"Seguiu-se a estes outro anjo, o terceiro, dizendo, em
grande voz: Se alguém adora a besta e a sua imagem e recebe a sua marca na
fronte ou sobre a mão, também esse beberá do vinho da cólera de Deus, preparado,
sem mistura, do cálice da sua ira, e será atormentado com fogo e enxofre,
diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro. A fumaça do seu tormento
sobe pelos séculos dos séculos, e não têm descanso algum, nem de dia nem de
noite, os adoradores da besta e da sua imagem e quem quer que receba a marca do
seu nome. Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de
Deus e a fé em Jesus" (Apoc. 14:9-12).
Esta
advertência solene é dirigida a cada crente. Convoca a cada um a permanecer firme
contra as ameaças de morte do anticristo, e desenvolve a mensagem do segundo
anjo de que todas as nações se viram compelidas a "beber o vinho" de
Babilônia (Apoc. 14:8): "Se alguém beber o vinho da ira de Babilônia, também
terá que beber o vinho da ira de Deus!" O "cálice" simbólico da
ira de Deus (Apoc. 14:10; 16:19) era um conceito tradicional nas profecias de
juízo de Israel. O "cálice de vinho" na mão de Deus servia como o
símbolo de sua justiça punitiva.
Até Israel
que quebrantou o pacto teve que beber o vinho de sua ira (Jer. 25:15, 16, 17;
49:12; Ezeq. 23:31-34; Isa. 51:17, 22; Sal. 60:3; 75:8). Mas Israel
experimentou a taça da ira de Deus só em forma temporária (ver Sal. 60:3; Isa.
51:22). Entretanto, alguns inimigos de Israel tiveram que beber a taça da ira
até sua extinção: "Beberão, e engolirão, e serão como se não tivessem
sido" (Ob. 16). "Bebei, embebedai-vos e vomitai; caí e não torneis a
levantar-vos..." (Jer. 25:27; também o v. 33).
A aceitação
por parte de Jesus da taça da ira divina da mão de Deus no Getsêmani pertence à
essência do evangelho (Mat. 20:22; 26:39, 42). Declara E. W. Fudge:
"Porque ele aceitou aquela taça, seu povo não tem que bebê-la. A
taça que nos deixa [a taça da comunhão] é um recordativo constante de que ele
ocupou nosso lugar (Mat. 26:27-29)".1
Os adoradores
da besta têm que beber a ira de Deus "pura" [em gr., akrátu;
"sem diluir", NBE; "sem mistura", CI). Este cálice da ira
já não está misturado com misericórdia. Derramar-se-á com as 7 últimas pragas
(Apoc. 15:1). Isto significa que todas as pragas de Apocalipse 16 constituem
uma parte integral da mensagem do terceiro anjo. Uma expressão hebraica nestes
versículos tem desafiado os intérpretes:
"Será atormentado com fogo e enxofre, diante dos santos
anjos e na presença do Cordeiro. A fumaça do seu tormento sobe pelos séculos
dos séculos, e não têm descanso algum, nem de dia nem de noite, os adoradores
da besta e da sua imagem e quem quer que receba a marca do seu nome"
(Apoc. 14:10, 11).
A frase "fogo
e enxofre" é parte da maldição do pacto, maldição que inclui extinção
ou aniquilação (Deut. 29:23; Sal. 11:6). O juízo sobre Sodoma e Gomorra
resultou em que "subia da terra fumo como fumaça de um forno" (Gên.
19:23, 28, CI). Também foi o juízo de Deus sobre Edom, um dos arquiinimigos de
Israel (Isa. 30:27-33; Ezeq. 38:22):
"Os ribeiros de Edom se transformarão em piche, e o seu pó,
em enxofre; a sua terra se tornará em piche ardente. Nem de noite nem de dia se
apagará; subirá para sempre a sua fumaça; de geração em geração será assolada,
e para todo o sempre ninguém passará por ela" (Isa. 34:9, 10).
É evidente
que a mensagem do terceiro anjo em Apocalipse 14 toma sua fórmula de maldição
especificamente de Isaías 34. A desolação e a extinção histórica de Edom é o
modelo ou o tipo da sorte de Babilônia (ver Jud. 6, 7). A natureza deste
castigo não reside em um tormento eterno como pode ver-se hoje em dia de Edom,
a não ser na conseqüência eterna do fogo: "Subirá para sempre a sua
fumaça" (ver Isa. 34:10 e 66:24). O fogo é inextinguível até que tenha
completado sua obra. Nas palavras do E. W. Fudge: "Os ímpios morrem uma
morte atormentadora; a fumaça recorda a todos os espectadores que o Deus
soberano tem a última palavra. Que a fumaça sobe perpetuamente no ar significa que
as mensagens de juízo nunca chegarão a ser antiquadas".2
A maldição
que diz que os que adorem à besta não terão "repouso de dia nem de noite" está tirada de uma maldição
específica do pacto sobre um Israel rebelde: "Por isso, jurei na minha
ira: não entrarão no meu descanso"
(Sal. 95:11). Enquanto que o significado original se referia ao repouso de
Israel na terra prometida, o Novo Testamento aplica o repouso prometido ao repouso
da graça de Deus no qual cada crente deve entrar agora (Heb. 4:3). Este
repouso divino esteve disponível desde que Deus descansou no sétimo dia da
semana da criação! (Gên. 2:2, 3). "Portanto, ainda fica um descanso
sabático para o povo de Deus. Porque o que 'entra em seu repouso' descansa ele
também de suas obras, como Deus das suas" (Heb. 4:9, 10, JS; CI; BJ).
O castigo
final será o rechaço de Deus de dar repouso aos adoradores da besta. Por outro
lado, uma voz celestial anuncia que os "mortos que, desde agora, morrem no
Senhor.... que descansem das suas fadigas, pois as suas obras os
acompanham" (Apoc. 14:13). Esta bem-aventurança se refere aos que morrem
em Cristo durante as perseguições do anticristo do tempo do fim. Sua
perseverança será recompensada. A mensagem do terceiro anjo pronuncia a
resposta de Deus à ameaça feita pela besta, como mostra a seguinte comparação.
APOCALIPSE 13:16
|
APOCALIPSE 14:9, 11
|
"A todos, os pequenos e os
grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos, faz que lhes seja
dada certa marca sobre a mão
direita ou sobre a fronte".
|
"Se
alguém adora a besta e a sua imagem e recebe a sua marca na fronte ou sobre a mão ... e não têm descanso algum, nem de dia nem de
noite, os adoradores da besta e da sua imagem e quem quer que receba a marca do seu nome".
|
Estas
correspondências temáticas e verbais entre Apocalipse 13 e 14 indicam que a
tríplice mensagem de Apocalipse 14 depende de uma correta compreensão de
Apocalipse 13. Entretanto, toda a informação a respeito da besta está exposta
na visão do juízo de Apocalipse 17, o que significa que Apocalipse 17 constitui
igualmente uma parte interpretativa essencial da mensagem de advertência de
Apocalipse 14.
A Marca da Besta
Nosso tema
agora é compreender o significado teológico de "a marca da besta". É
a marca identificadora do culto de adoração que se rende à besta. "Não se
pode ter a marca sem o ato de adoração".3 A
ambição da besta-anticristo de receber adoração divina é a mentalidade de
Babilônia. Seu endeusamento próprio entra em conflito com a chamada de Israel a
adorar o Criador e Juiz da humanidade (Apoc. 14:7). A mensagem do terceiro anjo
é o rogo do céu à humanidade para que se volte para o Criador, ao Deus do pacto
do Israel, tal como está revelado nas Escrituras.
O assunto
fundamental não é identificar a marca de uma maneira isolada, mas sim vê-la como
um ato de adoração da besta e por isso, como uma atitude de idolatria. O
terceiro anjo "indica a natureza da usurpação: a besta se apropria das
prerrogativas do Deus Criador, e é adorada".4
A usurpação
das prerrogativas divinas pela besta é seguida por sua demanda para que a
reconheçam por meio da "marca em sua fronte ou em sua mão" (Apoc.
14:9). Seu significado chega a ser claro quando se considera à luz do dever de
Israel de atar os mandamentos e as palavras de Deus: "Ata-as à tua mão
como um sinal, como um aviso ante teus olhos" (Deut. 6:8; cf.
11:18, BJ). Para Israel, seu significado espiritual era evidente: atuar e
pensar em harmonia com a vontade de Deus e recordar diariamente a redenção do
êxodo (ver Deut. 6:5; Êxo. 13:8, 9).*
Gerhard von Rad faz este comentário sobre o Deuteronômio 6:8: "Provavelmente
temos que tratar ainda aqui com uma forma figurada de expressão que mais tarde
foi entendida literalmente e levou ao uso dos chamados filactérios".5 De
fato, Moisés mesmo explicou o propósito moral de atar os mandamentos de Deus a
suas mãos e a suas frentes:
"O Senhor, teu Deus, temerás, a ele servirás, e, pelo seu
nome, jurarás. Não seguirás outros deuses, nenhum dos deuses dos povos que
houver à roda de ti, porque o Senhor, teu Deus, é Deus zeloso no meio de ti,
para que a ira do Senhor, teu Deus, se não acenda contra ti e te destrua de
sobre a face da terra... Diligentemente, guardarás os mandamentos do Senhor,
teu Deus, e os seus testemunhos, e os seus estatutos que te ordenou"
(Deut. 6:13-15, 17).
O mandamento
do Senhor incluía também a observância ritual da Páscoa e o comer pães sem
levedura para comemorar a libertação do êxodo:
"E será como sinal na tua mão e por memorial entre teus
olhos; para que a lei do Senhor esteja na tua boca; pois com mão forte o Senhor
te tirou do Egito. Portanto, guardarás esta ordenança no determinado tempo, de ano em
ano" (Êxo. 13:9, 10).
Este
histórico da adoração de Israel esclarece o propósito da marca da besta "na
fronte e na mão" (Apoc. 20:4). A marca evoca a antítese intencional da
adoração de Israel. Representa a essência de um culto falsificado como usurpação
e substituição. A
besta ameaça com a morte se suas ordens totalitárias são desobedecidas (Apoc.
13:15-17). Promete vida, mas só temporal, a todos os que levem sua marca. R. H.
Charles comentou a respeito: "Ambos [o selo e a marca] estavam destinados
a mostrar que os que levam as marcas estão sob a proteção sobrenatural: os
primeiros sob a proteção de Deus; os últimos, sob a de Satanás".6 Beatrice
S. Neall explica mais isto quando diz:
"No Apocalipse, o selo de Deus protege da ira de Deus
(Apoc. 15:2, 3; 16:2) mas não da ira da besta (13:15, 17). De maneira similar,
a marca da besta protege das sanções econômicas (v. 17) e do decreto de morte
(v. 15) da besta, embora faça a seus possuidores elegíveis para receber a ira
de Deus (14:9-11 )".7
Tanto Cristo
como o anticristo desejam a lealdade indivisa de seus adoradores, a devoção
completa de seu pensamento (a "fronte") e de seu atuar (a
"mão"). O anticristo pode satisfazer-se com a marca ou na mão ou
sobre a fronte, como sugere Apocalipse 13:16 e 14:9 (entretanto, ver Apoc.
20:4).
Uma diferença
básica entre os sistemas rivais de adoração é que a besta emprega a coerção,
enquanto que o Cordeiro emprega a persuasão. A prova final da adoração
verdadeira não é crer porque há milagres, os quais podem ser enganosos (Apoc.
13:14; 19:20; Mat. 24:24), e sim crer na "Palavra de Deus e no testemunho
de Jesus" (Apoc. 1:9; 6:9; 12:17; 20:4).
A verdade
tanto do Antigo como do Novo Testamento é a revelação de que o Deus de Israel é
o Criador Todo-poderoso e que ele ordenou o sétimo dia, no sábado, como um
monumento recordativo de sua obra criadora (Gên. 2:2, 3; Êxo. 20:8-11;
31:12-17). Este mandamento da criação foi enriquecido como o sinal da redenção
de Israel da escravidão (ver Deut. 5:12-15). A celebração do sábado identifica
o Criador vivente que permanece fiel à sua criação (1 Ped. 4:19). Igualmente
oferece a participação em sua graça redentora (ver Ezeq. 20:12, 20). Esta verdade
chega a ser relevante de uma maneira especial no tempo do fim, quando o dogma
da evolução veio a ser a hipótese da ciência (desde 1859). Por isso a tríplice
mensagem de Apocalipse 14 assume cada vez mais relevância. Requer a celebração
do sábado restaurado como "a expressão concreta da fé na criação, o sinal
da dependência de um do céu... o sinal de que a salvação vem só de cima".8
O Surgimento do Povo Remanescente de Deus (Apoc. 14:12)
No conflito
entre as adorações rivais, Deus preserva os que se apegam a ele com lealdade. A
mensagem do terceiro anjo conclui com uma chamada especial a perseverar na fé:
"Aqui está a paciência dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé de
Jesus" (Apoc. 14:12).
Este texto
levou J. M. Ford a fazer o seguinte comentário:
"Parece que não há caminho intermediário; ou se adora a
besta e está condenado, ou se aceita com paciente resistência a perseguição da
besta, obedece os mandamentos de Deus, morre nele e recebe a recompensa por
suas boas obras (v. 13)".9
Autores
dispensacionalistas tomam aos santos de Apocalipse 14:12 como crentes judeus
cuja parte não está no corpo de Cristo simplesmente porque "guardam os
mandamentos de Deus". Mas isto mostra como um dogma preconcebido influi na
exegese. Uma comparação de Apocalipse 14:12 com 12:17 e 1:9 demonstra que as
características dos santos no capítulo 14:12 são as da igreja apostólica e as
mesmas de João. A primeira epístola de João define o pecado como a transgressão
da lei, como anomia ou ilegalidade (1 João 3:4). Exorta a todos os
crentes cristãos a obedecer os mandamentos de Deus, incluindo o mandamento de
crer em seu Filho Jesus Cristo e o mandamento de Cristo de amar-se uns aos
outros (1 João 2:3-6; 3:21-24).
A ameaça
final contra a vida dos santos requer uma perseverança [em gr., upomoné].
Jesus tinha mencionado esta característica como sendo essencial para o tempo do
fim: "Mas o que perseverar [upomeínas] até o fim, este será
salvo" (Mat. 24:13). Mas "perseverar" é o fruto da
fidelidade à vontade de Deus, tanto ao evangelho como à lei de Deus. A
advertência da epístola aos Hebreus também é a ter "perseverança [upomoné]
para que, depois de fazer a vontade de Deus, consigam a promessa" (Heb.
10:36, CI; ver 12:1-3). A epístola aos Hebreus assinala os exemplos dos santos
que viveram "por fé" [em hebreu, 'emunáh,
"fidelidade"] em uma crise anterior (Heb. 10:37, 38; Hab. 2:3, 4).
Tiago explica
que "a prova de sua fé produz paciência" e a maturidade da
estabilidade (Sant. 1:3-8). Por isso anima a todos os santos dizendo:
"Feliz o homem que suporta a prova! Superada a prova receberá a coroa da
vida que o Senhor prometeu aos que o amam" (v. 12). Um exemplo evidente é
Jó, que seguiu confiando em que Deus o vindicaria contra seus falsos acusadores
(Tia. 5:11). Não entendendo por que tinha que sofrer tanto sendo inocente, Jó
ainda expressou sua fé: "Eu sei que meu Redentor [ou "defensor",
BJ; ou "reivindicador", CI] vive, e no fim se levantará sobre a
terra" (Jó 19:25).
A última
geração de crentes cristãos pode ter que suportar uma prova de fé similar a do
Jó. A fé perseverante se expressa em guardar "os mandamentos de Deus e
a fé de Jesus" (Apoc. 14:12, RC). Obedecem tanto à lei como à fé de
Jesus em suas vidas (ver mais acima sobre Apoc. 12:17 e 19:10).
O Significado Bíblico do Sábado do Senhor
Muitos
teólogos negam que o sábado seja uma ordem da criação. Insistem em que o sábado
foi feito por Moisés só para a nação de Israel (Êxo. 16; Deut. 5:12-15). O
assunto mais profundo que está em jogo neste debate teológico é a credibilidade
do registro da criação em Gênesis 1 e 2 e seu reflexo no quarto mandamento em
Êxodo 20. Um teólogo americano apresentou esta avaliação válida da origem do
sábado:
"De acordo com o cânon da Escritura, a 'interpretação da
criação' do sábado se afirma como teologicamente anterior à 'interpretação da
redenção'. Entretanto, isto significa que o mandamento do sábado sempre é
obrigatório para todos os homens, obedeçam-no ou não! Na redenção de Israel da
terra do Egito não se estabeleceu o sábado pela primeira vez, mas sim se
restaurou; a lei moral não foi primeiro proclamada no Sinai, mas sim ali se
voltou a proclamá-la. Em conseqüência, porque a lei do sábado está fundada na
ordem da mesma criação e pertence a todas as criaturas, a interpretação tradicional
cristã do sábado como uma cerimônia abolida por Jesus Cristo, é
incorreta".10
O motivo
básico da tríplice mensagem de Apocalipse 14 é o da restauração! Desempenha o
mesmo propósito que a chamada de Isaías a um Israel extraviado:
"Clama a plenos pulmões, não te detenhas, ergue a voz como
a trombeta e anuncia ao meu povo a sua transgressão e à casa de Jacó, os seus
pecados" (Isa. 58:1).
"Os teus filhos edificarão as antigas ruínas; levantarás os
fundamentos de muitas gerações e serás chamado reparador de brechas e
restaurador de veredas para que o país se torne habitável" (Isa. 58:12).
Para Isaías,
a prova da verdadeira adoração era a restauração da justiça do pacto entre o
povo de Deus. Isto significava ter amor pelos fracos (Isa. 58:6, 7) e obediência
em louvar a Deus em seu "santo dia" (vs. 13, 14).
No tempo do
fim, o céu suplica mais uma vez a seu povo extraviado para que faça frente ao
desafio de usurpação e substituição com a chamada pela restauração e a restituição.
Requer o reavivamento dos mandamentos de Deus e do evangelho de Jesus Cristo
(Apoc. 14:12). Esta é a chamada final para um retorno à verdade e autoridade da
Bíblia. A Escritura deve ter a última palavra para determinar a vontade de
Deus. Toda certeza da verdade religiosa depende de se se aceitarem as
Escrituras como a revelação autorizada da vontade de Deus. "Elas são a
norma do caráter, o revelador das doutrinas, a pedra de toque da experiência
religiosa".11
A Mensagem de Preparação para o Segundo Advento
As mensagens
de Apocalipse 14 insistem a todos os adoradores a escutar atentamente a voz de
Deus e a procurar uma compreensão melhor do evangelho e do testemunho de Jesus.
Esta súplica assinala a diferença fundamental entre a Bíblia e a tradição da
igreja. Insiste-nos a aceitar a responsabilidade pessoal para distinguir
entre a autoridade bíblica e a autoridade da igreja, e a subordinar todos os
profetas extrabíblicos à autoridade suprema da Escritura.
O assunto
essencial da tríplice mensagem de Apocalipse 14 é a questão do que em última
instância ata a consciência humana ante Deus! A súplica do céu em Apocalipse 14
nos recorda que a criação e a redenção não podem ser separadas, que o
Redentor é o Sustentador da criação.
O sábado do
Senhor nunca pode ser anulado ou mudado porque é o mandamento da criação
do Criador e Redentor. É o monumento comemorativo de uma criação perfeita por
parte de um Criador digno de confiança, Criador que nunca abandonará a obra de
suas mãos (Sal. 138:8). Entretanto, suplica-nos que lhe respondamos como o
"fiel Criador" (ver 1 Ped. 4:19).
"Bem-aventurado aquele que tem o Deus de Jacó por seu
auxílio, cuja esperança está no Senhor, seu Deus, que fez os céus e a terra, o
mar e tudo o que neles há" (Sal. 146:5, 6).
O Convite do Último Elias
A relação da
tríplice mensagem de Apocalipse 14 com a promessa de Malaquias de que Deus
enviará o "profeta Elias, antes que venha o grande e terrível dia do
Senhor" (Mal. 4:5, 6), é de um significado dramático. É evidente que o
último profeta do Antigo Testamento prediz uma chamada final para o
reavivamento e a reforma entre o povo do pacto de Deus antes do dia do juízo
apocalíptico (ver os vs. 1, 2).
Este convite
corresponde em essência ao que Elias fez ao Israel: "Se Jeová é Deus,
sigam-no; e se Baal, sigam-no" (1 Reis 18:21). O último convite de Deus no
Apocalipse se apresenta em sua súplica a "adorar" a Deus como o
Criador e a não adorar a besta nem a sua imagem (Apoc. 14:6-9).
Para
compreender melhor o significado do Elias do tempo do fim, precisamos ler a
narração da missão de Elias em 1 Reis 17 e 18. Malaquias exaltou a missão
histórica de Elias, com sua confrontação dramática em combate com Baal no Monte
Carmelo, como um tipo ou símbolo teológico para o tempo do fim. Uma análise
detalhada desta correspondência tipo-antítipo da promessa de Elias em Malaquias
4 se oferece em outro lugar.12
A medula
deste tipo histórico pode compendiar-se em três pontos: (1) Elias foi enviado
por Deus em um tempo de apostasia moral e religiosa em Israel (1 Reis 16:30-33;
18:18; 21:25); (2) Elias foi enviado com uma mensagem de restauração do Deus do
pacto, que significava um compromisso novo de Israel com seu Deus e uma
restauração de seu sagrado culto de adoração e de seus mandamentos morais
(18:18, 21, 30, 31); e (3) a aceitação ou o rechaço da mensagem de Elias
significava vida ou morte e, portanto, era um assunto de conseqüências eternas
(ver 18:39-44).
A chave para
a aplicação do tempo do fim nós a encontramos na mensagem de João Batista,
porque sua mensagem em preparar o caminho para a vinda do Messias continha os
fundamentos da mensagem de Elias (ver Luc. 1:11-17). Jesus reconheceu que João
era o Elias da profecia mesmo que o judaísmo contemporâneo não o reconheceu
(Mat. 17:10-13).
A missão de
João era preparar a Israel para a vinda do Messias (João 1:23) e para "restaurar
todas as coisas" (Mat. 17:11). Sua presença era o sinal visível do
advento iminente do Messias (ver João 1:29; Mat. 3:10-12). João negou que ele
fora uma reencarnação do Elias (João 1:21), mas afirmou que ele era a mensagem
de Elias "com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto"
(Luc. 1:17; ver João 1:23). João foi enviado no momento correto, com uma
mensagem urgente de arrependimento para despertar Israel à vontade de Deus e a
sua visitação iminente. Sua mensagem criou um povo remanescente novo dentro da
nação de Israel. Jesus aceitou o batismo de João e chegou a ser parte deste
remanescente. Escolheu a seus primeiros apóstolos dentre os seguidores de João
Batista.
A mensagem de
Apocalipse 14 é a mensagem de preparação para o tempo do fim. Sua
ativação cria um povo que está preparado para encontrar-se com seu Criador.
Assim como Elias, são fiéis à lei do pacto original de Deus. Escolheram estar
ao lado de Deus, o Criador. Tornaram seus corações ao Deus de seus ascendentes
espirituais e mantêm uma continuidade com o Israel do Antigo Testamento (Mal.
4:6).
A mensagem de
Elias para o tempo do fim está desenvolvido pelo Espírito de profecia em
Apocalipse 14:6-12. Sua proclamação mundial será seguida pela segunda vinda de
Cristo como o Rei e Juiz (ver os vs. 14-20), o que define a tríplice mensagem
como a chamada a despertar com o fim de preparar um povo para a segunda vinda
de Cristo. Leva à hora da decisão, da mesma maneira que Elias e João Batista
levaram ao Israel apóstata a um compromisso novo com seu Senhor.
Hoje a
mensagem de Elias convoca a todas as pessoas para que deixem de idolatrar a
criação e que adorem o Criador (Apoc. 14:7). Uma mensagem assim é oportuna
considerando o surgimento da hipótese da evolução e o triunfo da filosofia
materialista. Esta chamada de Deus tem aplicações de longo alcance:
"Na exaltação do humano sobre o divino, no louvor aos
líderes populares, no culto a Mamom, e na exaltação dos ensinos da ciência
sobre as verdades da Revelação, multidões hoje estão seguindo a Baal".13
Necessita-se
cada vez mais a voz de Elias em nossa civilização decadente. Reverberará por
toda a sociedade e está refletida no movimento mundial de cristãos guardadores
do sábado. Fizeram um compromisso com o Deus de Israel e com seu Cristo neste
tempo do fim. Aceitam como seu credo a Bíblia e a Bíblia só.
Referências
A Bibliografia para
Apocalipse 12-14, encontrará nas páginas 458-466 do livro Profecias do Fim de H. K. LaRondelle
1 Fudge, The Fire
That Consumes, p. 296.
2 Ibid., p.
298.
3 R. H. Charles, The Revelation of St. John, t. 1, p.
360.
4 Doukhan, Daniel:
The Vision of the End, p. 69.
5 Von Rad, Deuteronomy,
p. 64.
6 Charles, The Revelation of St. John, t. 1, p.
363.
7 Neall, The
Concept of Character in the Apocalypse with Implications for Character
Education, p. 151.
8 Doukhan, Daniel:
The Vision of the End, p. 71.
9 J. M. Ford, Revelation,
p. 249.
10 Richardson, Toward an American Theology, p.
115.
11 Ellen White, GC 7.
12 Ver LaRondelle, Chariots
of Salvation, cap. 11.
13 Ellen White, PR 170.
* Nota do Tradutor: A nota da versão Cantera-Iglesias diz que a
interpretação literal de Deuteronômio 6:8 deu origem aos filactérios, "par
de pequenas caixas de couro usadas ritualmente, amarradas ao braço e à testa
por correias, também de couro, e que contêm trechos das Escrituras" Dic. Aurélio.
Autor do artigo: Hans K. LaRondelle
Pr. Cirilo Gonçalves
Evangelista da IASD-AP,SP
Doutorando em Teologia
TWITTER: @prcirilo
INSTAGRAM: @cirilogoncalves
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