UMA BREVE ANÁLISE DE JOÃO 12:27-28
A passagem de João 12:27-28, está inserida em uma sessão maior que abrangem
os capítulos 11:1-13:1. O assunto da “agonia” de Cristo e Seu pedido ao Pai por
livramento “desta hora” pode ser observado claramente nos sinóticos (Mt 26:36-45; Mc
14:41; Lc 21:39-44) e em João, embora não haja um relato como nos sinóticos, existe
uma referência em 18:11 que diz: “... não beberei, porventura, o cálice que o pai me
deu?”. Há, todavia, um lance dessa agonia, no episódio da ressurreição de Lázaro em
João 11: 33, 35, 38 .
Quanto à glorificação do nome do Pai que fora pedido pelo filho nas palavras
“Pai, glorifica o teu nome. Então veio uma voz do céu: Eu já o glorifiquei e ainda o
glorificarei”, pode ser percebida no evento do batismo de Cristo (Mt3:16-17; Mc 1:9-11;
Lc 3:21-22) e, embora, o evangelho de João não menciona explicitamente a voz do Pai,
subtende-se que, João Batista ao dizer “Pois eu, de fato, vi, e tenho testificado que
ele é o filho de Deus” refere-se ao mesmo episódio dos sinóticos.
A glorificação do nome do Pai, segundo o comentário da Bíblia TEB sobre João
12:28, se dá na medida em que os sinais vão acontecendo na atividade terrestre de Jesus
(2:11; 5:36; 10:38; 11:4, 40), até chegar o momento de Sua morte e ressurreição (13:31-
32; 14:10; 17:1), como clímax de toda a glorificação.
A ESTRUTURA DE JOÃO 11:1-13:1, FORNECE ALGUNS ACONTECIMENTOS DESSA GLORIFICAÇÃO.
1. A ressurreição de Lázaro foi um momento de grande alegria e proporcionou muitas conversões de Judeus. Ali, a divindade de Cristo irrompeu pela humanidade, o Seu rosto foi iluminado pela glória de Deus e o povo teve certeza do Seu poder. Com toda a autoridade disse “Lázaro, vem para fora!” (11:43)
2) O ato de Maria ungir os pés de Cristo com perfume mui precioso e enxugá-los com o próprio cabelo (11:2; 12:3), é mais que um costume judaico de honrar um hóspede e sim uma expressão de fé, uma antecipação da unção do Seu corpo na morte e comunica um reconhecimento do Seu messianismo Pode-se ver aí um ato glorificatório.
3) A entrada Triunfal de Jesus em Jerusalém (12:12-15) e o coral do povo “Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor e que é rei em Israel!” é um tipo de glorificação. O fato de Cristo ter entrado montando jumento, não deve ser entendido como uma expressão de humildade. O jumento ou mula eram os animais usados em tempos de paz pelos grandes homens. No antigo Testamento, os filhos dos juízes andavam de jumentos (Jz 10:4; 12:14); Aquitofel, conselheiro do rei, cavalgava em um jumento (II Sam 17:23. A profecia de Zacarias 9:10 declara especificamente que o Messias viria “em paz”. O Rei Jesus entra em Jerusalém como o Príncipe da Paz. É interessante que Adam Clarke em seu comentário , faz um relacionamento entre o nome de Deus e os Seus atributos quando comenta a frase “Pai, glorifica o teu nome”.
4) A Visita dos gregos para adorar na festa da Páscoa e sua audiência para ver Jesus é um típico momento de glorificação do Filho. O evangelho se expandindo e os gentios aceitando é um momento especial. (Jo. 12:20-22). A visita dos gregos sugeriu automaticamente a Jesus qual seria o resultado se sua morte, a saber, a conversão de muitos gentios . Em Paulo e em Pedro vemos a expansão do evangelho ao mundo gentílico (At 9:15; 10:1, 34-36; 2:11-22; 2:11-15; 1:20-23). Na própria ordem de Jesus e no Apocalipse vê-se um relance profético da atração dos gentios ao amor de Cristo (Mt 24:14; 28:18-20; Mc 16:15; Ap 10:11; 14:6; 18:1; 22:17). Quando os “de fora” vêm a Jesus, o Pai é glorificado no Filho (Jo 6:37) e nisso, também, se cumpre as palavras do Cristo “Pai, glorifica o teu nome...”
5) Finalmente, o capítulo 12:27-28 apresenta o clímax da glorificação do Pai pelo Filho, nessa sucessão de atos glorificatórios vividos por Jesus “Pai, glorifica o teu nome. Então, veio uma voz do céu: Eu já o glorifiquei e ainda o glorificarei” “E eu quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo”. Essas palavras revelam a Sua morte e Ressurreição e como resultado, dar-se-ia a conversão de milhares de pessoas. Bruce, comentando João 12:27-28 afirma que: “A voz declarou que Deus já tinha glorificado seu nome – provavelmente no ministério que o verbo encarnado desempenhara até então e nos sinais que manifestaram a glória divina àqueles que tinham olhos para ver além do que se via na superfície. E ele glorificaria seu nome novamente – podemos presumir que ele o faria ao glorificar o filho, na sua paixão iminente”.
NOTAS:
1. Ao analisar os capítulos 11:1-13:1, percebe-se uma estrutura coerente. Indicações como a cidade de Betânia, onde Jesus estava antes da festa da páscoa (11:1, 11, 17-18; 12:1), a proximidade da festa da páscoa (11:55; 12:1, 12, 20; 13:1), a ressurreição de Lázaro (11:14, 43-44; 12:1, 2, 9-10, 17), a fúria dos Sacerdotes e fariseus contra Jesus e seu intento de matá-Lo (11:8, 47-48, 53, 57; 12:10, 19), a parábola da luz (11:9-10; 12:35-36, 40, 46), a conversão de muitos judeus e autoridades (11:19, 45; 12:11, 42), o crer em Jesus como fator básico para a salvação (11:15, 25-26, 40; 12:38-39, 46), a “agonia de Cristo” iniciando em 11:33-35, 38 e culminando em 12:27 e a expressão “última hora” 12:23, 27; 13:1 bem como a Sua glorificação e a do Pai através dos lances da ressurreição de Lázaro (11:40-44), de Maria ungindo os Seus pés (11:2; 12:3), a entrada triunfal em Jerusalém (12:12-15), uma multidão Lhe seguindo (11:45; 12:9, 19), os gregos vindo Lhe adorar (12:20) e a cruz como o clímax de Sua glorificação, exemplificam essa estrutura.
2. F. F. Bruce. João introdução e comentário (Vida Nova, SP. 1987) 229; Guillermo Hendriksen. El Evangelio Segun San Juan comentario del nuevo Testamento (Subcomision Literatura Cristiana de la Iglesia Cristiana Reformada, Grand Rapids, Michigan EE. UU. 1987) 470, 471; Alviero Niccaci e Oscar Battaglia. Comentário ao Evangelho de São João (Vozes, Petrópolis, RJ. 1985) 192.
3. R. N. Champlin. O Novo Testamento Interpretado Versículo por versículo, vol. II Lucas e João. (Editora Candeia, SP. 1998) 471-472, 489
4. Bíblia Tradução Ecumênica (Edições Loyola, SP. 1994) 2072
5. Ellen G. White. O Desejado de Todas as Nações (Casa Publicadora Brasileira, Tatuí, SP. 2004) 536
6. Lothar Coenen e Colin Brown. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento (Edições Vida Nova, SP. 2000). Vol II, 2569
7. Adam Clarke. Comentario de la Santa Bíblia Tomo III Nuevo Testamento (Casa Nazarena de Publicaciones, Kansas City, Missouri, E. U. A. 1980) 202; Ver também Mário Veloso. Comentário do Evangelho de João (Casa Publicadora Brasileira, Santo André, SP. 1984) 257
8. Comentário Bíblico Adventista Del Septimo Dia Tomo 5 (Asociacion Casa Editora Sudamericana, Buenos Aires, Argentina. 1995) 998
9. Idem, 229; Para um estudo mais profundo sobre o assunto da paixão e do sacrifício de Cristo como o sacrifício pascal e expiatório para a redenção da humanidade, bem como o clímax da glorificação do Pai e do Filho, ver, Alister E. McGrath. Teologia Sistemática, Histórica e Filosófica – Uma introdução à Teologia Cristã (Shedd Publicações Ltda-Me, SP. 20050) 470-486; E também, J. Jeremias. Teologia do Novo Testamento (Editora Teológica, SP. 2004) 395-438; E ainda, Nisto Cremos. 27 Ensinos Bíblicos dos adventistas do Sétimo Dia (Casa Publicadora Brasileira, Tatuí, SP. 2003) 153-167
Pr. Cirilo Gonçalves da Silva
Mestre em Teologia e Evangelista
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