sexta-feira, 23 de março de 2012

EXEGESE DE ISAÍAS 7:14 - O EMANOEL PROMETIDO

EXEGESE DE  ISAÍAS  7:14

 A  PROMESSA  A  RESPEITO  DE  EMANUEL

 Isaías é chamado pelos estudiosos como o maior dos profetas do Velho Testamento, o "rei de todos os profetas". Chega a ser cognominado "a águia entre os profetas" e o evangelista da antiga aliança. O significado do seu nome, em hebraico, é bem apropriado para o caráter de seus escritos "Yeshayahu", cujo sentido é = Yahweh é a salvação. 

Sua capacidade estilística é impressionante, seus recursos para criar figuras literárias nos enleva. Sabedores de que a maior parte do seu livro foi escrito em forma de poesia, para surpresa de alguns, ele é considerado o maior poeta do Velho Testamento.

Comentaristas na Introdução aos Profetas, da Bíblia de Jerusalém, o denominam de poeta genial. O brilho do estilo, a novidade das imagens fazem dele o grande clássico da Bíblia.

Para bem compreender o verso de Isa. 7:14, ele deve ser estudado em seu contexto histórico, em seu problema gramatical e em suas implicações teológicas.

I – Contexto Histórico

O livro de Isaías tem sido dividido por alguns em duas partes:

1º) Abrangendo 39 capítulos;

2º) Compreendendo os demais 27 capítulos.

A primeira parte está dividida em 5 seções.

Com o capítulo 7 começa a segunda seção, onde se descreve a aliança da Síria com o reino de Israel (Efraim) contra Judá, no reinado de Acaz. Se a cronologia nos informa que Acaz começou a reinar em 735 AC, estes eventos se realizaram em 734.

A Síria governada por Rezim, e Israel administrado por Peca, o perverso assassino do rei Pecaías, aliaram-se com o iníquo objetivo de subjugar o reino de Judá e obrigá-lo a cooperar com eles na campanha militar contra a poderosa e agressiva Assíria. Com a ameaça de um ataque iminente, o rei de Judá e o povo ficaram aterrorizados e cheios de grande perturbação.

Acaz, de personalidade tíbia e pusilânime, ferido em seu amor próprio devido à primeira derrota frente a Peca e Rezim, cometeu a insensatez pecaminosa de pedir auxílio ao rei assírio. Ainda mais, amedrontado, tomou a prata e o ouro da casa do Senhor, e os tesouros da casa do rei e os enviou a Tiglate-Pileser com a declaração vexatória: "Eu sou teu servo e teu filho; sobe e livra-me do poder do rei da Síria e do poder do rei de Israel, que se levantam contra mim", como nos relata II Reis 16:7-9. Diante desta situação aflitiva, Isaías recebeu de Deus a incumbência sagrada de procurar Acaz com alguns objetivos.

1º) Apresentar-lhe uma mensagem estimulativa da parte de Deus: "Acautela-te e aquieta-te, não temas nem desanime o teu coração". Isa. 7:4. Em outras palavras ele queria dizer: não há nenhuma necessidade para preocupação, já que numa elegante metáfora, ele compara os dois reis a pedaços de tições fumegantes, pois se outrora eram perigosos, agora seu poderio estava quase extinto. Em sua entrevista com Acaz, o profeta procurou animá-lo, transmitindo-lhe a seguinte mensagem: se depositasse confiança no Senhor haveria livramento. Rezim e Peca em breve desapareceriam como bolhas de sabão.

2º) Isaías, com seu acendrado espírito religioso, combateu tenazmente a aliança com poderes pagãos, porque previa os males que viriam para Acaz e para o povo de Deus.

A mensagem do profeta ao rei alarmado era de confiança em Deus, culminando com a declaração do verso 9: "se o não crerdes, certamente não permanecereis". Nesta afirmativa do profeta, há um notável trocadilho hebraico, que é difícil transmitir numa tradução.

Eis algumas tentativas para reproduzir o efeito original:

"Sem fé não há fixidez".

"Sem confiança forte não há forte de confiança".

"Sem confiança não há permanência".

As conseqüências de rejeitar a orientação divina são evidentes no relato sagrado:

Politicamente Acaz se vê transformado num simples vassalo da Assíria.

Na esfera religiosa, rejeitando a promessa de libertação que o mensageiro do Senhor lhe oferecera, entregou-se inteiramente ao paganismo. II Reis 16:10-18.

Tanto se afastou de Deus, que chegou a passar o seu filho pelo fogo, influenciando com seu comportamento negativo o declínio espiritual de todo o povo. Altares pagãos foram erigidos por toda a parte, inclusive no templo em Jerusalém, fazendo com que o culto ao verdadeiro Deus se extinguisse.

Quando Isaías viu, que tanto o rei quanto os seus subordinados, desprezaram a mensagem divina, ele silenciou por algum tempo o seu ministério público. 

3º) Sugeriu que Acaz pedisse um sinal como evidência de que estava diante de um verdadeiro profeta de Deus. Já que não crês nas palavras do profeta, pede um sinal, uma garantia ou evidência que te as segure que Deus cumprirá a promessa de salvar o Seu povo.

Acaz respondeu: "Não o pedirei nem tentarei ao Senhor". Isa. 7:12.

Sua declaração era uma saída hipócrita sob o pretexto de que guardava a lei. (Deut. 6:16)

Se tentar a Deus é pôr Deus em uma prova, o pedir o sinal que era oferecido por Ele não seria tentá-Lo.

A razão primordial para rejeitar o sinal, era que ele não estava disposto a submeter-se à vontade de Deus, ou estava receoso de que o obrigasse a alterar a política externa que adotara.

Diante da atitude de Acaz recusando-se a pedir um sinal, Isaías lhe diz que Deus lhe daria o sinal.

"Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e lhe chamara Emanuel". Isa. 7:14.

Este sinal dado por Deus é a demonstração mais convincente de Sua intervenção e direção na História.

No livro A Profecia de Isaías de A. R. Crabtree, pág, 157 há esta afirmação: "Talvez não haja outra profecia no Velho Testamento que tenha produzido mais perplexidade e mais discussão do que estes versículos sobre o sinal que Deus deu a Acaz".

Corrobora com esta afirmativa Albert Barnes em Notes on the Old Testament, vol. 8, pág. 157, ao declarar "... não existe nenhuma profecia no Velho Testamento da qual se tenha escrito tanto, e que tem produzido mais perplexidade entre os comentaristas do que esta".

Os versos 17 a 25 apresentam uma terrível descrição de como eles seriam assolados em virtude da rejeição do sinal.

II – O Problema Gramatical

Isaías 7:14 é uma passagem extremamente difícil de ser traduzida. Temos aqui um dos mais controvertidos problemas textuais de toda a Bíblia.

O pomo da discórdia se encontra na palavra "almah", que tem trazido para os intérpretes uma longa e complicada discussão.

Traduções da Bíblia como a Septuaginta, King James Version, Almeida tanto a Revista e Corrigida como a Atualizada a traduzem por "virgem". Outras mais fiéis ao original hebraico como a Revised Standard Version, a de Moffatt, New English Bible e A Bíblia de Jerusalém preferem traduzi-la por jovem ou mulher jovem. Diante destas declarações a primeira pergunta que se levanta é esta: qual é a tradução preferível para "almah"? Virgem ou jovem?

Afirmam alguns, peremptoriamente, – se os tradutores da Septuaginta traduziram a palavra "almah" para pavrdenov – a virgem, e se não podemos descrer do conhecimento que tinham do hebraico os que fizeram o trabalho, então não assiste nenhuma razão àqueles que insistem que em Isa. 7:14 o termo tem que ser traduzido para uma jovem na idade de se casar.

O traduzir de uma maneira ou de outra sempre cria problemas: Tradicionalmente sempre se defendeu a tradução para virgem, por ser aparentemente a única a predizer claramente o nascimento virginal de Cristo. Mas se esta passagem é uma profecia referente a uma criança que deveria nascer como sinal para o rei Acaz, a mãe desta criança não poderia ser virgem porque criaria um problema de ordem teológica. Sendo que outras traduções trazem "mulher jovem", exegetas intervêm declarando que este procedimento elimina uma doutrina fundamental da Bíblia, o maravilhoso nascimento virginal de Cristo.

O livro Problems in Bible Translation, nos informa que a palavra "almah" aparece nove vezes no Velho Testamento, mas que é difícil especificar exatamente o seu real significado. Conclui dizendo que "almah" designa simplesmente uma "mulher jovem" em idade de casamento, quer noiva ou não, casada ou não, virgem ou não". Pág. 168.

O vocábulo hebraico para virgem é "bethulah" que aparece 50 vezes no Velho Testamento.

C. G. Tuland, concluiu seu artigo no Ministério Adventista, março-abril de 1969, pág. 19, explicando Isa. 7:14, da seguinte maneira: "Portanto, não parece ser justificável traduzir "almah", "mulher jovem", em Isa. 7: 14, por virgem. A única tradução coerente é a da R.S.V.: "Eis que uma mulher jovem conceberá, e dará à luz um filho".

A. R. Crabtree, no livro A Profecia de Isaías, pág. 158, defende tese contrária, com bastante dogmatismo, ao afirmar que "almah" em Isa. 7:14 deve ser traduzida por virgem, havendo assim um nascimento milagroso no tempo de Isaías, semelhante ao de Cristo, sem se preocupar com o profundo problema teológico envolvido nesta interpretação.

Sendo que este mesmo autor declara que quase todas as palavras se usam em mais de um sentido, informando-nos também que a significação de qualquer palavra deve ser determinada pelo uso no contexto, pelo sentido com outras passagens bíblicas, e em relação com o ensino geral da Bíblia sobre o mesmo assunto, não seria melhor concluir que Isaías a empregou, no sinal para Acaz com o significado de jovem, e Mateus fazendo uma aplicação messiânica do mesmo verso usa a palavra parthenos ou virgem?

Quem seria a jovem de Isaías 7:14? Três possibilidades têm sido sugeridas:

1ª) Seria a própria esposa de Isaías;

2º) Outros advogam que esta jovem fosse a esposa do próprio rei Acaz, pois ele tinha nesse tempo 21 anos;

3º) Um terceiro grupo, menos numeroso, mas com possibilidades verossímeis, defende a tese de ser outra jovem da família real, bastante conhecida a eles, mas a nós desconhecida.

Pessoalmente, baseado no contexto bíblico (Is. 8:3), creio que a jovem era a própria esposa de Isaías. Conferindo Isaías 1:1 com 6:1 concluiremos que o profeta estava no início de seu ministério, que se estendeu por meio século após este evento.

III – Implicações Teológicas

A verdade do nascimento virginal de Cristo está implícita através das Escrituras, portanto não precisa ser confirmada por uma palavra hebraica de Isaías 7:14.

Se a tradução de "almah" por virgem, cria um problema de natureza teológica, por não poder ser aplicável no tempo de Isaías; outro problema nada inferior a este seria se Isaías houvesse usado a palavra "bethulah" para uma outra ocorrência além do nascimento virginal de Cristo.

Se os exegetas defendessem que Isaías 7:14 profetizava um nascimento virginal milagroso, teriam também de aceitar que esta criança teria a mesma natureza divino-humana e o mesmo poder que Jesus possuía.

Das muitas explicações propostas, visando solucionar o problema, o livro Problems in Bible Translation, pág. 151, destaca estas 4:

1º) Isaías 7:14 não constituía uma verdadeira profecia de eventos, quer no tempo de Cristo ou no de Isaías;

2º) Cumpriu-se de alguma maneira desconhecida nos dias de Isaías e não de outra forma;

3º) Apontava ao futuro exclusivamente para o nascimento de Cristo;

4º) Era uma profecia dupla, aplicável tanto aos dias de Isaías, quanto ao nascimento do Messias.

A primeira explicação é insustentável para quem acredita na inspiração das Escrituras.

O segundo ponto de vista nega a inspiração de Mateus.

A aceitação de que a alusão apontava unicamente para o nascimento de Cristo despreza completamente o contexto e o ambiente histórico de Isaías 7:14.

A quarta solução proposta é a única totalmente consistente, com o conceito de que tanto Mateus quanto Isaías foram inspirados.

O estudo atento do texto hebraico e das varias interpretações propostas, nos levam à conclusão de que em Isaías 7:14 temos uma profecia messiânica.

Este texto deve ser incluído entre as profecias messiânicas pelo princípio do duplo cumprimento comum a muitas profecias bíblicas, como nos confirmam os seguintes exemplos.

1º) A promessa feita a Abraão nos seus descendentes (Gên. 13:16; 15:5), e um descendente, que é Cristo (Gál. 3: 16).

2º) A profecia de Mateus 24, se cumpriu primeiramente na destruição de Jerusalém, no ano 70 da nossa era; mas, o seu cumprimento final será no fim do mundo.

Da mesma forma, a promessa a respeito de Emanuel, teve uma aplicação imediata e primária da libertação temporária de Judá nos dias de Acaz, mas depois de 730 anos, numa aplicação secundária de outro livramento do inimigo, através da encarnação de Cristo, iniciando assim o período da salvação espiritual e de paz com Deus.

O nome Emanuel, dado à criança dos dias de Isaías, foi mudado diante da recusa de Acaz de submeter-se a Deus. Isaías foi instruído a colocar na criança o nome de Maher - Shalal - Has - Baz.

A promessa a respeito de Emanuel poderia ser sintetizada nestas palavras: É uma promessa de plena e absoluta confiança, de que o mesmo Deus que não desampararia os seus filhos no tempo de Isaías. Ele através do nascimento de Cristo está conosco no eterno concerto da graça para nos salvar, jamais desamparando o Seu povo, antes protegendo-o e guardando-o para a glória futura.

Enfatizemos mais uma vez a idéia contida em Isaías 7:9: "Se o não crerdes, certamente, não permanecereis." Esta confiança absoluta, penhor da salvação (Is. 28:16) nos mostra que não podemos confiar em coisas ou em pessoas.

Que a promessa apresentada por Isaías a respeito de Emanuel – Deus conosco – esteja sempre conosco e que a transmitamos aos outros para sua e nossa salvação.

Extraído do Livro: "Leia e Compreenda melhor a Bíblia" de Pedro Apolinário;

Didática, Grifos e Acréssimos de
Pr. Cirilo Gonçalves da Silva
Mestre em Teologia e Evangelista
Twitter: @prcirilo

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