segunda-feira, 19 de março de 2012

OS TRÊS DIAS E TRÊS NOITES EM QUE CRISTO ESTEVE MORTO. COMO HARMONIZAR ESSA VERDADE COM A DECLARAÇÃO DELE EM MATEUS 12:40?

COMO HARMONIZAR AS  36  HORAS,  MAIS  OU  MENOS,  QUE  CRISTO  ESTEVE  NA  SEPULTURA,  COM  SUA  DECLARAÇÃO  EM  MAT. 12:40?

S. Mateus 12:40 tem sido, muitas vezes, citado como prova de contradição, no texto sagrado, por pessoas interessadas em desprestigiar a veracidade da Bíblia.

Baseados ainda nesta passagem há outro grupo defendendo a tese de que Jesus teria morrido na quarta-feira.

Para que haja uma explicação cabal do problema é preciso estudar a passagem relacionando-a com passagens paralelas e compreender bem o que estas palavras significavam para os ouvintes contemporâneos.

Tomando as palavras de Mat. 12:40 ao pé da letra, poderá alguém afirmar que Cristo esteve na sepultura 72 horas, mas relacionando-as com outras declarações bíblicas, ver-se-á que esta não é a realidade. Lucas, claramente, demonstra que Jesus foi sepultado no final do dia da preparação e ressuscitou no primeiro dia da semana, ainda de madrugada.

Jesus esteve na sepultura, como nos relatam os evangelhos, no seguinte período de tempo:

a)     parte da sexta-feira
b)    todo o dia de sábado
c)     parte do domingo.

Não apenas a índole das línguas hebraica, grega e latina podia usar uma parte para expressar a totalidade, porque esta peculiaridade existe também em nossa língua. Qualquer estudante de português sabe muito bem, que no capítulo da linguagem figurada, ele encontra a sinédoque, figura que toma o singular pelo plural, o plural pelo singular, a parte pelo todo, etc.

 Observe nossas expressões:

·     Ele tem duas mil cabeças de gado.
·     O rapaz pediu a mão da moça (hoje pouco usada).

 Será interessante a colocação do versículo no seu contexto.

Os escribas e fariseus pediram-lhe um sinal. Mat. 12:38. Era costume deles assim proceder com os que se proclamavam mensageiros de Deus. I Cor. 1:22. Queriam um sinal, porque não aceitaram os milagres relatados anteriormente, como realizados pelo poder divino.

Pelo comportamento empedernido e apóstata, demonstrado, não tinham o direito de pedir sinal e se Cristo lho desse, não aceitariam. Nenhum outro sinal lhes seria dado a não ser o sinal do profeta Jonas.

Qual o significado do sinal do profeta Jonas?

O Comentário Adventista ao explicar este verso defende que o sinal prefigurava tanto a pregação como a ressurreição de Jesus. Assim como Jonas escapara da morte para pregar aos ninivitas a mensagem de arrependimento e salvação, do mesmo modo Cristo através de Sua ressurreição levaria a todos que o aceitassem a salvação.

Barclay defende que o sinal de Jonas simbolizava apenas a pregação de Jesus. Ver William Barclay – El Nuevo Testamento, Vol. II, páginas 56-58.

O Desejado de Todas as Nações, pág. 406 declara: 

" “Hipócritas”, disse Jesus, “sabeis diferençar a face do céu” – estudando o céu, podiam predizer o tempo – “e não conheceis os sinais dos tempos?” (Mat. 16:3)  palavras de Cristo, proferidas com o poder do Espírito Santo que os convencia do pecado, eram o sinal dado por Deus para salvação deles. E sinais vindos diretamente do Céu foram, concedidos para atestar a missão de Cristo. . . . “E suspirando profundamente em Seu espírito, disse: Por que pede esta geração um sinal?” “Nenhum sinal lhe será dado, senão o sinal do profeta Jonas.” Mat. 16:4. Como Jonas estivera três dias e três noites no ventre da baleia, havia Cristo de estar o mesmo tempo “no seio da terra”. E como a pregação de Jonas fora o sinal para os ninivitas, assim o era a de Cristo para Sua geração."

Os versos seguintes de Mat. 12:40 parecem comprovar que Jesus se referia tanto à Sua pregação quanto à ressurreição.

 Três Dias e Três Noites

Em seu anseio de harmonizar declarações bíblicas, aparentemente conflitantes, comentaristas têm aventurado as mais variadas soluções. Por exemplo, The Interpreter's Bible, Vol. VII, pág. 403, defende que o verso 40 não foi pronunciado por Jesus, mas acrescentado por Mateus para explicar melhor o sinal do verso 39. Conclui assim citando a passagem paralela de Luc. 11:29-32.

Outros, como W. G. Seroggie, no livro Guide to the Gospel, apresentam a estapafúrdia solução de que Cristo foi crucificado na quarta-feira. O texto bíblico está repleto de claras alusões confirmativas de que este evento ocorreu na sexta-feira (Mar. 15:42-43; Luc. 23:46, 54; João 19:14, 42).

 A solução se encontra no seguinte:

Se todos hoje, compreendessem bem o método da contagem do tempo dos dias de Jesus este problema nunca teria surgido. A expressão "três dias e três noites" tinha para os judeus, que viviam no Oriente, uma conotação diferente, do que tem para nós hoje, que vivemos no mundo ocidental. A maneira de contar o tempo, chamada "contagem inclusiva" incluía o dia (ou ano) inicial, bem como o dia (ou ano) final, sem considerar quão pequena fosse a fração do dia iniciante ou finiciante.

 Há exemplos deste processo nos escritos sagrados e profanos:

I. Sagrados

1º) 1 Samuel 30:12 e 13 declara. . . "pois havia três dias e três noites que não comia pão nem bebia água". Então lhe perguntou Davi: "De quem és tu, e de onde vens?" Respondeu o moço egípcio: "Sou servo de um amalequita e meu senhor me deixou aqui há três dias." Note bem as expressões diferentes para o mesmo período de tempo.

2º) Outro exemplo concludente se encontra em Ester 4:16 e 5:1 ". . . e jejuai por mim e não comais nem bebais por três dias, nem de noite nem de dia. . . Ao terceiro dia Ester se aprontou. . ." É claro que o período de três dias não havia chegado ao fim quando ela se apresentou perante o rei, se fosse diferente, estaria: no quarto dia.

3º) As crianças em Israel eram circuncidadas ao terem 8 dias (Gên. 17:12), porém, a circuncisão ocorreria no oitavo dia devido a contagem inclusiva (Lev. 12:3; Luc. 1:59).

Os exemplos bíblicos poderiam ser multiplicados, mas estes são suficientes para nos elucidarem sobre Mateus 12: 40.

II. Profanos

A Enciclopédia Judaica Universal no item – "dia", assim se expressa: "Nas práticas religiosas, a parte de um dia é freqüentemente contada como um dia completo. Tal é o caso dos sete dias de luto, se o funeral ocorre à tarde: a curta porção restante do dia é contada como um dia completo. Na contagem da data da circuncisão no oitavo dia após o nascimento, mesmo, uns poucos minutos do dia restante após o nascimento são considerados como um dia completo".

Era comum no Egito, Grécia e Roma a "contagem inclusiva" como nos atestam seus documentos. Por exemplo, os gregos chamavam a Olimpíada, que se realizava de quatro em quatro anos de pentaeteris (período de cinco anos) por contarem o ano inicial e o final.

O SDABC, Vol. II, pág. 136 confirma as declarações anteriores:

"A maneira de contar o tempo empregada na Bíblia é a chamada contagem inclusiva, que considera tanto a primeira como a última unidade de tempo incluídas dentro do período. Este sistema era também usado por outras nações como se pode ver através de documentos. Uma inscrição egípcia que registra a morte de uma sacerdotisa no quarto dia do 129 mês, relata que o sucessor dela chegou no 12º dia, quando se passaram 12 dias. É evidente que, pela nossa maneira de contar diríamos que os doze dias, passados a partir do 4º dia, chegariam à data de 16".

Broadus e outros pesquisadores citam uma frase do Talmude de Jerusalém que nos é útil: "um dia e uma noite juntos formam um onah e qualquer parte deste período é contada como um todo. O termo hebraico onah, corresponde ao grego nicthmeron, que significa, noite e dia, como está empregado em II Cor. 11:25. Não foi este o vocábulo empregado por Mateus, talvez em virtude de estar fazendo uma citação do Velho Testamento (Jonas 1:17).

Seria de bom alvitre frisar que "três dias e três noites" só aparece em Mal. 12:40, porque nas passagens paralelas são usadas estas outras expressões equivalentes: três dias, depois de três dias, ao terceiro dia. Cristo o fez por estar citando o Velho Testamento (Jonas 1:17), mas deve ficar bem claro, que está usando em hebraísmo, ou a contagem inclusivo.

 Textos que mencionam este mesmo período de tempo.

Em três dias
Depois de três dias
No terceiro dia
Mat. 26:61; 27:40
Mat. 27:63
Mat. 16:21; 17:23; 27:64
Mar. 14:58
Mar. 8:31



Luc. 9:22; 24:21, 46
João 2:19



Para uma compreensão mais ampla do problema seria útil consultar o Comentário Adventista, Vol. l, pág. 82, e Vol. II, págs. 135-137.

Conclusão

 A passagem de Mat. 12:40 não deve ser citada por nenhum incrédulo como prova de contradição nas Santas Escrituras.

 Nenhuma dificuldade existe para harmonizá-la com o período em que Cristo esteve na sepultura, se for considerada a cultura hebraica e o contexto histórico da época.

 e o problema, aparentemente existe, este é dirimido, quando se considera a contagem diferente dos orientais.

 Vale ainda ressaltar, mais importante do que o tempo da estada de Cristo na tumba, foi a sua morte vicária, que nos propicia a salvação.  Demos sempre graças a Deus pelo sublime sacrifício de Cristo por nós.

Extaraído do Livro Leia e Compreenda Melhor a Bíblia de Pedro Apolinário.


Addaptação, Didática e Grifos de
Pr. Cirilo Gonçalves da Silva
Mestre em Teologia e Evangelista
Twitter: @prcirilo

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