, ora: "Cura-me, SENHOR, e serei curado, salva-me, e serei salvo; porque tu és o meu louvor." (Jer. 17:14).

Por esta dupla graça Davi orou no Salmo 19: 12-13. Não somente perdão ele procurava, mas uma vida santificada sob a graça prevalecente de Deus. Ele pediu por ambas estas coisas: pelo apagar de sua culpa e a subjugação dos poderes do mal que lutam pelo domínio. Então ele cria, ele seria um servo justo de Yahweh, sua "Rocha e Redentor". "Então, serei irrepreensível e ficarei livre de grande transgressão." (Sal. 19:13).

Assim, o Salmo 19 declara que perfeição humana não é o cultivo de alguma inerente bondade na natureza do homem, mas o persistente andar em dependência do perdão e graça mantenedora de Yahweh. Perdão divino restaurou Israel na abençoada e perfeita comunhão com Yahweh. Embora culpa e pecado possam ser distinguidos, o Antigo Testamento nunca separa culpa do ato ou vida de pecado. Conseqüentemente, perdão também possui uma relação sobre a vida moral. O poder dominante do pecado é quebrado, quando Deus mesmo governa supremo. Esta perfeição é tanto um dom quanto um requerimento do concerto de Deus com Israel.

Um homem pode inadvertidamente cair em um pecado, uma transgressão da Lei do concerto, mas isto não o separa de Deus ou de Seu povo. O serviço do santuário provia reconciliação para o arrependido adorador pelos meios do sangue da expiação sobre o altar (Lev. 4). Não havia perfeição sem expiação cúltica no concerto de Deus com Israel.

Qualquer perfeição moral que uma voluntária obediência a Deus pudesse desenvolver, nunca podia ser relacionada com um sentimento de santidade ou justiça própria. A experiência de um contrito coração e um espírito humilde apenas aumentariam em intensidade se o santo Yahweh habitasse mais e mais no suplicante adorador. "Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e vivificar o coração dos contritos." (Isa. 57:15).

Salmo 15

No Salmo 15, nós encontramos de novo perfeição (tamîm). Desta vez é o pré-requisito moral para entrar no templo e desfrutar da proteção e bênção de Yahweh. "Quem, SENHOR, habitará no teu tabernáculo? Quem há de morar no teu santo monte? O que vive com integridade, e pratica a justiça, e, de coração, fala a verdade" (Sal. 15:1, 2).

Soa estranho ouvir que perfeição é o pré-requisito para adoração de Yahweh e recebimento de Sua graciosa comunhão. Não é a perfeição o próprio dom a ser procurado e recebido no santuário? Como então pode a perfeição ser uma condição para a participação da adoração de Israel?

Para achar o próprio escopo do Salmo 15, precisamos buscar a mais ampla perspectiva de todo o Torah. Moralidade não era a base da eleição de Deus a Israel (Deut. 7-9). A grande salvação histórica do Êxodo e o concerto subsequente com Israel no Sinai foram dons reais de Yahweh, dados por Sua graça somente, em fidelidade às promessas de Deus aos patriarcas. O próprio nome do Deus de Israel, Yahweh, denota-O como o gracioso e fiel Deus do concerto.

O Salmo 15, começa com uma questão suplicante: "Quem, SENHOR, habitará no teu tabernáculo?"; portanto, pressupõe imediatamente o concerto da graça expiatória. Tanto a Lei como o Santuário eram dons do concerto de Deus, provendo uma contínua expiação para Israel, a presença permanente do santo amor de Deus. O ministério sacerdotal da graça perdoadora não intentava perdoar a culpa no abstrato. Pelo contrário, ele intentava tirar os pecados, tanto no aspecto da culpa, como em seu real domínio na conduta do homem (ver acima sobre o Sal. 19).

De acordo com isto, era prerrogativa e dever de Israel andar com Deus e com seus semelhantes em uma nova obediência à vontade de Deus. Os poderes divinos da graça redentora, como manifestados na libertação de Israel do Egito, a casa da escravidão, estavam disponíveis a partir daí no serviço sacerdotal do santuário. O propósito da festa anual da Páscoa era para renovar e continuar a redenção graciosa e comunhão do concerto com Yahweh, para dar a Israel uma renovada e vívida participação na salvação histórica do Êxodo. A mesma graça era oferecida por Deus diariamente no santuário. Contudo, era a santa graça que purificava da injustiça e impiedade, transformando o coração do adorador.

"Continua a tua benignidade aos que te conhecem, e a tua justiça, aos retos de coração. Não me calque o pé da insolência, nem me repila a mão dos ímpios." (Sal. 36:10-11). "Porém eu, pela riqueza da tua misericórdia, entrarei na tua casa e me prostrarei diante do teu santo templo, no teu temor." (Sal. 5:7).

A ardente santidade e honra de Deus como Rei não poderiam suportar um povo profano e impuro que fosse escravizado pelo pecado ou tivesse o coração dividido. Israel deveria ser uma nação santa, uma luz para os gentios, gloriando-se não em sua sabedoria, riquezas ou poder, mas em seu conhecimento do verdadeiro Deus vivente (Jer. 9:23-24). Era seu santo privilégio andar em voluntária e alegre obediência a Deus, que incluía arrependimento, confissão e restauração.

Este novo coração necessariamente seria manifestado em fazer o que é direito de acordo ao concerto, falando a verdade do coração. Assim, o concerto da graça transformadora provia o poder motivador para uma nova conduta sócio-ética. A participação nas festas anuais é condicionada, diz o Salmo 15, pela aceitação e apropriação da salvação e graça previamente recebidas.

A recusa para arrepender-se, por rejeitar a obediência voluntária ao concerto de Deus, caracteriza o pecado como pecado de presunção. Por outro lado, o requerimento do Salmo 15 não é um senso de isenção de pecado ou um sentimento de justiça própria. Como poderia tal emoção mesmo existir em uma profunda convicção de indignidade diante de Deus?

O que o Salmo 15 requer é uma vida social e ética purificada e fiel, como apresentada nos versos 3-5: "O que não difama com sua língua, não faz mal ao próximo, nem lança injúria contra o seu vizinho; o que, a seus olhos, tem por desprezível ao réprobo, mas honra aos que temem ao SENHOR; o que jura com dano próprio e não se retrata; o que não empresta o seu dinheiro com usura, nem aceita suborno contra o inocente. Quem deste modo procede não será jamais abalado."

Este modo de vida do concerto pela graça de Deus é um perfeito andar, por causa que o coração é purificado e as mãos são limpas (v. 2). Esta mensagem também é comunicada em outro salmo de Davi: "Quem subirá ao monte do SENHOR? Quem há de permanecer no seu santo lugar? O que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à falsidade, nem jura dolosamente. Este obterá do SENHOR a bênção e a justiça do Deus da sua salvação. Tal é a geração dos que o buscam, dos que buscam a face do Deus de Jacó." (Salmo 24:3-6).

Mais forte do que o Salmo 15 aparenta aqui é o inter-relacionamento indissolúvel da experiência redentiva e da vida moral. Aqueles que buscam a Deus em oração, que diariamente O fazem Seu Senhor e Salvador, receberão bênção e vindicação divinas. Toda a vida moral é enraizada e ancorada na graciosa redenção de Deus como recebida no serviço do templo de Israel.

C. Os Inspiradores Oráculos dos Profetas

Onde quer que os sacerdotes levíticos começaram a confiar nas cerimônias dos santos rituais propriamente ditos, não vendo a mensagem divina nelas, e perdendo o incentivo e motivação para a verdadeira obediência moral ao concerto, então o serviço do santuário de Israel se tornava distorcido e objetável a Deus, e Ele reagia enviando Seus profetas com mensagens especiais para os sacerdotes e seu ritualismo objetável. Os livros proféticos do Antigo Testamento repetidamente testificam da pecaminosa negligência de Israel de andar humildemente com Deus e perfeitamente com os seus companheiros de concerto.

No século oitavo AC, o profeta Miquéias, um contemporâneo de Isaías, dirigiu-se à Jerusalém com algumas questões específicas em nome de Yahweh: "Povo meu, que te tenho feito? E com que te enfadei? Responde-me! Pois te fiz sair da terra do Egito e da casa da servidão te remi; e enviei adiante de ti Moisés, Arão e Miriã. Povo meu, lembra-te, agora, do que maquinou Balaque, rei de Moabe, e do que lhe respondeu Balaão, filho de Beor, e do que aconteceu desde Sitim até Gilgal, para que conheças os atos de justiça do SENHOR." (Miq. 6:3-5).

Miquéias desafiou o cerimonialismo morto e o materialismo pecaminoso de Jerusalém, anunciando o julgamento de destruição total da cidade santa e seu Templo (3:9-12). Contudo, esta mensagem de julgamento implicava no apelo divino para o arrependimento e retorno Deus de todo coração e alma. O profeta relembrou à escolhida nação de sua grande redenção do Êxodo. Relembrou os atos justos e salvadores de Yahweh! Isto poderia desmascarar todos os atos rituais como um esforço para expiar seus pecados como uma tentativa fútil. Até mesmo o sacrifício de um primogênito não poderia tirar o pecado! "Com que me apresentarei ao SENHOR e me inclinarei ante o Deus excelso? Virei perante ele com holocaustos, com bezerros de um ano? Agradar-se-á o SENHOR de milhares de carneiros, de dez mil ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão, o fruto do meu corpo, pelo pecado da minha alma? Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o SENHOR pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus." (Miq. 6:6-8).

Com este apelo desafiador os profetas proclamaram suas mensagens de julgamento a uma nação complacente, se era Amós e Oséias no reino do norte, ou Isaías, Miquéias, Jeremias, Ezequiel, no reino do sul. Em dramáticas e emocionantes exibições eles revelaram à nação escolhida a rejeição divina de um culto religiosos formal que tolerava e desculpava o pecado. Onde o serviço sacrifical falhava em purificar à nação de injustiça social, auto-glorificação e justiça pelas obras, os profetas por ordem de Deus eram chamados para sustentar o padrão da perfeição e santidade sacerdotais.

Isaías, com seu poder e brilho poético, reitera os pré-requisitos morais originalmente sustentados pelos sacerdotes: "Os pecadores em Sião se assombram, o tremor se apodera dos ímpios; e eles perguntam: Quem dentre nós habitará com o fogo devorador? Quem dentre nós habitará com chamas eternas? O que anda em justiça e fala o que é reto; o que despreza o ganho de opressão; o que, com um gesto de mãos, recusa aceitar suborno; o que tapa os ouvidos, para não ouvir falar de homicídios, e fecha os olhos, para não ver o mal, este habitará nas alturas; as fortalezas das rochas serão o seu alto refúgio, o seu pão lhe será dado, as suas águas serão certas. Os teus olhos verão o rei na sua formosura, verão a terra que se estende até longe." (Isa. 33:14-17).

O Yahweh de Israel é um Deus santo, assim como também Ele é um Deus misericordioso e gracioso. Ele não pode e não tolerará pecado na nação escolhida por Sua graça. A ira de Deus foi derramada sobre uma Judá não arrependida através do exílio babilônico, que veio em três estágios intensificados (605, 597, 586 AC).

Após o segundo estágio (597 AC), 10.000 "todos os príncipes, homens valentes" foram levados cativos (2Reis 24:14), entre os quais estava o sacerdote Ezequiel. Os exilados judeus começaram a usar um provérbio que acusava seus pais de pecados pelo que eles tinham de levar a penalidade: "Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que se embotaram?" (Eze. 18:2). Contra esta tendência de pensamento entre os cativos de Babilônia, que prevenia qualquer aceitação de culpa pessoal e portanto de verdadeiro arrependimento, Ezequiel teve que falar: "A alma que pecar, essa morrerá" (18:4).

Por outro lado, se uma alma andasse com Deus de acordo com o santo concerto, ele poderia seguramente viver. O concerto de Deus o consideraria perfeito ou "justo". Ezequiel assim coloca diante do povo do concerto no exílio os antigos requerimentos do Torah de Moisés, como ordenados originalmente pelo ministério sacerdotal (Sal.15; 24): "Sendo, pois, o homem justo e fazendo juízo e justiça, não comendo carne sacrificada nos altos, nem levantando os olhos para os ídolos da casa de Israel, nem contaminando a mulher do seu próximo, nem se chegando à mulher na sua menstruação; não oprimindo a ninguém, tornando ao devedor a coisa penhorada, não roubando, dando o seu pão ao faminto e cobrindo ao nu com vestes; não dando o seu dinheiro à usura, não recebendo juros, desviando a sua mão da injustiça e fazendo verdadeiro juízo entre homem e homem; andando nos meus estatutos, guardando os meus juízos e procedendo retamente, o tal justo, certamente, viverá, diz o SENHOR Deus." (Eze. 18:5-9).

Após uma detalhada aplicação desta ética do concerto a um pai e seu filho a fim de inculcar uma responsabilidade a Deus, a instrução terminava num clímax com um emocionante apelo a Israel para arrepender-se, à luz do quadro purificado do santo e redentivo amor de

Deus. "Portanto, eu vos julgarei, a cada um segundo os seus caminhos, ó casa de Israel, diz o SENHOR Deus. Convertei-vos e desviai-vos de todas as vossas transgressões; e a iniqüidade não vos servirá de tropeço. Lançai de vós todas as vossas transgressões com que transgredistes e criai em vós coração novo e espírito novo; pois, por que morreríeis, ó casa de Israel? Porque não tenho prazer na morte de ninguém, diz o SENHOR Deus. Portanto, convertei-vos e vivei. (Eze. 18:30-32).

Após os 70 anos de exílio em Babilônia, um novo começo foi feito quando Deus entrou em um novo concerto com o remanescente fiel após à crise. Os profetas como Ageu e Zacarias reavivaram as almas dos cativos que retornaram, comunicando mensagens de esperança, coragem e um glorioso futuro: "A glória desta última casa será maior do que a da primeira, diz o SENHOR dos Exércitos; e, neste lugar, darei a paz, diz o SENHOR dos Exércitos." (Ageu 2:9). "Assim diz o SENHOR: Voltarei para Sião e habitarei no meio de Jerusalém; Jerusalém chamar-se-á a cidade fiel, e o monte do SENHOR dos Exércitos, monte santo." (Zac. 8:3) "E há de acontecer, ó casa de Judá, ó casa de Israel, que, assim como fostes maldição entre as nações, assim vos salvarei, e sereis bênção; não temais, e sejam fortes as vossas mãos." (Zac. 8:13).

Mas o novo concerto requeria uma nova obediência: "A palavra do SENHOR veio a Zacarias, dizendo: Assim falara o SENHOR dos Exércitos: Executai juízo verdadeiro, mostrai bondade e misericórdia, cada um a seu irmão; não oprimais a viúva, nem o órfão, nem o estrangeiro, nem o pobre, nem intente cada um, em seu coração, o mal contra o seu próximo." (Zac. 7:8-10).

Deus ainda era o mesmo santo e gracioso Deus, odiando o pecado, enquanto amava o pecador. O novo serviço do santuário no templo reconstruído novamente oferecia graça perdoadora, requerendo uma vida perfeita em verdadeira obediência do coração, exatamente como antes do exílio (Jer. 31:31-33; Eze. 36:26-27).

Em uma significativa visão, Zacarias viu o sumo-sacerdote Josué em pé diante do "Anjo de Yahweh" e sendo acusado por Satanás. Josué representava os cativos de Israel que haviam retornado, "um tição tirado do fogo" (Zac. 3:2). Josué estava "trajado com vestes sujas", a iniqüidade confessada de Israel. Sob a ordem de Deus, as vestes sujas são removidas e trocadas por limpos e perfeitos trajes. Esta ação retrata vividamente a graça perdoadora de Deus. O pecado é removido, uma nova justiça ou perfeição é imputada e entregue a um novo Israel.

Contudo, perdão pressupõe culpa e condenação reais. Não obstante, o perdão significa não meramente a remoção negativa da culpa, mas positivamente – e tão justo como real – a imputação e comunicação da justiça ou perfeição. O aspecto da santificação, a nova obediência, é enfatizado como um pré-requisito específico para a final e eterna bênção.

"O Anjo do SENHOR estava ali, protestou a Josué e disse: Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Se andares nos meus caminhos e observares os meus preceitos, também tu julgarás a minha casa e guardarás os meus átrios, e te darei livre acesso entre estes que aqui se encontram." (Zac. 3:5-7).

Zacarias tinha tornado inequivocamente claro que a graça divina obriga a uma perfeita obediência, a obediência da fé que brota de um coração recriado e voluntário. Ellen G. White fez uma aplicação particular da visão de Zacarias à tentada e provada igreja remanescente. Dela, Cristo declara: "Eles podem ter imperfeições de caráter; podem ter falhado em seus esforços; mas se arrependeram, e Eu os perdoei e aceitei." (Profetas e Reis, 589).

Quão lamentável é ler no último livro do Antigo Testamento que Israel após o exílio falhou novamente em manifestar a comunhão transformadora do concerto com Deus e a obediência da fé. Como causa principal de sua vida ética-social degenerada, Malaquias apontou a um ministério sacerdotal falido. A adoração no Templo de novo deteriorou-se a um ritualismo morto, sem o temor do Senhor – que é a tremente reverência em humilde obediência. Deus dirigiu-Se a Israel com algumas questões pertinentes ao sacerdócio em Jerusalém: "O filho honra o pai, e o servo, ao seu senhor. Se eu sou Pai, onde está a minha honra? E, se eu sou Senhor, onde está o respeito para comigo? — diz o SENHOR dos Exércitos a vós outros, ó sacerdotes que desprezais o meu nome. Vós dizeis: Em que desprezamos nós o teu nome? Ofereceis sobre o meu altar pão imundo e ainda perguntais: Em que te havemos profanado? Nisto, que pensais: A mesa do SENHOR é desprezível." (Mal. 1:6-7).

Falta do temor de Deus foi manifestado inevitavelmente em deslealdade social, em profanação do santuário, e em infidelidade da aliança matrimonial. (Mal. 2:14,16). A quebrada comunhão do concerto com Yahweh, contudo, seria restaurada uma vez mais através da específica graça de Deus. Deus mesmo tomaria a iniciativa de trazer Seu povo de volta a um novo e perfeito relacionamento de concerto com Ele. Por causa que os sacerdotes levíticos tinham se "desviado do caminho... e, por [sua] instrução" tinham "feito tropeçar a muitos", e violaram "a aliança de Levi" (Mal. 2:8), Deus enviaria um mensageiro especial ao Seu Templo. Ele refinaria e purificaria Israel até que eles trouxessem "ofertas justas ao Senhor". "Então, a oferta de Judá e de Jerusalém será agradável ao SENHOR, como nos dias antigos e como nos primeiros anos." (Mal. 3:1-4).

Este mensageiro especial viria como o profeta Elias, a fim de conduzir a nação escolhida a uma última decisão a favor ou contra Deus, preparando Israel para "o grande e terrível dia do Senhor", o Dia de Julgamento de Deus (Mal. 4:5-6): "Chegar-me-ei a vós outros para juízo; serei testemunha veloz contra os feiticeiros, e contra os adúlteros, e contra os que juram falsamente, e contra os que defraudam o salário do jornaleiro, e oprimem a viúva e o órfão, e torcem o direito do estrangeiro, e não me temem, diz o SENHOR dos Exércitos." "Então, vereis outra vez a diferença entre o justo e o perverso, entre o que serve a Deus e o que não o serve." (Mal. 3:5,18).

Assim terminou o Antigo Testamento, ou antes permaneceu aberto ao futuro, com a promessa de um novo reavivamento e reforma. Finalmente, a linha de demarcação entre o justo e o ímpio, entre os perfeitos e os impenitentes malfeitores, se tornaria clara em sua reação à mensagem de advertência final de Deus.
Autor: Hans K. LaRondelle



Pr. Cirilo Gonçalves

Doutorando em Teologia

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